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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

AI, AI, AI, É CHUVA DEMAIS

Cá em Sampa de novo a chuva da tarde de sempre chegou hoje um pouco mais tarde, ali pelas 15, mas fez um estrago deste tamanho, maior até do que ontem, quando deixou também, como agora, um rastro sujoso de desespero, pretume, miséria, dor e mortos afogados e soterrados nalgumas partes abandonadas da cidade e doutras partes além cidade.
No Rio de Janeiro, então...
O que fazer para acabar com tudo isso e fazer com que o povo escape?
A culpa é de São Pedro ou dos governantes?
De Kassab, de Serra, do cara do Rio?
Burocratas graduados da área de meteorologia dizem que o castigo tem vindo de frentes frias das bandas da Argentina...
Sei não, acho que o jeito é conferir isso de perto.
E acho que vou.
Termômetros da terra de Gardel prevêem calor superior a 30 graus para o tempo de amanhã.
Será?
O Lula presidente disse ontem na prefeitura da maior cidade da América do Sul e 5ª maior do mundo, Sampa, umas coisas interessantes de se ouvir e pensar, exatamente no momento em que recebia o mimo Medalha 25 de Janeiro, ao mesmo tempo em que o tempo desabava na cabeça de todos com Zé Ninguém lá fora pedindo socorro pelo amor de Deus.
Ele pediu que as três esferas governamentais se juntem e juntas procurem se somar em prol de uma solução que beneficie a população.
Gostei.
Em novembro de 1954, o arquiteto Rino Levi, paulista descendente de italianos, declarava ao repórter Carlos Scarinci, da Revista do Globo: “Ainda não há urbanismo no Brasil”.
Vejam: em 54!
Ipis literis, ele àquela época:
– De um modo geral, costuma-se dividir urbanismo em habitação, trabalho, recreio e transporte, mas indiscutivelmente o problema básico de qualquer estudo urbanístico é o da habitação, que tem sido muito descuidado em nosso país.
Passo a bola pra quem sabe da matéria. O pessoal do Metrô, por exemplo.
E aí, Nestor Tupinambá?

VENEZUELA
Ontem ao me referir à Venezuela, escrevi Colômbia. Um lapso.
Fica a correção, feita de Florianópolis pelo colega jornalista Marco Zanfra.
E por falar de novo na Venezuela: o bicho tá pegando por lá. Até o vice-presidente e ministro da Defesa, Ramon Carrizález, entregou os pontos.
Por lá, a insatisfação é geral: a continuar assim, sei não...

HAITI
Tem gente sendo resgatado dos escombros haitianos até ontem...

HONDURAS
Zelaya diz que deixa a embaixada brasileira hoje... Aguardemos.

SUÍNA
O que fazer agora com o estoque de vacina contra a gripe suína, hein?

CORINTHIANS X MIRASSOL
Claro, o Corinthians já ganhou. De quanto? Ah, isso detalhe. Dois gols serão do Ronaldo...

SERGIO CURSINO, FRANCO NETO, XICO SÁ
Ontem e hoje fiquei feliz que nem passarinho diante de sacos de alpistes. Razão? Simples: Primeiro me ligou Cursino, colega ocasional da Record rádio e amigo. Depois, passando de fone, Franco Neto, com quem tive a honra de trabalhar nos 80 na rádio Jovem Pan. E depois o cabra do Ceará, dos mais queridos, xico Sá, antena atenta desta nossa vidinha de meu Deus do céu.
Abraação a todos, e que continuem lendo estas mal batidas.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

