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domingo, 30 de julho de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (35)

Gregório de Matos
Essa coisa de duplo sentido, que às vezes mistura-se com pornografia, como está claro até aqui, dista de tempos remotos.
Os trovadores são figurinhas da poética europeia que desenvolveram suas graças e maledicências em versos em forma de Cantiga de Amigo ou de Bendizer, Cantigas de Amor e Cantigas de Escárnio ou de Maldizer.
As Cantigas de Amigo e as Cantigas de Amor têm uma pequena diferença entre si: as Cantigas de Amigo, feitas por homens, apresentavam-se no Eu feminino, exatamente ao contrário das Cantigas de Amor.
As Cantigas de Escárnio eram ou são exatamente o que diz o nome.
O poeta baiano de Salvador Gregório de Matos e Guerra (1636-1696) tinha língua ferina e dela poucos escapavam. A mira era a elite social do seu tempo. Falava muito palavrão, sem rodeios. Não à toa foi apelidado de Boca do Inferno. Quer dizer, esse Gregório foi  no Brasil um representante natural da literatura poética de escárnio.
Gregório de Matos passou um tempo estudando em Coimbra, Portugal, e de lá voltou com um diploma de advogado debaixo do braço. Chegou a ser nomeado vigário-geral e tesoureiro-mor da Bahia, mas não achou isso lá muita coisa e pulou fora. Os poderosos do seu tempo terminaram por forçá-lo a passar uma temporada em Luanda, África.
O poeta escrevia coisas assim:

Sal, cal, e alho
caiam no teu maldito caralho. Amém.
O fogo de Sodoma e de Gomorra
em cinza te reduzam essa porra. Amém
Tudo em fogo arda,
Tu, e teus filhos, e o Capitão da Guarda.


E assim:

… Com dois acabo a porra do poema.
Caralho! Só mais um! Até já brinco!
Gozei! Matei a pau! Que puta tema!


A palavra caralho, palavrão entre nós, pode ter vinda da antiga Espanha, derivada de carajo. O ano não se sabe, mas que é antiga, é.

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