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domingo, 9 de abril de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (6)

O número com a matéria de
Zéfiro agora é peça de colecionador

As revistinhas do sacana Zéfiro passavam de mão em mão, literalmente.
Mas quem era Zéfiro?
Em novembro de 1991 a revista Playboy dedicou cinco páginas ao personagem que fez a alegria de jovens e marmanjos afoitos, durante pelo menos duas décadas. Como chamada de capa a revista trazia: "Acabou o mistério de 30 anos - Revelamos a verdadeira identidade de Carlos Zéfiro, o lendário autor dos quadrinhos eróticos que enlouqueciam o País". E lá dentro, a manchete: "O Fim de 30 anos de Mistério".
O autor da matéria, jornalista Juca Kfouri, lembra que foi muito difícil convencer o autor dos "catecismos" a revelar o seu nome verdadeiro: Alcides Aguiar Caminha.
Encafifado sempre fui no tocante a essa história, peguei o telefone e Juca me disse que o momento era mais ou menos impróprio. Estava assistindo à TV uma partida de futebol para comentar no dia seguinte, mas papo vem papo vai, revelou e deixou-me fazer perguntas.
Contou-me detalhes que não contou na entrevista que fez com o criador de Zéfiro.
A história contada por Juca, à época diretor da revista Playboy, começa quando recebe um telefonema de Moacy Cirne, professor da Universidade Federal Fluminense. O professor perguntava se interessava fazer cobertura de uma exposição de revistas de sacanagem que estava na programação da Universidade. E Juca respondeu com outra pergunta: "E o Zéfiro vai estar?".
Como resposta, o professor disse que há muito tempo também estava à procura do famoso autor das historietas de libertinagem, tão procuradas por gente de todo tipo.
Pouco depois dessa conversa Juca recebeu um telefonema do diretor da revista Imprensa, Sinval de Itacarambi Leão. Queria saber se a Juca interessava entrevistar o "verdadeiro" Carlos Zéfiro. Claro, disse. Resumindo: Juca marcou encontro, no Rio, com um cara chamado Eduardo Barbosa (1914-2006). Desenhista dos bons, dos antigos, que dizia ser o o Zéfiro e queria pela entrevista 25 mil dólares.
A essa altura, Juca Kfouri já havia mantido contato pessoal com o primeiro editor de Zéfiro: Hélio Brandão, dono de um sebo na capital fluminense.
Zéfiro produziu e publicou pelo menos
600 títulos dos famosos catecismos
Também a essa altura Juca já havia chegado ao nome de Caminha e até tentara convencê-lo a dar a tão pretendida entrevista à Playboy. Negativo, no primeiro momento. Depois, no segundo momento, Juca apostou alto. E disse a Caminha na sua casa em Anchieta, RJ: "Eu vou publicar entrevista com o Barbosa. É ele o Zéfiro".

Caminha não gostou do que ouviu. E terminou por contar a sua história, mas gostaria de ler o texto antes de publicado. Pedido feito, pedido atendido.
"Voltei a casa do Caminha com a matéria pronta. Reunida numa mesa grande, Caminha, sua mulher e a família toda me aguardavam. Comecei a ler o texto. Lá pelas tantas, ouvi um fungado ou algo parecido. Depois, mais um e mais outro. Eram ele e a mulher chorando, emocionados".
Todos eram a favor de que Alcides Caminha revelasse o fato de que Zéfiro era ele mesmo, mas resistia. Juca: "Foi uma das melhores matérias que já escrevi na minha vida. Orgulho-me disso".
A matéria de Juca Kfouri é do caralho!
Essa matéria, cuja cópia Juca me mandou, virou peça de colecionador. Compartilho com vocês: https://drive.google.com/file/d/12DUEnjAPfFn9VqPzt1wQ7zqWY8N78cja/view?usp=sharing
Caminha morreu oito meses após a publicação da entrevista.
Alcides Caminha foi também um compositor musical bastante inspirado. É dele, por exemplo, em parceria com Nelson Cavaquinho e Guilherme Brito o samba A Flor e o Espinho.

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