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quinta-feira, 15 de maio de 2025

Gato com Fome abraça o Brasil

Uma vez o amigo cantor e compositor Paulinho Nogueira disse-me rindo, quando lhe perguntei o genero de uma musica cujo titulo agora não lembro. E ele: "quando eu não sei um ritmo ou genero musical, classifico a composição simplesmente como canção".

Lembrei agora do Paulinho Nogueira ao ouvir a música Pra Manter a Fé, de Cadu Ribeiro e Gregory Andreas. A letra fala de um País, que é o nosso, carente de amor e esperança, fundamentalmente.

Pra Manter a Fé tem melodia que nos encanta desde a primeira nota. Acaba de ser gravada pelo inestimável grupo paulistano Gato com Fome, formado por Cadu (percussão), Gregory (cavaquinho) e Renato (violão 7 cordas).

Sobre a música em pauta, que considero uma joia, diz Cadu: "Pois é, depois de algum tempo sem gravar, trazemos ao nosso publico Pra manter a Fé. É uma canção sobre esperança, sobre acreditar em uma vida melhor. É um abraço coletivo no nosso país."

Ah, sim: pois, pois, devo dizer nestas letras finais que não consegui identificar objetivamente o gênero dessa música de Cadu e Gregory. 

Bom meus amigos, minhas amigas, confesso meu respeito e admiração a esse grupo musical que tanto bem e alegria leva às plateias de São Paulo e do Brasil. Clique abaixo para ouvir o que estou dizendo: 

(650) Pra Manter a Fé - Trio Gato com Fome feat. Fabiana Cozza - Videoclipe Oficial - YouTube

segunda-feira, 12 de maio de 2025

O CEGO NA HISTÓRIA (2)

Em 1825, o francês Louis Braille tinha 16 anos. Com essa idade ele surpreendeu muita gente ao apresentar pela primeira vez um método que desenvolveu para ajudar as pessoas cegas, na leitura e na escrita. 

Quer dizer, há 200 anos as pessoas cegas em todo o mundo passariam a ter a esperança de uma vida melhor, até porque essa nova invenção possibilitaria a alfabetização. 

Essa história toda começa em 1812, quando o caçula dentre quatro irmãos sofre um acidente quando brincava na oficina do pai. 

O pai de Louis, Simon-René Braille, era de profissão seleiro muito bem quisto na região onde vivia com mulher e filhos. 

Quando sofreu o acidente, o menino brincava com pedaços de couro. De repente, uma fivela atingiu com violência um dos seus olhos. Foi um deus nos acuda. Tudo o que era possível foi feito para que a infecção não alcançasse o outro olho. Até uma benzedeira de fama foi chamada, mas não adiantou. Dois anos depois, o menino Louis estava completamente cego dos olhos. 

Todo mundo se envolveu na educação do pequeno Louis, que sempre tirava ótimas notas na escola. 

No começo dos anos 40 do século 19, Louis já tinha o seu método bastante conhecido e o seu nome nele agregado. Assim: Braille, método Braille. 

Em 1844, um brasileiro de 10 anos chegava a Paris para ler na cartilha criada por Louis. Esse brasileiro atendia pelo nome de José Álvares de Azevedo. Era de família pujante e nasceu desprovido de brilho nos olhos. 

Seis anos se passaram quando o agora adolescente José voltava à terrinha e aos braços do pai e da mãe. 

Bem articulado, versátil e brincalhão, José passou a dar palestras nas casas e noutros lugares onde era chamado. 

Um dia, o filho de Inácio Manuel Álvares de Azevedo e Maria Luísa Silveira da Motta Azevedo estacou diante do imperador Pedro II e a ele o jovem fez uma bela e detalhada apresentação do método Braille. O objetivo desse encontro era convencer o imperador a instituir uma escola para cegos. 

Louis Braille morreu em 1852, de tuberculose. 

De tuberculose também morreu José Álvares de Azevedo, com 20 anos de idade. 

O encontro de José com D. Pedro rendeu frutos sob o título Imperial Instituto dos Meninos Cegos. 

José morreu seis meses antes da inauguração da instituição.

Do quadro dos professores desse Imperial Instituto fazia parte Benjamin Constant. Matemática era uma das matérias que lecionava. 

Com a morte de Benjamin em 1891, o Imperial Instituto dos Meninos Cegos passou a se chamar Instituto Benjamin Constant. Até hoje. 

A cegueira sempre foi um problema para o seu portador ou portadora. Fora isso, as pessoas cegas na Antiguidade e até praticamente nos dias recentes eram consideradas malditas. Havia quem pensasse que a cegueira era um castigo divino. Noutras palavras: o cego era pecador que não merecia perdão. 

Na Antiguidade grega, os cegos eram tidos como advinhos e por aí vai. 

Tirésias, filho de um pastor, transita por séculos em histórias lendárias como o cara que virou mulher por obra e graça da deusa Hera, que não gostou de vê-lo enxotando um par de cobras em plena cópula. A ira teve um prazo: sete anos. Passado esse tempo, Tirésias voltou a ser o que era antes: um homem. 

Saliente, Tirésias caiu na besteira de flagrar a deusa Atena tomando banho. Aí dançou. Irritada, ela o cegou para sempre. Cego e sábio. Acha-se até nas página da Odisséia de Homero. Curiosidade: Tirésias que perdeu o "s" para o diretor francês Bertrand Bonello, ganhou o telão num enredo envolvendo uma transsexual brasileira que vive na periferia da França com o irmão. O filme é de 2003. Mas, essa é outra história. 

Expressões como "deficiente visual" e "pessoas de baixa visão" foram cunhadas nos primeiros anos do século 20. A partir do século 21, a sociedade passou a respeitar um pouco mais as pessoas portadoras de quaisquer tipos de deficiência física, auditiva, visual etc.

Não são poucos os personagens cegos que se movimentam na literatura brasileira e estrangeira. E há até autores cegos que deixaram obras monumentais, como os argentinos Jorge Luís Borges (1899-1986) e Ernesto Sabato (1911-2011).

Meu amigo, minha amiga, você sabia que o pai da literatura brasileira, Machado de Assis, ficou cego por um tempo logo após o Natal de 1878?

Meu amigo, minha amiga, você sabe o que eu acho da cegueira? 

A cegueira não é o fim. 


sexta-feira, 9 de maio de 2025

EU E MEUS BOTÕES (87)

Oi, pessoal! O que está havendo aqui, vocês endoideceram?

Os botões caíram na risada, em uníssono: "A gente viu o senhor na TV italiana, ao lado de um monte de gente".

Nisso o sistema interno de TV capta imagens de dois homens e uma mulher. Todos se voltam para identificar as pessoas que veem na tela. Zilidoro diz logo: "Dona Flor já reconheci e aquele... aquele ali vem a ser o roteirista amigo do Vira Lata, personagem que a gente está querendo há muito conhecer".

Muito bem. É que vocês não me deram oportunidade de anunciar...

"Boa tarde, pessoal!", diz um tanto à vontade a historiadora Flor Maria, acrescentando: "O Zilidoro acertou quando disse que estávamos chegando aqui, pois temos o Magrão. E temos também o Fausto, que pessoalmente acho que vocês ainda não conheciam.

"O Magrão aí é o pai do Vira Lata?", pergunta entusiasmado Zoião. 

Bom, é com você Magrão. 

"Sim, sou o criador do Vira. É um filho que me dá muita alegria. É de origem simples, humilde e fácil fácil de conquistar amigos e amigas. É um paladino da Justiça. Nasceu pra fazer o bem e ensinar bons caminhos a quem deles precisa. É um verdadeiro irmão do Líbero. Esse aí também é figurinha do maior respeito", diz Magrão que anda ensinando música ao Vira Lata. 

Todos na sala se levantam batendo palmas, menos Lampa. 

Os irmãos Biu e Barrica levantam as mãos pedindo palavra. Ao mesmo tempo, perguntam: "E esse aí é o Fausto?".

"Sim, eu sou Fausto Bergocce. Tenho andado e ando ainda pintando e bordando. Sou desenhista, pintor e cartunista. Já publiquei duas dezenas de livros, apresentados por meu amigo Assis e o meu amigo Paulinho da Viola. Tenho rodado pelo mundo todo. Vou aonde me chamam. Trabalhei em muitos lugares legais como a TV Cultura, Folha, Folhetim, Diário Popular, Pasquim... Bom, se eu for falar mais a respeito do que faço e a respeito de mim, vocês vão acabar dormindo".

Palmas explodem na sala, enquanto Zoião se posiciona atrás de Lampa, que está entretido no que escreve num papel. De repente, Zoião irrompe numa gargalhada beirando o histerismo. Lampa dá um pulo e fica na posição de ataque: "O que foi, seu corno? Nunca viu um macho, não?".

O ambiente fica pesado e o pessoal do "deixa disso" faz a sua parte.

Peraí, peraí, o que está havendo?

Zoião para de rir e diz tirando o sarro de Lampa: "Ele é um burro, um besta que nem sabe escrever".

Lampa dá de mão do punhalzinho e...

Zilidoro: "Seu Assis, não é bom saber o que Lampa estava escrevendo?".

Sim. O que você estava escrevendo que chamou a atenção de Zoião?

Lampa se aproxima mostrando o papel no qual se lia: A bemo papa.

Pois é, Zoião você não vai querer que o Lampa escreva como se fosse um doutor de universidade. Aliás, há uma linguagem de duas falas e de duas escritas em qualquer parte do mundo. Há a fala praticada no campo e há fala praticada na cidade. Ambas estão certas. E Lampa também está certo. Quando eu cheguei aqui, vocês disseram que me viram na televisão. Sim, eu estava na Vaticano e ao meu lado, o Vira Lata. E tenho certeza de que o Lampa estava acompanhando tudo. A prova é que ele tentou se expressar repetindo o que ouviu. Habemus Papam ( Temos um Papa). E chega, né?

