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quinta-feira, 25 de abril de 2024

NO SESC, UM DEFEITO DE COR

Livro fundamental para o conhecimento de um passado recente no Brasil é Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves.
Esse livro, de 1.000 páginas, ouso dizer ser saboroso. Até porque nele a autora fala do que comemos.
A culinária brasileira tem tudo a ver com a culinária africana.
Um Defeito de Cor é uma viagem importantíssima.
Como se não bastasse como valor literário e histórico, o livro de Ana Maria inspirou exposição aberta hoje 25 no Sesc unidade Pinheiros. Desde já, recomendo uma visita ao 2º andar do referido Sesc.
A exposição Um Defeito de Cor permanecerá aberto à visitação pública, gratuitamente, até o dia 1º de dezembro.
Boa viagem!



LEIA MAIS: CARNAVAL: NEGROS NA AVENIDA • AINDA HÁ ESCRAVIDÃO NO BRASIL • O NEGRO NA HISTÓRIA (1)

terça-feira, 23 de abril de 2024

LULA, ATENÇÃO: LER É BOM E DOCE!

Ler é bom e doce.
Quem não lê, que não sabe ler, aprende menos de quem sabe e gosta de ler.
Somos cerca de 10 milhões de analfabetos, no Brasil. Fora os analfabetos funcionais, cujo número chega à casa dos 30 milhões.
Certamente não é fácil, doloso mesmo, olhar uma placa e não saber no que nela está escrito. Ou pegar um livro sem saber ler uma frase, um parágrafo, uma página...
A leitura é meio caminho da cidadania.
Ninguém nasce ou nascerá sabendo ler e escrever. Isso é no dia a dia na escola...
Ouço no rádio Lula pedir ao ministro da Fazenda, Haddad, que "ao invés de ler um livro, tem de perder algumas horas conversando no Senado e na Câmara".
Haddad achou graça e minimizou a questão, o puxão de orelha que sofreu do chefe: "esqueci os livros em São Paulo e estou liberado".
Em 2002, Lula disse à rádio Bandeirantes que para ser presidente não precisa de diploma coisa nenhuma. Mais ou menos isso. Disse ainda: "Para governar o país, as pessoas precisam ser doutores em povo brasileiro, ter capacidade de comando".
Pra reforçar o que disse, Lula lembrou que Silvio Santos, Roberto Marinho e o empreiteiro Camargo Corrêa chegaram aonde chegaram sem diploma nenhum. Pois, pois.
Na verdade, eu acho que o Lula deveria parar de dizer besteiras desse tipo.
Estudar sempre foi necessário, em qualquer língua.
O escritor Monteiro Lobato deixou para a história uma frase exemplar: "Quem  lê, sabe mais".
Simples assim.


domingo, 21 de abril de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (91)

No dia 17 de janeiro de 2024 o papa Francisco, em audiência pública, disse que “o prazer sexual deve ser valorizado, mas é minado pela pornografia”. Disse mais: 
Vencer a batalha contra a luxúria, contra a "objetificação" do outro, pode ser uma empreitada ao longo da vida. O verdadeiro amor não possui, ele se doa; servir é melhor do que conquistar. Porque se não há amor, a vida é triste, é uma solidão triste.
A luxúria é o 3º dos sete pecados capitais. Diz: 
A luxúria (do latim luxuriae) é o desejo passional e egoísta por todo o prazer sensual e material. Também pode ser entendido em seu sentido original: “deixar-se dominar pelas paixões”. Consiste no apego aos prazeres carnais, corrupção de costumes; sexualidade extrema, lascívia e sensualidade.
O alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) disse muitas coisas interessantes e outras nem tanto. Pra ele, a mulher nasceu apenas para procriar. Isso justificava dizendo ser “a mulher mais fiel do que o homem”. Por natureza. E por natureza o homem, depois de casado, acabava por se cansar da companheira. Por essa razão, ainda segundo Schopenhauer, o homem é por natureza adúltero. Mais: o casamento é uma espécie de prostituição, no qual o homem manda e desmanda.
Isso está no livro A Metafísica do Amor.
Nesse livro, lançado em 1818, o autor cita grandes nomes do passado como Platão, Shakespeare, Spinoza, Lord Byron e outros.
E foi nesse mesmo livro que tomei conhecimento de um autor muito importante para a literatura alemã: Friedrich Schiller (1759-1805).
Schiller escreveu uma peça de contornos trágicos intitulada A Noiva de Messina, cuja história se passa na Sicília medieval. A personagem título não é tão amada como gostaria. O resultado disso é sangue.
Essa peça foi traduzida para o português pelo poeta maranhense Gonçalves Dias (1823-1864).
Em tempo: Schopenhauer dizia gostar muito de cachorros e outros animais domésticos. Para ele “não pode ser bom o homem que maltrata animais”.
Muitas tragédias reais ou fictícias envolvem casais apaixonados como Romeu e Julieta.
Na vida real, houve no Brasil o suicídio de Stefan Zweig e Lotte Zweig.

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 20 de abril de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (90)

Oscar Niemeyer
O ano de 1968 foi um ano bastante agitado. Foi o ano em que as mulheres foram às ruas para protestar e exigir direitos iguais entre gêneros. Rasgaram e queimaram sutiãs em praça pública de Nova Iorque, EUA. Nascia ali os movimentos feministas que tiveram na romancista e filósofa francesa Simone de Beauvoir (1908-1986) a sua inspiração e símbolo.
Naquele ano de 68, na Suécia, foi realizada uma grande exposição de arte pornográfica. Os organizadores dessa exposição não conseguiram, porém, reconhecer a palavra pornografia, “Em vez disso, eles descreveram a exposição como uma mostra de arte erótica e propuseram uma tentativa de distinguir esta última da pornografia ao tratar pornografia como especulação financeira prejudicial e arte erótica como uma forma de arte meritória”, lembrou anos depois o escritor inglês Poul Gerhard, acrescentando: “Esta distinção apenas preservou uma confusão de ideias claramente demonstrada na legislação, a qual, por um lado, permite arte de conteúdo erótico enquanto, por outro, proíbe pornografia. Uma indicação da impraticabilidade de tal distinção é o caos jurídico que ocorre com tanta frequência nos últimos anos, quando a questão da pornografia tem sido levada aos tribunais. Os limites da arte pornográfica são mais do que formalmente fixos, e surge o fato de que a atividade artística-pornográfica não está restrita a um período articular, nem está ligada a nenhum ‘ismo’. Arte pornográfica é tão antiga quanto a própria arte”.
Foi naquele maldito ano, mais precisamente no dia 13 de dezembro, que os brasileiros tomaram conhecimento do enorme catatal pornográfico intitulado AI-5.
Esse Ato fechou portas e bocas no Brasil. Muita gente foi perseguida, presa, torturada, morta e muitos dos que não morreram, foram exilados.
Antes de 68, mais precisamente quatro anos antes, o arquiteto Oscar Niemeyer foi preso pelos gorilas da repressão. Ao ser inquirido sobre como “ganhara tanto dinheiro”, entredentes respondeu: “Dando o cu”.
Na versão definitiva do seu depoimento, o escrivão pôs lá: “Quando perguntado sobre como havia auferido tantos resultados financeiros, o inquirido afirmou que praticando a pederastia passiva”. Oscar não aceitou essa versão, dizendo: “Eu não disse isso, disse dando o cu!”.
Triste ano.
O assunto é amplo e sempre polêmico.

sexta-feira, 19 de abril de 2024

DEUS CRIA, O HOMEM MATA

Drones e mísseis pipocam no céu do Oriente Médio, assustando Deus e o mundo. 

É muito pipoco. 

É muita gente caindo ferida e morta no chão. Crianças e mães clamam por Deus, mas parece que Ele não está nem aí.

Tenho medo, quem não tem?

Lendo o livro A Chave do Tamanho (1942), escrito pelo taubateense Monteiro Lobato, deparo-me com o narrador falando a respeito do poeta do povo, Castro Alves. Mais adiante o autor vai falando pela boca dos personagens sobre a maldade dos homens e a loucura que são as guerras. 

