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sexta-feira, 8 de abril de 2022

DE COMO O ASSASSINATO DE UM JORNALISTA PROVOCOU A QUEDA DE UM REI (2)

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Túmulo de Líbero Badaró, no
Cemitério da Consolação
De fato, constatou-se depois que Badaró tinha razão. Mas só um dos criminosos, de nome Henrique Stock foi preso e levado a julgamento. Primeiro na província de São Paulo, depois no Rio de Janeiro, onde foi absolvido.
Todos os caminhos, até aqui conhecidos, levam a um mandante do crime: Cândido Ladislau Japiassú, ouvidor geral da província de São Paulo e inimigo nº 1 de Badaró.
Badaró virou inimigo de Japiassú quando passou a chamá-lo de ignorante e inimigo do povo. E “um caligolazinha”.
Japiassú, por sua vez, via em Badaró um inimigo que precisava ser aniquilado, o mais rápido possível.
No leito de morte, o fundador do jornal O Observador Constitucional disse mais de uma vez, para quem quisesse ouvir, que o mandante do crime de que fora vítima era Japiassú. E disse mais, convicto do seu fim: “Morre um liberal, mas não morre a liberdade”.
Essa última fala de Badaró se acha reproduzida na matéria que começa na 1ª e termina na 2ª página do jornal que fundara, edição de 26 de novembro de 1830 (acima).
Curiosidade: na 1ª edição de O Observador Constitucional, lançado no dia 23 de outubro de 1829, Badaró já dizia que “não devia vegetar no Brasil a planta do despotismo”, mostrando com clareza o seu perfil de homem livre.
Depois, na edição de 17 de setembro 1830 ele diz, prevendo o seu fim:

(…) altamente declaramos que não temos o menor medo de ameaças. Aconteça o que acontecer, a nossa vereda está marcada e não nos desviamos dela: não há força no mundo que nos possa fazer dobrar, senão a da razão, da justiça e da lei. Estamos em face do Brasil e para servi-lo daremos por bem empregada a vida. A opinião pública está bem fixa a respeito de certa gente; qualquer atentado lhe será imputado, e ficarão com um crime a mais, sem que isso acabe com os públicos escritores…

E tinha razão.
Em sessão especial da Câmara de Vereadores da Capital da província de São Paulo, realizada no dia 20 de dezembro de 1830, o nome do ouvidor Japiassú voltou à baila:

(...) Os membros desta Câmara asseveram que o Ouvidor denunciado é o autor desse crime, porque estão tão certos disso, assim como estão da sua existência. Deixando pois chicanas, e desdenhando a censura de pretendidos apáticos que exigem a frieza do gelo em todas as peças oficiais, a Câmara muito pelo contrário, sendo como é composta de cidadãos, que ou nasceram debaixo do ameno clima paulistano, ou a ele ligaram sua existência, clama vingança e invoca o Brasil inteiro contra o malvado que veiu ludibriar sua pátria, assassinar seus concidadãos, e fez quanto pôde para torná-la o teatro da guerra civil, da carnagem, e da assolação

Usando de foro privilegiado a que tinha direito, o ouvidor Candido Ladislau Japiassú escapou ileso das acusações. Sequer foi a julgamento.

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