SÃO PAULO NÃO É DA GAROA, É DAS ENCHENTES

Como previsto, tudo rolando nos trinques desde as primeiras horas do dia de hoje. Isto é, com a programação artística voltada aos 456 anos de fundação da 5ª maior cidade do planeta, São Paulo, transcorrendo sem problemas nas ruas e espaços especiais, na santinha paz e alegria das bênçãos caridosas do patrono José de Anchieta.
O “tudo” a que me refiro acima vai com sobrecarga de interpretação para as cinco estações climáticas há muito em voga em Sampa, ou seja: outono, primavera, verão, inverno e chuvas!
A leitura vale também de traz pra frente.
O dia amanheceu incrivelmente bonito, com céu de brigadeiro e sol de 20 graus a nos iluminar a alma.
Mas o calor foi aumentando de repente, minuto a minuto, e logo explodindo num toró descomunal daqueles de alagar buracos acima de metro e rios acima e abaixo de todos os níveis, por volta das 13 e até depois das 14.
Minutos antes, e num pulo, me levantei da rede e fui à banca da esquina buscar leitura.
Eu já sabia o que viria logo mais.
Na volta, fiquei de novo pra lá e pra cá lendo o noticiário de ontem, e esperando...
Não demorou e uma sequência de trovões fechou o tempo e relâmpagos em contrapartida riscaram de vermelho-fogo o céu anunciando a chuvarada que fez a gata Tina-cretina-menina-grã-fina-nordestina da minha filha Clarissa, que aqui não rima, soltar miaus arrepiantes enquanto ela própria, Tina, em cores preto-e-branco (é corinthiana a danada) sumia covardemente feito o coisa feia por debaixo de mesas e poltronas em busca de segurança, que não é besta.
Mas, bom, a programação festiva à Sampa continua a todo vapor.
A chuva, não.
Parágrafos atrás, parei de batucar estas linhas para atender telefonema do colega Pedro Vaz, da rádio Gazeta, pedindo uma fala ao vivo sobre São Paulo neste seu dia de sol, calor e enchente.
Falei da cidade e de seus contratempos, das suas belezas e feiuras, da sua importância, dos seus habitantes, da sujeira das ruas, dos bueiros entupidos.
Sugeri, por fim, que se faça uma campanha de educação e esclarecimento à população: que tal parar de jogar lixo nos rios, córregos etc., hein?
Pedro topou. Diz que começa amanhã.
Povo limpo é povo inteligente e saudável.
O Kassab tem de entrar com tudo nessa história.
Aliás, o Lula e o Serra estiveram com ele há pouco na sede da prefeitura, recebendo a Medalha 25 de Janeiro.
Na ocasião o presidente sugeriu esforço conjunto de todas as esferas governamentais para resolver os problemas provocados pelas enchentes frequentes em São Paulo.
Boa!
Falei ao programa do Pedro também sobre Luiz Gonzaga e Demônios da Garoa.
O Dicionário Gonzagueano, originalmente publicado via GTT, Grupo Trends Tecnologia, vai ganhar edição nova, via Lei Rouanet.
Pascalingundum, também.
Mais: Pascalingundum! Os Eternos Demônios da Garoa vai virar filme este ano em tela larga, grandona, dirigido por Pedro Caldas, de Versificando.
É isso.

CENTENÁRIOS
No jornal li notícia da mãe do Chico, dona Maria Amélia: 100 anos de vida hoje.
Lembrei da mãe do Vandré, também na casa dos 100.
Lembrei da viúva do Guimarães Rosa, também nos 100.
E do Niemayer, com 102.
A última pesquisa do IBGE dá conta que há no País mais de 11 mil pessoas com 100 anos ou mais, a maior parte é de mulheres.

CENSURA
E o ditador da Colômbia, hein?
O cabra não gosta da imprensa.
O seu gosto especial por fechamento de emissoras de rádio e televisão me lembra personagem de Josué Guimarães, no livro Os Tambores Silenciosos.
Vade retro, Chávez!

CASA DA MOEDA
Essa é de lascar: o presidente da Casa da Moeda do Brasil, Luiz Felipe Denucci, é multado em R$ 3,5 milhões pela Receita Federal, por movimentar grana muito além de suas posses declaradas.

ÁGUA BENTA
De lascar mesmo é esta, vem da Rússia: cento e tantas pessoas ingeriram água benta ontem durante celebração de uma Epifania e se deram mal, entre elas cerca de 50 crianças.
Eu, hein! Nem leite bebo mais, quanto mais esse tipo de água...

domingo, 24 de janeiro de 2010

DECLARAÇÃO DE AMOR A SÃO PAULO

A cidade que me adotou no início da segunda metade de 1976, completará amanhã 456 de fundação. Fez-me essa efeméride escrever o texto em versos que a peciência do paulistaníssimo Osvaldinho da Cuíca, meu amigo e parceiro bissexto, me acompanhar enquanto num estúdio da Freguesia do Ó, na zona Oeste, eu produzia um disco a que intitulei São Paulo Esquina do Mundo, que a SPTuris lançou encartado no livro São Paulo Minha Cidade, após um belo concerto para convidados especiais na Sala São Paulo, no dia 2 de abril de 2008. As 15 faixas que formam esse disco podem ser ouvidas no site www.saopaulominhacidade.com.br
Através desse mesmo site, o livro também pode ser lido.