Lembro também de Jorge Amado, por ter escrito o belíssimo livro ABC de Castro Alves (1941).

Não posso aqui deixar de lembrar também do cearense José de Alencar. 

Esses três autores representam com categoria, através dos personagens que criam, a mistura de cores de que se enriquece o Brasil: índio, branco e negro. 

Alencar foi o primeiro a pôr indígenas numa leitura de romance (O Guarani, 1857). Esse livro virou ópera composta pelo negro paulista Carlos Gomes.

Jorge Amado pôs as três cores nas suas histórias. Escreveu sobre o Brasil pé no chão, representado pelo povo.

No livro A Chave do Tamanho Lobato diz o que pensava sobre nazismo, dinheiro e poder pela boca da boneca Emília. 

Bom, hoje é o Dia dos Povos Indígenas. E por assim ser não custa dizer que dos cinco ou oito milhões de indígenas que o Brasil tinha antes da colonização portuguesa restam de descendentes menos de dois milhões. Segundo o IBGE, 1,7 milhão. 

Fora isso, ainda há 274 línguas indígenas de um total estimado em 1,2 mil até o ano de 1500.

É isso!

quinta-feira, 18 de abril de 2024

LER É PRECISO. SEMPRE!

Embora carregue comigo cara e gestos de adulto metido a besta, confesso-me criança desde que aprendi a andar com os próprios pés e a falar coisas deste mundo vão. 

Sou, como alguns devem saber, da safra de 52 do século passado. O berço, de origem simples, teve por nome Paraíba. 

Profissionalmente entrei para o jornalismo. Li e continuo lendo muito.  Só que de modo diferente, como fazem aqueles que perderam a graça de ler com os olhos. 

Nos tempos de criança eu fortaleci a alma ouvindo histórias de Trancoso contadas por minha santa avó Alcina.

Vim a tomar conhecimento da existência dos irmãos Grimm ali pela virada dos 50...

Os irmãos Grimm eram dois, Jacob e Wilhelm, que bem cedo passaram a gostar das lorotas infantis, ou quase infantis, que ouviam dos mais velhos.

São muitas as histórias que os Grimm escreveram pensando nas crianças. 

Depois dos irmãos Grimm, outros autores vieram à tona trazendo histórias e personagens encantados. Uma beleza!

E no Brasil, hein?

Figueiredo Pimental foi um cara nascido nas cercanias da capital carioca, em 1869. Foi jornalista, poeta e romancista que acabaria seguindo a carreira diplomática. Foi uma figura e tanto.

Pimental publicou muitas coisas nos jornais do Rio. 

Ao mesmo tempo que escrevia pra jornais, Figueiredo Pimentel arregaçava as mangas e se divertia escrevendo histórias de amor, sexo e, grosso modo, muita putaria para adultos. Era da linha naturalista como Aluísio Azevedo e Adolfo Caminha. 

Depois de Pimentel deu o ar da graça o paulista de Taubaté Monteiro Lobato. 

Lobato entrou para a história como o pai da literatura infanto-juvenil. 

A obra de Lobato é enorme, a partir do seu Sítio do Pica-pau Amarelo.

Ao contrário de Pimentel, Lobato não escreveu livro de safadeza.

A propósito, hoje é o Dia Nacional do Livro Infantil. 


quarta-feira, 17 de abril de 2024

A MORTE NÃO MATOU CHAPLIN!

A vida é coisa grande, não é mesmo? 
Quando na vida há entendimento entre pessoas, fica melhor ainda. 
Compreensão e bem-estar fazem-nos cada vez melhor no dia a dia.
O dia a dia com sorrisos e abraços nos completam.
Outro dia lendo Guimarães Rosa ouvi de um de seus personagens a frase marcante: "Tristeza é aboio que traz o Demônio". 
Isso está lá na história contada por Rosa, esta: Hora e Vez de Augusto Matraga.
Agora há pouco o compadre Fausto lembra-me que hoje é o dia do encantamento de Charles Chaplin. Aquele de Tempos Modernos, manja?
Foi em 1977. Na cama o personagem fechou os olhos e dormiu. Não teve tempo de acordar, porque na carência de alguns celestiais o Chaplin tinha que estar lá naquele dia, hora e vez.
O que Deus quer não se discute.

terça-feira, 16 de abril de 2024

O BRASIL MAIS POBRE SEM ZIRALDO



Pra mim fica claro que toda vez que morre um cartunista, um artista do valor e vigor de Ziraldo, o Brasil fica mais triste e mais pobre. 
Essa sensação senti domingo retrasado com a notícia do passamento de Ziraldo lá pra cima.
Conheci Ziraldo no tempo em que colaborei com textos para o Pasquim. Anos 70, 80.
Quando Ziraldo completou 90 anos de idade a Editora Melhoramentos convidou 90 cartunistas para homenageá-lo. Entre esses o querido cearense Klévisson Viana.
Essa história, a história de Ziraldo e do Brasil se acha no relato do próprio Klévisson:

Ziraldo, o generoso


Corria o ano de 1988, tinha eu 15 anos incompletos. Vivíamos em Canindé (CE). Meu irmão Arievaldo, cinco anos mais velho do que eu, editava, com outros amigos, um fanzine de humor chamado Tramela. Um dia, revirando os materiais da sala onde ele costumava preparar a publicação, dei de cara com um jornal humorístico chamado Torre de Babel. Lendo o jornal, vi um pequeno anúncio que divulgava o 3º Salão de Humor do Piauí. Eu não sabia bem o que era um salão de humor, mas me deu uma vontade imensa de fazer um.
Pintamos de branco uma casa velha e a transformamos numa galeria de arte, que chamamos de Salvador Daki, em homenagem ao pintor espanhol Salvador Dalí, que havia falecido recentemente.
Juntei todos os meninos que conhecia, que gostavam de desenhar, e criei com eles a 1ª Mostra de Humor Canindeense.
Quando da abertura do pequeno evento, para nossa surpresa, recebemos a visita de Albert Piauí e José Elias Arêa Leão (coordenadores do Salão de Humor do Piauí, que ainda não era internacional) e do cartunista fortalezense Mino. A mostra foi um sucesso e fomos convidados a ir a Teresina participar do Salão de Humor do Piauí.
Laurismundo Marreiro, amigo, professor de inglês, empresário e entusiasta dos artistas, se colocou à disposição para nos levar ao Piauí em seu velho jipe apelidado de Jaspion. A viagem foi uma grande aventura do começo ao fim. Nessa jornada, foram, além de mim e de Laurismundo, Arievaldo Vianna e outro rapaz chamado Nildo Bento, que depois abandonou o desenho.
Já em Teresina, Albert Piauí nos recebeu bem, mas, pelo fato de o Salão ter extrapolado o orçamento, ele mandou Arievaldo e Laurismundo para o hotel, enquanto eu e Nildo ficamos hospedados na residência de sua família, onde fomos muito bem acolhidos e amparados por sua mãe e seu irmão Mauro, já falecido.
O Salão de Humor ocorria no Clube dos Diários e no Teatro 4 de Setembro, que são prédios contíguos. A abertura foi inesquecível, emocionante para os garotos que jamais haviam viajado na vida e presenciado algo daquela magnitude. Naquele ano, o Salão havia recebido quase 50 artistas consagrados. Foi realmente uma grande festa.
À noite, após a abertura, os artistas foram se confraternizar numa imensa mesa no Clube dos Diários. Lembro que estavam lá Fortuna, Jaguar, Jayme Leão, Biratan Porto, Ziraldo e muitos outros. Estávamos deslumbrados com a oportunidade ímpar de poder conhecer todos aqueles mestres do humor gráfico nacional.
Eu andava com uma pasta cheia de desenhos meus e de meu irmão Arievaldo. Eu me lembro de que, ao chegar perto de Ziraldo, ele parou o que estava fazendo e perguntou:
– São desenhos? Posso olhar?
Entreguei-lhe a pasta, e o que mestre fez com meus desenhos jamais esqueci. É provável que ele mesmo sequer se lembre disso, mas para mim foi muito marcante.
Ziraldo olhava atentamente cada desenho, cada tira, cada cartum contido na pasta e, desenho após desenho, parava, tecia comentários e dava orientações de como melhorá-los.
Ele deve ter gastado com isso cerca de meia hora ou mais, mas foi o suficiente para me tornar, além de fã do seu lindo trabalho, fã também da sua pessoa.
Para mim, aquela atitude de Ziraldo demostrou, sobretudo, uma generosidade gigantesca com uma criança que gostava de desenhar. Talvez, se não fosse o estímulo e incentivo desse grande artista, eu jamais teria seguido em frente e chegado aonde cheguei.


segunda-feira, 15 de abril de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (89)

Noutra ocasião eu perguntei, mas não custa perguntar de novo: pornografia é arte?
Palavras como pornografia e licenciosidade são palavras praticamente novas na boca do povo mundo afora.
Um pintor renascentista pintando uma modelo pelada, não é pornografia.
E fotógrafo de hoje fotografando modelos peladas, hein?
Assim dito, simplesmente, não é pornografia.
Pornografia é a imagem e texto feitos especialmente para provocar excitação sexual. Veja o que diz o verbete do Dicionário Houaiss: 
Pornografia (1899 cf. CF1)  
substantivo feminino
1. estudo da prostituição
2. coleção de pinturas ou gravuras obscenas
3. característica do que fere o pudor (numa publicação, num filme etc.); obscenidade, indecência, licenciosidade
4. qualquer coisa feita com o intuito de ser pornográfico, de explorar o sexo tratado de maneira chula, como atrativo (p.ex., revistas, fotografias, filmes etc.) ‹vende pornografias› ‹fica vendo p. pela televisão› tb. se diz apenas pornô
5. (1899) violação ao pudor, ao recato, à reserva, socialmente exigidos em matéria sexual; indecência, libertinagem, imoralidade
O jornalista e humorista Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé, nasceu no Rio Grande do Sul em 1895 e morreu no Rio. Fez muita gente rir com suas tiradas bem humoradas. Tiradas essas que irritaram profundamente os agentes da ditadura militar. Foi vereador. Preso certa vez, e depois de muito apanhar, escreveu numa tabuleta que pôs presa na porta do seu escritório. Nela lia-se: “Entre sem bater”.
Vejam só de que o Barão era capaz:

Na França, pescoço é cou
(como anda tudo a esmo!)
No Japão, Ku é ministro,
No Brasil cu é cu mesmo…

Essa pérola se acha no livro Antologia da Poesia Erótica Brasileira, organizado por Eliane Robert Moraes.
Torelly e seu personagem morreram em novembro de 1971.

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

domingo, 14 de abril de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (88)

No Brasil, além de Bernardo Guimarães, outros poetas e romancistas abordaram explicitamente a linguagem pornográfica em livros e folhetos. Muitas dessas publicações não eram assinadas e eram vendidas às escondidas, anonimamente.
Essas publicações, na maioria, traziam a indicação: “Leitura para homens”.
No artigo Erotismo & Pornografia na Arte: Uma História Mal Contada, assinado pelo professor da Universidade Federal do Pará Afonso Medeiros, lê-se que:
A simples menção da palavra “pornografia” acarreta estranhamento e, no campo das artes visuais, resume-se tudo ao termo “erotismo”. No tratamento do tema persiste a ideia de que basta uma inversão de sentido dos signos (entre pornografia e erotismo) para se resolver a questão. E, no entanto, a pornografia é, ao mesmo tempo, ascendência e descendência do erotismo na medida em que a existência de ambos é inextricável e essencialmente interdependente. Em outros termos, não existe erotismo sem pornografia e vice-versa.
Houve um jornalista e escritor português muito conhecido no Brasil chamado Joaquim Alfredo Gallis (1859-1910), que usava pseudônimos nos seus livros e folhetos de cunho pornográfico: Rabelais e Condessa de Til, por exemplo.
Como Rabelais, sobrenome do grande escritor francês, publicou Volúpias: 14 Contos Galantes, Lascivas, Libertinas e por aí vai.
Como Condessa de Til, Alfredo Gallis pôs à praça O Que as Noivas Devem Saber! Livro de Filosofia Prática.
Com seu próprio nome, Alfredo publicou dois livrecos que deram muito o que falar no seu tempo: A Amante de Jesus e As 12 Mulheres de Adão. Críticos da época não economizavam adjetivos para esculambá-lo.

segunda-feira, 8 de abril de 2024

ZIRALDO NÃO MORREU!



Conheço bem o artista Fausto Bergocce.
Conheço bem um monte de cartunistas, chargistas, pessoas que viraram amigas como Angeli, Glauco, Laerte, Fortuna. Fui amigo dessas pessoas queridas ali na Folha, no Folhetim.
Doeu muito, em nós, a notícia do desaparecimento de Ziraldo. Do humanista Ziraldo.
Em julho de 1978 eu telefonei para o Pasquim e lá, no outro lado, atendeu Ziraldo. 
Ele me ouviu e rapidamente chamou Jaguar: "É de São Paulo, um cara chamado Assis".
A conversa era sobre uma reportagem de muitas páginas que eu escrevi sobre o Esquadrão da Morte, que a Folha não quis publicar.
A matéria foi publicada três ou quatro dias depois. Capa do Pasquim. Seis ou sete páginas.
A última vez que vi Ziraldo foi numa Bienal do Livro em São Paulo, onde ele, eu e outras pessoas fomos homenageadas com um prêmio.
Pois, pois: o que falar mais?
O Fausto Bergocce tinha em Ziraldo o seu mestre.
Ziraldo conquistava as pessoas da mais tenra idade à idade maior. Dos 100 anos, por exemplo.
Bom, leiam o que Fausto acaba de nos mandar para este Blog: 

Um maluquinho por Ziraldo (1932-2024)

No início dos anos 1960, uma das grandes diversões da garotada de Reginópolis era a leitura
de gibis, que chegavam em profusão à cidade. Entre todos os estilos, todas as histórias e todos os personagens, um gibi muito especial se destacava: “Turma do Pererê”, do Ziraldo.
Grandes aventuras se passavam na Mata do Fundão, através dos personagens tipicamente
brasileiros. Foi para mim meu primeiro toque de “brasilidade”. Desde então, me tornei um
menino maluquinho por Ziraldo e pude seguir seu trabalho pela vida inteira.
Por toda a sua grande obra, mestre Ziraldo se tornou referência para muitas gerações,
inclusive para a minha. Obrigado, Ziraldo.

 

VIVA A ANA MARIA!

Procurei, mas não achei no calendário gregoriano e noutros calendários nada de importante a não ser o dia 6 de abril.
O dia 6 de abril é o dia que o Brasil transformou-se em berço para acolher Ana Maria. Minha filha.
Ana está sempre batendo palmas para alegria e chutando pra riba e para os lados a tristeza e tudo que nos faz mal.
Hoje é 8. Foi um dia importante. Todo dia é importante quando acordamos.
À propósito de acordar: Ziraldo foi dormir e... Pronto!
Acordar morto ninguém acorda. Acordar...
No último dia 6 foi uma festa de amigos encontrando amigos. E amigas.
Lá, tomando um negocinho na casa de Ana, conversando sobre tudo. Tentamos até reconstruir o mundo. A humanidade. A conclusão a que chegamos é que não há salvação para nós ditos humanos.
E foi lá na casa da aniversariante, que falamos, falamos e falamos. E comemos. Um vinhozinho rolou solto e uma cerveja também. Eu fiquei no destilado...
Participando da alegria que Deus nos deu no dia 6 de abril, brindamos à esperança. 
E lá na casa da Ana estavam Pat, Nancy, Célia, Nalva, Francisca, Lúcia, Celma, Jeremias, claro, Manu...
De macho tinham esses. Eu cheguei depois. Ah! E aí chegaram a filha do Jê, o genro e o filhote Arthuzinho.
É o que lembro.
E pra garantir a veracidade de tudo que digo, uma menina vinda do céu registrou tudo em áudio e foto: Clarissa.
E aí, como se não bastasse, o querido amigo pernambucano Luís Wilson bota para seus ouvintes a coisa mais linda que já foi feita, A Canção de Ana Maria. Ouça:



domingo, 7 de abril de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (87)

Nos tempos do Brasil Império muitos autores puseram seminaristas, padres e bispos nas páginas de seus romances. Bernardo Guimarães (1825-1884), por exemplo, pintou de doido o personagem Eugênio recém-saído do seminário pra onde fora mandado a contragosto pelo pai, espécie de coronel. Autoritário, manda-chuva do lugar.
Eugênio mantém por todo o tempo na memória a lembrança de uma amiga de infância. Seu nome é Margarida, por ele apaixonada. Os dois prometem se casar e serem felizes para sempre. Mas aí entra o destino. Termina em tragédia. Livro: O Seminarista (1872).
Em tragédia também finda o romance Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco (1825-1890).
No seu mais conhecido romance Castelo Branco, que deixou uns 300 livros publicados, põe na sua história um jovem estudante de Direito em Coimbra, Simão, que se apaixona perdidamente por uma moçoila pra lá de bonita. E tudo vai mais ou menos numa boa. O pai da jovem não aceita o estudante como genro. Encurtando: a menina de nome Teresa, é enfiada num convento e logo adoece e morre de tuberculose. Ele morre também, no mar. E atrás dele segue uma jovem cujo amor ele não correspondia com a mesma intensidade que ela desejava. Seu nome: Mariana. Mas isso não quer dizer que Simão, Teresa e Mariana não formassem um trio cheio de vontade de um ter ao outro.
Eça de Queiroz era português e Camilo Castelo Branco também.
Castelo enfrentou problemas com a jogatina. Era viciado. Com o tempo ficou cego e, desesperado, deu um tiro no coco, mas antes disso, cumpriu pena na cadeia do Porto numa cela contígua à cela do bandido Zé do Telhado (1818-1875).
O brasileiro de Minas Bernardo Guimarães (1825-1884) deixou uma obra ótima. Além de O Seminarista, ele escreveu A Escrava Isaura (1875). Há amor nas páginas desse livro, tortura e morte também. Ganhou a tela da Globo e o coração dos chineses. É de fins do século 19.
Bernardo foi um dos autores pioneiros na arte de versificar amor e sexo, prazer, paixão e erotismo.
Em 1875 ele discorre sobre a temática em pelo menos dois longos poemas marcantes: A Origem do Mênstruo e O Elixir do Pajé.
Em Origem do Mênstruo, o famoso romancista começa cantando em quadras a mulher e deuses como Vênus, Cupido, Vulcano, Anquises, Marte. Fala isso tudo com talento invejável. E coragem, pois a época palavrões e coisas que tais diziam-se e faziam-se nos escuros da madrugada. Bernardo:

‘Stava Vênus gentil junto da fonte
Fazendo o seu pentelho,
Com todo o jeito, p’ra que não se ferisse
Das cricas o aparelho.

Tinha que dar o cu naquela noite
Ao grande pai Anquises,
O qual, com ela, se não mente a fama,
Passou dias felizes…

Rapava bem o cu, pois resolvia,
Na mente altas ideias:
— Ia gerar naquela heróica foda
O grande e pio Enéias.

Mas a navalha tinha o fio rombo,
E a deusa, que gemia,
Arrancava os pentelhos e, peidando,
Caretas mil fazia!...

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora 

sábado, 6 de abril de 2024

TODO DIA É DIA DE ANA MARIA

Não quero saber de calendário nenhum. A mim basta este 6 de abril, que está lá no gregoriano.
O dia 6 de abril é a data mais importante do mundo Ocidental e demais mundos. Por quê?
Hoje é o dia de bater palmas pra Ana Maria. Só não digo a idade, porque de lady não se pergunta a idade.
Bom pessoal, é isso. Dizer mais o quê?
Fiz um texto poético e o meu amigo músico Jorge Ribbas pôs melodia. Ouçam como ficou:


LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (86)

Padres e freiras danosos à religião católica se acham presentes na memória real de personagens sofridos e inventados.
O romance O Crime do Padre Amaro (1875), de Eça de Queiroz, traz o protagonista todo cheio de amor pra dar. E aí rola um triângulo amoroso. Uma pérola.
Essa foi a maneira que Eça encontrou para tascar a ripa no Clero mostrando assim, impiedosamente, suas vísceras maltratadas pelo vício da putaria e da hipocrisia então presentes nos velhos monastérios espalhados mundo afora.
Como se vê, Diderot e Eça foram observadores de um tempo que parece não ter passado. Não à toa, o Papa Francisco tem mostrado com firmeza os pecados cometidos pela Igreja num passado não tão remoto.
O crime de Amaro se repete de várias formas em tudo quanto é história inventada ou não. 
Esse foi o primeiro grande sucesso literário de Eça.
Depois da história do padre Amaro, o autor português ganharia a atenção dos seus milhares e milhares de leitores espalhados por aí com outra originalíssima história envolvendo um par de parentes: Luísa e Basílio.
Luísa é casada com Jorge, mas o trai com Basílio. Daí o título do livro: O Primo Basílio, cuja primeira edição data de 1878.
Pra pôr o caldo a ferver, entra na história dos primos a empregada Juliana. E tome chantagem!
Em 1888, o mesmo Eça revoluciona o campo literário com um novo romance intitulado Os Maias.
Esse livro traz um monte de personagens conflituosos. Começa com Carlos da Maia fazendo uma visita de reconhecimento à mansão da família.
A história é longa e se desenvolve em dois calhamaços prendendo o leitor do começo ao fim. Tem traições e até incesto. Acontece entre os irmãos Carlos e Maria Eduarda. Passa-se em Portugal dos 800, mais para o final. E pra não perder o hábito o autor atira sua pena ferina contra a sociedade portuguesa daquele tempo. É pra lascar! E por cá, me calo.
Segundo a sabedoria popular, a vida imita a arte. Basta ver o que tem ocorrido com a família Real do Reino Unido.

segunda-feira, 1 de abril de 2024

O VIRA LATA JÁ É CINQUENTÃO

Pois é, parece que foi ontem.
Foi num dia como hoje, há 50 anos, que o multitudo Magrão criou o personagem Vira Lata.
O Vira Lata ganhou cara e movimentos pelas mãos mágicas do quadrinista Líbero.
Sou de-cla-ra-da-men-te fã do Vira Lata.
O personagem de Magrão está sempre ao lado dos deserdados da vida. Pelos deserdados, incluindo negros e prostitutas e outras minorias, o Vira Lata arrisca a cada página a própria vida. É doido por liberdade e o caminho da liberdade ele está sempre trilhando e levando junto quem dela precisa.
Magrão, cujo nome de batismo é Paulo Garfunkel, acaba de nos mandar o texto que segue. E o cara escreve bem, é um ás!
Não faz muito tempo, Magrão e o irmão Jean estiveram por cá cantando e tocando e eu só ouvindo-os com admiração.
Leiam:

Vira Lata 5O anos

     Pela cronologia da história inventada, o Vira Lata nasceu no dia 31 de março de 1974, no Largo Paissandu, aos pés da estátua da Mãe Preta, no meio de uma parada militar que celebrava os 10 anos do golpe de 64.
     O personagem filho da uma mulher de sangue indígena com 5 pais de etnias diferentes, passou a infância numa casa de Candomblé e a adolescência numa colônia  japonesa no vale do Ribeira, de onde foi expulso por viver o primeiro amor com Tieko, supostamente sua meia irmã.
     Solto no mundo, perambulou Brasil adentro sobrevivendo de biscate, ora ajudante de caminhão, ora leão de chácara de boate, ora bóia fria.
     Depois de enfrentar dois capangas de um fazendeiro que ameaçavam uma família de cortadores de cana, ele volta para São Paulo, reencontra Juan, seu padrinho anarquista, talvez o único que tenha amado de verdade sua mãe, Lucinha.
Na cidade grande, confronta o Saneamento Básico, grupo de extermínio, que “limpa” as ruas da maior metrópole da América Latina.
     Ele acaba sendo  preso e estava no Carandiru fumando crack, em outubro de 1992, quando um idiota fardado ordenou um massacre que poderia ter sido evitado.
     Na cadeia encontrou o Doutor Drauzio Varella e se tornaram aliados no combate ao uso de drogas injetáveis, o grande disseminador do HIV nos anos 90, quando 17% dos 7.700 presos eram soro positivo, o que na época era praticamente uma sentença de morte.
     Um personagem de ficção contra inimigos reais, a epidemia da Aids e o preconceito sob todas suas estúpidas formas.

