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quinta-feira, 2 de abril de 2020
ECOS DA DITADURA
O dia 1º de abril de 1964 amanheceu nublado, com soldados e tanques do Exército nas ruas do Rio de Janeiro. A partir desse dia, o Brasil todo entrou em colapso, mergulhado numa escuridão que durou 21 anos.
No correr desse tempo, muita gente foi presa, torturada e morta. Jornais, livros e revistas foram censurados e até implodidos. Escritores, atores e músicos comeram o pão que o diabo amassou.
Em 1964 o cantor e compositor belo-horizontino Sirlan Antonio de Jesus tinha 13 anos de idade.
Na tarde do dia 28 de março de 1968 o estudante secundarista paraense Edson Luís foi morto a tiros pela polícia carioca.
O assassinato do estudante inspirou o jovem Sirlan e seu parceiro Murilo Antunes a comporem a belíssima canção Viva Zapátria. Ela foi finalista do Festival Internacional da Canção de 1972, promovido pela Rede Globo. Censurada pela ditadura, Viva Zapátria morreu no nascedouro e só passou a integrar o primeiro LP de Sirlan, Profissão de Fé, em 1979. Mesmo com o lançamento desse belíssimo disco, o artista foi atirado ao ostracismo pelos poderosos militares de plantão e jamais ocupou o lugar almejado e merecido entre os maiorais da nossa música popular.
Na época em que Edson Luís foi morto e Sirlan compôs Viva Zapátria, o cantor niteroiense Agnaldo Rayol lançou pela extinta gravadora Copacabana o LP As Minhas Preferidas. O repertório desse disco é irretocável. Começa com a belíssima Ave Maria no Morro (Herivelto Martins) e segue com outros clássicos, como Perfil de São Paulo, do paulista Francisco de Assis Bezerra de Menezes. Curiosidade: Perfil de São Paulo, um samba, venceu um concurso promovido pela prefeitura paulistana em 1954. Silvio Caldas foi o primeiro cantor a gravá-la.
O repertório do LP As Minhas Preferidas foi escolhido pelo general Arthur da Costa e Silva, o segundo presidente ditador do ciclo militar iniciado por Castello Branco em 1964. Costa e Silva foi quem editou o famigerado AI-5, na noite de 13 de dezembro de 1968.
Enquanto a discografia de Sirlan é praticamente zero, a de Rayol, iniciada em 1958, é enorme. O principal ponto em comum entre eles é que ambos são afinadíssimos.
Não politicamente, é claro.
Esses discos integram o acervo do Instituto Memória Brasil (IMB).
No dia 1º de abril de 2009, eu passava a usar a internet para publicar o Blog do Assis Ângelo. O primeiro texto foi sobre o golpe militar de 1964. Confira: http://assisangelo.blogspot.com/2009/04/dia-da-mentira.html
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