"Eu só queria perguntar se o seu Fausto faria um cartum dizendo que o papa é do Peru". provoca Jão, piscando o olho.

Olavim, no seu canto quietinho, pergunta se não é o caso de aproveitarmos a presença da Flor Maria, Fausto e Magrão para um mergulho na história da Igreja. 

Sim, seria uma boa. Mas o tempo urge. Fica pra outro dia.


sexta-feira, 2 de maio de 2025

O CEGO NA HISTÓRIA (1)

Em 1825, o francês Louis Braille tinha 16 anos. Com essa idade ele surpreendeu muita gente ao apresentar pela primeira vez um método que desenvolveu para ajudar as pessoas cegas, na leitura e na escrita. 

Quer dizer, há 200 anos as pessoas cegas em todo o mundo passariam a ter a esperança de uma vida melhor, até porque essa nova invenção possibilitaria a alfabetização. 

Essa história toda começa em 1812, quando o caçula dentre quatro irmãos sofre um acidente quando brincava na oficina do pai. 

O pai de Louis, Simon-René Braille, era de profissão seleiro muito bem quisto na região onde vivia com mulher e filhos. 

Quando sofreu o acidente, o menino brincava com pedaços de couro. De repente, uma fivela atingiu com violência um dos seus olhos. Foi um deus nos acuda. Tudo o era possível fazer foi feito para que a infecção não alcançasse o outro olho. Até uma benzedeira de fama foi chamada, mas não adiantou. Dois anos depois, o menino Louis estava completamente cego dos olhos. 

Todo mundo se envolveu na educação do pequeno Louis, que sempre tirava ótimas notas na escola. 

No começo dos anos 40 do século 19, Louis já tinha o seu método bastante conhecido e o seu nome nele agregado. Assim: Braille, método Braille. 

Em 1844 um brasileiro de 10 anos chegava a Paris para ler na cartilha criada por Louis. Esse brasileiro atendia pelo nome de José Álvares de Azevedo. Era de família pujante e nasceu desprovido de brilho nos olhos. 

Seis anos se passaram quando o agora adolescente José voltava à terrinha e aos braços do pai e da mãe. 

Bem articulado, versátil e brincalhão José passou a dar palestras nas casas e noutros lugares onde era chamado. 

Um dia, o filho de Inácio Manuel Álvares de Azevedo e Maria Luísa Silveira da Motta Azevedo estacou diante do imperador Pedro II e a ele o jovem fez uma bela e detalhada apresentação do método Braille. O objetivo desse encontro era convencer o imperador a instituir uma escola para cegos. 

Louis Braille morreu em 1852, de tuberculose. 

De tuberculose também morreu José Álvares de Azevedo, com 20 anos de idade. 

O encontro de José com D. Pedro rendeu frutos sob o título Imperial Instituto dos Meninos Cegos. 

José morreu seis meses antes da inauguração da instituição.

Do quadro dos professores desse Imperial Instituto fazia parte Benjamin Constant. Matemática era uma das matérias que lecionava. 

Com a morte de Benjamin em 1891, o Imperial Instituto dos Meninos Cegos passou a se chamar Instituto Benjamin Constant. Até hoje. 

A cegueira sempre foi um problema para o seu portador ou portadora. Fora isso, as pessoas cegas na Antiguidade e até praticamente nos dias recentes eram consideradas malditas. Havia quem pensasse que a cegueira era um castigo divino. Noutras palavras: o cego era pecador que não merecia perdão. 

Na Antiguidade grega, os cegos eram tidos como advinhos e por aí vai. 

Tirésias, filho de um pastor, transita por séculos em histórias lendárias como o cara que virou mulher por obra e graça da deusa Hera, que não gostou de vê-lo enxotando um par de cobras em plena cópula. A ira teve um prazo: sete anos. Passado esse tempo, Tirésias voltou a ser o que era antes: um homem. 

Saliente, Tirésias caiu na besteira de flagrar a deusa Atena tomando banho. Aí dançou, irritada, ela o cegou para sempre. Cego e sábio. Acha-se até nas páginas da Odisséia de Homero. Curiosidade: Tirésias, que perdeu o "s" para o diretor francês Bertrand Bonello, ganhou o telão num enredo envolvendo uma transsexual brasileira que vive na periferia da França com o irmão. O filme é de 2003. Mas essa é outra história. 

Expressões como "deficiente visual" e "pessoas de baixa visão" foram cunhadas nos primeiros anos do século 20. A partir do século 21, a sociedade passou a respeitar um pouco mais as pessoas portadoras de quaisquer tipos de deficiência física, auditiva, visual etc.

Não são poucos os personagens cegos que se movimentam na literatura brasileira e estrangeira. E há até autores cegos que deixaram obras monumentais, como os argentinos Jorge Luís Borges (1899-1986) e Ernesto Sabato (1911-2011).

Meu amigo, minha amiga, você sabia que o pai da literatura brasileira Machado de Assis ficou cego por um tempo logo após o Natal de 1878?

Meu amigo, minha amiga, você sabe o que eu acho da cegueira?

