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sexta-feira, 6 de outubro de 2023

EU E MEUS BOTÕES (71)

 Boa tarde, pessoal!
"Boa tarde, seu Assis!", responderam todos na casa em que eu costumeiramente me encontro.
Biu começou perguntando o que nós iríamos pôr pra discutir na nossa roda de conversa. Muitas coisas, muitas coisas, eu disse.
Lá do canto veio uma voz atalhando. Era Mané, que se achava do lado de Zé e Zoião: "O Rio de Janeiro tá pegando fogo. É tiro e morte pra tudo quanto é canto. Acabaram de matar três médicos...".
Zilidoro interrompeu Mané, contando que ontem a noite mataram também seis pessoas de uma mesma família, incluindo uma criança e uma mulher grávida: "Foi num lugar chamado Jequié, na Bahia. Esse lugar é o mais violento do Brasil. Eram nômades, ciganos. Não se sabe a razão, mas que é um horror é um horror!".
E Lampa, sem levantar a cabeça, resmungou: "Vixe! Nem no tempo do meu bisavó era assim".
Após falar "bisavô", Lampa teve todos os olhares voltados para si. Zoião: "Lampião era seu bisavô!!!?".
Lampa fez de conta que não ouviu, mas deixou todo mundo surpreso.
Barrica, que até então permanecera em silêncio, observou: "O seu Assis tá meio esquisito hoje. Parece que está escondendo alguma coisa...".
De súbito, Jão respirou fundo concordando com Barrica: "É... O que está havendo, seu Assis? O sinhô parece triste".
É que eu, comecei, não dormi direito. Desculpem...
Zilidoro, sempre arguto observador e sempre antenado, pediu licença pra informar o seguinte: "Está aqui no Blog dele, se despedindo do filho Francisco...", interrompeu apressadamente Mané: "Ele partiu? O filho do seu Assis partiu, pra onde?". Zilidoro continuou: "Não. Isto é, partiu. No Blog seu Assis escreveu: '...Francisco viveu livre sem aceitar as amarras sociais. Aos 42 anos alçou voo como os pássaros e virou estrela. Deixa saudades e a voz gravada num disco em que declama o poema Vidas Secas, de sua autoria'".
Todos se levantaram comovidos, se solidarizando, dando pêsames. Confirmei, fazer o quê?
Zilidoro disse que chegou a conhecer o Francisco. Disse que o ouvira cantar e tocar violão. E gaita de boca: "Tinha uma boa voz e era muito inteligente. Mas nunca entendi o seu jeito arredio e de certo modo desafiador. Era ansioso e parecia que estava vivendo todos os dias num dia só. Fazia poesia e os seus poemas eram muito tristes. Lembrava-me o Baudelaire".
Pois é, concordei com Zilidoro, Baudelaire...
Zilidoro emendou, declamando:

E nas pranchas de anatomia
Que estão na poeira destes cais
Em que muitos livros ferais
Dormem feito múmia sombria,

Ilustrações a que a firmeza,
Como o saber de um velho artista,
Para um assunto que contrista,
Comunicaram a Beleza,

Vê-se, o que torna mais completos
Estes misteriosos horrores,
Cavando como lavradores
A multidão dos esqueletos...


Eu emendei:

Dessas terras por vós cavadas,
Calmos e fúnebres aldeões,
Do esforço de vossos pulmões,
De vossas carnes escorchadas,

Dizei-me, que messe fatal,
Forçados soltos do carneiro,
Vós tirais, e de que granjeiro
Deveis ir enchendo o casal?

Quereis (de um destino bem duro
Espantoso e lúcido emblema!)
Mostrar que nem na tumba extrema
O sono pode ser seguro;

Que o Nada nos será traição;
Que tudo, até a Morte, nos mente.
Tanto que sempre eternamente,
Teremos a condenação

De, por uma ignorada angra,
Esfolar uma terra irada
Enquanto se impele uma enxada
Sob nosso pé nu e que sangra?


"Puxa vida, lamento não ter conhecido o Francisco", falou do seu canto Zoião, acrescentando: "Quando eu era mais novo, tentei aprender violão. Não deu".
Bom, pessoal. Por hoje é tudo. A vida é assim. A vida é de morte, de alegrias e tristezas. Só uma coisa: Amor não combina com ódio. Às vezes me pergunto por que as pessoas brigam tanto, por que há tanta guerra no mundo, tanta fome, tantos desencontros. Agradeço a todos pelas condolências. Até a próxima.
Um tanto pesaroso, Mané pediu licença pra dizer que "A vida é mesmo de morte". E acrescentou: "Enquanto isso, tiroteios e mortes, assaltos e chacinas e tudo mais continuam infernizando a vida humana no Rio, São Paulo, Bahia, Minas, Europa, África...".

O irmão de Barrica, Biu aproveitou pra informar que ouvira no rádio notícia que dava conta de uma nova ganhadora do Nobel da Paz: "É uma jornalista iraniana que está presa e condenada a 30 anos e a 154 chibatadas. Seu crime foi defender os direitos humanos".
Todos bateram palmas e Zoião aproveitou para dizer que "A vida é bela e por isso é preciso que a gente viva bem. No mais, hoje é o Dia Mundial do Sorriso. Vamos deixar a tristeza de lado e rir. Viva a vida!".

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