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terça-feira, 30 de abril de 2013

E AGORA?

Pois é, e agora?
Há pouco foi para a eternidade a paulista de Ibitinga Maria Elisa Campiotti (1913-2011), mais conhecida por Zica Bergamo, pintora naïf – nas horas que tinha vagas -, autora da valsa Lampião de Gás tornada clássica ainda no tempo e formato dos discos de 78 rpm, por Inezita Barroso.
Era uma flor dona Zica, de quem tenho na parede de casa desenhos maravilhosos que me deu e na memória guardo a sua imagem de vó incrível, sempre sorrindo, de bem com a vida.
Há pouco também foi para o infinito o paulistano, descendente de italianos, Alberto Marino Jr. (1924-2011), autor da letra de Rapaziada do Brás, a primeira valsa-choro – na verdade, a primeira música - que trouxe no título o nome de um bairro da capital de São Paulo, composta originalmente em 1917 e em disco gravada – ainda sem letra - pelo próprio autor e seu conjunto, o Sexteto Bertorino Alma, dez anos depois; e de modo independente, diga-se de passagem.
Paralelamente à carreira bissexta de poeta e compositor, Alberto Marino Jr. foi um dos mais importantes promotores, juízes e desembargadores do Brasil.
O selo musical que acolheu Rapaziada do Brás, na sua origem, chamou-se Brasilphone, hoje com história perdida na poeira do tempo.
Em seguida partiu para o céu o carioca Altamiro Carrilho (1924-2012), um deus da flauta.
Agora, meu Deus, quem acaba de ir para bem distante de nós, mortais, é o maior de todos os brasileiros atuantes no campo da Biologia e Humanismo, o Dr. Paulo Emílio Vanzolini (foto) que também foi compositor de música nas horas de lazer e que gerou – atentem! - o primeiro samba-canção que tem a cidade paulistana, a 3ª maior do planeta em população, como pano de fundo para uma história de amor de dor: Ronda.
Pois é, esses nomes, incluindo o pai do Dr. Alberto Marino Jr., o maestro Alberto Marino, foram muito importantes para o Brasil, em todos os sentidos...
E nenhum livro sobre eles foi publicado até hoje!
A dois ou três editores conhecidos, eu sugeri que publicassem livros que eu mesmo escreveria sobre eles, mas...
E eles, os personagens citados, ainda estavam vivos...
Os editores consultados responderam que não tinham interesse, porém sugeriram: se eu bancasse ou conseguisse quem bancasse os livros que propus escrever, eles publicariam...
E assim a história viva do nosso País, no casso a partir da música, vai se perdendo até que eu também vá embora.
Mas que importância tem isso, não é mesmo?
CLIQUE:

segunda-feira, 29 de abril de 2013

PAULO VANZOLINI ESTÁ NO CÉU

Hoje o dia amanheceu sem cor e triste anunciando, sem rodeios, a partida inesperada de Paulo Vanzolini, o Vanzo para os amigos.
Paulo Vanzolini está no céu.
Paulo Vanzolini nos lega uma obra musical sem par.
Como cientista, coautor da Teoria dos Refúgios, segundo a qual as mudanças climáticas em florestas contínuas, como a Amazônia, fragmentam formações vegetais que causam especiação e, consequentemente, enriquecem a biodiversidade da nossa América, o Dr. Paulo Emílio Vanzolini, Ph.D em herpetologia pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, era conhecido e reconhecido em quase todo o mundo por suas necessárias e contributivas pesquisas científicas.
O seu nome identifica vários répteis.
Ele parece ter vindo à vida para nos enriquecer com sua sabedoria, presença e obra.
Ele estudou muito, especializou-se na profissão que escolheu - a Zoologia - e foi a campo pesquisar para nos fazer bem.
Como passatempo e divertimento, ele compôs um punhado de músicas para nos alegrar a alma.
E ao fim disso, juntou tudo e nos deu de presente.
Viva Paulo Vanzolini, para quem dedico as setilhas abaixo compostas à maneira dos poetas repentistas improvisadores ao som de viola de que tanto ele gostava.
Um dos seus ídolos era Zé Limeira, paraibano que se evaporou num ano qualquer da década de 1950.
Enfim...

PARA PAULO

Vanzolini foi-se embora
Rumo à eternidade
Ele deixou obra completa
E em nós muita saudade
Foi mestre, compositor,
Cantou a alegria e a dor
Com galharda liberdade

Ele lutou por igualdade
E fez da música oração
Da ciência o seu caminho
Fortaleceu-se na razão
Vanzolini foi artista
Nascido em terra paulista
Foi ele exemplar cidadão

Fez samba, toada e canção,
Leilão e Volta por Cima,
Idem Napoleão e Ronda
Foi autor de boa rima
Craque da cantiga e ciência
Estudou com paciência
Mudanças do nosso clima

Vanzolini está acima
Do banal e do rasteiro
Pela vida ele passou
Como grande brasileiro
Fez o que tinha de fazer
Sem desistir do prazer
Foi ele de fato guerreiro

Poeta do Brasil inteiro
Vanzolini soube ser
Na sua morcega vida
Como aranha foi coser
Uma bela teia pra morar
Brincar, pensar, viver, amar,
E jamais essa teia descoser

Apresentamo-nos algumas vezes juntos, a última na noite de 9 de fevereiro de 2012, no Sesc-Santana, zona Norte da capital paulista. O tema apresentado - São Paulo como inspiração musical - contou com a presença do compositor e instrumentista Eduardo Gudin.
Para conferir trecho da nossa prosa editado por Darlan Ferreira, CLIQUE:



CLIQUE também, a ver com Zé Limeira e Paulo Vanzolini: Memória da Cultura Popular, ed. 8 || J&Cia

domingo, 28 de abril de 2013

PAULO VANZOLINI NÃO ESTÁ EM CASA

O compositor Paulo Vanzolini está internado desde a última quinta 25 no hospital Albert Einstein, na zona Sul paulistana.
Ele deu entrada com um quadro de pneumonia preocupante e deixou a Unidade de Terapia Intensiva, UTI, ontem.
Está sedado e recebendo todas as atenções médicas e familiares.
As visitas estão proibidas.
Autor de obras-primas como Samba Erudito e Cravo Branco, praticamente desconhecidos do chamado grande público, ao contrário de Ronda e Volta Por Cima, Paulo Vanzolini fez 89 anos de idade exatamente no dia em que foi levado ao hospital por sua companheira Ana Bernardo.
A obra musical de Paulo é pequena, porém densa demais.
No dia 9 de janeiro de 2003 ele reuniu amigos e lançou o que considera a sua “obra completa”, reunida numa caixa com quatro CDs de 13 faixas, cada, que rapidamente se esgotou e nunca mais foi relançada ao mercado.
A seleção musical incluída na caixa (Acerto de Contas) foi feita por ele próprio e dela participaram Chico Buarque, Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Martinho da Vila, Eduardo Gudin (aí na foto comigo e Paulo, numa prosa no Sesc-Santana em 2012), Inezita Barroso e Ventura Ramirez, entre outros.
Paulo nunca se considerou um compositor profissional.
Sempre disse que fez música por distração, e que Ronda – um dos clássicos da chamada MPB – é uma bobagem lançada em 1953, por sua amiga Inezita Barroso.
Provocador, sempre disse também que a gravação de Ronda feita por Inezita é uma bobagem.
Considera sua profissão, mesmo, a Medicina; principalmente um dos ramos dela, a herpetologia.  
Foi diretor do Museu de Zoologia da USP por muitos anos.
É PhD em Harvard.
Eu sempre gostei de beber e prosear com Paulo, e isso desde o começo dos anos de 1980, quando ele ainda continuava à frente do Museu de Zoologia da Usp.
Sai logo daí, Paulo!
O teu lugar não é hospital; é aqui entre nós, jogando conversa fora e botando cerveja pra dentro.
CLIQUE:

segunda-feira, 22 de abril de 2013

HÁ GÊNIOS JOVENS, SIM

Antônio Nóbrega é um recifense da safra de 1952, nascido quatro meses antes de mim, que sou escrevinhador de vivências e de coisas perdidas da nossa cultura popular como a catira e as quadrilhas juninas, entre outras; mas também um tanto atento a artistas em ação que levam a vida mostrando com categoria no palco ou na rua o que há de melhor do universo da nossa cultura.
E ele, Antônio Nóbrega, faz isso de modo muito bem, e há 50 anos; 30 dos quais na capital paulista, onde montou barraca, isto é: o teatro Brincante, que fica ali na agitada Vila Madalena, zona Oeste da cidade.
Mas ao contrário do que muita gente pensa Antônio Carlos Nóbrega não começou a carreira trilhando o caminho sagrado das artes populares, no sentido autêntico, de originalidade.
Ele começou tocando o que ouvia no rádio e na televisão, ainda nos tempos dos Beatles, da Jovem Guarda e da incipiente MPB, representada por Chico, Caetano, Edu Lobo, o pessoal dos festivais... 
Mas ele teve a sorte de se recuperar a tempo, com o chamamento do medievo escritor paraibano Ariano Suassuna, que ao vê-lo tocando violino em João Pessoa, na Orquestra Sinfônica de lá, logo o convidou para fazer parte do Quinteto Armorial que estava criando, em 1971.
E assim foi, para o bem da Pátria e de todos nós.
E agora uma historinha: em junho de 1997, no extinto Jornal da Tarde, escrevi um artigo com o título Nóbrega, um Gênio (reprodução aí ao lado).
O título foi um espanto para o editor, que a mim me perguntou mais de uma vez se eu tinha mesmo certeza de que queria que o título fosse aquele.
O que passou pela cabeça do meu amigo editor, ao me fazer essa pergunta, não sei.
Quem me responde?
Viva Antônio Nóbrega!
Viva a cultura popular! 

SÃO JOÃO
O mês dos Santos Antônio, João e pedro está chegando. Mas para animar com um colorido todo especial faltam quadrilhas juninas, daquelas bonitonas de Fortaleza, João Pessoa, Campina Grande e Aracaju na principal cidade do Brasil e do hemisfério Sul, a 3ª maior do mundo em população: São Paulo.
Clique:
http://www.youtube.com/watch?v=8dp6k5OPxFc 

sábado, 20 de abril de 2013

O CRAQUE SINFÔNICO OSWALDINHO DO ACORDEON

No século passado Oswaldinho me disse que ia mais uma vez à França para tocar com cobras criadas do zydeco, que é um ritmo nascido ali pelos anos 1950, em Louisiana, EUA, que se mistura de modo bom com o cajun, que é a música do povo acadiano expulso do Canadá, e com o canto creole de trabalho dos negros escravos americanos e tem na canção Les Haricot Sont Pas Sales a origem do seu nome.
Clifton Chenier, discípulo de Amédé Ardoin, primeiro negro sanfoneiro a gravar música creole, em 1929, foi um dos mais expressivos representantes do gênero.
Chenier morreu em 1987 e Amédé, em 1934.
Pois bem, e aí eu pedi a Oswaldinho me trouxesse o catálogo ou folder desse encontro de cobras para os nossos arquivos.
E ele trouxe, porque nordestino ou filho de nordestino quando diz que faz, faz.
E Oswaldinho faz e toca de um jeito que ninguém faz, nem toca.
Oswaldinho, filho do baiano Pedro Sertanejo, que foi pioneiro na difusão do forró e do baião em São Paulo, a pedido e orientação do seu amigo Luiz Gonzaga, é uma espécie de reserva do que há de melhor em termos de música sanfonada no Brasil.
E o Brasil, ó, parece que nem liga.
Enquanto norte-americanos, japoneses, franceses, espanhóis, portugueses, holandeses, suíços, alemães, canadenses, italianos e outras raças e gentes de outras falas e cores o requisitam e o aplaudem e o cortejam de todas as maneiras, fazendo afagos, acarinhando e convidando-o para festivais, nós ficamos indiferentes a isso tudo e, lamentavelmente, dando uma de morto para torturar o coveiro.
Até quando?
O carioca de Duque de Caxias Oswaldo de Almeida e Silva, o Oswaldinho, filho de seu Pedro e de dona Noêmia, nasceu no dia 5 de junho de 1954 e cresceu com o Nordeste dentro de casa, isto é: com os mais importantes artistas nordestinos visitando e tocando com seu pai. O Rei do Baião, por exemplo, o punha no colo. O mesmo fazia a filha de baianos e cearenses Carmélia Alves
O pai Pedro lhe deu a primeira sanfona de oito baixos e depois eletrizou a de 120.
Pronto! Não havia mesmo jeito de o menino fugir da sina de sanfoneiro.
E como se não bastasse, o rei Gonzaga também lhe dava sanfona e o incentivava a ir em frente para alegrar o povo.
E foi assim que Oswaldinho se apaixonou pelo instrumento.
Mas para que tudo corresse bem, tinha de estudar.
E estudou, no Brasil e na Itália.
Aos 13 anos de idade ele já gravava disco com o pai, que tinha casas de forró e programas de rádio.
E o menino foi crescendo e ficando famoso e importante.
Tem mais de 30 discos gravados, entre LPs e CDs.
Tem também centenas de participação em discos de outros artistas e shows de gente como o norte-americano All Jarreau e o paraibano Sivuca.
Os moldes das suas mãos estão expostos no Museu de Reggio Emilia, Itália, “identificados como as mãos mais ágeis do acordeon”.
É pouco?
No Brasil, nada.
Mas ele vai seguindo a vida, fundindo sonhos com cores e sons.
No teclado da sua sanfona, ele vai do baião e do forró gonzaguianos ao blues e a todos os ritmos e gêneros musicais conhecidos ou não.
E se você não sabia, fique sabendo que Oswaldinho foi o primeiro artista brasileiro a se divertir com uma sanfona digital, que nada, nada, tem  140 timbres acústicos.
Nesses anos todos ele tem atuado também como solista de várias orquestras, entre as quais a Jazz Sinfônica de São Paulo, a Sinfônica do Paraná, a Sinfônica de Santo André, a Sinfônica de Porto Alegre, a Sinfônica de Santos, a Infanto-Juvenil de Violões...
E agora, para relaxar, ouça um baiãozinho que fizemos juntos. CLIQUE:

SARAU
Oswaldinho do Acordeon participará do Sarau Popular do Instituto Memória Brasil que será apresentado no próximo dia 24, às 19h30, no Centro de Convenções Rebouças. O evento faz parte da programação do 16º Congresso Mega Brasil de Comunicação, que este ano se desenvolve sob o tema Planeta Comunicação na Era do Diálogo. Também participarão do sarau que terei o prazer de estar, o jornalista e poeta Fernando Coelho, o multitudo Jorge Mello, o mágico da percussão Papete, as cantoras Fernanda de Paula e Celia e Celma. 

PS – A foto em que também se vê Cesar do Acordeon, registra apresentação nossa no teatro Brincante, de Antônio Nóbrega, quando comemorávamos a primeira edição do Dia Nacional do Forró - 13 de dezembro - , que nasceu no programa São Paulo Capital Nordeste, virou projeto-lei aprovado pelo Congresso Nacional e em seguida sancionado pelo então presidente da República, Lula da Silva.    

sexta-feira, 19 de abril de 2013

PAPETE, O REI DO BERIMBAU

Em 1982 ele estava em Montreux, Suíça, participando do festival de jazz que há lá desde 1967. 
Montreux é uma cidadezinha bonita e aconchegante de 25 mil habitantes e 33,4 Km2 de extensão, localizada à margem setentrional do lago Léman, considerado o segundo maior da Europa Ocidental.
Em beleza Montreux é parecida com a maranhense cidade de Bacabal, berço de José de Ribamar Viana, que boa parte do mundo civilizado chama carinhosamente de Papete. 
A diferença entre uma e outra cidade se acha apenas no tamanho, no clima e no número de habitantes.
Bacabal, que é conhecida como a Capital do Médio Mearim, tem 1.683 Km2 de extensão, o seu clima é tropical e o território habitado por pouco mais de 100 mil habitantes.
Essa é a diferença, “e a língua!”, acrescenta Papete brincando, naquela sua calma franciscana.
A língua do povo de Montreux é francesa.
Houve um tempo que os franceses construíram um forte e tomaram para si o Maranhão.
O forte chamou-se São Luís, em homenagem ao rei Luís 13.
Hoje, São Luís é a capital do Maranhão.
Mas essa é outra história.
Papete voltou à Montreux mais vezes como um dos três maiores percussionistas do mundo, ao lado de Naná Vasconcelos e Airto Moreira.
Na verdade, Papete voltou muitas vezes a muitos lugares por onde andou.
E em muitos desses lugares ele ainda é idolatrado, como na Itália.
Depois de gravar com Ornella Vanoni o disco Uomini, a imprensa italiana não só considerou o melhor disco do  ano, em 1977, como o chamou de "o mais importante percussionista do mundo".
Mas como bom nordestino, Papete não liga muito para essas coisas; tanto que não guarda nem recortes de jornal e revista que tratam dele e da sua obra, seja no Brasil, seja onde for.
Papete, o único artista do mundo que faz um berimbau falar, é um intransigente estudioso da cultura popular da sua terra, produtor musical apuradíssimo, compositor, cantor e tocador de instrumentos de cordas e de todos os instrumentos de percussão que lhe caírem ou lhe caem às mãos.
Papete tira som de tudo.
Do nada, ele próprio se transforma numa orquestra.
É um mágico!
É um gênio!
A enorme importância que o berimbau tem hoje em dia no Brasil e fora do Brasil se deve a ele, sem a menor dúvida, da mesma maneira que se deve a Waldir Azevedo a importância do cavaquinho em qualquer conjunto de chorinho que se preze, por exemplo.
Um conjunto de choro sem cavaquinho, não é conjunto de choro.
Antes de Waldir, o cavaquinho era um instrumento sem muita serventia, apagado, sem expressão, esquecido.
Aliás, da mesma forma que a cuíca.
Há a cuíca antes e depois de Osvaldinho... da Cuída.
Toquinho e Papete correram o mundo, cantando e tocando, mostrando o Brasil.
No começo dos anos 1980, os dois interpretaram a toada Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, para muitos públicos.
Eles interpretaram Asa Branca em muitos lugares: na suíça, na Itália... 
Um show deles na Suíça foi gravado e comercializado na Europa toda, no formato de vídeo-cassete, antes de se transformar em DVD (reprodução da capa acima; abaixo, um trecho do show). 
Pois é, e na noite do próximo dia 24, Papete vai estar conosco participando de um sarau no Centro de Convenções Rebouças. A apresentação faz parte da programação do 16º Congresso Mega Brasil de Comunicação, cujo tema este ano é Planeta Comunicação na Era do Diálogo.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

JORGE MELLO É MULTITUDO

Jorge Mello é cantador
Jorge Mello é bom rapaz
Toca, canta, pinta e borda
Jorge Mello tem cartaz
Em São Paulo ou lá longe
É competente no que faz

Eu assino com gosto esses versos sobre o compositor piauiense Jorge Mello (na foto ao lado, em ação), também exímio tocador de viola e violão, produtor, arranjador, repentista, ator, cordelista, conferencista, romancista, artista plástico, autor de teatro, diretor de cinema e TV, campeão de festivais de música e, como se não bastasse, ainda advoga no campo minado do direito autoral, o que o faz muito requisitado por seus colegas artistas.
Mesmo com tantos afazeres e responsabilidades profissionais no seu dia-a-dia, Jorge parece fazer questão de mostrar estar o tempo todo de bem com a vida.
“E pra que se irritar, macho”, ele indaga com ar professoral, rindo é claro, para em seguida ensinar, numa expressão:
“Só se irrita na vida quem não tem o que fazer”.
E ao modo dos bons cantadores, seus pares, ele se apresenta numa estrofe perfeita de Martelo Agalopado, modalidade do mundo da cantoria outrora também chamado de Trinta por Dez.
Esse estilo poético se desenvolve em estrofes de dez versos decassílabos, rimando o 1º com o 4º e o 5º, o 2º com 3º, o 6º e o 7º com o 10º, e o 8º com o 9º, obedecendo, sempre, o rigor formal da acentuação tônica na 3ª, 6ª e 10ª sílabas, assim:

E quando minha mente de fora examina
Minha vida de artista, de compositor,
E toda estrada de improvisador
E vejo essa força que é nordestina,
Assim vejo o véu que me ilumina.
Poeta que sou, poeta no prelo
Trabalho palavras, o som que é belo,
Tirando belezas da imaginação
E assim me apresento com toda emoção:
Aqui está o artista que é Jorge Mello!

Jorge, que fez parte do grupo Pessoal do Ceará, teve os primeiros contatos com as artes num circo armado na sua cidade, Piripiri, junto com o qual fugiu aos 14 anos e voltou ainda adolescente para os braços da família e estudar num seminário e servir o Exército, “só para comer de graça”, segundo diz.
É bastante comprida a história de Jorge Melo.
Ele estará conosco no próximo dia 24, às 19h30, participando como atração do Sarau da Cultura Popular no grande auditório do Centro de Convenção Rebouças.
A apresentação faz parte da programação do 16º Congresso Mega Brasil de Counicação, cujo tema este ano é o Planeta Comunicação na Era do Diálogo.
CLIQUE:
http://www.youtube.com/watch?v=cWTqXjru95o

quarta-feira, 17 de abril de 2013

UM POETA NERVOSO E DEFINITIVO

Fernando Coelho é um poeta brasileiro extraído de sons e ventos do misterioso Recôncavo Sul Baiano, região de Santo Antônio de Jesus, Castro Alves, Cruz das Almas e São Felipe, distante cerca de 160 quilômetros de Salvador e bem longe do nada.
Ele é moldado a bênçãos e a rezas dos negros velhos iluminados da sua querida Bahia.
Mas por acidente, talvez, tenha nascido em Conceição do Almeida, um lugar sagrado onde deuses, duendes e santos se misturam num eterno fazer, numa mesma labuta, abrindo caminhos e rompendo barreiras por um tempo sem briga, sem encrenca, de paz e esperança para quem deseja paz e esperança.
Talvez por isso Fernando seja poeta.
Talvez por isso a poesia dele brote - do nada? - com tanto vigor e assim venha se apresentar a vida e a nos ensinar sobre o belo que há no amor.
É romântico o poeta.
A sua poesia é nervosa ao nascer e rápida ao conquistar corações, pois feita no calor do improviso tal e qual fazem os cantadores medievos brotados do solo estorricado do sertão nordestino, de onde de certo modo ele veio.
E ele se define, e ele confessa no texto que lhe vem ligeiro:
“Sou um poeta que não presta muito. Escrevo tudo de uma vez só. Num fôlego mortal. Poeta bom escreve, joga fora, reescreve, pensa. Fica aflito e faz de novo. Eu prefiro ficar aflito e morrer. Não sou um bom poeta por isso. Os bons rasgam e recomeçam. A única coisa que consigo rasgar quando escrevo é a mim. Insofisticado e ineficiente. Escrevo logo, de vez, com medo que a palavra tenha medo de mim e se afaste, e vá embora, e não me entenda, e desista de me permitir escrevê-la. Sou inseguro com as palavras. Elas determinam em que lugar gostam que eu as coloque. Sou sombra das palavras. Ainda bem que não concordo com muitas palavras. E elas gostam. O poema só não pode conter vileza. Não pode ser vil. Essa palavra, vil, por exemplo, entrou aqui sem pedir licença. E fica, porque ela manda. Enfim, o meu amor me ajuda: pensando nela, escrevo como quem jamais vai voltar, ou ir, ou sair, ou ficar. Escrevo assim. Como quem vai despencar”.    
Pois é, aos borbotões surge a poética de Fernando, como um samurai em guerra no escuro, como um vulcão em erupção.
O poeta é inquieto e exagerado.
Inda assim a sua poesia transborda de lirismo e se sustém em ritmos e asas, dispensando rimas e métricas e preferindo ganhar a forma livre de viver como os pintassilgos.
A poesia de Fernando Coelho é atrevida e tem de vida própria.
Isso é inquestionável.
Ele é um mágico, amante fiel das palavras que o ajudam a desvendar segredos da alma.  
"O poeta é um agricultor do semiótico. Planta horizontes nos galhos dos olhos", ele diz, e promete: “Um dia quando eu fizer do meu coração o que ele quer que eu faça e chegar em Conceição do Almeida, onde a poesia me pegou no colo insuflado de palavras meninas, não sei como vou chegar. Mas o mesmo, embora atravessado de caminhos densos. Por dentro, quando encontrar o meu velho eucalipto, naquela praça de pergaminhos da infância, uma coisa estará mudada: só ele vai saber e vai me chamar pelo nome do meu amor”.
Há vinte e poucos anos escrevi texto em que dizia que “Fernando Coelho é econômico, enigmático, simbólico, mas claro como uma manhã setembrina da paulistana garoa”.
O título do texto publicado no Diário do Grande ABC, era: “Variações em Torno de um Poeta Definitivo”.
Fernando continua econômico e cada vez melhor na poesia que gera.
Bom para seus admiradores, que somos nós.
Ele estará conosco no Congresso Mega Brasil de Comunicação, a se realizar no próximo dia 24, às 19h30, no
Centro de Convenções Rebouças. 
Vai declamar. 

