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segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

E A SANTA, QUEM SUMIU COM ELA?

Manoela todo mundo sabe que é um nome bonito, personagem de música espanhola.
E Manela, hein?
Manela é uma personagem que perde o pai e a mãe bem no começo da vida. Órfã é adotada por uma tia de nome Adalgisa.
Adalgisa, Dadá, é uma descendente de espanhóis com chatice de altíssimo grau. Considera-se católica, apostólica, romana. É fanática. Politicamente podemos classificá-la de nazi-facista.
Essas duas personagens fazem parte do universo feminino do escritor baiano Jorge Amado (1912-2001).
Manela e Dadá movimentam-se no romance O Sumiço da Santa. A santa, aqui, é Bárbara. Nos dois sentidos.
Manela é enfiada num convento de freiras aos 15 anos para pagar pecados que nunca teve, só na imaginação da tia. Ai, ai.
Jorge Amado pega a santa Bárbara como pretexto pra desenvolver a história que tem disputa por terrenos ou terreiros. De um lado a polícia, do outro o povo representado pelo fantástico e imaginário bloco de Orixás criados em África e adotados no Brasil.
Jorge Amado dá amostras nesse livro de que de fato foi um autor de extrema importância para a literatura brasileira.
O Sumiço da Santa, cujo texto foi iniciado  nos anos de 1960, é de certo modo um documentário que tem no povo baiano o seu personagem principal.
Como quase sempre ocorre na obra amadiana, O Sumiço da Santa tem um quê de realismo. 
Jorge Amado cita entre os personagens desse livro nomes do cotidiano como Dorival Caymmi, Elisete Cardoso, Dalva de Oliveira, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Capinan, Morais Moreira, Maria Betânia, Gal Costa. Isso na música. Fora da música: mestres Bimba, Besouro e Pastinha; Mário Cravo, Ariano Suassuna, Waly Salomão, Carybé... Entrevistei Carybé ali pelos fins dos anos 80, mas essa é outra história.
É um enredo interessantíssimo esse escolhido pelo nosso grande autor baiano.
Nesse roteiro de santo Jorge a santa sai do altar e vai caminhando pelas ruas de Salvador, subindo e descendo, até ali pelo final bater à porta do convento e de lá tirar a virgenzinha Manela.
Fim bonito! Êpa-êpa, babá!

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