O sino da Sé bate doze badaladas.
A cidade ferve ao sol do meio dia.
O Vira Lata encosta a ponta do dedo médio no chão
 e toca a frente, a lateral e a parte posterior da cabeça:
 –Larôiê, Exú, Senhor dos Caminhos!
Depois se dissolve na multidão.

Os párias, os náufragos, os que não têm proteção do poder oficial nem do poder paralelo.
Que sequer são marginais, pois as margens estão ocupadas por facções e milícias.
Essa gente que sobrevive à deriva, agora tem com quem contar.
E aqueles que empunham armas e estalam chibatas, e os que ditam as ordens mas não sujam as mãos, não vão mais ficar impunes.

“Há que se lembrar da desdita pra que nunca mais se repita*.
Dúzias de ovos eclodem todos os dias no ninho da serpente.
Vamos nos manter atentos porque a liberdade está sempre por um fio.
Viva o Povo Brasileiro!” 31/03/2024

PAZ, SEMPRE PAZ!

A tomada do poder pela força militar em 1964 não pode ser esquecida. A coisa foi violenta, terrivelmente violenta.
Tudo começa quando Jânio Quadros renuncia à presidência da República no dia 25 de agosto de 1961.
O vice de Jânio, Jango, se achava em missão oficial na China. Ao tomar conhecimento da renúncia, Jango volta com as orelhas de pé.
Depois de muito empurra empurra e disse me disse, assume a faixa presidencial.
Jango tinha relações muito próximas com os sindicatos, com todos os sindicatos. Isso foi o suficiente para os militares chamarem-no de comunista. E aí já viu, né?
A tomada de poder ocorreu na manhã de 1º de abril de 1964.
Os generais gostaram da coisa e foi assim que permaneceram chafurdando no Brasil durante a eternidade de 21 anos seguidos. 
Durante aqueles 21 anos, os militares fecharam a boca do povo e dos artistas.
Muitos livros foram censurados e tirados de circulação.
Muitos discos foram proibidos de tocar e cantores e compositores, como Chico e Caetano, partiram para o exílio.
Vandré por pouco não foi pego e morto.
Que tal loucura nunca mais se repita.
O cantor, compositor e instrumentista Jean Garfunkel nos mandou o texto abaixo. Uma pérola. Confiram:

Bodas de Chumbo

Há que lembrar da desdita
Pa que jamais se repita
A dura dita, a dita dura
Da mentira e da impostura
Da mordaça e da censura
Da porrada e da tortura
Que rasura nossa história
De sessenta anos atrás
Nódoa escura na memória
Amarguras ancestrais
Que enxaguamos de lembranças
Pra que as gerações futuras
Construam sua esperança
Justa, lúcida e segura
Sabendo a fragilidade
Da palavra liberdade
Sabendo da relevância
Da palavra vigilância
Sabendo da inconsequência
Da palavra violência
Sabendo da desventura
Da palavra ditadura

domingo, 31 de março de 2024

DITADURA NUNCA MAIS, MESMO! (2, FINAL)

Dom João VI veio correndo para o Brasil com medo do sanguinário Bonaparte.
Bom tempo se passou até que o mesmo Dom João resolveu retornar a sua terra, logo após tomar conhecimento da prisão do seu algoz pelos ingleses.
No lugar de Dom João VI ficou o filho príncipe Pedro, ainda criança.
O tempo passou, o príncipe proclama a Independência em 1822 e vira Imperador. 
Depois que Pedro I retorna a Portugal, o filho, posteriormente, assume o Império com 14 anos de idade.
Em 1889 Marechal Deodoro, apoiado por seus pares militares, botou o filho de Pedro I pra correr.
Exilado, Pedro II morreu em Paris.
É como eu disse: a história é loooonga.
Em 1964, os generais tomaram de novo o poder. À força. 
Há pouco, um capitãozinho foi eleito democraticamente e na marra tentou eternizar-se no poder com um golpe militar que não deu certo. Cadeia pra ele!
Em suma, é como dizemos no bombo e no grito: ditadura nunca mais!
Leia aqui mais uma beleza gerada pelo talento do multitudo Klévisson Viana:

DITADURA NUNCA MAIS – 60 ANOS DO GOLPE MILITAR
Autor: Klévisson Viana

Eu que trago em minha sina
O dom de versificar,
Porque sou representante
Da poesia popular;
Quero tratar de um tema,
Sem lirismo de um poema,
Sem de nada me esquivar.

Neste cordel eu não falo
De beleza e de candura,
Do cantar dos passarinhos
Cheio de graça e doçura;
Falo de atos insanos,
Registro 60 anos
Da perversa ditadura.

Falo de uma época triste,
De falso patriotismo...
Das nossas forças armadas,
Sem bravura e heroísmo
E do momento infeliz
Que nosso belo país
Foi jogado num abismo.

No abismo da ganância,
Do poder a qualquer preço,
De gente inescrupulosa
Que segue sem ter apreço
À nossa Democracia,
Que tanto bem irradia
E da paz é sempre o berço.

Foi uma época tenebrosa,
De conotações fascistas,
Que houve perseguições
A intelectuais, artistas,
A alunos, professores,
Todos os opositores
Eram riscados das listas.

Militares legalistas,
Democratas instruídos
Pela dita linha dura,
De pronto foram excluídos;
Bastava não concordar
Com o Regime Militar
Para serem perseguidos.

Muita gente torturada
Nos tenebrosos porões,
Jornalistas perseguidos,
Banimentos, repressões,

Amargos fatos, tormentos,
Sem uma luz, sem alentos
Às terríveis provações.

Foi deposto João Goulart,
O presidente de fato,
E Humberto Castelo Branco
Se valendo, então, do Ato
Institucional número 1
Nos forçou o incomum
Regime, vil, putrefato.

Foi a 31 de março
De 64, o ano
Que o chão da boa esperança
Se viu baldado em seu plano
A ditadura amargando
E sem desejar provando
Perseguição, desengano.

Falaram ser por uns dias,
Mas logo mudaram os planos.
E num Ato após o outro
Ficaram 21 anos
No poder fazendo horrores,
Impondo mil dissabores,
Num mar de mil desenganos.

Foram anos tenebrosos,
Uma crise muito séria,
Quem pensasse diferente
Era visto por pilhéria,
Numa existência sofrida
Que muitos perderam a vida
Nessa época deletéria.

A censura perseguia
Todo produto da arte
E os estúpidos censores
Estavam por toda parte.
Por ordem dos Generais
Muitas obras geniais
Sofreram duro descarte.

Castelo Branco ficou
No poder por quatro anos.
No ano 67
Quem seguiu com os mesmos planos
Foi um outro general
Para o País, afinal,
Só trouxe mais desenganos.

Depois de Castelo Branco,
Num manipulado pleito,
O General Costa e Silva
Indireto foi eleito,
Baixou o AI-5, então,
Aumentando a repressão,
Levando tudo de eito.

Ali os Anos de Chumbo,
De fato, tiveram início.
Nosso País virou párea
Num horrendo precipício;
Mortes, torturas, tormentos
Só trouxeram desalentos,
Tristeza, dor e suplício.