São Paulo da Rapaziada do Brás
São Paulo dos passeios, das charretes
São Paulo dos segredos e mistérios do Pátio do Colégio e do Mosteiro de São Bento
São Paulo das zoadas, rezas e silêncios; dos sambas e batuques dos negros forros...
São Paulo-babel de todas as cores, sotaques e culturas que se expressam nas falas e gestos
São Paulo do Butantã e das cobras e lagartos do poeta Vanzolini
São Paulo de Nóbrega e Anchieta; de Tibiriçá e Bartira; de João Ramalho e Borba Gato...
São Paulo do Patriarca, Bom Retiro, Itaquera, Itaim
São Paulo da Fiesp, Bovespa e mais-valia; do cansaço, da correria...
Ah, São Paulo!
Bela e infinita...
Deusa, Deus, rainha do pobre e do rico
São Paulo do Solar da Marquesa, do Largo de São Francisco, do Masp, USP e dos mirantes a se perder de vista
São Paulo dos heróis sem berço e dos profetas e loucos do marco zero da Sé
São Paulo dos anjos tortos, caídos, perdidos no breu da noite
São Paulo das trevas, cortiços e favelas
São Paulo dos lampiões, dos bondes camarão e da garoa fina, finda
São Paulo guerreira, das entradas e bandeiras
Ah, São Paulo!
Menina-mulher pura e pecadora, durona e conciliadora.
Esfinge à frente do próprio tempo!
No teu leito de vida e morte, São Paulo, mão e contramão se chocam contra o irreal e a razão...
Palitos de aço e concreto te ferem o céu do teu pulmão, que chora poeira, óleo e carvão...
São Paulo, São Paulo...
Em ti, por ti, joões e marias se atiram às cegas na eterna luta pela vida, e ao fim e em uníssono, de todas as formas, todos dizem:
– Te amo!

ANIVERSÁRIO DE SÃO PAULO
É enorme a programação comemorativa ao aniversário da cidade. e a do tempo também.
Pois é. São Paulo é assim: num só dia, todas as cinco estações. Isto é: primavera, verão, outono, inverno e chuvas.

CORINTHIANS

O mais paulistano dos times brasileiros continua ganhando.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

VOU PRA PARSÁGADA...

Ontem foi uma criança, hoje foi uma senhora de oitenta anos.
Isso prova que esperança e Deus existem.
A criança e a senhora foram resgatadas com vida uma semana após o terremoto que praticamente tirou do mapa o Haiti.
Os Estados Unidos, urubus de sempre, já tomaram conta do território haitiano em nome da salvação.
Meu Deus!
São os mesmos Estados Unidos que em nome da paz fazem a guerra.
O que será do que sobrou do Haiti?
E dos haitianos?
Para onde vão o Haiti e o seu povo?
Caetano, o duvidoso emblemático uns anos atrás arriscou:

Quando você for convidado pra subir no adro
Da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada:
Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico,
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for a festa do pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino do primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui.

Estou me preparando pra dar um pulo em Parságada...

