Matutando cá com meus botões, indago: quem vive mais, os calhordas ou as pessoas de bem?
Ainda
cá com meus botões, matuto: para o Brasil ficar bom, é preciso apostar na
educação, no respeito ao próximo, na formação cidadã e na cultura popular.
Muita
gente boa, das minhas relações, partiu, foi embora misturar-se às estrelas. Um dia eu chego lá.
O
meu querido Paulo Vanzolini (1924-2013), doutor em cidadania, partiu, foi-se
embora. Sobre ele, eu escrevi este poeminha:
Um dos últimos encontros de Paulo e Assis, na casa do Paulo |
Manezinho, no dia dos seus 80 anos |
Moraes Sarmento, um dia lá em casa... |
O BRASILEIRO VANZOLINI
Vanzolini
foi-se embora
Rumo
à eternidade
Ele
deixou obra completa
E
em nós muita saudade
Foi
mestre, compositor,
Cantou
a alegria e a dor
Com
galharda liberdade
Ele
lutou por igualdade
E
fez da música oração
Da
ciência o seu caminho
Fortaleceu-se
na razão
Vanzolini
foi artista
Nascido
em terra paulista
Foi
ele exemplar cidadão
Fez
samba, toada e canção,
Leilão
e Volta por Cima,
Idem
Napoleão e Ronda
Foi
autor de boa rima
Craque
da cantiga e ciência
Estudou
com paciência
Mudanças
do nosso clima
Vanzolini
está acima
Do
banal e do rasteiro
Pela
vida ele passou
Como
grande brasileiro
Fez
o que tinha de fazer
Sem
desistir do prazer
Foi
ele de fato guerreiro
Poeta
do Brasil inteiro
Vanzolini
soube ser
Na
sua morcega vida
Como
aranha foi coser
Uma
bela teia pra morar
Brincar,
pensar, viver, amar,
E
jamais essa teia descoser
Antes
de Paulo – o Vanzo, como nós próximos falávamos –, foram de encontro às
estrelas Moraes Sarmento (1922-1998) e Manezinho Araújo (1910-1993). Sarmento foi
um grande nome do rádio e um cidadão que valorizou tudo o que era bom.
Manezinho, o rei da embolada, foi outro que fez o bem, a partir da sua obra musical e pictórica. Mané era um pintor primitivo, como a gente chama os artistas do pincel que pintam no gênero naîf, descoberto pelo grande cearense Aldemir Martins (1922-2006).
Manezinho, o rei da embolada, foi outro que fez o bem, a partir da sua obra musical e pictórica. Mané era um pintor primitivo, como a gente chama os artistas do pincel que pintam no gênero naîf, descoberto pelo grande cearense Aldemir Martins (1922-2006).
Foram-se
embora Sarmento, Manezinho, Paulo... Mas aí Deus queria uma deusa caipira ao
seu lado. Foi quando olhou pra Pedro pedindo que ele convocasse a paulistana
violeira Inezita Barroso (1925-2015), porque o céu estava ficando muito monótono, acho, e assim o
Brasil e todos nós perdemos; e assim foi a vez de Inezita chamar Fernando
Faro e Papete, para junto com ela fazer a festa no céu.
A última vez que estive com Faro, ele dando bola para mim na TV Cultura |
Sobre
Inezita, escrevi o livro “A Menina Inezita Barroso” (Cortez Editora, 2011), que
abre com um poeminha que eu lhe dediquei e que Papete, com muita categoria, musicou, para nossa alegria. O poeminha é este:
A
BRASILEIRA INEZITA
O
Brasil tem muita gente
A
começar pelo Sudeste
Desde
Inezita Barroso
E
até cabra da peste
Tem
causos de Trancoso
Revividos
no Nordeste
Cantar
o que se canta
É
uma coisa bem bonita
Que
nos faz acreditar
Na
riqueza infinita
Deste
Brasil brasileiro
Da
talentosa Inezita
Viva
Inezita Barroso
Essa
grande brasileira
Que
por si própria se fez
Uma
rainha violeira
A
cantar as coisas nossas
Tal e qual uma guerreira
Tal e qual uma guerreira
Pois
é, os meus amigos todos estão indo embora. Estou ficando sozinho. Quem fica só
é solitário, e a solidão é coisa braba.
Outro
dia, um amigo me disse que, cada vez que um amigo vai embora, ele vai junto. É
como se chegasse ao céu em pedaços. É, acho que tem a ver...
Depois
que a Inezita partiu, partiu também o querido Fernando Faro. Sobre ele, eu
também escrevi um poeminha. Este:
Fernando Faro partiu.
Foi pra eternidade.
Foi brincar com as estrelas.
E foi brincar de verdade!
Fernando, “Baixo”, partiu.
Deixando muita saudade.
Só que saudade tanta assim
Não é certo alguém querer.
É saudade demasiada
Que vai muito além do ser.
É saudade que machuca
E essa ninguém quer ter.
E
agora vai o Papete.
Eu
conheci o Papete há muitos anos. Na minha vida, ele foi presente no correr de
três décadas, pelo menos.
Papete,
como Belchior, frequentou a minha casa no tempo em que minha filha Clarissa
engatinhava... Mas,
como diz Gisele – a companheira de sempre do Papete –, “Deus sabe o que faz”.
O Papete foi embora
Deixando muita saudade
O Papete foi embora
Meus Deus, é realidade...
Uma emissora do Maranhão hoje lembrou, com muita categoria, a grandeza de Papete; Papete, aliás, é o apelido que deu a ele Aldemir Martins.
O Papete foi embora
Deixando muita saudade
O Papete foi embora
Meus Deus, é realidade...
Uma emissora do Maranhão hoje lembrou, com muita categoria, a grandeza de Papete; Papete, aliás, é o apelido que deu a ele Aldemir Martins.
Gisele
ficou o tempo todo ao lado do seu companheiro, enfrentando as intempéries que a
vida nos brinda. Ele foi, ela fica, como exemplo de dedicação ao outro.
Agora,
cá com meus botões, eu fico pensando: essas pessoas queridas, que nos deixaram
sem previamente avisar, devem estar fazendo festa no céu. Ficamos mais pobres, é claro, mas o céu ficou mais rico. Aliás, este é um pensamento de um grande
amigo jornalista, de nome Vitor Nuzzi.
Os
bons pensamentos, as boas ideias, o bom do bem-bom, têm de ser compartilhados.
A
propósito, na Internet, no seu instrumento Facebook, as pessoas curtem, curtem,
curtem... Poxa, além de curtir por que não opinam, não falam, não dizem o que
pensam? É tão bom pensar...
E eu, cá com meus botões, matuto pensando que o Brasil pode melhorar, pode ficar bom, com gente que pensa e que vive educação.
E eu, cá com meus botões, matuto pensando que o Brasil pode melhorar, pode ficar bom, com gente que pensa e que vive educação.
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