terça-feira, 16 de abril de 2013

A MELHOR DUPLA VOCAL FEMININA DO PAÍS

Sambas, valsas, toadas, marchas, canções, xotes, baiões, modas de viola, cateretês, rasqueados e até cantos sacros fazem parte do eclético e excepcional repertório das mineiras de Ubá Celia e Celma, cantoras e atrizes com participação em filmes como O Viajante, de Paulo Cesar Saraceni, e na novela A História de Ana Raio e Zé Trovão, de 1990, na qual chegaram a fazer cenas ao vivo, cantando.
Elas são também artesãs, educadoras, apresentadoras de TV, colunistas de jornal, divulgadoras da cultura popular com LPs e CDs gravados desde o início da década de 1970 e, como autoras, ganhadoras do Prêmio Gourmand World Cookbook Awards (Pequim, 2006) pelo livro de culinária regional Do Jeitinho de Minas (Senac, SP, 179 páginas), que, aliás, acompanha um disco autoral delas com receitas musicadas, em 15 faixas, compostas em parceria com o músico e produtor musical Sérgio Turcão. 
O livro trás 165 receitas de bolinhos de chuva, tutu de feijão e vaca atolada, entre outras, todas típicas da culinária mineira.
A trajetória artística de Celia e Celma tem como ponto de partida o ano de 1957, quando se apresentaram em público pela primeira vez cantando num circo.
Tinham apenas cinco anos de idade, à época.
Logo depois elas passaram a atrações do programa A Hora do Guri da Rádio Educadora, de Minas.
As duas cresceram cantando no coral do Colégio Sacrè-Coeur de Marie, de sua terra, dançando quadrilhas juninas, acompanhando novenas, ouvindo histórias de Trancoso e cantadores de calangos e mestres de folias de reis e congadas tão comuns ainda em Minas.
Daí para a profissionalização foi um passo.
Celma tocava percussão – o que faz até hoje – e Celia, bateria.
Deixaram Minas e foram estudar no Instituto Villa-Lobos, no Rio de Janeiro, onde se diplomaram em Licenciatura Musical.
O catedrático Edson Carneiro foi quem lhes chamou a atenção para a importância e a riqueza do folclore brasileiro, o que fez com que jamais se desligassem das raízes da cultura popular.
A culinária elas aprenderam com a principal professora que tiveram: a mãe, que cozinhava em fogão à lenha.
O gosto pelas artes veio do pai, que era fotógrafo e tocador de bombardino da banda de música de Ubá.
O cantor Moacyr Franco e o pianista Luiz Carlos Vinhas, Miéle e Bôscoli foram os primeiros nomes famosos com quem trabalharam.
Muita água passou por baixo da ponte até vencerem um festival de música em Juiz de Fora ao lado de Clara Nunes com a música Mandinga, de Ataulfo Alves e Carlos Imperial.
Antes de irem à China para receber o prêmio pelo livro de receitas culinárias regionais do ano, as duas cantoras fizeram uma temporada de seis meses no Japão, sempre cantando temas brasileiros.
Celma (1ª voz) e Celia (2ª voz) se constituem hoje na mais afinada dupla vocal feminina do País.
E estão com CD novo na praça: Lembrai-vos das Procissões e Devoções de Minas.
Quer saber mais?
Acesse o site 
No próximo dia 24, a partir das 19h30, as duas cantoras estarão conosco participando do Sarau Memória Brasil no Congresso Mega Brasil de Comunicação, no principal auditório do Centro de Convenções Rebouças, na capital paulista.

DIA MUNDIAL DA VOZ
Por ser hoje o dia que é, Mundial da Voz (World Voice Day), está em andamento a 15ª Campanha Nacional da Voz. Mas independentemente dessa iniciativa da Associação Brasileira de Fonoaudiologia, que tal cuidarmos sempre da voz, hein, que é o nosso principal instrumento de comunicação e encantamento? Uma dica: pimenta faz bem, como água de coco e menos gelados. Um conhaquinho também é bom, principalmente para quem canta profissionalmente. 
Está aí a contralto Inezita Barroso, ainda em forma, que não me deixar mentir. 
A música popular já teve um rei da voz: Chico Alves.
Viva Celia e Celma!

segunda-feira, 15 de abril de 2013

TEM SOPRANOS NA MÚSICA POPULAR

A nossa música popular, chamada de MPB desde o começo dos anos 1960, está há muito recheada de cantoras líricas interpretando sambas, valsas, modinhas e modas de viola entre outros gêneros e ritmos, a exemplo da paulistana Inezita Barroso que no começo da carreira chegou a estudar canto com a musicista Mary Buarque, no melhor dos sentidos um assombro na sua época.
O timbre vocal de Inezita é mezzo-soprano, como de mezzo-soprano é o timbre da macaense Ângela Maria e era o da gaúcha Elis Regina.
E tão importante quanto Inezita e Ângela foram Elis e Dalva de Oliveira, que passava do contralto ao soprano com a maior facilidade do mundo.
A sua voz ganhava altura e beleza inimagináveis.
E o que dizer da pianista e também soprano Cristina Maristany, que veio de Portugal para o Brasil com menos de um ano de idade e se transformou numa das artistas mais aplaudidas nos teatros do Rio de Janeiro entre os anos 30 e 50, e deixou como legado um punhado de discos de 78 rpm?
As canções Prenda Minha e Casinha Pequenina, de domínio público, e a modinha Quem Sabe?, de Carlos Gomes e Bittencourt Sampaio, na sua voz ficaram definitivas.
Cristina estreou em disco gravando para a Odeon Saudade Sombria, canção de Bento Mossurunga e Silveira Neto, e Solidão, valsa de Eduardo Souto e Osvaldo Santiago, no final de 1929.   
Depois de Inezita, Ângela, Elis, Dalva e Cristina, muitas outras cantoras de formação erudita continuaram - e continuam - passeando com desenvoltura pela música popular, como a santista Tulipa Ruiz, a paulista da capital Mônica Salmaso, a caxiense Daniela de Carli, a carioca Marisa Monte, a baiana Virgínia Rodrigues e as mineiras Maria Lúcia Godoy e Fernanda de Paula, entre outras de alcance vocal surpreendente.
Fernanda estudou Psicologia na Universidade Federal de Minas Gerais, mas preferiu seguir a carreira de cantora depois de se preparar estudando canto lírico no Palácio das Artes, entre 1997 e 2001.
E como Inezita e Cristina, Fernanda também estudou piano.
Integrando o Coral BDMG (Bando de Desenvolvimento de Minas Gerais), ela se apresentou na Itália, Portugal, Alemanha, Suíça, Inglaterra, França e Argentina, em 1998.
Depois disso Fernanda, dona de uma das vozes mais bonitas do Brasil, criou o Grupo Sagarana e passou a correr o Brasil até se juntar a outro grupo, Camiranga, com o qual já gravou dois discos: Madeira de Lei e Da Afonso Pena à Paulista, que está chegando ao mercado.
No próximo dia 24, às 19h30, ela estará ao lado de vários artistas participando de um sarau no Congresso Mega Brasil de Comunicação, no Centro de Convenções Rebouças. 