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

PATTY ASCHER, UMA BELA VOZ QUE NASCE OK

A bela rio-grandense do Norte Marina Elali tem agora no dial das FMs uma voz à altura, muito bonita, aliás: Patty Ascher.
Marina é neta do compositor pernambucano Zé Dantas, parceiro de mestre Luiz Gonzaga num punhado e meio de clássicos como Xote das Meninas, que ela canta em inglês discô no disco De Corpo e Alma Outra Vez.
Patty é filha do paulista de Presidente Epitácio Demerval Teixeira Rodrigues, o Neno, ex-integrante de um dos velhos grupos de rock dos anos 60 e 70: Os Incríveis, de Netinho, Mingo, Manito...
Naqueles tempos, faziam sucesso brasileiros com nomes estrangeiros, como Dave MacLean e Tony Stevens, esse dono de uma voz fantástica.
Uma voz, não; 12 vozes de timbres diferentes ocupavam a sua possante garganta de ouro.
Conheci Jessé Florentino Santos, isto é, Tony Stevens, de perto.
Guardo discos dele até hoje, tanto da fase gringa, quanto da vida brasileira pé-no-chão.
Impressionei-me tanto com a sua capacidade de interpretação, que acabei fazendo entrevistas com ele para o Pasquim e o Jornal do Trabalho, editado pelo guerreiro Perseu Abramo.
O MacLean, pseudônimo de José Carlos Gonzalez, paulista descendente de espanhóis, fez um sucesso dos diabos, com Me and You.
Lembra?
Também era dos 70 um cabra que atendia por Mark Davis, em todas as paradas estourado com Don´t let me Cry.
De batismo, Davis recebeu o nome de Fábio Correa Ayrosa Galvão.
Sacou?
O Mark Davis de ontem é o Fábio Jr. de hoje, das novelas, da mulherada...
Tinha também o Terry Winter, que Miriam Martinez me apresentou numa sala da extinta RCA Victor de Santa Cecília, cá em Sampa, e que um acidente de carro matou, nos 90.
Winter era paulista, com descendência britânica, batizado como Tommy Standen, que chegou a vender 600 mil cópias de um disco, quando Caetano Veloso, no máximo, chegava aos 5 mil exemplares de um título, e o tropicalismo, no cômputo geral, alcançava 30 mil do bolso pra fora.
Velhos tempos, tempos bons, tempos livres, loucos, de cuba libre e inda namoro no portão.
Marina Elali é voz comum ao fundo de novelas globais e em eventos purpurinovos.
Sim, claro, afinadíssima, mas que parece não saber falar o idioma pátrio e dele não gostar, embora aqui e ali seja levada a cantar em grandes eventos o Hino Nacional...
Patty Ascher, que também é compositora, das boas, se ligou à tomada do Jazz norte-americano cantando com o desembaraço das grandes intérpretes, nem parecendo ser filha de um baixista interiorano de um grupo de rock da terra da ex-garoa, hoje das enchentes, o já citado Neno, produtor do programa Inimigos do Silêncio, no ar uma vez por semana pela TV Aberta. Mais posso dizer: Patty é um doce de voz de pluma que inebria pela suavidade os corações e mentes necessitados de bom gosto.
Ouça Deu Jazz no Samba, o CD que ela está pondo na praça, com apoio de gente bamba como Dori Caymmi, Eduardo Lages, Cristóvão Bastos, Gilson Peranzetta e Roberto Menescal.
Sim, Patty, seja bem-vinda ao campo da vida musical.
Gostei disso aqui:

O samba encontrou o jazz
Propôs uma união
Muito amor, sem estresse
Samba jazz, samba jazz

O jazz ficou ressabiado
~Eta samba danado
Resistiu e não caiu
Nadade de pecado...

Referência à bossa nova, que foi buscar no jazz a sua célula mor...
Eu gostaria de ouví-la cantar algo como Juazeiro, de Gonzaga e Humberto Teixeira, que Peggy Lee gravou ao raiar dos 50 em 78 rpm na sua terra-berço, os Estados Unidos de Obama.

TERREMOTO NO MUNDO
- O Haiti está sem rumo, perdido no globo dominado pelo Tio Sam, que, aliás, está mandando e desmandando por lá, Haiti.
O Haiti é aqui, como diz a canção do baiano Caetano.
Precisamos nos cuidar, pois os terremotos provocados pelo mau-caratismo de boa (boa?) parte dos políticos tapuias são perigosíssimos.
Tio Sam anda por perto, rondando, sondando as nossas fraquezas...

CHUVAS DEMAIS
- O que está acontecendo em São Paulo e parte do Brasil me faz lembrar a toada de Gordurinha, Súplica Cearense:

Oh! Deus, perdoe este pobre coitado
Que de joelhos rezou um bocado
Pedindo pra chuva cair sem parar

Oh! Deus, será que o senhor se zangou
E só por isso o sol arretirou
Fazendo cair toda a chuva que há...

