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segunda-feira, 19 de junho de 2023

SARAMAGO NÃO MORREU

A morte não tem idade, mas tem vida. 
Num dia qualquer de fim de ano ocorre num país imaginário a continuidade da vida sem prazo para parar, por iniciativa da morte. 
Pois é, derrepentemente as pessoas param de morrer. Criança continua crescendo e os crescidos, homens feitos, continuam suas trajetórias rumo à imortalidade. Velhos continuam velhos, cada vez mais velhos; e doentes, doentes com a possibilidade de não morrer.
O livro As Intermitências da Morte, de José Saramago (1922-2010), começa com a morte tirando férias e as pessoas, homens e mulheres, vivendo a possibilidade de nunca morrerem.
É pra lascar, né não?
Não é de hoje que, na realidade, muita gente sonha com a imortalidade em vida. O tema se acha na literatura de todo canto.
Desse assunto trata um dos livros do checo Milan Kundera, A Imortalidade. E por aí vai.
O Nobel português Saramago abordou o tema com leveza e certa graça. Já nas primeiras páginas do livro, a população do país imaginado pelo autor não morre nem a pau, nem a tiros. Todos lá estão condenados a viver eternamente.
O afastamento da morte em vida preocupa, porém, autoridades de todos os setores do cotidiano. A começar pelo Clero, representado por um cardeal que procura o Primeiro Ministro do imaginado país para expor suas preocupações óbvias: sem morte não há ressurreição e sem ressurreição não há igreja.
E assim segue o enredo do livro que tem, lá pras tantas, um violoncelista como personagem de grande destaque. Esse personagem não tem nome, mas fica-se sabendo que tem 50 anos de idade. A Morte se apaixona por ele e ele, por ela. Terminam na cama. 
Depois do rola-rola, nenhum dos dois morreu.
Saramago não dá nome a nenhum de seus personagens, mas o narrador de As Intermitências da Morte cita Bach uma dezena de vezes, Chopin três ou quatro, Beethoven duas ou três, e o escritor francês Marcel Proust, autor do livro Em Busca do Tempo Perdido (1917)
Curiosidade: Saramago, que era ateu, cita na sua obra Deus em 16 ocasiões.
Quem conhece a obra de José Saramago pode até dizer, como eu, que a morte não o matou.
Ah! Sim: a leitura do livro As Intermitências da Morte dura sete horas e alguns minutos, ininterruptamente. 

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