A cegueira não é o fim. 

quinta-feira, 24 de abril de 2025

EU E MEUS BOTÕES (86)

 Plac, plac, plac... 

"Quem é que está subindo nesse plac, plac, plac...?", pergunta quase pra si próprio o curioso Zoião. E plac, plac, plac...

"Opa! É ele chegando!", diz entusiasmado o Zé cutucando Mané. 

Olá, olá pessoal! E aí, tudo bem?

A essa altura, todos na casa dos botões estavam de pé, batendo palmas. Eu:

Pôxa vida, rapazes!

"Seu Assis, cadê a dona Flor?", pergunta Barrica. 

Antes que eu dissesse fosse o que fosse, adentrou no ambiente no plac, plac, plac, subindo as escadas. Era ela...

"Dona Flor, dona Flor, dona Flor...", todos assim a aclamavam. Dona Flor:

"Assim, desse jeito, vocês me deixam...".

Muito bem, muito bem, o mundo está se estreitando cada vez mais. 

Lampa, de repente diz: "Esse tal de Trumpi é mais doido do que eu. Eu sou doido, mas não sou idiota. Esse fela está degringolando totalmente os EUA. O mundo todo nunca gostou dos EUA, mas hoje gosta muito menos".

Caraca!

"O Lampa não é brinquedo, não! Ele diz tudo que lhe dá na veneta!", abrevia o mano de Barrica, Biu.

De repente, as portas e janelas batem com a força do vento que chega de modo surpreendente. Sem pedir licença pra chegar. Uma risada moleca ouve-se no teto da casa dos botões onde estamos. E tudo fica às escuras. E nova risada ecoa estridentemente no ambiente. Lampa imóvel na sua frieza, diz: "Vocês são uns trouxas, uns medrosos, que ficam ridicularmente pasmados ante risadas bobas soltas à toa".

É realmente curiosa a observação salutar de Lampa. Parabéns, Lampa!

Nova risada e um barulho estridente se fazem ouvir na casa. 

"Estavam com saudade de mim?", pergunta numa cambalhota o ainda indescritível Olavim.


terça-feira, 22 de abril de 2025

VOCÊ SE LEMBRA DO SÃO PAULO CAPITAL NORDESTE? (2)

Na postagem abaixo se acham Billy Blanco, Jair Rodrigues, Osvaldinho do Acordeon, Carmélia Alves, Marta Rocha, Emilinha Borba, Socorro Lira, Cecéu, Antonio Barros, Paulo Vanzolini, Dimang Kon Beu, José Nêumanne e o poeta amazonense Thiago de Mello. São papos ótimos.

Thiago, que completaria 100 anos de nascimento em 2026, foi um incansável guerreiro pró meio ambiente. 

Citei o Dimang?

Dimang, jornalista de linha, entrou algumas vezes ao vivo no meu programa São Paulo Capital Nordeste. Diretamente de Hong-Kong. No post aí ele fala da origem da sanfona. Esse instrumento foi inventado por uma chinesa, há pelo menos 3.000 anos a.C.

Fora isso tudo, eu falo e falo sobre os 500 anos de achamento do Brasil, ocorrido num dia como hoje 22 de abril. A grande putaria, incluindo corrupção, começou aí. Confira o  que dissemos, clicando:



sexta-feira, 18 de abril de 2025

VOCÊ LEMBRA DO SÃO PAULO CAPITAL NORDESTE?

Entre o fim do século passado e o início deste 21, andei apresentando o programa São Paulo Capital Nordeste. O programa ia ao ar ao vivo todo sábado das 21h às 23h, na paulistana Rádio Capital AM 1040, que ficava logo ali na Avenida 9 de Julho.

Pelo referido programa passaram pelo menos mil e poucos artistas de todas as áreas, incluindo poetas, romancistas e dramaturgos de todo canto do Brasil. No post abaixo trechos de entrevistas com Billy Blanco, Benito di Paula e tantos e tantos. Tem até um papo que fiz com o saudosíssimo Pery Ribeiro. Perguntei-lhe a certa altura se sentia saudade dos pais Herivelto Martins e Dalva de Oliveira. Claro, disse claro. E ainda quis eu saber se ele tinha feito alguma homenagem à mãe. Disse que não, que não se lembrava. Aí coloquei pra tocar a música A Tua Voz. E aí ele não aguentou: caiu no choro. 

A Tua Voz foi gravada em disco de 78 rpm na tarde do dia 18 de abril de 1962. Ouçam:


quinta-feira, 10 de abril de 2025

FILME FEITO E PRONTO PARA O MUNDO

Não trago na memória a lembrança de ter visto ou ouvido um documentário sobre inclusão tão direto e belo como Vem Comigo - os caminhos da inclusão. 

Esse documentário registra depoimentos de pessoas diferentes umas das outras. Todas, porém, donas de personalidade e inteligência ímpares. 

