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quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

A REALIDADE EM JORGE AMADO



Pessoas em situação de rua sempre existiram. Diógenes, aquele que morava numa barrica se incluía nessa condição. As narrativas levam a essa conclusão.
No correr de todo o século 19 não era diferente, no Brasil.
No livro A Alma Encantadora das Ruas, que reúne uma trintena de textos impagáveis de João do Rio, essa situação também é explícita. Esse livro foi publicado em 1907/08. Nele o autor mostra que as cadeias já andavam lotadas de homicidas, ladrões etc. Não eram diferentes também os reformatórios, orfanatos e hospícios. 
Lembro essa questão após a leitura do clássico Capitães da Areia, de Jorge Amado, lançado em 1937. Nesse livro o autor retrata o dia a dia de uma centena de crianças jogadas à rua. Pedro Bala, um loiro com uma cicatriz de navalha na cara, é o líder do grupo. Tem uns quinze anos. Os outros personagens são tão visíveis na trama jorge amadiana quanto as ondas do mar que lambem as praias da Bahia. Gato, bonitão e elegante, anda bamboleando nos cabarés e chamando a atenção das quengas. Uma delas, Dalva, rende-se a seus encantos e termina sendo por ele explorada, sexualmente. O professor é outro personagem incrível. Ele passa a noite lendo a luz de vela. Prá si e prá seus companheiros de aventuras. 
Em Capitães da Areia a violência policial é marcante. 
O personagem Sem Pernas pode ser comparado a qualquer um aleijado. Naquele tempo não havia essa coisa de cadeirante. Aleijado era aleijado, cego era cego, mudo era mudo.
Sem Pernas era órfão e muito cedo caiu na rua. Ele, na trama de Jorge Amado, é o espião do grupo. Quer dizer, era quem infiltrava-se numa casa de gente rica prá anotar dela os pontos fracos, passíveis de invasão. E aí é quando o leitor é tocado pelos passos de Sem Pernas. Ele é ocasionalmente "adotado" por Dona Ester e seu marido, o advogado Raul. E mais não conto.
O bulling também está presente nesse romance do autor baiano. A pederastia e tudo mais. 
É muito bonito esse livro. É um romance realista.
O mais novo integrante do bando de Lampião, Volta Seca, também passeia nas páginas de Capitães de Areia. Há muito o Brasil é como um dos meninos do bando de Pedro Bala: abandonado.
Em São Paulo há entre 20 e 25 mil pessoas em situação de rua. Desse total, 3% são crianças. 
A população de São Paulo cresce, anualmente, 0,7%, enquanto a população em situação de rua cresce 4,1% no mesmo período. Quer dizer: os capitães da areia se multiplicam como a miséria no Brasil. A propósito, dados divulgados hoje indicam que o número de pessoas que sobrevivem abaixo da linha da pobreza, no Brasil, anda num crescente. 
A mais recente pesquisa do Banco Mundial indica que o número de pobres no Brasil pode chegar a 3,6 milhões até o final deste ano.

QUE NEM GENTE

Foi morta sem razão. Umas porradas desferidas com a violência do mundo levou a morte uma cachorrinha sem nome. O caso ocorreu semana passada, em área própria de um supermercado Carrefour em Osasco, região da grande São Paulo. O assassino ainda não foi preso, mas já está mais do que claro que faz parte do corpo de segurança desse supermercado. Caso seja preso e condenado, o criminoso pode pegar uns 3 anos e cumprir a pena solto, sem tornozeleira. São os absurdos da vida, repetidos no dia a dia de todo canto. Sobre cães leias mais:


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