Havia algo de esquisito naquele tempo abafado.
De repente uma mulher ainda jovem adentra o ambiente, perguntando: "Eu quero falar com o redator Mário".
O Mário não se achava no local, informou um funcionário do jornal Crítica. "Mas se a senhora quiser falar com o filho dele, o Roberto, é só entrar".
A porta estava aberta e a mulher entrou. Roberto virou-se procurando uma cadeira para ela se sentar. Ao virar-se, recebeu dois tiros e caiu em sangue.
Tranquilamente, a mulher guardou o revólver e saiu depois de pisar no corpo da sua vítima. Mas antes de deixar o local, como queria, foi interceptada por um repórter do jornal, que a entregou a polícia.
Não, não. Isso não é ficção. Ocorreu de verdade na tarde do dia 26 de dezembro de 1929, no Rio de Janeiro.
Uma tragédia, não é?
No dia anterior, o jornal de Mário Leite Rodrigues (1885-1930) publicou uma reportagem falando da separação dessa mulher, Silvia, com o marido médico João.
A mulher endoidou, entrou em desespero quando leu a notícia da sua separação. Era socialite.
A separação ocorrera por causa do comportamento volúvel de Silvia com o marido, que viu no colega de profissão Manoel o seu concorrente.
Triangulo amoroso desfeito, Silvia passou uns meses na prisão e, depois de julgada, foi absolvida por 5 a 2.
À época, Nelson Rodrigues tinha 17 anos de idade. E essa história o marcou profundamente.
Poucos meses antes de morrer Nelson contou ao repórter Lourenço Diaféria (1933-2008) que a morte do irmão, aos 23 anos, mudou totalmente a sua vida. O teatro brasileiro, também.
O velório de Roberto é recomposto na peça Vestido de Noiva.
Nelson Rodrigues, o nome mais expressivo até hoje do nosso teatro, morreu no dia 21 de dezembro de 1980, aos 68 anos. Causa mortis: insuficiência vascular cerebral, após sete paradas cardíacas.
Mário, pai de Nelson, morreu de tristeza pela perda inesperada do filho Roberto.
E Silvia, hein?
Silvia Serafim, a assassina confessa, suicidou-se em 1933, três anos depois de os seguidores de Getúlio Vargas destruírem a redação e as máquinas do jornal Crítica.
Crítica era um jornal barulhento e contra o governo de Getúlio.
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