A produção da obra aqui em pauta traz a  marca do talentoso jornalista Ricardo Mucci. Ele foi longe por trilhas praticamente invisíveis. Essas trilhas o levaram ao mundo de quem não vê com os próprios olhos, de quem não ouve, de quem não fala, de quem não anda com os próprios pés, de quem sequer tem braços para abraçar o pai, a mãe, os amigos.

Uma viagem e tanto essa feita por Mucci. 

O documentário começa com depoimentos de jovens e  não tão jovens inseridos no chamado mercado de trabalho, incluindo o campo das artes. E é aí que aparecem uma bailarina, um craque do minado "universo" da informática e coisas que tais e por aí vai... São manifestações fortes, bonitas, cheias de esperança. 

Esses caminhos da inclusão nos levam a refletir sobre a nossa própria existência. Nos levam a ver o próximo como a nós mesmos, por que não?

São milhões e milhões de pessoas altas, baixas, magras, gordas, pretas, brancas, pobres, ricas, de línguas e nacionalidades diversas que procuram realizar sonhos dos mais simples, como correr e nadar.

Vem Comigo - os caminhos da inclusão é documentário dirigido com sensibilidade e rigor profissional pela jornalista e multitudo Sylvia Jardim. 

O que mais devo dizer?

Bom, Vem Comigo já nasceu pronto para ser exibido no mundo todo e em todas as línguas possíveis. 


quarta-feira, 9 de abril de 2025

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (179, FINAL)



Um mês depois da festa cá na fazenda, eu me achava lendo debaixo de um pé de manga. 

O relógio da igrejinha acabara de badalar quatro vezes. De repente, Flor Maria me chama e diz que os convidados para a entrevista já estão chegando. São pontuais, hein?

E lá estavam trazidos por Balzac os ícones da literatura que tem por matéria-prima a alma do povo. Entenda-se por isso os desejos e sonhos mais safados da espécie humana. 

Confesso que não conhecia pessoalmente Balzac. Li tudo ou quase tudo que ele escreveu, mas não o conhecia. Foi ótima ideia de ele vir com seus amigos num mesmo voo.

Depois dos cumprimentos, fomos molhar a garganta pra melhor fluir as ideias. Tinha vários tipos de bebida, incluindo licor e vinho. Aretino arregalou os olhos quando viu uma garrafa cheia de algo parecendo água.

 _O que é isso?

Eu disse ser cachaça produzida pelo pessoal do nosso engenho. 

Ansioso, Aretino pegou um copo e o encheu. Cheirou, lambeu as bordas e de uma vez só engoliu tudo. Menos o copo. 

A cena deixou boquiabertos Sade e Restif.

Achei graça e ofereci vinho.

Depois de beber mais um pouco, Aretino se antecipou dizendo que:

_Já estamos cheios de tanto vinho, pois isso é o que mais tem nas nossas terras.

Esse parece ter sido o sinal para Casanova, Sade e Restif pegarem os copos e, depois de enchê-los, beber. Cachaça da boa, diga-se.

Após  amaciarmos o gogó e saborearmos tacos de carne de sol e tira-gostos que tais, fomos à biblioteca para o bate-papo tão esperado. 


OLÉGNA — Antes de mais nada, sejam bem vindos ao Brasil. 


ARETINO — Eu sempre quis conhecer o Brasil. Quando o Brasil foi descoberto em 1500, eu tinha oito anos de idade. 


RESTIF — Tinha oito anos e já era safado, um perigo para as moçoilas.


ARETINO — Menos, menos. Na verdade, eu era muito tímido. 


CASANOVA — Hummm….


OLÉGNA — Sade, conte-me um pouco sobre você. Pra começo, diga-nos o seu nome completo. 


SADE — Meu nome completo  é Donatien Alphonse François de Sade. Sou filho de Jean Baptiste François Joseph de Sade e Marie Eléonore de Maillé de Carman. Filhos tive dois: um menino e uma menina. Nasci no palácio La Coste, em Paris, França.


OLÉGNA — Olha só! Na Paraíba nasceu também uma grande figura no Palácio. Essa figura tinha por nome Ariano Suassuna e o Palácio, da Redenção. Em pleno centro da Capital paraibana, João Pessoa.


ARETINO — O Sade não tinha nem oito anos de idade quando já corria atrás de rabo de saia.


OLÉGNA — É verdade, Sade?


SADE (com sorriso maroto) — Não me lembro.


CASANOVA — Hummm…


RESTIF — Por que você só faz hummm…?


CASANOVA (se ajeitando na cadeira e passando a mão nos cabelos) — É que estou achando engraçada a fala do Aretino e agora a do Sade. O Aretino foi meu professor e Sade continua sendo um grande cabra safado!


ARETINO — Poooxa! Eu não sabia que sabia tanto.


RESTIF — Antes do Aretino, que fez muita mulher feliz, existiu na sua terra Itália outro poeta que era um danado. Seu nome: Caio Valério Catulo. E antes de Caio ou pouco depois teve Mallanaga Vatsyayana que escreveu o Kama Sutra. Era indiano. 