Senhor, eu pedi para o sol se esconder um tiquinho
Pedi pra chover, mas chover de mansinho
Pra ver se nascia uma planta no chão

Oh! Deus, se eu não rezei direito
O Senhor me perdoe,
Eu acho que a culpa foi
Desse pobre que nem sabe fazer oração

Meu Deus, perdoe eu encher os meus olhos de água
E ter-lhe pedido cheinho de mágoa
Pro sol inclemente se arretirar...

Desculpe eu pedir a toda hora pra chegar o inverno
Desculpe eu pedir para acabar com o inferno
Que sempre queimou o meu Ceará...

CORINGÃO
- Pois é: e o Corinthians continua a ganhar...
Fui!

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

LULA SANCIONA LEI PROFISSIONALIZANDO REPENTISTAS

Os poetas repentistas do Brasil são agora profissionais reconhecidos por legislação própria. A lei que legaliza a profissão é a de nº 12.198, aprovada primeiramente em novembro pelo Senado e quinta 14 sancionada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, mas somente ontem passou a valer com a publicação no diário Oficial da União. A íntegra:

LEI Nº 12.198 DE 14 DE JANEIRO DE 2010
DOU 15.01.2010
Dispõe sobre o exercício da profissão de Repentista.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º Fica reconhecida a atividade de Repentista como profissão artística.

Art. 2º Repentista é o profissional que utiliza o improviso rimado como meio de expressão artística cantada, falada ou escrita, compondo de imediato ou recolhendo composições de origem anônima ou da tradição popular.

Art. 3º Consideram-se repentistas, além de outros que as entidades de classe possam reconhecer os seguintes profissionais:
I - cantadores e violeiros improvisadores;
II - os emboladores e cantadores de Coco;
III - poetas repentistas e os contadores e declamadores de causos da cultura popular;
IV - escritores da literatura de cordel.

Art. 4º Aos repentistas são aplicadas, conforme as especifidades da atividade, as disposições previstas nos arts. 41 a 48 da Lei nº 3.857, de 22 de dezembro de 1960, que dispõem sobre a duração do trabalho dos músicos.

Art. 5º A profissão de Repentista passa a integrar o quadro de atividades a que se refere o art. 577 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943.

Art. 6º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 14 de janeiro de 2010; 189º da Independência e 122º da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Basta a legalização oficial da profissão?
O que de fato muda na vida desses profissionais, que tiram poesia “de onde não tem” e colocam “onde não cabe”, como definia tão bem o paraibano Pinto do Monteiro (1895-1990), chamado de Cascavel do Repente?
De qualquer forma, acho que aqui cabe o pensamento do jornalista e dramaturgo santista Plínio Marcos (1935-99), exposto no artigo que assinou no suplemento dominical Folhetim, do jornal Folha de S.Paulo, no dia 6 de fevereiro de 1977: “Um povo que não ama e preserva suas formas de expressões mais autênticas, jamais será um povo livre”.
A calhar, me vem também à lembrança a saudação em versos que o poeta Manuel Bandeira (1886-1968) fez aos repentistas que se apresentavam num concurso no Rio de Janeiro, nos fins dos 50, do qual era jurado ao lado de outros intelectuais. Os versos se acham no livro Estrela da Vida Inteira (José Olympio; 1966) e são estes:

Anteontem, minha gente,
Fui juiz numa função
De violeiros do Nordeste
Cantando em competição,
Vi cantar Dimas Batista,
Otacílio, seu irmão,
Ouvi um tal de Ferreira,
Ouvi um tal de João.
Um a quem faltava um braço
Tocava com uma só mão;
Mas como ele mesmo disse,
Cantando com perfeição,
Para cantar afinado,
Para cantar com paixão,
A força não está no braço,
Ela está no coração.
Ou puxando uma sextilha,
Ou uma oitava em quadrão,
Quer a rima fosse em inha
Quer a rima fosse em ao,
Caíam rimas do céu,
Saltavam rimas do chão!
Tudo muito bem medido
No galope do Sertão.
A Eneida estava boba,
O Cavalcanti bobão,
O Lúcio, o Renato Almeida,
Enfim toda comissão.
Saí dali convencido
Que não sou poeta não;
Que poeta é quem inventa
Em boa improvisação
Como faz Dimas Batista
E Otacílio seu irmão;
Como faz qualquer violeiro,
Bom cantador do Sertão,
A todos os quais humilde
Mando minha saudação.

