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quinta-feira, 1 de abril de 2021

ÓBVIO, DITADURA NUNCA MAIS

O poeta pernambucano Carlos Pena Filho não viveu 64 nem os anos de chumbo subsequentes, mas seu conterrâneo Gregório Bezerra viveu.
Naquele mesmo ano, Zé Keti, João do Vale, Boal, Ruth Escobar e tantos e tantos outros artistas não ficaram de braços cruzados.
O ano de 1964 começou em 1961, mais precisamente no dia 25 de agosto quando o mato-grossense Jânio Quadros (1917-92) renunciou à presidência da República.
No lugar de Jânio, entrou Jango.
João Goulart (1919-76), o Jango, era um católico do Rio Grande do Sul. Mas suas ideias de igualdade preocupavam as Forças Armadas. Boa praça.
Não sei porque os militares têm tanto medo dos comunistas.
Jango não era comunista. Era fazendeiro, capitalista.
O comunismo nunca teve forte influência em governo nenhum, no Brasil.
A madrugada de 31 de março de 1964 pegou fogo nos quartéis. E o dia seguinte chegou com blindados e baionetas nas ruas do Rio de Janeiro. ECOS DA DITADURA
O golpe que recebeu apoio da classe dominante duraria 21 longos anos. Intermináveis anos.
Mesmo depois da 1ª eleição (indireta) que confirmou o nome do mineiro Tancredo Neves (1910-1985) como presidente, que não assumiu, o fantasma dos anos de chumbo continuava a assustar os brasileiros comuns.
A Censura não acabou quando acabou a ditadura militar.
A Censura sob qualquer aspecto, é uma praga.
Muita gente foi presa, muita gente foi torturada, muita gente foi morta no decorrer daqueles tristes tempos.
Ainda há desaparecidos, brasileiros contrários à força bruta dos militares.
O governo militar editou 17 Atos Institucionais. O mais violento deles foi o AI-5, que além liberar porrada pra todo lado, liberou também a Censura indiscriminada. Esse foi o pior de todos. AI-5 NUNCA MAIS
Poetas, escritores, atores, compositores, artistas de todas as áreas acusaram o golpe e partiram para o ataque.
Em 1964, foi levada à cena a peça Opinião, com João do Vale, Zé Keti e Nara Leão, no Rio. LIBERDADE EM TEMPO DE CAPITÃO
No Rio, os agentes da ditadura tacavam fogo na Sede da União Nacional dos Estudantes, UNI.
No Rio, a Associação Brasileira de Imprensa, ABI, não se calava diante das ameaças dos trogloditas fardados ou camuflados de civis, promovendo debates sobre a censura e direitos do povo.
A atriz e produtora cultural Ruth Escobar, uma antena ligadíssima a todos os acontecimentos daquele tempo, estava lá presente.
Ruth, portuguesa de origem, nasceu no dia 31 de março de 1936 e chegou ao Brasil 3 anos antes de Getúlio se matar (1954). A propósito, recomendo a leitura do livro Metade é Verdade, de Álvaro Machado.
A ditadura continuava a mostrar a sua cara feia, assustando a Democracia.
No dia 28 de março de 1968, a polícia apontou a arma e matou o estudante secundarista Edson Luís.
Edson tinha apenas 16 anos de idade.
No dia 26 de junho de 1968, Ruth Escobar e centenas de artistas engrossaram a Passeata dos Cem Mil.
Essa história eu conto num encarte do CD Nação Nordestina, de Zé Ramalho.
E os artistas sempre com o povo, defendendo o direito de viver em paz.
Muitas peças de teatro foram censuradas.
Muitas músicas foram censuradas.
Aqui, uma dúzia delas:

Apesar de Você, Chico Buarque
Cálice, com Chico
Calabouço, com Sérgio Ricardo
Comportamento Geral, Gonzaguinha
É Proibido Proibir, Caetano Veloso
Jorge Maravilha, Chico
O Bêbado e o Equilibrista, Elis Regina
Opinião, Zé Keti
Pra Não Dizer que Não Falei de Flores, Geraldo Vandré
Que as Crianças Cantem Livres, com Taiguara
Sinal Fechado, Paulinho da Viola
Uma Vida Só (Pare de Tomar a Pílula), com Odair José


Gregório Bezerra, humilde pernambucano de Panelas, foi preso pelos militares e por eles torturado. Acusação: comunista.
Indefeso, Bezerra foi amarrado na traseira de um jipe do Exército e arrastado por bairros, por ruas populares de Recife, em 1964.
Bezerra, que nasceu no dia 13 de março de 1900, morreu na Capital paulista no dia 21 de outubro de 1983. Nesse dia e ano conheci e entrevistei Luís Carlos Prestes (1898-1990), para a Folha.
Carlos Pena Filho, que nasceu em 1929 e morreu em 1960, foi amigo de Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Jorge Amado e tantos.
Pena era incrível. Um gênio nascido fora do tempo. É dele um poema épico sobre Lampião e Solibar, esse musicado por Alceu Valença. Ouça:


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