OLÉGNA — Nas origens, o Kama Sutra tinha mais de 500 posições sugeridas para o prazer de quem queria prazer. Sexual, claro. Agora eu gostaria de saber de Casanova se pra fazer o que fez com as mulheres se inspirou no Vatsyayana ou no nosso querido Pietro Aretino. Qual a melhor posição para a obtenção de um orgasmo gigante?


CASANOVA (explodindo numa gargalhada) — Esse negócio de Kama Sutra, de manual sexual, pra mim não funciona. Tesão é tesão, ou tem ou não tem.


RESTIF — Você teve muitas mulheres?


CASANOVA — No começo, confesso, cheguei até a contar e a anotar num caderninho. Eu era muito novo. Tinha uns 20 e poucos anos. E anotados por mim já havia uns cento e pouco nomes. 


RESTIF — Perdeu a conta, é? Eu continuo anotando. A minha lista já tem 735 nomes de mulheres lindas.


OLÉGNA — Poxa, desse jeito vai passar de Don Juan. Esse era um espanholzinho muito safado. Dizem que ele traçava todas, feias e bonitas. Não tinha limite. Não enjeitava magrinha, gordinha, branquinha, pretinha, baixinha, altinha, pobrinha, riquinha…


CASANOVA — Hummm…


RESTIF — Lá vem ele com esse negócio de hummm…


OLÉGNA — Casanova, eu gostaria que você contasse agora de quem você é filho e como virou o “bon vivant” que todos conhecem e seguem, de certo modo.


CASANOVA — Sou filho de um ator e de uma atriz, que infelizmente não alcançaram o sucesso. Tive irmãos, um deles pintor.


RESTIF — O nome desse irmão era Francesco Giuseppe Casanova, autor de um bonito retrato seu?


CASANOVA — Sim, sim. Ele viveu um bom tempo em Paris e eu também. Era um bom rapaz e um talento incrível! Sua obra, digo sem medo de errar: é ma-ra-vi-lho-sa!


OLÉGNA — Na França do seu tempo só dava você nos salões grã-finos e até nos cabarés de má fama. Confirma?


CASANOVA (subindo no muro) — Talvez sim, talvez não. Não me lembro de muita coisa. A verdade é que o populacho fala muita besteira a meu respeito. 


SADE — Querido Casanova… 


CASANOVA — Opa!


SADE — Meu negócio é mulher, rapaz! Sempre. Você foi o cara que pegou muita mulher em Paris. Foi também o cara que ganhou e torrou muita grana. Algum arrependimento?


CASANOVA — Não, arrependimento não. Eu poderia ter tido mais juízo, isso sim!


ARETINO — Foi você mesmo o cara que inventou a loteria francesa?


CASANOVA (pigarreando e se ajeitando na cadeira) — Sim, eu mesmo. Antes e depois disso fiz parcerias com luminosos do meu tempo. Estive com barões, príncipes, princesas, rainhas…


SADE — Você traçou a Madame de Pompadour, o xodó de Luís XV?


CASANOVA — Não, não. Bom, acho que não. Só lembro que ela gostava muito de mim. Na verdade, éramos apenas bons amigos. 


SADE — E Catarina, a Grande?


CASANOVA — Essa mulher era terrível. Ela chegou até a matar o próprio marido, pra reinar no seu lugar. E reinou. Quanto a mim posso dizer que também  a temia. Agora esse negócio de levá-la pra cama, só se eu fosse doido. Não  sou, nunca fui. Gosto da vida que levo, na base da paz e de muito amor. 


RESTIF — Vida agitada a sua, Casanova. É verdade que você chegou a ser preso?


CASANOVA — Sim, por uma besteira. 


RESTIF — Que besteira foi essa?


CASANOVA (ajeitando a camisa, tossindo, pede algo pra beber) — Bom, questão de dívida. Eu jogava e gastava muito. Mulher comigo também nunca passou mal. Gosto de dar presente. Aí teve um pessoal que não esperou que eu quitasse o que devia. E aí, né? Me puseram numa cadeia de segurança máxima, mas de lá fugi pelo telhado. E corri mundo.


SADE — É verdade que você já foi dono de puteiro?


CASANOVA (se mexendo na cadeira, meio perturbado) — Sim, sim, quer dizer… Ah! Isso foi na Inglaterra, depois que fugi da prisão. 


SADE — Você já bateu em mulher, matou mulher, matou alguém?


CASANOVA (irritado) — Porra! Levei muita gente pra cama, mas nunca bati nem em homem e nem em mulher. Nunca matei ninguém! Não sou como você que adora ver gente sofrer. A minha cartilha é a cartilha da alegria e do prazer.


OLÉGNA — Calma, Casanova. O Sade fez essa pergunta certamente por saber que no Brasil o número de mulheres assassinadas por homens é enorme. 


SADE — Pois é, apenas curiosidade. 


OLÉGNA — Casanova, é verdade que você prestou serviço para o pessoal da Inquisição?


CASANOVA — Sim, sim. Por pouco tempo. O Sade também passou por isso. 


