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quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

São Paulo de todos nós(*)

 O dia 20 de janeiro de 1953 é marco de um evento importante para o cinema brasileiro. Foi nessa data que foi lançado o filme O Cangaceiro, de Lima Barreto. São Paulo é uma cidade incrível, como certamente o é toda cidade grande, megalópole. São Paulo é, em todos os rankings, a quarta maior cidade do mundo. A sua população beira a casa dos 15 milhões de habitantes. Entre esses, nordestinos de todos os nove Estados. Baianos são o maior número de migrantes, seguidos dos cearenses e paraibanos. Certa vez, um governador paraibano, José Maranhão, disse-me que havia em São Paulo, morando, pelo menos 350 mil paraibanos como eu. Perguntei-lhe: “Como você sabe disso?”. Rindo, Maranhão respondeu que dados desse tipo são facilmente encontráveis no site do Tribuna Superior Eleitoral (TSE). A grandiosidade da cidade paulistana tem levado compositores de todos os naipes a expressarem sua opinião e impressão a respeito dessa cidade. Mais de 7,5 milhões de compositores deixaram a sua marca musical em discos. Essa história data do século 19 e chega facilmente ao século 20. E ao 21. Todo mundo sabe, e quem não sabe já é hora de saber: Adoniran Barbosa é a voz poético-musical dessa cidade que encanta e desencanta, que faz bem e que faz mal, dependendo do ponto de vista de cada um de nós. Adoniran, de batismo João Rubinato (1910-1982), compôs quase duas dúzias de músicas em que aparecem São Paulo e logradouros. Há algumas músicas de Adoniran que tratam de São Paulo sem citar São Paulo e logradouros. Exemplo: Saudosa Maloca. Saudosa Maloca é na origem um samba, que trata de três pobres- -diabos: o narrador e seus companheiros, Mato Grosso e Joca. É assim: São Paulo de todos nós(*) Se o senhor não tá lembrado Da licença de contar Que aqui onde agora está Esse edifício alto Era uma casa velha um palacete assobradado Foi aqui seu moço Que eu, Mato Grosso e o Joca Construímos nossa maloca Mais um dia nem quero me lembrar Veio os homens com as ferramentas O dono mando derrubá Peguemo’ toda’ nossas coisas E fumos pro meio da rua Apreciar a demolição Que tristeza que eu sentia Cada táuba que caia Doía no coração Mato Grosso quis gritar Mas em cima eu falei Os homens está ‘cá razão Nós arranja outro lugar Só se conformemos quando o Joca falou “Deus dá o frio conforme o cobertor” E hoje nós pega a paia nas grama do jardim E pra esquecer nós cantemos assim: Saudosa maloca, maloca querida Que din donde nós passemos dias feliz de nossa vida Saudosa maloca, maloca querida Que din donde nós passemos dias feliz de nossa vida Saudosa maloca, maloca querida Que din donde nós passemos dias feliz de nossa vida Saudosa maloca, maloca querida Meu amigo, minha amiga, você sabia que Saudosa Maloca, no original, intitulava-se Saudade da Maloca? Sob esse título, a letra de Adoninan foi gravada por ele mesmo no dia 27 de julho de 1951. Gravadora: Continental. A gravação de Adoniran não chamou a atenção de ninguém. Em fevereiro de 1955, porém, ao ser gravada pelo grupo Demônios da Garoa, ganhou uma repercussão incrível. Nesse mesmo ano, 1955, Saudosa Maloca recebeu uma versão em ritmo de tango pelo acordeonista Hortênsio. Até a cantora Marlene, à época a preferida dos militares do Exército, como era da Marinha a cantora Emilinha Borba, gravou a música de Adoniran. Não fez sucesso, mas ficou o registro. Muita coisa ainda há pra se falar sobre São Paulo e sua música e Adoniran Barbosa. E Demônios da Garoa. A primeira gravação do grupo apareceu em 1949, num disco de 78 rpm de Mário Zan. Mera participação. Título: Sanfoneiro Folgado, que sairia logo depois num compacto duplo de 45 rpm. A história é longa, de anjos e demônios da cidade de São Paulo, e está no livro Pascalingundum. No filme O Cangaceiro, Adoniran Barbosa aparece como ator, interpretando uma figurinha chamada Mané Mole. É isso. Segunda-feira, 24/1, este J&Cia apresentará uma reportagem que fiz para vocês. Espero que gostem. (*) Ouça! Adoniran Barbosa no filme O Cangaceiro

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