Todo mundo sabe, e se não sabe deveria saber, quem foi o potiguar Luís da Câmara Cascudo.
Cascudo tinha 20 anos de idade quando conheceu em Recife, PE, o paraibano de Pombal Leandro Gomes de Barros. Leandro morreu em março de 1918, seis meses antes de a Gripe Espanhola se alastrar no Brasil contaminando e matando homens, mulheres e crianças. Cascudo pegou a maldita gripe, mas escapou.
O poeta Olavo Bilac foi contaminado e morto pela gripe. Mas essa é outra história.
Em 1939 Luís da Câmara Cascudo publicaria, à pág 264 do livro Vaqueiros e Cantadores, texto descritivo sobre o poeta:
LEANDRO GOMES DE BARROS, 1868-1918. Nasceu e morreu na Paraíba, viajando pelo Nordeste. Viveu exclusivamente de escrever versos populares inventando desafios entre cantadores, arquitetando romances, narrando as aventuras de Antônio Silvino, comentando fatos, fazendo sátiras. Fecundo e sempre novo, original e espirituoso, é o responsável por 80% da glória dos cantadores atuais. Publicou cêrca de mil folhetos, tirando dêles dez mil edições. Êsse inesgotável mancial correi ininterrupto enquanto Leandro viveu. É ainda o mais lido de todos os escritores populares. Escreveu para sertanejos e matutos, cantadores, cangaceiros, almocreves, comboeiros, feirantes e vaqueiros. É lido nas feiras, nas fazendas, sob as oiticicas nas horas do "rancho", no oitão das casas pobres, soletrado com amor e admirado com fanatismo. Seus romances, histórias românticas em versos, são decoradas pelos cantadores. Assim "Alonso e Marina", "O Boi misterioso", "João da Cruz", "Rosa e Lino de Alencar", "O Príncipe e a Fada", o satírico "Canção de Fogo", espécie de "Palavras Cínicas", de Forjaz de Sampaio, a "Órfã abandonada", etc, constituem literatura indispensável para os olhos sertanejos do nordeste. Não sei verdadeiramente se êle chegou a medir-se com algum cantador. Conhecí-o na Capital paraibana. Baixo, grosso, de olhos claros, o bigodão espêsso, cabeça redonda, meio corcovado, risonho contador de anedotas, tendo a fala cantada e lenta do nortista, parecia mais um fazendeiro que um poeta, pleno de alegria, de graça e de oportunidade.Quando a desgraça quer virNão manda avisar ninguém,Não quer saber de um vai malE nem se outro vai bem.E não procura saberQue idade Fulano tem...Não especula se é branco,Se é preto, rico, ou se é pobre,Se é de origem de escravoOu se é de linhagem nobre!É como o sol quando nasce:O que achar na terra, cobre!Um dia, quando se fizer a colheita do folclore poético, reaparecerá o humilde Leandro Gomes de Barros, vivendo de fazer versos, espalhando uma onda sonora de entusiasmo e de alacricidade na face triste do sertão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário