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quinta-feira, 15 de junho de 2023

A MORTE TEM NOME: VIDA (5)

A boa economia, equilibrada, faz qualquer país ser respeitado por todos.
País que anda mal é aquele que tem a economia mal administrada. E assim sendo, corroída pela praga da inflação.
Poetas populares do cordel, como Leandro Gomes de Barros, apresentaram na sua arte os malefícios da inflação. Inflação, leia-se: horror, morte, principalmente pra quem é pobre.
História.
A indústria fonográfica no Brasil começou a dar seus primeiros passos no ano de 1902. A primeira música, um lundu, tinha duplo sentido sacana e a presença da sombra maldita da morte. O autor, o ator Xisto Bahia, escreve para o cantor moleque Bahiano, o primeiro profissional do ramo, cantar os seguintes versos em quadra: "Isto é bom, isto é bom, isto é bom que dói.../ 'Vá saindo seu coió sem sorte!'/ Iáiá você quer morrer/ Se morrer, morramos juntos/ Eu quero ver como cabe/ Numa cova dois defuntos...".
A rigor, a música popular brasileira é triste, tem até violência e tal.
A tristeza da morte na nossa música começa pra valer a partir do gênero samba-canção. Intérpretes desses gênero, mulheres principalmente, marcaram época: Dolores Duran, Maysa, Waleska... Muitas.
Uma vez, não lembro exatamente quando, o compositor, cantor e instrumentista Tom Jobim falou a respeito do que acabo de falar: que a nossa música é, à rigor, triste. Mas aí surgiu, em 1958, a Bossa Nova.
Chico Alves
Tom disse que até tiros poder-se-iam ouvir em discos.
Tom estava certo.
Meses antes de morrer em Nova Iorque, em 1994, falei com ele por telefone dizendo que queria um encontro pessoal. O tema eram dois: Tom e a Bossa Nova.
À época, eu estava pronto para escrever um livro sobre a música brasileira gravada no Exterior.
O primeiro grande compositor brasileiro a ter músicas gravadas em outras línguas foi o mineiro Ary Barroso. Tom disse: "Estou viajando semana que vem aos EUA. Vou ficar pouco tempo por lá, quando voltar a gente conversa".
O livro ia se chamar ou vai se chamar se houver tempo, O Brasil dá o Tom.
O material para esse livro se acha no meu acervo.
E Tom tinha razão quando falou que a nossa música popular tem contornos tristíssimos.
O samba-canção representa a maior tristeza da nossa música.
A Bossa Nova é exatamente o contrário do que se canta no samba-canção.
O meu amigo José Ramos Tinhorão, sempre uma referência na história da nossa música, não gostava da Bossa Nova. Dizia que era coisa de gringo norte-americano.
Não discuto questões pessoais, quando trato de história. Aqui, devo dizer, que não só aprendi como tenho a maior admiração pelo Zé. Nossas discussões foram louváveis. 
Voltando: a música popular é de uma tristeza imensa.
A morte está sempre presente na nossa música popular.
Em 1934, o carioca Francisco Alves gravou Vivo Deste Amor, de Alcebíades Barcelos e Armando Marçal; e Quero Morrer Cantando, de Walfrido Silva, que lá pras tantas diz: "Quero morrer cantando um samba/ No meio de uma roda bamba/ Quero zombar da própria morte/ Cercado das pequenas/ Que me deram inspiração e sorte...".
De certo modo, a morte aqui apresentada por Chico Alves é interessante sim, por que não? Um tanto suave.
A Bossa Nova também falou de morte, de dor e solidão. É bom que se diga, é bom que se lembre.
No Soneto da Fidelidade diz o autor Vinícius de Moraes: "... E assim, quando mais tarde me procure/ Quem sabe a morte, angústia de quem vive/ Quem sabe a solidão, fim de quem ama...".
Houve muito disse-me-disse na ocasião da morte de Vinícius. Até que ele tinha optado, pessoalmente, por entregar-se nos braços da morte enquanto tomava seu whiskinho rotineiro deitado na banheira do seu banheiro do apartamento em que vivia.
Conversando hoje 15 com o escritor João Carlos Pecci, irmão de Toquinho e autor do livro Vinícius Sem Ponto Final, ouvi dele a declaração final: 
"Vinícius não matou-se. Vinícius estava se recuperando de um AVC e como consequência aconteceu o que todos nós não queríamos. Meu irmão, que estava hospedado no seu apartamento, no Rio, tentou ainda reanimá-lo, mas quando o médico chegou já não havia mais tempo. A primeira pessoa que notou alguma coisa estranha em Vinícius foi Rosinha, a cuidadora da casa. O resto é história".
Em 1919, Chico Alves gravou Pé de Anjo, de Sinhô. É uma marcha. As marchinhas estavam começando a serem compostas. A primeira foi da Chiquinha Gonzaga... Enfim: "... A mulher e a galinha/ São dois bichos interesseiros/ A galinha pelo milho/E a mulher pelo dinheiro".
Entre samba e Bossa Nova há ainda a canção Praieira inventada pelo baiano Dorival Caymmi. Ele: "É doce morrer no mar/ Nas ondas verdes do mar/ A noite que ele não veio foi/ Foi de tristeza pra mim/ Saveiro voltou sozinho/ Triste noite foi pra mim".
A morte não vive à toa.
Geralmente, quase sempre, a depressão antecede a morte pelo suicídio. Eu não tenho nada a ver com isso, mas como sempre não tenho o que fazer, fiz:
 

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