SADE — É verdade. Fui preso e não uma vez só, várias. Mas as prisões em que fui metido eram por outros motivos. Acusavam-me e ainda há quem me acuse de pornográfico e subversivo. Me prenderam até por sodomia. Quando não tinham um motivo, inventavam. Foi assim que me levaram para a Bastilha. Mas mesmo de lá consegui denunciar torturas e mortes cometidas atrás das grades, nos calabouços… Foi na Bastilha que escrevi vários livros, incluindo  Os 120 Dias de Sodoma.


ARETINO — É verdade que você foi condenado à morte?


SADE — Sim, duas ou três vezes. Mas como vê, escapei. 


RESTIF — Por que Napoleão Bonaparte detestava você?


SADE — Sei lá, era um louco. Ele sim era um devasso! 


OLÉGNA — Restif é verdade que você inspirou os revolucionários franceses a derrubar a Bastilha?


RESTIF — Sim. Os meus escritos não se limitam apenas ao que diz respeito a sexo, erotismo, prazer, essas coisas que o corpo nos pede. Enfim, escrevi livros de conteúdos diversos. Até de política, por exemplo. Você já leu As Noites Revolucionárias, que publiquei em 1788? E La Semaine Nocturne? E Noites de Paris? Nesses livros, eu falo o que iria acontecer na Bastilha e o que aconteceu na Bastilha. É isso. E se não leu, leia! Espalhe por aí afora o que eu escrevi nessa vida louca que é a nossa. E quero deixar bem claro uma coisa: mulher é o ser mais importante que Deus pôs na terra. Sem mulher, não haveria vida inteligente.


OLÉGNA — Poxa!!! O Sade escreveu Justine e em seguida você escreveu Anti-Justine. O que um tem a ver com o outro?


RESTIF — Foi uma brincadeira. Na verdade, eu gostei muito do livro do Sade. Aproveito a ocasião pra dizer do carinho que tenho por ele.


SADE — Obrigado, mestre.


OLÉGNA — Bom, pessoal, antes de mais nada…


— Oi, oi, oi, oi, oi, oi! — É um poeta chegando.


OLÉGNA — Quem é você?


O POETA — Não está lembrado de mim? Eu sou o Olavo!


OLÉGNA — Olavo…


O POETA — Bilac!


OLÉGNA — Olavo Bilac!?


O POETA — Sim, sim! Eu sou Olavo Bilac, amigo de todos os poetas que pensam e fazem boas poesias.


OLÉGNA — Sim! Já ouvi falar de você.


O POETA — Ora, vi estrelas!


OLÉGNA — Você tem uma poesia muito bonita, uma poesia de amor… Mas você nos interrompeu por que??


O POETA — É que eu vi essa mesa tão bonita, com tanta gente bonita do mundo da poesia…


SADE — Você já me leu, poeta?


O POETA — Eu li todos vocês. A vida é linda, quando não temos preconceitos…


RESTIF — Tudo isso com amor!


OLÉGNA — Que bom, pessoal. Quero agradecer a presença e o ótimo bate-papo que vocês nos propiciaram. 


ARETINO (pedindo a palavra) — Quero dizer da alegria que sinto por estar aqui. E que cachaça, hein!?


RESTIF — Faço minhas as palavras de Aretino. 


OLÉGNA — O Casanova estudou bastante. Sei que fez até poemas. Gostaria que ele encerrasse essa nossa prosa contando a sua vida em versos.


CASANOVA — Dá pra arrumar uma violinha aí?


Rapidamente uma viola foi arrumada e, para surpresa de todos, Casanova mandou ver:


Comecei lendo livros

Lendo livros me formei

Certa vez eu quis ser padre 

Mas a tempo recuei 

Foi numa biblioteca 

Que finalmente me achei


Pra mim foi tudo fácil 

Fácil tudo se acabou 

Amei muitas mulheres 

Mas nenhuma me amou 

Foi assim que descobri 

Que pra mim a luz pifou 


Ora pois eu sei que fui

Bom aluno e professor 

Na escola aprendi

Os segredos do amor

Desde então eu parti

Pra viver com destemor


Eu sou o personagem

Das histórias de amor

Muitos mentem sobre mim

Comigo fazem terror

Eu não sou o que dizem

Tampouco sou sedutor!...


AGRADECIMENTOS

Dou-me por satisfeito ao término deste trabalho que me tomou centenas e centenas de horas, desde 2023. Consumi a leitura de inúmeros folhetos de cordel, de autores os mais diversos. Consumi também o conteúdo de livros escritos por autores desde os tempos medievais, na Europa e em todo o canto, inclusive do Brasil, como o Gregório de Matos e Guerra, José de Alencar, Machado de Assis, Júlia Lopes de Almeida, entre outros. Ouvi óperas e muita música popular que abordam, no geral, a temática por mim escolhida: licenciosidade, que em livro deverá ganhar o título de Do Popular ao Erudito – o Sexo como Expressão Artística. Todos os campos da arte envolvendo amor e sexo foram por mim visitados. Nos arquivos do Instituto Memória Brasil, IMB, encontrei entrevistas que fiz com o rei do baião Luiz Gonzaga, Chico Anysio e Ignácio de Loyola Brandão, com quem voltei a trocar ideias depois de muitos anos. Aproveito a ocasião para agradecer às meninas Anna Clara da Hora e Flor Maria. E, claro, aos leitores que suponho terem gostado dos de tudo ou parte de tudo andei publicando no Newsletter Jornalistas & Cia e neste Blog.

terça-feira, 8 de abril de 2025

TEM CEGO NA CULTURA

Hoje, 8 de abril, comemora-se no Brasil o Dia do Sistema Braille. 

