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sábado, 16 de maio de 2020

LACERDA, CULTO E BARULHENTO


Hoje eu ia falar sobre o poeta gaúcho Mário Quintana (1906-1994) – aquele que dizia que “todos passarão/eu, passarinho” –, cujo aniversário de morte foi nesse 5/5, mas decidi à última
hora fazê-lo sobre o presidente da República carente de camisa de força chamado Jair Bolsonaro. De passagem, claro.
Em 2019, ele esculhambou jornalistas e imprensa 208 vezes (dados da Fenaj). E continua dando porrada em jornalistas e imprensa. E sempre passando do suportável.
Domingo (3/5), diante dos seus olhos, jornalistas foram espancados por seus seguidores politicamente fanatizados.
A imprensa chegou ao Brasil em 1808, trazida por D. João VI e família.
O primeiro jornal impresso em terras brasileiras foi A Gazeta do Rio de Janeiro, que depois trocou de nome para A Gazeta. Mas sem grande importância, pois tratava-se de um jornal oficial.
Os jornais de verdade começaram a pipocar no Brasil depois da proclamação da Independência. O proclamador, D. Pedro I, foi o cara que aplicaria o primeiro golpe de Estado no País.
Depois da Independência, centenas de jornais apareceram no Brasil. Alguns foram alvo de empastelamento e surras em seus editores.
No século XX, a imprensa passou a ganhar forma profissional e industrial.
O paraibano Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, o Chatô, foi o primeiro imperador da imprensa brasileira, O segundo, a família Marinho.
O ano de 1950 começou com o jornalista, empresário e político Carlos Lacerda (1914-1977) fazendo barulho com o jornal que criou, A Tribuna da Imprensa, do Rio de Janeiro.
Encurtando a história: Lacerda, com seus artigos, incomodou o então presidente Getulio Vargas (1882-1954). Isso quer dizer que ele, Lacerda, também levou muitas porradas. Seu jornal, aliás, foi empastelado várias vezes.
O que se viu no último dia 3 em Brasília, sob a batuta de Bolsonaro, foi algo abominável.
Cena igualmente grotesca Bolsonaro regeu nessa terça-feira (5/5) de manhã à saída do
Palácio da Alvorada, quando mandou jornalistas calarem a boca.
Tristes tempos vivemos.
Em 1960, Lacerda, que na vida política foi de esquerda e de direita, ganhou o governo da extinta Guanabara e continuou dialogando com todos. Era de alto nível. Culto, chegou a traduzir Shakespeare e gravou meia dúzia de LPs, hoje raríssimos. No primeiro, Rio, cidade indomável, narra uma belíssima crônica do jornalista e escritor Gastão Cruls (1888-1959). Nela, Cruls lembra grandes nomes do Rio de Janeiro, como o cantor Eduardo das Neves, o  jornalistas João do Rio(inventor da reportagem). Belíssimo disco.
E como dizia o poeta gaúcho Quintana: “Todos esses que aí estão/Atravancando meu caminho,/Eles passarão.../Eu passarinho!”,
O acervo do Instituto Memória Brasil (IMB) tem todos os discos de Lacerda.

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