O ano de 2021 está findando aos trancos e barrancos, deixando um rastro de
tristeza e dor. Muita gente morreu, milhões. Só no Brasil, vitimadas pela
Covid-19, os números bateram a casa dos 600 mil. Um horror.
Enquanto
isso, o povo e o país continuam abandonados pelo Governo, que só pensa nele
próprio. Pena.
Pra falar a respeito dessas coisas, puxei conversa com o
juiz de Direito paraibano Onaldo Rocha de Queiroga, 55 anos, que está se
recuperando da Covid.
Onaldo é de uma família ligada às leis.
Onaldo, cidadão apaixonado pela cultura popular, é o titular da 5ª Vara
Cível da Comarca de João Pessoa e juiz auxiliar da presidência do Tribunal de
Justiça do Estado da Paraíba.
Dentre seus inúmeros afazeres como juiz,
Onaldo Queiroga é autor de uma dúzia de livros. Incluindo os que trazem
questões do mundo jurídico, como Desjudicialização dos Litígios.
Cronista
de boa cepa, nos jornais da sua terra, Onaldo Queiroga tem publicados livros
como Por Amor ao Forró (biografia do músico Pinto do Acordeon; 1948-2020),
Veredas do Eu, Baião em Crônicas e Riacho da Vida.
Antenadíssimo, Onaldo
considera que o Brasil anda numa encruzilhada. Acha que o Brasil e o mundo
estão doentes, mas pra tudo tem cura.
Acompanhe-nos nas perguntas e
respostas pra lá de objetivas.
Ah! Ia me esquecendo: nas poucas horas que
lhe sobram, Onaldo diverte-se compondo músicas. Clique:
ONDE ESTÁ MEU SABIÁ
ASSIS: Você é de uma família de juristas. As leis estão na
sua mão e memória. Qual a principal injustiça contra o Nordeste e o seu
povo?
ONALDO: O preconceito. Historicamente há no âmago da
sociedade brasileira uma intensa discriminação em relação aos nordestinos. Não
é de hoje que inoportunamente e injustificavelmente o Nordeste e o nordestino
sofrem ataques de ódio. Atualmente, pelas redes sociais, alguns desavisados e
pobres de espírito, manifestam preconceitos, sem saber da capacidade e
competência desse povo chamado Nordeste.
ASSIS: O Brasil
está doente? Que doença ou doenças o Brasil é vítima?
ONALDO: Não só o Brasil encontra-se doente, mas o mundo inteiro. E não é de hoje.
Posso enumerar algumas dessas doenças: Ausência de uma boa educação, de
saneamento básico, o desequilíbrio de renda gerando pobreza, fome e tudo
decorrente de uma chaga maior, a corrupção. Somos muitos Brasis dentro de um
só Brasil. Uma diversidade imensa geográfica, de cultura, de costumes etc. Mas
a corrupção afeta gravemente esse país.
ASSIS: O Brasil tem
cura?
ONALDO: Tudo tem cura. Evidentemente que toda mudança
passa imprescindivelmente pela mudança do próprio homem. Enquanto o homem não
mudar, será difícil alcançar mudanças significativas em termos de uma
sociedade mais igualitária.
ASSIS: Há pelo menos 20 milhões de brasileiros passando fome. Isso pode se resolver com distribuição de renda e governo democrático?
ONALDO: A gestão governamental tem muita importância para sanear as dificuldades que atormentam o brasileiro. Mas a corrupção emerge como um fator nefasto, embrenhado na essência humana e que deve ser cada vez mais combatida, pois só assim, alcançaremos dias onde teremos uma melhor distribuição de renda e uma sociedade mais igualitária.
ASSIS: Numa frase, defina: No radicalismo da esquerda e direita há solução para o povo?
ONALDO: Com radicalismo ninguém chega a lugar nenhum, é preciso diálogo, fé e amor.
ASSIS: Voltando: o Brasil está doente e o mundo também. O mundo todo continua sofrendo da violencia do novo Coronavírus/Covid-19. Você pegou essa peste e conseguiu sair dela. Como foi isso, ou, como está sendo o processo de recuperação?
ONALDO: Resumir a travessia onde venci a COVID-19 é algo difícil diante do longo e doloroso trajeto percorrido, tanto é que resolvi escrever um livro. Permaneci 26 dias, intubado, contudo, após ser extubado, levei uns dez dias para acordar. Durante esse período em que estive desacordado, de nada me lembro. Ao acordar na UTI, confesso que de início imaginei que havia morrido, que estava em um Hospital Espiritual, do outro lado da vida. Sem poder falar, com uma traqueostomia, olhei para todos os lados, só vi camas, pacientes e enfermeiros. Agitei-me. O médico com calma, falou-me tudo que havia ocorrido. Foram dias difíceis. Muitas alucinações, 22 dias com a traqueostomia, duas sondas nasais e uma luta incessante e feroz para debelar dois fungos que se alojaram nos meus pulmões. Após 60 dias veio a alta hospitalar. Até hoje, com diversas sequelas, encontro-me, ainda, em reabilitação. Deus, com sua misericórdia infinita me permitiu viver e aqui estou eu para contar a história, a história de um milagre.
ASSIS: Enfim, na sua visão, como foi 2021, na economia, na política, na saúde...?
ONALDO: Ainda estamos atravessando a pandemia. O homem luta contra um inimigo poderoso e invisível, com efeitos, mutações e sequelas inimagináveis. A Covid-19 afetou nossa saúde em todos os sentidos e causou graves problemas na economia. A política, essa parece difícil de ser abalada. A falta de diálogo e convergência política atrapalhou e atrapalha o Brasil e o mundo. Mas se a devastadora COVID-19 nos fez aprender a usar máscaras, portar e utilizar álcool gel, todavia, as dores desse vírus parece que ainda não amoleceu o coração de muitos seres humanos.
ASSIS: Ah! Sim: você é juiz de direito e gosta profundamente da cultura popular. Como o forró entrou na sua vida?
ONALDO: Olha realmente o meu encontro com o forró e Gonzagão deu-se na minha terra natal, Pombal. Eu ouvia através do som do Lorde Amplicador, um sistema de difusoras que havia em minha terra as músicas de seu Luiz. Como diz João Cláudio Moreno, aquela voz invadiu minha alma e nunca mais me deixou. O Forró é retrato do Sertão e do Nordeste.
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