O ‘Milagre Brasileiro’
Atolou nosso país,
A Dívida Externa cresceu
Numa gestão infeliz,
Incompetente, incapaz,
Com apetite voraz
Deixa o Brasil por um triz.

Nas mãos do FMI
Fomos postos de bandeja,
Os EUA dava às ordens
E essa corja malfazeja

Espoliava a Nação
Fazendo a péssima gestão
Que nenhum país almeja.

Emílio Médici assumiu
Do ano de “meia nove”,
Ficando até “sete quatro”,
Muita maldade promove.
Nesse cenário de horror
Reinou a mão do terror
Que ainda hoje comove.

Depois assumiu o Geisel
Numa forçada Abertura
Política, mas prosseguia
Toda sorte de tortura.
Um assassinato, enfim,
Comoveu, foi estopim
Para o fim da Ditadura.

Vladimir Herzog, o Vlado,
Jornalista renomado,
No ano 75
Foi detido e torturado
No DOI-CODI em negro terno,
Na sucursal do inferno
Apareceu enforcado.

Dom Paulo Evaristo Arns
Com o rabino Henry Sobel
Fizeram um Ato Ecumênico
Contra o crime tão cruel
E o famoso Sindicato
Dos Jornalistas, no Ato,
Cumpriu honroso papel.

Pelo grande Audálio Dantas
O mesmo era presidido
E a morte do Vladimir
Causou enorme estampido,
Abalando a estrutura
Da perversa Ditadura,
Tornando o povo aguerrido.

Lá no ABC Paulista
Grandes mobilizações
No ano setenta e oito
Arrebatou multidões,
Operários insatisfeitos
Lutavam por seus direitos,
Contra o jugo dos patrões.

Luiz Inácio da Silva,
Um dos articuladores,
Tinha carisma de sobra,
Além de muitos valores,

Com um grupo destemido
Fundou então um partido
Pra nossos trabalhadores.

João Batista Figueiredo
Assume em 79
Num regime moribundo,
Pouca mudança promove.
Seu governo delirante
Com inflação galopante,
Não há ninguém que aprove.

E naquele mesmo ano
Foi concedido anistia
A quem se opôs ao regime
E em outras partes vivia,
Muitos puderam voltar
Na intenção de chegar
E lutar por novo dia.

E João fez um governo
Muito pouco eficiente
Pra manter a Ditadura,
Por Deus, não foi competente.
Afirmava, sem abalo,
Gostar muito de cavalo
E muito pouco de gente.

Em mil novecentos e
Oitenta e um, se avista
Nas páginas de nossa história
Um atentado terrorista
Tramado por militares
Para jogar pelos ares
Uma festa trabalhista.

O Caso do Riocentro
Plano perverso afigura;
A trama com objetivo
De retardar à Abertura
Política, usando de horrores,
Do exército alguns setores
Queriam mais Ditadura.

No Dia do Trabalhador
Grande ato popular
Fez-se grande multidão
A fim de comemorar.
Agora, veja você,
A nata da MPB
Era pra exterminar.

No palco Bete Carvalho,
João do Vale, Alceu Valença,
Clara Nunes, Djavan
E a coisa ficou mais tensa.

Caymmi, Chico Buarque,
Ia ser grande o desfalque,
Segundo narra a imprensa.

Gozaguinha lá estava
Com Luiz, Rei do Baião,
O grande homenageado
Nessa dita ocasião,
Porém os vis militares
Iam mandar pelos ares
Artistas e multidão.

A ideia era explodir
O show dos trabalhadores,
Causar morte, pânico e dor,
Culpando os opositores.
A incompetência ganhou,
Por Deus a bomba estourou
No colo dos opressores.

Depois deu-se um movimento
Forte, de grande valia,
Chamado Diretas Já
(Gerou música e poesia...).
Foi árdua nossa jornada,
Conquistamos a sonhada
Volta da Democracia.

O voto pra presidente
Nós podemos sufragar
E o Sol da Liberdade,
Por Deus, voltou a raiar,
Mas sem punir linha dura
O fantasma da Ditadura
Sempre vem nos assombrar.

Freury, Ustra e Curió
(Carrascos da Ditadura)
Não pagaram por seus crimes
E a impunidade perdura
No milico saudosista
Com pensamento fascista
Que o país inda atura.

É quando surge um golpista
Tomado de ousadia,
Conspirando e planejando,
Sem respeito e empatia,
Tendo o inferno por berço,
Mostrando ter zero apreço
Por nossa Democracia.

Que o 8 de janeiro,
Com seu golpe fracassado,
Nos sirva, então, de lição,
Que a Justiça, o Estado,

Nunca seja complacente
E puna severamente
Cada golpista arrolado.

Povo bom do meu Brasil,
Nosso País é capaz
De ser gigante potência,
Seu povo viver em paz...
Democracia é a seta,
Assim aponta o poeta:
Ditadura nunca mais!!!

FIM

sábado, 30 de março de 2024

DITADURA NUNCA MAIS, MESMO! (1)

Somos uma população de mais de 200 milhões de habitantes. É muita gente, não é mesmo?
Até aqui passamos dificuldades de todos os tipos.
Primeiro foram os invasores estrangeiros a tomar conta do nosso país. Portugal levou a melhor, no primeiro momento. Cresceu, cresceu, com as riquezas extraídas do solo brasileiro.
Isso no século 16, bem no começo.
Ao mesmo tempo que portugueses invadiam nosso país, outros povos faziam o mesmo: franceses, holandeses, etc. 
No começo do século 19, precisamente em 1808, Dom João VI, família e apaniguados fincaram moradia por cá. Primeiro na Bahia e depois no Rio.
A história é comprida.
Como costuma fazer, o craque cearense Klévisson Viana gerou mais um belíssimo trabalho poético. Leiam-no:

A CADELA DO FASCISMO VIVE DIRETO NO CIO
Autor: Klévisson Viana

Ditadura nunca mais
Nem civil, nem militar
Só podemos lamentar
A época dos generais
Todo inimigo da paz
Ao amor é fugidio
Com seu instinto sombrio
Seu espírito é um abismo
Que a cadela do fascismo
Vive direto no cio.

Quem quiser ser candidato
Defenda a Democracia
Seja a luz que irradia
A paz na rua ou no mato
Tenha a lei por aparato
Lute, não seja arredio
Pois para um país sadio
Não fique no comodismo
Que a cadela do fascismo
Vive direto no cio.

21 anos de atraso
Nosso país amargou
Dessa época o que sobrou
De proveitoso é bem raso
Só lembramos do descaso
E o futuro por um fio
De nosso imenso Brasil
Sob tortura e sadismo
Que a cadela do fascismo
Vive direto no cio.

Torturadores terríveis
Perseguidores cruéis
Todos reféns dos quartéis
Que se julgavam invencíveis
Maldade em todos os níveis
Homem sem alma, vazio
Sempre ao diferente hostil
Ódio, maldade, egoísmo...
Que a cadela do fascismo
Vive direto no cio.

Portanto, fiquem cientes
Que os milicos referidos
Para os Estados Unidos
Foram subservientes
Mansos e obedientes
Só bastava um assobio
Tio Sam com olhar frio
Mostrando absolutismo
Que a cadela do fascismo
Vive direto no cio.

Quase 2.000 camponeses
Foram desaparecidos
Muitos mortos, perseguidos
Sindicalistas, por vezes
Sumidos dias e meses
E até anos a fio
Me causa até arrepio
Esse grau de terrorismo
Que a cadela do fascismo
Vive direto no cio.

Saudosos da Ditadura
Porquê da mesma eram sócios
Lucraram com esses negócios
Sem a menor compostura
Inda vivem na fissura
Desejando a sangue frio
Clama o regime sombrio
Mostrando até saudosismo
Que a cadela do fascismo
Vive direto no cio.

Quem vive nessa loucura
Expondo sanha golpista
Perversa, vil, egoísta
Precisa ser enquadrado
Pela lei, e condenado
Para curar o desvio
De caráter doentio
Uma dose de civismo
Que a cadela do fascismo
Vive direto no cio.