Detalhe: os onze primeiros versos desse belo poema o alagoano Djavan achou por bem se apropriar e musicá-los sem a nobreza, porém, de citar o autor. Pior: ele informa no selo e no encarte do disco LP Coisa de Acender (Columbia, 1992) que são de sua autoria os versos. Ora, ora...
Na foto, um clic para a história: Otacílio Batista sendo por mim entrevistado no programa Gente e Coisas do Nordeste, que por mais de ano apresentei ao vivo na Rádio Atual, de São Paulo, em 1995. A foto foi extraída do livro A Presença dos Cordelistas e Cantadores Repentistas em São Paulo; Ed. Ibrasa, 1996, que serviu de base para o filme franco-brasileiro Saudade do Futuro, dirigido por Marie-Clémence e César Paes; 2000.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

GARCÍA MÁRQUEZ, BRECHT, REICH? NÃO. EDUARDO COSTA

Não é de hoje a confusão que se faz em torno de nomes e obras lliterárias, seja no Brasil, seja fora do Brasil.
Os pontos nos is acabam, porém, sendo postos como no caso da autoria do poema Desejo, que imaginei fosse de Victor Hugo e como tal creditei no texto que postei neste blog no último dia do ano passado.
Mas como eu ia dizendo, não é de hoje que se faz confusão em torno de nomes e obras, aqui e alhures.
Pois bem, por muito tempo circulou nas hostes populares e acadêmicas a certeza de que os versos do poema No Caminho com Maiakovski eram mesmo do poeta russo Vladimir Vladimirovich Mayakovsky (1893-1930).
Não eram.
Uma vez, na noite de 25 de outubro de 2003, convidei para uma entrevista ao programa São Paulo Capital Nordeste, que apresentei por mais de seis anos, em Sampa, o niteroiense Eduardo Alves da Costa, safra de 36, bom papo, tranquilo, meio tímido, cabeça boa, que estava lançando pela editora Geração Editorial o livro... No Caminho com Maiakovski.
O poema-título começa na página 47 e se estende por mais duas.
É como se fosse um poema dentro de outro.
O autor começa:

“Assim como a criança
Humildemente afaga
A imagem do herói,
Assim me aproximo de ti, Maiakovski...”.

Mais adiante, timidamente:

“Tu sabes,
Conheces melhor do que eu...”.

E é aqui, extamente aqui, que entra a confusão em 15 linhas desrimadas, fortes, bombásticas, em tom de alerta a um povo que se via massacrado, oprimido, no Brasil de 68:

“Na primeira noite, eles se aproximam
E roubam uma flor
Do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
Pisam as flores,
Matam nosso cão,
E não dizemos nada.
Ate que um dia,
O mais frágil deles
Entra sozinho em nossa casa,
Rouba-nos a luz, e,
Conhecendo nosso medo,
Arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada”.

E segue célere o poema de Eduardo Alves da Costa.
Tudo começou em 1977, quando o jornalista, escritor e terapeuta paulista Roberto Freire (1927-2008), criador de um negócio chamado somaterapia, que vem a ser terapia de grupo, publicou pela extinta editora Símbolo o livro Viva eu, Viva tu, Viva o Rabo do Tatu.
Nesse livro, Freire põe em epígrafe versos de Edurado, publicados pela primeira vez em 1968 e após a confusão feita e espalhada se desculpa; mas é tarde, pois mais do que depressa os versos atribuídos a Maiakovski e também a Gabriel Garcia Marques, Jorge Luís Borges, Wilhelm Reich, Brecht, Leopoldo Senghor e Jung correm impressos e de boca em boca mundo afora.
Fazer o quê?
Viva Eduardo Alves da Costa, e que mais belos versos ele nos brinde.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O BAIÃO FOI INVENTADO POR LUIZ GONZAGA

