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quarta-feira, 24 de novembro de 2021

ZÉ LIMEIRA COMO INSPIRAÇÃO

Zé Limeira foi um grande poeta repentista. Era paraibano. 
Era muito conhecido no lugar onde nasceu, Teixeira. E aplaudido. Há muitas histórias a seu respeito. Foi lendário.
No começo dos anos 70, o jornalista Orlando Tejo (1935-2018) escreveu um belo livro contando a sua história: Zé Limeira, Poeta do Absurdo.
Zé Limeira adorava fazer versos estrambóticos e alguns de seus motes, como Ano Passado Eu morri/Mas este ano eu não morro, foram cantados por artistas da música popular, entre os quais Belchior.
Peguei o mote famoso de Limeira e fiz uma pequena modificação para nele acoplar versos de minha autoria. Estes:
 
Eu sou sim um preto velho
Eu sou sim um preto forro
Já levei muita porrada
De tabela muito esporro
Lá no passado morri
Cá no presente não morro

Não morro porque não quero
Não quero porque sou forro
Sou forro porque sou livre
E dessa vida não corro
Lá no passado morri
Cá no presente não morro

Não morro porque sou forte
E à Justiça recorro
Sou preto, sou boa gente
Sou gente, não sou cachorro
Lá no passado morri
Cá no presente não morro
 

IMPRENSA NEGRA, RESISTENTE E HEROICA: PARTE V

E os humanos de África continuam a chegar ao Brasil, de maneira violenta.
Milhões de africanos foram atirados vivos ao mar por doentes estarem.
Intelectuais pretos e pardos, e brancos também como José Maria da Silva Paranhos (1819-1880), o Visconde do Rio Branco, depois Barão, continuavam de mangas arregaçadas e sempre prontos pra luta.
A violência também continuava a correr solta, de braços dados com a discriminação e o preconceito.
Jornais continuavam a ser empastelados por publicar o que o Imperador não aprovava. Muitos, muitos.
Luís Augusto May (1782-1850), fundador do jornal A Malagueta, teve as mãos quebradas pelos oponentes de suas ideias liberais. Seu jornal, que acabaria destruído, teve o primeiro número lançado em 1821. Durou 11 anos.
May, de origem militar portuguesa, tinha o hábito de negociar textos com o imperador. Interesses pessoais. Aqui e ali, dava-se bem.
Diferenças à parte, May foi uma espécie de Hipólito José da Costa.
Outros jornalistas foram violentamente agredidos e seus jornais destruídos até às vésperas da proclamação da República. E depois, também.
Era assim que a coisa funcionava.
E morriam aqueles que insistiam em lutar pela liberdade.
Eram muitos os partidos políticos que havia naquela época.
Havia Moderados e Exaltados, por exemplo.
Os Moderados queriam a volta de Pedro I. Os Exaltados queriam a liberdade, pura e simplesmente.
Os Exaltados eram os mais afoitos, desse grupo participavam Francisco de Paula Brito e Machado de Assis.
Tinha também o partido Conservador. Desse partido participava José de Alencar.
Alencar, formado pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, SP, em 1850, ganhou carreira no Rio de Janeiro.
Em 1853, por aí, José de Alencar entrou para a história no mundo Jurídico ao criar o Habeas Corpus, HC Preventivo. Logo depois iniciou carreira de jornalista no Correio Mercantil de onde logo saiu por ter parte de um texto seu censurado.
Em 1855, Alencar virava chefe de redação e um dos sócios do Diário do Rio de Janeiro.
Antes de fundar O Homem de Cor, Paula Brito fundou A Mulher do Simplício ou A Fluminense Exaltada. Dirigida ao público feminino, essa publicação durou 14 anos (de 1832 a 1846). Falava de moda e de comportamento, com muita poesia e arte.
Pioneiro no campo da impressão, Paula Brito também foi o primeiro editor a dar emprego ao escritor fluminense Machado de Assis. Emprego e oportunidade para publicar o seu primeiro texto de jornal. Um poema, intitulado Ela. Este:

Seus olhos que brilham tanto,
Que prendem tão doce encanto,

Que prendem um casto amor
Onde com rara beleza,
Se esmerou a natureza
Com meiguice e com primor.

Suas faces purpurinas
De rubras cores divinas
De mago brilho e condão;
Meigas faces que harmonia
Inspira em dose poesia
Ao meu terno coração!

Sua boca meiga e breve,
Onde um sorriso de leve
Com doçura se desliza,
Ornando purpúrea cor,
Celestes lábios de amor
Que com neve se harmoniza.

Com sua boca mimosa
Solta voz harmoniosa
Que inspira ardente paixão,
Dos lábios de Querubim
Eu quisera ouvir um - sim -
Para alívio do coração!

Vem, ó anjo de candura,
Fazer a dita, a ventura
De minh'alma, sem vigor;
Donzela, vem dar-lhe alento,
Faz-lhe gozar teu portento,
"Dá-lhe um suspiro de amor!"

(12 de janeiro de 1855, no jornal Marmota Fluminense, edição 539)

À época o autor tinha 15 anos, 1 mês, 3 semanas e 5 dias de idade.

 

***

Esse texto foi originalmente escrito para o Newsletter Jornalistas & Cia. Já os conhece? Confira: Jornalistas&Cia, especial Perfil Racial da Imprensa Brasileira

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