domingo, 14 de abril de 2013

REVISTA BRAVO E INSTITUTO MEMÓRIA BRASIL

A principal revista de cultura brasileira do País, Bravo!, em parceria com a Abril Mídia, lançou no mês que passou um concurso para seus leitores.
O prêmio oferecido era/é uma visita ao Instituto Memória Brasil, IMB.
Para concorrer ao prêmio a revista esclareceu, em texto específico (http://bravonline.abril.com.br/materia/concurso-visita-cultural), que era preciso que o concorrente escrevesse uma frase dizendo por que estava concorrendo e porque desejava a oportunidade de conhecer o IMB.
Muitos se inscreveram e uma pessoa, de São Paulo, ganhou: Ana Vitória Bomfim, com a frase "Eu ficaria aqui no meu cantinho, ansiosa, esperando ser sorteada e ser chamada para conhecer esse belíssimo e histórico acervo do mestre Assis Ângelo. Porque eu sei e sinto que eu vou ser sorteada, e vou poder ter esse privilégio, porque eu também sou filha de Deus!".
A iniciativa da direção da revista é curiosa e louvável.
Curiosa pela iniciativa inédita, de levar leitor a conhecer, in loco, um acervo cultural.
E louvável por isso mesmo; principalmente num tempo que a globalização chega a seus finalmente, que é acabar com a cultura, com a tradição de onde quer que seja.
Seja bem-vinda ao IMB, Ana Vitória Bomfim.

SARAU
Os nossos dicionários são pobres e os filólogos se repetem, não investindo no conhecimento natural e necessário na vida da língua cotidiana. Pena. Tenho dicionários de muitos anos aqui, no acervo do Instituto Memória Brasil. Num deles, o primeiro e ainda principal da nossa língua, editado em Portugal, de Caldas Aulete (Dicionário Contemporâneo da Lingua Portugueza), da segunda metade do século 19, num verbete de poucas linhas até hoje repetido com mínimas variações por autores ou grupos de autores diversos, diz que SARAU é “(ssa-ráu), s. m. baile nocturno, reunião de pessoas de uma ou mais famílias em casa onde se dança e se executa musica mas sem grande cerimônia; festim noctuno entre pessoas de condição;//F. fr. Soirée”.
E é isso, sarau, o que vamos fazer no próximo dia 24, no Centro de Convenções Rebouças, cá em Sampa, durante congresso Mega Brasil de Comunicação. Conosco estarão o poeta Fernando Coelho, o multipercussionista Papete, que foi um dos braços mais importantes do selo musical Marcus Pereira; o multitudo Jorge Mello, a dupla feminina mais afinada do Brasil, Celia e Celma; o maior sanfoneiro em atividade no País, Oswaldinho do Acordeon... E mais uns.
Alguns dos artistas que estarão presentes na noite de 24 no Centro de Convenções Rebouças estiveram conosco ontem na sede do IMB, entre eles Celia, Jorge Mello, Celma e Papete (foto ao lado, no clique de Andrea Lago).

sexta-feira, 12 de abril de 2013

IMB/JORNALISTAS&CIA: ESPECIAL INEZITA BARROSO

Concluida a primeira etapa da parceria combinada do Instituto Memória Brasil, IMB, com o newsletter Jornalistas&Cia, de editarmos especiais no caderno virtual Memória da Cultura Popular que foi criado para essa finalidade.
Este mês o caderno traz a cantora e folclorista paulistana Inezita Barroso falando das origens da moda de viola, dos desconhecidos que ainda reivindicam para si a autoria de Marvada Pinga, das lembranças que guarda do presidente Juscelino, do amigo radialista Moraes Sarmento com quem chegou a apresentar o programa Viola Minha Viola, da sua presença no cinema nacional, do samba Ronda, de Paulo Vanzolini, que lançou em 1953; e do pianista nordestino Túlio Tavares, que escreveu a primeira partitura de Ronda.
No correr da conversa ficaremos sabendo também que ela não gosta de ouvir os seus discos, mas gosta de ouvir os discos dos outros, como Chico, Milton, Noel...
Fora isso, Inezita conta do seu receio de passar na frente de hospital e do medo que tem até hoje de entrar num palco.
Da sua discografia constam a gravação de 26 discos de 78 rpm, LPs e CDs.
Curiosidade: por muitos anos ela andou procurando o disco original que gravou com Marvada Pinga de um lado e Ronda, do outro.
Um dia eu lhe dei de presente esse disco (no registro acima, de Darlan Ferreira), para que ela pudesse fechar a sua própria discografia.
A nossa parceria com o newsletter JornalistaCia prossegue no mês que vem com a 13ª edição de Memória da Cultura Popular, dessa vez trazendo entrevistas que fiz com o tenente-maestro Marino Cafundó (1921-10), criador da Casa de Violeiros do Brasil em 1971, Sérgio Reis e Tonico (1917-94) e Tinoco (1920-2012).
Essas entrevistas integraram a reportagem Violas e Violões, Uma Orquestra Popular para a Música Caipira, originalmente publicada no suplemento dominical Folhetim, do paulistano Folha de S.Paulo no dia 1º de julho de 1979.
Esse suplemento há muito deixou de existir. 
Pela ordem, ocuparam espaço no caderno Memória da Cultura Popular nos últimos 12 meses os seguintes temas e personagens da nossa cultura: 1) Roteiro Musical da Cidade de São Paulo, sobre a música feita para/sobre a capital paulista; 2) o cantor e compositor Geraldo Vandré, 3) o maestro Eleazar de Carvalho, 4) o rei do baião Luiz Gonzaga, 5) o folclorista Luís da Câmara Cascudo, 6) o cantor, compositor e instrumentista Sérgio Ricardo, 7) o compositor Adoniran Barbosa, 8) o poeta improvisador ao som de viola nordestina Zé Limeira, 9) o fim do mundo, 10) o Carnaval, 11) o Padre Cícero e 12) a cantora e folclorista Inezita Barroso.
E enquanto maio não chega, sugiro que leiam o especial Simplesmente Inezita e depois escrevam - e postem -dizendo o que acharam.
Clique:
E clique também para ver e ouvir:

quinta-feira, 11 de abril de 2013

CONGRESSO MEGA BRASIL DE COMUNICAÇÃO

Está-se aproximando o dia da abertura de mais uma edição do Congresso Mega Brasil de Comunicação, que este ano, sob o tema O Planeta Comunicação na Era do Diálogo, acolherá cerca de 40 atividades, incluindo cursos, uma exposição fotográfica e 27 palestras temáticas – internacionais, inclusive - no grande auditório do Centro de Convenções Rebouças, na capital paulista.
A conferência magna de abertura que ocorrerá no próximo dia 23, às 12h10, intitulada A Empresa e Seu Legado Social, Econômico e Ambiental – os Desafios de Progredir sem Medo e Preservar com Coragem, será feita por Cledorvino Belini, presidente da Fiat/Chrysler para a América Latina.
No mesmo dia 23, às 19h15, será entregue o 14º Prêmio Personalidade da Comunicação (reprodução do convite ao lado) ao presidente executivo da Editora Três, Caco Alzugaray, e ao presidente de honra da mesma editora, Domingo Alzugaray.
No dia seguinte, às 19h30, após conferência internacional intitulada A Importância da Criatividade Para Alavancar Resultados aos Negócios, será apresentado o Sarau da Cultura Popular com artistas da nossa música ligados ao Instituto Memória Brasil, IMB, como o compositor e instrumentista Jorge Mello, também cordelista e poeta improvisador ao som de viola; o multipercussionista Papete, um dos três maiores na especialidade ao lado de Naná Vasconcelos e Airto Moreira; o músico Oswaldinho do Acordeon, as cantoras Fernanda de Paula, Celia e Celma e o poeta Fernando Coelho.
Também estarei presente. 
Depois da apresentação poética e musical será servido um coquetel, ocasião em que ocorrerá o lançamento do mais importante Anuário Brasileiro da Comunicação 2013, da Mega Brasil.
Mais informações pelo telefone 11-5576.5600.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

VIVA A POESIA!

É do poeta carioca Ricardo Viveiros, radicado na capital paulista desde a segunda metade dos anos 1970, os livrinhos que se leem num fôlego Saudade (Ed. Girassol, 2012) e O Poeta e o Passarinho (Ed. Biruta, 2011).
O primeiro traz ilustrações de Zélio e o segundo, de Rubens Matuck.
Leitura necessária e agradabilíssima, tanto um quanto o outro.
Destinados ao público em formação, isto é infantojuvenil, as obras de Viveiros nos remetem aos repentistas pernambucanos de Itapetim Antônio Pereira (1891-1982), chamado de Poeta da Saudade, e Otacílio Batista (1923-2003).
O Poeta da Saudade nos legou apenas uma publicação, no formato simples de folheto de cordel e hoje raríssimo.
Já Otacílio, que foi considerado um dos maiores repentistas de todos os tempos, nos deixou uma duzia de LPs e vários livros - 0 todos raros, como os discos - sobre a tradição da cantoria de viola com versos feitos no calor do improviso, sua especialidade.
São de Pereira estes versos, algumas vezes erroneamente atribuídos ao roqueiro baiano Raul Seixas:

Saudade é um parafuso
Que na rosca quando cai
Só entra se for torcendo,
Porque batendo num vai
E enferrujando dentro
Nem distorcendo num sai

Saudade tem cinco fios
Puxados à eletricidade.
Um na alma, outro no peito;
Um amor, outro amizade,
O derradeiro, a lembrança
Dos dias da mocidade

E de Otacílio, estes:

O poeta e o passarinho
São ricos de inteligência
Simples como a natureza
Eternos como a ciência
Estrelas da liberdade
Peregrinos da inocência

Herdeiros da providência,
Um no chão, outro voando,
Um pena com tanta pena,
Outro sem pena, penando,
Um canta cheio de pena,
Outro sem pena, cantando

Mas a lembrança dos dois fica apenas nisso: no tema (Saudade) e no título (O Poeta e o Passarinho).
As obras de Ricardo Viveiros, como os versos de Pereira e Otacílio, necessitam de leitura urgente, por serem o que são: ótimos.
Fica o registro.

FERNANDO COELHO
O poeta Fernando Coelho está se preparando para pegar estrada com seus poemas. Nessa empreitada, ele estará acompanhado da bela voz mineira Fernanda de Paula. O propósito da dupla é ocupar tudo quanto for espaço com versos de máximos quilates. Pois é, está mais do que na hora de o Brasil ser lavado com a poesia de Fernando Coelho, que todo mundo sabe ser de altíssimo nível.   

segunda-feira, 8 de abril de 2013

MÚSICAS X MASSACRE NO CARANDIRU

Começou hoje no Fórum Criminal da Barra Funda, na capital paulista, o julgamento de 26 soldados da Polícia Militar, acusados de matar 15 dos 111 detentos que se achavam trancafiados na Casa de Detenção, na manhã chuvosa de 1º de outubro de 1992.
Na ocasião havia 2.054 detentos no Pavilhão 9, local do massacre perpetrado por 321 policiais sob o comando do coronel Ubiratan Guimarães, morto por uma namorada com um tiro no começo da noite de 9 de setembro de 2006, no seu apartamento em São Paulo.
A notícia do massacre (destaque ao lado na 1ª página da Folha, edição de 2/10/1992) correu rapidamente o mundo todo e provocou muitos debates.
Provocou também o lançamento de livros, um filme e  músicas no Brasil e até no Exterior.
Na Inglaterra, por exemplo, o grupo Asian Dub Foundation, de origem anglo-hindu, acaba de lançar o rap La Rebellions (CLIQUE, abaixo). 
Estação Carandiru (Companhia das Letras, 1999) foi o primeiro livro escrito sobre o assunto. O seu autor, o médico Dráuzio Varella, à época atendia como voluntário na Casa de Detenção. O livro, fenômeno de vendas no mercado editorial (mais de meio milhão de exemplares vendidos), ganhou prêmio (Jabuti 2000) e virou filme (Carandiru, 2003) dirigido pelo argentino Hector Babenco.
O Dr. Dráuzio viria a publicar outro livro sobre o tema: Carcereiros (Companhia das Letras, 2012).
A primeira composição musical, Diário de um Detento, que trata do massacre foi escrita por Jocenir, um ex-presidiário, e gravada pelo grupo de rap Racionais MC’s, de São Paulo. 
No ranking das 100 maiores músicas brasileiras da revista Rolling Stones, Diário de um Detento ocupa o 52º lugar.
Outras músicas que tem por tema o massacre:
Rebelião no Carandiru, de Joelho de Porco; Terror no Carandiru (sem autoria identificada), Carandiru da Morte, de Pedro Anderson; Carandiru, de OZ; Carandiru, de Pagodart; e Casa Cheia, de Detentos do Rap; Paraíso Carandiru.