Esse sistema foi criado por um jovem francês de nome Louis Braille. Tinha esse jovem três anos de idade quando acidentalmente feriu os olhos e ficou cego. Era de família humilde, modesta. 

O 8 de abril como  Dia Nacional do Sistema Braille deve-se ao nascimento do carioca José Álvares de Azevedo, considerado o patrono dos cegos no País por ter trazido da França o sistema por ele assimilado numa escola própria de Paris. 

Foi esse Álvares de Azevedo a pessoa que convenceu o imperador Pedro II a criar a primeira instituição de ensino do braille. Chamou-se essa entidade de Imperial Instituto dos Meninos Cegos.

Bom, pessoal, amanhã 9 a TV Cultura levará ao ar, às 22 horas, o longa documento Vem Comigo, os caminhos da inclusão. Esse documentário foi dirigido por Sylvia Jardim. Não percam!

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (178)


O baiano Gregório vira rapidamente centro de atenção. Ele e o casal que o acompanhou até aqui. 

Curiosa, mocinha pergunta a Gregório quem são aquelas duas pessoas que o acompanham. E ele: 

— Laurindo, diga a essa bela mocinha quem são vocês.

O casal se identifica rindo e bem à vontade dizem ser ele Laurindo Rabelo e ela, Francisca Júlia César da Silva.

Surpresa e sem se conter, Mocinha pergunta: 

— Laurindo é o autor do poema safado As Rosas do Cume?

Pego assim de supetão, Laurindo balançou a cabeça afirmativamente, acrescentando: 

— E essa mulher é simplesmente a autora do poema Dança de Centauras.

O destrambelhado Inácio da Cangaceira, lá de trás, tira da memória alguns versos do famoso As Rosas do Cume: 


No cume da minha serra

Eu plantei uma roseira

Quanto mais as rosas brotam

Tanto mais o cume cheira


À tarde, quando o sol posto

E o vento no cume adeja

Vem travessa borboleta

E as rosas do cume beija


No tempo das invernadas

Que as plantas do cume lavam

Quanto mais molhadas eram

Tanto mais no cume davam…


Zé Ruela, que a tudo acompanhava um tanto nervoso, se mexendo todo, querendo falar, enfim toma coragem e após interromper Inácio da Cangaceira, pergunta com a voz enrolada e copo na mão: 

— Vocês conhecem essa outra do Seu Laurindo?

E antes de ouvir qualquer resposta, começou:


Amor, ao teu carro em vão

Tu me pretendes jungir

Eu não te posso servir

Já não tenho mais tesão 

De putas um batalhão

Já forniquei noutra era

Já fodi com porra fera

Mulatas, brancas e pretas

Hoje só como punhetas

JÁ não sou quem dantes era!


Todos batendo palmas, muita algazarra, brindes!

Levantei-me pedindo licença e perguntando se alguns dos presentes conhecia o poeta Renato Caldas, do Rio Grande do Norte. E antes que dissessem sim, porque não disseram, eu comecei:


Talvez não tivesse cheiro

Servia de brilhantina

Ninguém cagava em latrina

Se merda fosse dinheiro

Todo mundo era banqueiro!

Sanitário era baú

Porém aqui no Assu

A terra do interesse

Se tal coisa acontecesse

Pobre nascia sem cu


Enquanto dava uma bicada de boa cana e mordia um taco de carne de sol, Jarbas deu um berro chamando a atenção pra si.

— Esse poeta é dos bons. Supimpa!, disse emendando: 

— O Carlos Lacerda era doido pelo Renato. 

— De fato! O Lacerda chegou até a patrocinar um livro do Renato, confirmou o professor Wilson Seraine. 

— O Wilson sabe das coisas. Ele é da terra do João Cláudio Moreno, o Piauí, disse batendo palmas o Jessier Quirino.

Aqui em Areia a vida é como no céu: ótima!

Aqui tem de tudo. Tem fruta de todo tipo, legumes que não acabam nunca, pé de coco, pé de caju. O que se plantar por cá, dá. A fava daqui é grande, bonita e gostosa. Não há feijão e arroz melhor do que aqui na nossa Areia. Aqui ninguém sabe o que é fome. E o clima, hein?

Bom, somos um país tropical. Mas nesse país o clima difere aqui e ali, sem mudar radicalmente suas características. 

Aqui nessa terrinha o mês mais quente é janeiro. O mais frio são três: junho, julho e agosto. 

No mês de calor mais forte os termômetros marcam até 31 graus. No tempo de frio, a máxima chega a 27 graus. 

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