Reza a constituição
Que o papel do militar
Não é para governar
É defender a Nação
Quero que a instituição
Cumpra o seu papel com brio
Enfrentando o desafio
De manter paz e civismo
Que a cadela do fascismo
Vive direto no cio.

E para os bons militares
Tiro sempre o meu chapéu
Merecem palma e laurel
E o respeito de seus pares
Galgar melhor patamares
Ser digno de elogio
Legalista sem desvio
Com verdadeiro heroísmo
Que a cadela do fascismo
Vive direto no cio.

Quem foi péssimo militar
Mandrião com lero-lero
Político do baixo clero
Miliciano vulgar
Só veio pra nos mostrar
O quanto é podre e vazio
E nosso imenso Brasil
Tentou jogá-lo abismo
Que a cadela do fascismo
Vive direto no cio.

Nesse filme de terror
Igreja virou gandaia
E o rei da maracutaia
Tal “Messias” impostor
Arma seu circo de horror
E do mal faz seu plantio
Apoia com desvario
Narcopentecostalismo
Que a cadela do fascismo
Vive direto no cio.

O pobre tio do zap
Sujeito da “dita mole”
Toda fakenews engole
É sua válvula de escape
Porém não é com tacape
Que se amansa esse vadio
Que se acha um senhorio
Com falso patriotismo
Que a cadela do fascismo
Vive direto no cio.

Dez mil Caixas de Pandora
Bolsonaro e sua maldade
Mostrou da sociedade
Que um lado escuro vigora
Uma corja que ignora
Que possui grande desvio
Terraplanista arredio
Acéfalo com pedantismo
Que a cadela do fascismo
Vive direto no cio.

Sendo de Esquerda ou Direita
Siga a Constituição
Pra sermos grande Nação
Democracia é perfeita
Com ela tudo se ajeita
E o país fica sadio
Só refutando desvio
Do cruel anacronismo
Pra cadela do fascismo
Findar de vez com o cio.

FIM

sexta-feira, 29 de março de 2024

A MORTE LEVA DOIS MESTRES

À esquerda Oswald Barroso, à direita Lúcia Junqueira, Klévisson Viana e Érico Junqueira

Hoje 29 faz exatamente uma semana que o poeta  e jornalista Oswald Barroso partiu para a eternidade. Tinha 76 anos de idade.
Durante cerca de 50 anos, Oswald ocupou as mais diversas funções e cargos no campo da cultura popular cearense.
Além de poeta e jornalista, Oswald Barroso foi ator, diretor, pesquisador e produtor de teatro. 
A última homenagem que Oswald recebeu em vida foi na 5ª Feira do Cordel Brasileiro, realizada em Fortaleza, CE.
O evento foi coordenado pelo poeta e cordelista Klévisson Viana.
Quem também nos deixou há poucos dias foi o cartunista Érico de Oliveira Junqueira Ayres. Era baiano e tinha 75 anos de idade.
Érico, além de cartunista, também era engenheiro e doutor em Urbanismo.
Segundo os familiares, Érico de Oliveira Junqueira Ayres havia sofrido um AVC duas semanas atrás. Internado no Hospital do Servidor, faleceu.
O falecimento de Érico aconteceu domingo passado 24.
O cartunista Érico deixa viúva Lúcia.
No começo deste mês o casal Érico e Lúcia fizeram uma visita a Klévisson Viana.
Coisas da vida, infelizmente.

quinta-feira, 28 de março de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (85)

César, Lucrécia e Rodrigo Bórgia
A corrupção foi uma praga que acompanhou a Igreja desde tempos remotos.
Rodrigo Bórgia (1431-1503), que virou papa pela iniciativa do tio cardeal Alonso, é uma mancha feia que envergonha o Vaticano.
O sobrinho de Alonso, que ganhou o nome papal de Alexandre VI, foi corrupto e assassino. Era vingativo e praticante da esbórnia. Teve amantes e pelo menos nove filhos, entre esses César (1475-1503) e Lucrécia (1480-1519).
César puxou ao pai. Era violento e por isso mesmo temido. Lambuzou-se com a riqueza que tinha à disposição.
Lucrécia não costumava dormir só, tampouco deixava esfriar a cama. Como o pai, teve amantes.
Alonso Bórgia, aquele tio do Rodrigo pra quem foi uma verdadeira mãe, também assumiu a cadeira de papa com o nome Calisto III (1455-1458).
O tema corrupção no Clero se acha também na ficção. No romance, na poesia…
Já que estamos ali pelo século 15, lembro que naquele tempo existiu um papa de nome Pio II (1458-1464). Esse papa entrou na história por razões diversas. Era um cara simples, sabido e observador das minúcias do cotidiano. Lia muito e escrevia coisas com gosto. Algumas impublicáveis.
Em 1444, o futuro papa, Enea Silvio Piccolomini (1405-1464) escreveu e publicou um conto erótico. Título: O Conto Dos Dois Amantes, em que “defendia” o amor adúltero.
Pois, pois.
A literatura em todas ou quase todas as línguas registra muitas passagens de personagens reais e fictícios, envolvidos em tudo quanto é pecado. A tragédia prevalece, ao contrário do chavão “E foram felizes para sempre”.
Moisés e os Dez Mandamentos,
de Rembrandt Harmensz
Os chamados Dez Mandamentos que Moisés apresentou a seu povo no Monte Sinai são desrespeitados o tempo todo. O que diz “Não matarás”, por exemplo. Outro é “Não desejar a mulher do próximo”. Se o próximo não estiver muito próximo… Diria um gaiato, pois correria risco de morte, como indica o 9° Mandamento.
Nem é preciso ir muito longe pra conferir na literatura a presença de figuras da Igreja dando vazão aos prazeres da carne e à corrupção.
A Religiosa, mais do que um romance, é a memória de uma personagem real transformada em ficção, que sofre que nem uma condenada ao fogo do Inferno quando a mãe morre. Diderot foi perfeito na narrativa do texto memorialista da personagem Suzanne.
Suzanne Simonin é a caçula dentre duas irmãs. Fruto, porém, de um pulo de cerca da mãe que o pai só iria desconfiar anos depois. E ficaria puto com isso.
A mãe de Suzanne ajeita a vida das duas filhas mais velhas casando-as e dando materialmente tudo que lhe é possível.
A história se passa no século 18, por aí.
Nessa história cabeludíssima tem corrupção, tortura e abusos cometidos até pela madre superiora.
Suzanne a essa altura tem por ali uns 20 anos de idade. Sofre que nem Cristo pregado na cruz.
Pura, simples, natural e ingênua, embora inteligente, considerava-se incapaz de seguir como opção a vida religiosa. Acreditava, porém, na força divina.
Há um momento no livro de Diderot que freiras tiram sarro da jovem Suzanne e a torturam, levando-a a se lascar num calabouço. Ela pede clemência, rogando aos céus pelas desgraças que lhe acontecem. Em vão.
A caminho do calabouço, lembra:
Conduziram-me, com a cabeça nua e os pés descalços, através dos corredores. Eu gritava e pedia socorro, mas tinham tocado o sino a avisar que ninguém acudisse. Eu invocava o céu e deitava-me para o chão, e arrastavam-me. Quando cheguei ao pé das escadas, tinha os pés ensanguentados e as pernas magoadas; teria comovido uma alma de bronze. Abriram com uma grande chave a porta de um pequeno canto subterrâneo e escuro e atiraram-me para cima de uma esteira meio apodrecida pela umidade. Ali, encontrei um bocado de pão negro e um cântaro de água e mais alguns recipientes necessários e toscos. A esteira, enrolada numa das pontas, formava uma almofada. Num bloco de pedra havia uma caveira e um crucifixo de madeira. O meu primeiro impulso foi destruir-me; levei as mãos à garganta, rasguei a minha roupa com os dentes, dei gritos pavorosos. Uivava como um animal feroz, batia com a cabeça nas paredes e fiquei coberta de sangue. [...]
Diderot começa seu livro reproduzindo cartas da personagem e pessoas que a rodeiam.
Como Eça de Queiroz, Diderot desenvolve o texto tascando o pau no Clero do seu tempo e do tempo da personagem Suzanne.