HÁ 100 ANOS

No dia 8 de abril de 1913, policiais em ação na capital paulista foram alvo da indignação das mulheres que usavam chapéus ornados com plumas longas. A preocupação dos policiais residia na possibilidade de os tais chapéus poderem ferir transeuntes.
E daí?
Daí que as notícias policiais da época eram, digamos, mais leves.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

TODO DIA É DIA DE GENIVAL LACERDA

O compositor e instrumentista da música popular Antônio Barros e a sua companheira de vida e arte musical Cecéu, de batismo Mary Maciel Ribeiro, eu conheci em São Paulo, mais precisamente no estúdio da extinta Rádio Atual onde eu apresentava todos os domingos, ao vivo, o programa Gente e Coisas do Nordeste.
A vida fez com que estreitássemos laços de amizade.
Esses dois personagens têm em comum o fato de serem paraibanos reconhecidos por suas obras em todo o País, mas não só por isso.
Eles são autênticos representantes da música popular nordestina.
A Barros e Cecéu se soma Genival Lacerda.
Cecéu nasceu no domingo de Páscoa de 2 de abril de 1950, dia em que ocorreu um eclipse lunar total.
Dentre os três, Antônio Barros é o mais velho.
Ele nasceu no dia 11 de março de 1930 em Queimadas, simpática cidadezinha localizada na Região Metropolitana de Campina Grande.
Lacerda, o primeiro e único artista mogangueiro do Brasil, ainda em plena atividade, nasceu no dia 5 de abril de 1931 em Campina Grande, cidade conhecida por representar o mais importante polo industrial do interior do Nordeste.  
Eu o conheci numa festa de confraternização de fim de ano para os funcionários do jornal paraibano O Norte, onde iniciei carreira de jornalista.
Corriam os primeiros anos da década de 1970 e Lacerda já era chamado de Senador do Rojão e Rei da Moganga, ou Muganga.
Ele chegou à praça como cantor e compositor no início da segunda metade da década de 1950, mais precisamente nos fins de 1956, quando lançou pela extinta Mocambo, de Recife, PE, as composições Coco de 56, dele e João Vicente, e Dance o Xaxado, também dele, dividida com o parceiro Manoel Avelino.
Nesse ano o rei do baião Luiz Gonzaga marcava um grande tento, laçando 14 títulos em sete discos de 78 rpm.
Entre 1956 e 1963, Genival Lacerda gravaria uma dezena de discos com 20 músicas.
O seu 2º disco, lançado em janeiro de 1957, trazia duas músicas com a assinatura de Antônio Barros: o rojão Dança do Bambo e Balança Coco.
O rojão é um ritmo inventado por José Gomes da Silva, o Jackson do Pandeiro, e lançado em disco Copacabana no final de 1953.
Gonzaga e Jackson permeariam de inspiração e portas abertas a vida de Barros, Lacerda e Cecéu.
Em momentos diferentes, o Rei do Baião gravou composições dos três. 
A relação discográfica em 78 rpm de Genival Lacerda, além das quatro músicas já citadas, é esta:
- Noé, Noé e Coco de Roda, ambas de Rosil Cavalcanti.
- Rojão Nacional, de Rui de Morais e Silva, e Eu Vou Pra Lua, de Luiz de França.
- Vazante da Maré, de Lacerda e Antônio Clemente, e Coco da Cajarana, de Lacerda e Jacinto Silva.
- Salve Cosme e Damião, de Manoel Avelino e Lacerda, e Rei do Cangaço, de Lacerda e J. Borges.
- Mariá, motivo popular adaptado por Antônio Clemente e Lacerda, e O Delegado Deu Ordem, de Rosil Cavalcanti e Lacerda.
- Forró de Zé Lagoa, de Rosil Cavalcanti, e Maria do Belém, de Lacerda e Braz do Pandeiro.
- Cajueiro Abalou, de Lacerda e Antônio Clemente, e Tomaram o Meu Amor, de Lacerda e Antônio Clemente.
- O Coco da Umbingada, de Lacerda e Bartolomeu Medeiros, e Resposta do Mata Sete, de Antônio Barros.
Mata Sete é o título de um rojão de autoria de Venâncio e Corumba, lançado por Zito Borborema e Seus Cabras da Peste em dezembro de 1956, pela extinta RGE. 
O primeiro dos 32 LPs gravados por Genival Lacerda chamou-se O Rei da Munganga (sic), que foi à praça com o selo da extinta gravadora Continental, em 1964.
Nesse disco se acham algumas músicas que Lacerda lançou no formato de 78 rpm. 
Genival Lacerda também gravou até aqui oito discos no formato de CD, dois dos quais com repertórios exclusivos de Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga.
A discografia em 78 rpm de Antônio Barros, gravada com a chancela do selo Sinter e da gravadora Philips entre 1959 e 1962, é constituída por seis títulos distribuídos em três discos:
- Xote do Bêbado e Ninguém me Quer, ambas de sua autoria.  
- Quadrilha do Manuel, de Buco do Pandeiro e Lerinho, e Xote da Galinha, dele em parceria com Geraldo Maia.
- História de um Pistoleiro e Homenagem a Zé Dantas, ambas também do próprio Barros.
Mas é de Antônio Barros uma das pérolas do repertório do rei do baião Luiz Gonzaga: Estrela de Ouro, de 1959, em disco RCA Victor, gravada pelo próprio Gonzaga.
Antônio Barros tem na história nove LPs e quatro CDs por ele gravados.
Curiosidade: em 1976, a dupla Barros e Cecéu lançou o LP Tony e Mary (Copacabana), com repertório romântico assinado por Cecéu e no estilo brega de Jane & Herondy.
Genival Lacerda, Antônio Barros e Cecéu são autores e intérpretes indispensáveis em qualquer tempo e discoteca ou trilha sonora de boa qualidade musical, do Nordeste ou não do Nordeste.
Nesse ponto, garanto: todo dia é dia de Genival Lacerda (na foto abaixo, comigo no estúdio da rádio Capital nos tempos do programa São Paulo Capital Nordeste); e também de Antônio Barros e Cecéu.
E já que estamos às vésperas do período junino, ou joanino, não custa lembrar uma das muitas pérolas musicais de Antônio Barros, Naquele São João, gravada pelo Trio Nordestino e inserida no LP É Forró Que Vamos Ter (CBS), de 1968.
CLIQUE:
http://www.youtube.com/watch?v=lzvvaseq5a0
ROCK IN RIO
Incrível! No correr de quatro horas, os organizadores do Rock in Rio venderam 450 mil ingressos. Pois é, essa é a cultura universal globalizada e endeusada pelos meios de comunicação. O gado come o que lhe dão, disse algo parecido uma vez Vandré. Pior: no caso, aqui, o gado compra sem risco de estouro de boiada.

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