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sábado, 21 de maio de 2022

RÁDIO: FUTEBOL, NEGRO E MÚSICA (2)

Não só de alegria vive o rádio, no tocante à transmissões de partidas de futebol.
Grosso modo, são poucos os profissionais que atuam no setor. Mais brancos do que negros. Mulheres são minoria absoluta, embora haja mulheres já transmitindo jogos. E não só no futebol, no rádio em geral.
O paulista de Santa Cruz do Rio Pardo, professor emérito da USP publicou em 1967 o livro Cor, Profissão e Mobilidade: O Negro e o Rádio de São Paulo, no qual analisa o setor radiofônico, desde os anos de 1950. Lá pras tantas, ele diz:
“Do total de radialistas, 1.854 (83,7%) são homens e 362 (16,3%) são mulheres: destas, 334 (15%) são brancas e apenas 28 (1,2%) são de cor; enquanto no grupo masculino, 1.610 (72,6%) são brancos e 244 (11,4%) são pretos ou mulatos. Observa-se portanto que o número de homens brancos não chega a ser 7 vezes o total de profissionais não-brancos, ao passo que o número de mulheres brancas chega a ser quase 12 vezes o de mulheres de cor. Nota-se, também, que o total de profissionais brancos mal atinge 5 vezes o número de mulheres brancas; já o número de profissionais de cor chega a ser quase 9 vezes superior ao total de mulheres não-brancas.
No grupo branco, as 334 mulheres correspondem a 17,6% do total de profissionais; por sua vez no grupo de cor, as 28 mulheres representam 11,4% do total de radialistas com as mesmas características raciais. Estes dados permitem estabelecer a percentagem diferencial entre elementos brancos e de cor, nas diferentes categorias de sexo: dentro do grupo feminino, 92,3% são brancas e 7,7% são de cor. No masculino, 86,8% são brancos e 13,2% são pretos ou mulatos.”
Os dados antigos, dos anos de 1950.
Carlos Silvio (esq.) e Salomão Ésper
Faltam dados atualizados, mas surpresa não será se o resultado for pior ou igual aos números do passado.
Negros famosos no rádio de São Paulo contam-se nos dedos: Moisés da Rocha, que há mais de 30 anos produz e apresenta na rádio USP, uma vez por semana, o programa O Samba Pede Passagem e Maria Júlia Coutinho Portes, a Maju, que apresentava um belíssimo programa de entrevistas, ao vivo, na extinta rádio Globo paulista.
O radialista Carlos Silvio, apresentador do programa Paiaiá na Conectados, reforça a ausência do negro na rádio brasileira. E diz:
"Em várias áreas, o negro ainda tem pouca representatividade. Fato. No mundo do rádio, não é diferente.
Uma rápida passagem pela memória, não conseguir lembrar, de bate-pronto, se há negros trabalhando no rádio paulistano. Ou há?
Num País mestiço como o Brasil, em que muitas vezes pessoas se identificam como 'moreno' ao invés de negro, a ausência é mais evidente.
Quando morava na Bahia eu ouvia muito as transmissões futebolísticas, pela Rádio Sociedade da Bahia, uma das principais vozes era o narrador Silvio Mendes, um negrão.
Hoje, com 76 anos e narrando futebol pela Rádio Metrópole e Salvador, Mendes diz que vai narrar futebol até os 80 anos.
Mendes simboliza que o negro pode e deve estar em todos os lugares e profissões, sem que haja a necessidade de incluir em qualquer tipo de 'cota'.
Negro, assim como o branco, amarelo, albino ou sei lá o que mais, é capaz"
Pois é, e o problema se agrava. Sempre.
Frequentemente atletas negros enfrentam xingamentos de torcedores. E não só no Brasil. Na Inglaterra, na França, na Itália… Mais grave: jogador chamando jogador de macaco.

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