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

quarta-feira, 27 de março de 2024

VAMOS BRINCAR DE CIRCO?

Eu sou do tempo em que criança vivia sua fase criança.
Eu sou dos tempos passados de 50. Pra ser exato, 1952.
Brinquei de esconde-esconde, de amarelinha, de pula fogueira, pula-pula, corrida do saco...
Eu gostava também muito de adivinhas. 
Lembro que a primeira vez que eu vi bobagens como: o que é o que, pula pra rir e faz béh?
Coisa boba, né?
Outra: o que é o que é, cai de pé e corre deitado?
E os circos, hein?
Frequentava muito os circos. Eu rachava o bico com as bobagens e bagunças dos palhaços. 
Houve muitos palhaços famosos, que marcaram Arrelia, Piolin, Carequinha, Fuzarca e Torresmo.
Já na fase adulta, privei da amizade de Waldemar Seyssel, que vem a ser Arrelia. Tudo bem, tudo bem, tudo bem!
Hoje a brincadeira da criançada é o celular.
Ah, sim: hoje é o Dia do Circo.


terça-feira, 26 de março de 2024

CENSURA É UMA MERDA!

Foi não foi a Inquisição mostra as suas garras dos modos os mais diferentes possíveis.
A Inquisição carrega no seu bojo a censura e tudo que não presta. Em nome da família e do bem comum, muitas mortes foram aberrantemente patrocinadas por ela.
É como se ainda vivêssemos o obscurantismo medieval.
Foi na virada de março para abril de 1964 que os militares, patrocinados por poderosos civis, encheram de tanques o centro do Rio de Janeiro, calando no nascedouro a boca do povo.
O tempo, naquele tempo, fechou.
Foram 21 anos de cabresto e terror.
Muitos brasileiros e brasileiras foram perseguidos, presos, torturados e, quando não mortos, exilados.
A impressão que às vezes tenho é que o bicho verde-oliva graduado está a postos, na esquina, à espera de um sinal qualquer do Capeta para atirar-se contra todas as leis que regem o campo do bom viver, destruindo a Constituição e a esperança.
Pois é, a censura está mostrando aos poucos suas garras.
No Paraná, PR, o governo mandou retirar das escolas o livro O Avesso da Pele, do carioca Jeferson Tenório.
Esse mesmo livro também foi censurado numa escola de Porto Alegre, RS.
Esse mesmo livro, e tudo neste mês de março, foi também suspenso do currículo escolar em Goiás. A decisão foi do governador bolsonarista Ronaldo Caiado.
O Avesso da Pele é um romance que trata de racismo e dos problemas provocados pela cor da pele. Trata também de questões referentes ao sexo.
Lá atrás, durante a ditadura militar, de cara foram proibidos os livros Eu sou uma Lésbica, de Cassandra Rios; Roque Santeiro, de Dias Gomes; O casamento, de Nelson Rodrigues; Feliz Ano Novo, de José Rubem Fonseca e Laranja Mecânica, de Anthony Burgess.
Também naqueles tempos foram proibidos outros títulos de filmes dirigidos por estrangeiros como O Império dos Sentidos, O Último Tango em Paris e Garganta Profunda.
Liberados depois, esses filmes nada provocaram de espantoso na vida de que os assistiu.
A censura é uma merda, não é mesmo?

segunda-feira, 25 de março de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (84)

O erotismo está em todo canto, no corpo e na alma de todos.
Desde sempre mil histórias de safadeza são descobertas e contadas pra quem quiser ouvir.
O Papa Francisco, escolhido por seus pares cardeais em 2013, assumiu o cargo dizendo a que vinha. E não demorou a abrir a caixinha dita de Pandora cheia de pecados cabeludos cometidos por padres, freiras e noviços ao longo da história da santa Igreja Católica. 
Ao denunciar em público o comportamento delituoso de religiosos, Francisco por muitos foi amaldiçoado e por pouco não sucumbiu no fogaréu do Inferno. Disse coisas assim:
“Diante dos abusos cometidos por membros da Igreja, não basta pedir perdão”
E continuou: 
“Trabalhamos por muito tempo sobre este assunto. Suspendemos vários clérigos, que foram despedidos por isso”.
Falou também de freiras que se comportam diferentemente do que orienta a Igreja:
“Não sei se o processo (canônico) terminou, mas também dissolvemos algumas congregações femininas que estiveram muito vinculadas à corrupção”.
Vale a pena ler o livro Erotismo, do francês Georges Bataille (1897-1962).
Vale a pena também ler o livro A Religiosa, de Denis Diderot (1713-1784), mesmo autor de Carta sobre os Cegos para uso daqueles que vêem.
Diderot estudou em colégios de jesuítas, mas não virou padre. Virou ateu cáustico crítico da Igreja Católica. Dizia ser menos penoso negar a Deus do que aceitá-lo, por isso foi preso.
Vale a pena também ler Decamerão, do escrachado Boccaccio. O livro trata de amor e moralismo.

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

domingo, 24 de março de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (83)

Camões, pelos traços de Fausto Bergocce
Centenas de embarcações foram afundadas e milhares e milhares de homens pereceram entre ondas e nas bocarras de monstros marítimos.
Cena idêntica a essa aqui narrada acha-se no livro Os Lusíadas. É quando Netuno, incentivado por seu parceiro Baco, faz do fundo do mar emergirem monstros que botam, literalmente, pra quebrar embarcações onde se acham marujos desbravadores dos caminhos das Índias. Dito isso, digo também o óbvio: Camões inspirou-se nos escritos de Homero para compor sua fabulosa obra.
Ovídio também inspirou-se em Homero, que o tinha como mestre. Isso é válido também para Virgílio, que pôs o guerreiro troiano Enéias como herói da epopeia narrada em Eneida.
Ovídio, Virgílio, Homero…
No clássico A Divina Comédia, de Dante Alighieri, aparecem os poetas ora citados. Aparecem na primeira das três partes do livro: O Inferno.
Quando Dante morre está a sua espera, na porta do Inferno, o autor de Eneida que outro não é senão Virgílio.
Virgílio pega Dante pela mão e a ele vai mostrando os labirintos do reino de Lúcifer. O passeio é cansativo e enervante. 
Depois de conhecer o Inferno, Dante segue com seu guia labirinto adentro. Chega ao Purgatório. Ali pelas proximidades vê o Limbo e almas ora apáticas, ora tensas.
Na última parte ou estação do livro, o Paraíso, se acha o grande amor de Dante: Beatriz. E mais não digo.
O amor está na vida, nos seres viventes, e nos elementos naturais: Terra, Fogo, Água e Ar.
Inferno, Canto XXXII − gravura de Gustave Doré
Ah! Odisseia trata do retorno tumultuado de Ulisses aos braços da amada Penélope. 
O retorno do herói grego durou mais tempo do que a guerra travada em Tróia: quase duas décadas. 
Ali pelo século 4 da nossa Era, um cidadão chamado Agostinho era doido por um rabo de saia. Tinha uns 15 anos quando se apaixonou por uma garotinha de 12. Queria com ela se juntar, mas as leis da época não permitiam; só depois dos 14. Volúvel, desistiu de casar com a menina. Sem ter muito o que fazer, o varão estudava e aos domingos ia com sua turma à Igreja só pra paquerar. 
No texto autobiográfico Confissões, confessou Agostinho: “Eu me esbanjava e ardia nas minhas fornicações”.
Dois anos depois de deixar sua juvenil paixão, Agostinho juntou-se com uma jovem e com ela teve um filho de nome Adeodato.
Resumo da ópera: Agostinho separou-se depois de 15 anos de casamento. 
Com 33 anos de idade, Agostinho converteu-se ao cristianismo pra valer a pedido da mãe,  Mônica. Virou monge em Hipona, África. Morreu e virou santo. A mãe também. O pai, não sei.

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