O calor tá de lascar! Fui dizendo enquanto com uma revista eu abanava o rosto. Eu estava encharcado. Perguntei esbaforido se alguém poderia me arrumar um copinho de água fresca. Eu nem bem acabara de perguntar isso, quando o solícito e espontâneo Mané estendia a mão com uma caneca cheia d'água e um sorriso na cara. Agradeci. Do canto esquerdo da casa, lá dos fundos, ouvi uma voz grossa dizendo: "Tá de lascar! Tá de lascar! Tô que não aguento mais".
Era Lampa abrindo a camisa e enxugando o peito com um bolo de papel.
Alguém aí liga um ventilador, abre a janela, porta...?
Enquanto eu dizia isso, Jão se levantava do tamborete e piscando um olho chamou o Zé pra dar um pulinho lá embaixo pra ver se arrumava o que eu pedira. Nisso Zoião, calmo como que nem uma toupeira, levantou-se assobiando. Passo seguinte, destravando as janelas deixou que um mormaço entrasse pegando a todos de sopetão. Quente que só!
Nesse instante, o telefone toca e mais do que depressa Zilidoro corre para atender. Nisso reaparecem na sala Jão e Zé com um trambolho nas mãos. Jão: "Taí chefe, foi o que a gente achou. Mas parece que funciona".
Era, digamos, um ventilador daqueles antigões. Depois de uma rápida troca de palavras, Jão deixou que Zé esticasse um fio e o enfiasse numa tomada nunca usada. Pó em volta. Coisa antiga. De repente ouviu-se um pipoco, um curto?
Depois do espanto e correria abortada, Lampa levantou-se chamando a atenção de todos ao arrancar o fio da tomada. Disse: "Vocês são uns trouxas!".
Enquanto ele dizia isso, do fio saía uma fumacinha e um cheiro de queimado insuportável. Pediu calma, cortou um pedaço do fio,mexeu pra lá e pra cá e após dar um chute o trambolho passou a funcionar.
Todos bateram palmas vibrando, levantando a bola do Lampa. E em uníssono: "É o maior! É o maior! É o maior!".
Achei graça.
Zilidoro, nervoso, pede silêncio. É uma ligação internacional.
Pergunto quem é. E Zilidoro: "Seu Assis, é de Oxford. Querem uma palestra sua. O tema é a Cultura Popular Brasileira, com destaque a uma coisa que eles chamam de Foro, Forol, Farol, sei lá!".
Pega o telefone e diga que ligarei depois.
Os irmãos Biu e Barrica cochichavam. Barrica tomou a palavra: "O assunto do dia é a guerra em Israel. Queremos saber a sua posição. É a favor ou contra? O Lula até agora está em cima do muro...".
Bom, pessoalmente eu sou contra a qualquer tipo de violência. O que o Hamas está fazendo não se faz. São um bando de criminosos espalhando o terror em Israel a partir da Faixa de Gaza. Quem sofre, quem perde, é o povo dos dois lados: israelenses e palestinos. Os caras do Hamas são o pior que se possa imaginar no mundo. Como friamente degolar crianças, idosos, mulheres, pessoas...?
Nem bem eu concluíra a frase, Zoião levantou a voz e disse: "São uns demônios os caras do Hamas!".
Barrica, eu disse, acho que o Lula ainda não chamou os terroristas do Hamas de terroristas porque ele espera que todos os brasileiros deixem a região. Depois é outro tempo, outro momento.
Barrica olhou pra Zilidoro, que olhou pra Biu, que olhou pra Jão, Zé e Mané. Silêncio. Barrica murmurando em tom maior: "Hummmm...".
Zilidoro em voz alta, como se falasse pra si próprio: "É, faz sentido!".
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