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sexta-feira, 14 de outubro de 2022

MEMÓRIAS DA INFÂNCIA: O MENINO E O MAR (2, FINAL)


Além da literatura tradicional, infantil no caso, os autores vão se sucedendo e construindo histórias e reconstruindo memórias.
Descobri autores nacionais pondo nas histórias personagens reais. Caso, por exemplo, de Jorge Amado, que escreveu uma belíssima história dedicada ao filho João. Esse livro foi escrito em 1948 e publicado 28 anos depois. O próprio Jorge explica, à guisa de prefácio:

A história de amor do Gato Malhado e da Andorinha Sinhá eu a escrevi em 1948, em Paris, onde então residia com minha mulher e meu filho João Jorge, quando este completou um ano de idade, presente de aniversário; para que um dia ele a lesse. Colocado junto aos pertences da criança, o texto se perdeu e somente em 1976, João, bulindo em velhos guardados, o reencontrou, dele tomando finalmente conhecimento.
Nunca pensei em publicá-lo. Mas tendo sido dado a ler a Carybé por João Jorge, o mestre baiano, por gosto e amizade, sobre as páginas datilografadas desenhou as mais belas ilustrações, tão belas que todos as desejam admirar. Diante do que, não tive mais condições para recusar-me à publicação por tantos reclamada: se o texto não paga a pena, em troca não tem preço que possa pagar as aquarelas de Carybé.
O texto é editado como o escrevi em Paris...


Pois é, personagens reais têm invadido a ficção. Infantil. Coisa boa.
Por esse mesmo caminho têm trilhado muitos autores, jornalistas inclusive.
Em 2009, o jornalista alagoano Audálio Dantas publicou O Menino Lula. É a história do pernambucano que virou presidente. Bom texto, para um bom personagem.
E por não ter o que fazer, até eu abracei a ideia de contar a infância de pessoas reais, como a cantora paulistana Inezita Barroso e o pernambucano de Exu Luiz Gonzaga. Dois livros, direcionados ao classificado público infanto-juvenil. Títulos: A Menina Inezita Barroso (2011) e Lua Estrela Baião, a História de um Rei (2012).
No ano de 1987, o multitudo paranaense Elifas Andreato adaptou um texto da Declaração dos Direitos Humanos (1948) para a criançada. Dizia dos principais itens, ou pontos, necessários para que as crianças pudessem/possam crescer com liberdade e categoria. Tornando-se cidadãos de respeito. Essa adaptação ganhou livro e versão musical para teatro e disco. Uma beleza. Título: A Canção dos Direitos da Criança.
Sou litorâneo. Nasci em João Pessoa, PB. Conheci o mar nos braços da minha prima Avani. Eu tinha uns três anos, se tanto. Apaixonei-me pelo mar. E apaixonado escrevo, especialmente para este J&Cia, O Menino e o Mar:

Numa boa estou bem
Na canoa a navegar
Navego no lusco-fusco
Das ondas que faz o mar
Menino-peixe que sou
Eu nasci para brincar

Quem brinca se diverte
Seja só ou seja em par
Nas ruas, parques e praças
Ou simplesmente no mar
Na vida tudo é graça
Pra quem gosta de brincar

Brincando criei a Lua
Brincando fiz o luar
Minha canoa não teme
As intempéries do mar
Quem tem medo do medo
Não serve para brincar

Minha canoa é forte
Tão forte que nem o mar
Tão forte que nem o vento
Quando quer nos assustar
Com remos firmes nas mãos
Eu não me canso de remar

Já remei em todo canto
Inda mais hei de remar
Na Paraíba, no Japão...
Em japonês eu vou cantar
Cantando direi que sei
Dos segredos que tem o mar

Na tarde de todo dia
Num ponto qualquer do mar
Ouço vozes maviosas
Ganhando formas no ar
São sereias desgarradas
Num belo coro a cantar

É a coisa mais bonita
Que se possa imaginar:
Sereias no ar dançado
Cantando pra encantar
Num ponto qualquer do mundo
Num ponto qualquer do mar!

Deslizando sobre águas
Sigo eu a navegar
Procurando juntar forças
Pra quem sabe até voar!
Sou peixe à luz do Sol
À luz da Lua sou o mar

Sol e Lua quando juntos
Formam sempre um belo par
O Sol oscula a Lua
A Lua oscula o mar
Na canoa numa boa
Sigo eu a navegar




O dia 12 de outubro é o Dia das Crianças, escolhido como Lei em 1924.
No dia 12 de outubro também é comemorado o Dia de Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil.

LEIA MAIS: Em junho de 2013 escrevi um texto especial abordando o tema literatura infantil. É uma pequena viagem no tempo. Talvez valha a pena acompanhar o dito escrito sob o título Oralidade — Hoje, ontem e sempre.

Foto e ilustrações por Flor Maria, Anna da Hora e Fausto Bergocce.

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