Pisei na bola.
Do poeta Peter Alouche, recebo o puxão de orelhas:
Assis,
para o bem da verdade, o poema DESEJO não é de Victor Hugo. É um poema do autor brasileiro chamado Sergio Jockyman, escrito em 1978 e publicado em 1980. O texto original em português foi traduzido inclusive para o francês (Je te Souhaite ....), para o espanhol (Te deseo). Certamente é um poema magnífico, com estilo muito inspirado em Victor Hugo, mas não é de Victort Hugo.
Fica o registro.
Bom, semana passada, precisamente sexta, assisti o documentário de longa metragem O Homem que Engarrafava Nuvens, cuja pré-estréia ocorrerá amanhã às 21h30 no Espaço Unibanco da Rua Augusta, 1475, Cerqueira Cesar, cá em Sampa.
Vão lá, valerá a pena.
O filme, do pernambucano Lírio Ferreira, conta a trajetória, rica, do compositor cearense de Iguatu Humberto Teixeira, parceiro imortal de Luiz Gonzaga em duas dezenas de clássicos genuinamente brasileiros, dentre os quais Baião, Estrada do Canindé, Juazeiro, Assum Preto e Asa Branca, toada essa que ostenta o primeiro lugar no campo das gravações do repertório nacional, seguida do chorinho Carinhoso, de Pixinguinha e João de Barro.
A gracinha bossa-novista Garota de Ipanema, de Vinicius e Tom, não conta nessa história, pois, além de bobinha, foi composta com óbvios e propositais fragmentos do jazz norte-americano para o mercado internacional, embora sua primeira gravação mundial “furtada” por Pery Ribeiro dos autores à entrada dos 60, no Rio, como me disse, tenha sido na língua que herdamos dos portugueses.
O Homem que Engarrafava Nuvens é bonito do começo ao fim dos seus 102 minutos, que diante dos nossos olhos parece passar em menos tempo.
E isso é positivo, claro.
Um elogio.
Nota mil para a fotografia.
Começa com Denise Dumont atriz aplaudida de outras fitas fazendo uma visita ao Cemitério São João Batista, onde estão sepultos os restos do pai que ela diz pouco ou nada saber.
Belo e triste.
Positivo também é esse recurso, para mostrar um personagem de tão grande importância na nossa música popular, como o foi Teixeira, desconhecido da família; da única filha, principalmente.
O roteiro, também assinado por Ferreira, flui com naturalidade. Peca, porém, aqui e ali, pelo excesso de depoimentos...
O cantor e compositor Gilberto Gil, por exemplo, do alto da sua sabedoria, diz que o baião vem das bandas da Península Ibérica. Ora, ora...
A não ser que ele, Gil, tenha querido se referir aos poetas repentistas de quem Gonzaga tirou a batida do baião e até o nome.
Revelo isso no livro Eu Vou Contar pra Vocês, de 1990.
Gonzaga, à página 53:
“...O baião em sua forma primitiva não era um gênero musical. Ele existia como uma característica, como uma introdução dos cantadores de viola. Era um ritmo, uma dança. Antes de afinar a viola, o cantador faz uma introdução. Faz assim (imitando um cantador): tom, tom, tom, tim, tim, tim, tam, tam, tam, pam, pam, pam... Minha viola/Já afinei o meu bordão.... d-tém, d-tém, d-tem...”.
No filme emocionante são algumas passagens, como aquela em que Denise se encontra com a mãe, Margarida.
Tocante. Dói pra xuxu.
Na verdade, e a bem da verdade, acho que esse filme lava a alma de Denise.
Com O Homem que Engarrafava Nuvens Denise Dumont conseguiu reconhecer o pai e um pouco do Nordeste que ela também desconhecia. Mais: salvou um fantasma da sua vida.
E isso também é positivo.
No tocante a Lírio Ferreira, particularmente, uma coisa: ele se recupera do desmantelo que foi fazer Cartola.
Que novos filmes no campo documental venham, como esse O Homem que Engarrafava Nuvens.
Ah! Sim, sem a fala de Teixeira no link da história, em off, dificilmente o filme se concretizaria. Melhor: sobreviveria.
Parabéns a todos que nele se envolveram.
Mas não precisava deixar o Rei do Baião em plano tão secundário, pois, enfim, foi ele, Gonzaga, quem procurou Humberto Teixeira num dia de 45 para pôr letras nas suas melodias e histórias baiônicas.
Um detalhe: Asa Branca é um tema popular de Pernambuco e Paraíba.

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