Seguir o blog

quarta-feira, 17 de abril de 2024

A MORTE NÃO MATOU CHAPLIN!

 A vida é coisa grande, não é mesmo? 

Quando na vida há entendimento entre pessoas, fica melhor ainda. 

Compreensão e bem-estar fazem-nos cada vez melhor no dia a dia.

O dia a dia com sorrisos e abraços nos completam.

Outro dia lendo Guimarães Rosa ouvi de um de seus personagens a frase marcante: "Tristeza é aboio que traz o Demônio". 

Isso está lá na história contada por Rosa, esta: Hora e Vez de Augusto Matraga. 

Agora há pouco o compadre Fausto lembra-me que hoje é o dia do encantamento de Charles Chaplin. Aquele de Tempos Modernos, manja?

Foi em 1977. Na cama o personagem fechou os olhos e dormiu. Não teve tempo de acordar, porque na carência de alguns celestiais o Chaplin tinha que estar lá naquele dia, hora e vez.

O que Deus quer não se discute.


terça-feira, 16 de abril de 2024

O BRASIL MAIS POBRE SEM ZIRALDO



Pra mim fica claro que toda vez que morre um cartunista, um artista do valor e vigor de Ziraldo, o Brasil fica mais triste e mais pobre. 
Essa sensação senti domingo retrasado com a notícia do passamento de Ziraldo lá pra cima.
Conheci Ziraldo no tempo em que colaborei com textos para o Pasquim. Anos 70, 80.
Quando Ziraldo completou 90 anos de idade a Editora Melhoramentos convidou 90 cartunistas para homenageá-lo. Entre esses o querido cearense Klévisson Viana.
Essa história, a história de Ziraldo e do Brasil se acha no relato do próprio Klévisson:

Ziraldo, o generoso


Corria o ano de 1988, tinha eu 15 anos incompletos. Vivíamos em Canindé (CE). Meu irmão Arievaldo, cinco anos mais velho do que eu, editava, com outros amigos, um fanzine de humor chamado Tramela. Um dia, revirando os materiais da sala onde ele costumava preparar a publicação, dei de cara com um jornal humorístico chamado Torre de Babel. Lendo o jornal, vi um pequeno anúncio que divulgava o 3º Salão de Humor do Piauí. Eu não sabia bem o que era um salão de humor, mas me deu uma vontade imensa de fazer um.
Pintamos de branco uma casa velha e a transformamos numa galeria de arte, que chamamos de Salvador Daki, em homenagem ao pintor espanhol Salvador Dalí, que havia falecido recentemente.
Juntei todos os meninos que conhecia, que gostavam de desenhar, e criei com eles a 1ª Mostra de Humor Canindeense.
Quando da abertura do pequeno evento, para nossa surpresa, recebemos a visita de Albert Piauí e José Elias Arêa Leão (coordenadores do Salão de Humor do Piauí, que ainda não era internacional) e do cartunista fortalezense Mino. A mostra foi um sucesso e fomos convidados a ir a Teresina participar do Salão de Humor do Piauí.
Laurismundo Marreiro, amigo, professor de inglês, empresário e entusiasta dos artistas, se colocou à disposição para nos levar ao Piauí em seu velho jipe apelidado de Jaspion. A viagem foi uma grande aventura do começo ao fim. Nessa jornada, foram, além de mim e de Laurismundo, Arievaldo Vianna e outro rapaz chamado Nildo Bento, que depois abandonou o desenho.
Já em Teresina, Albert Piauí nos recebeu bem, mas, pelo fato de o Salão ter extrapolado o orçamento, ele mandou Arievaldo e Laurismundo para o hotel, enquanto eu e Nildo ficamos hospedados na residência de sua família, onde fomos muito bem acolhidos e amparados por sua mãe e seu irmão Mauro, já falecido.
O Salão de Humor ocorria no Clube dos Diários e no Teatro 4 de Setembro, que são prédios contíguos. A abertura foi inesquecível, emocionante para os garotos que jamais haviam viajado na vida e presenciado algo daquela magnitude. Naquele ano, o Salão havia recebido quase 50 artistas consagrados. Foi realmente uma grande festa.
À noite, após a abertura, os artistas foram se confraternizar numa imensa mesa no Clube dos Diários. Lembro que estavam lá Fortuna, Jaguar, Jayme Leão, Biratan Porto, Ziraldo e muitos outros. Estávamos deslumbrados com a oportunidade ímpar de poder conhecer todos aqueles mestres do humor gráfico nacional.
Eu andava com uma pasta cheia de desenhos meus e de meu irmão Arievaldo. Eu me lembro de que, ao chegar perto de Ziraldo, ele parou o que estava fazendo e perguntou:
– São desenhos? Posso olhar?
Entreguei-lhe a pasta, e o que mestre fez com meus desenhos jamais esqueci. É provável que ele mesmo sequer se lembre disso, mas para mim foi muito marcante.
Ziraldo olhava atentamente cada desenho, cada tira, cada cartum contido na pasta e, desenho após desenho, parava, tecia comentários e dava orientações de como melhorá-los.
Ele deve ter gastado com isso cerca de meia hora ou mais, mas foi o suficiente para me tornar, além de fã do seu lindo trabalho, fã também da sua pessoa.
Para mim, aquela atitude de Ziraldo demostrou, sobretudo, uma generosidade gigantesca com uma criança que gostava de desenhar. Talvez, se não fosse o estímulo e incentivo desse grande artista, eu jamais teria seguido em frente e chegado aonde cheguei.


segunda-feira, 15 de abril de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (89)

Noutra ocasião eu perguntei, mas não custa perguntar de novo: pornografia é arte?
Palavras como pornografia e licenciosidade são palavras praticamente novas na boca do povo mundo afora.
Um pintor renascentista pintando uma modelo pelada, não é pornografia.
E fotógrafo de hoje fotografando modelos peladas, hein?
Assim dito, simplesmente, não é pornografia.
Pornografia é a imagem e texto feitos especialmente para provocar excitação sexual. Veja o que diz o verbete do Dicionário Houaiss: 
Pornografia (1899 cf. CF1)  
substantivo feminino
1. estudo da prostituição
2. coleção de pinturas ou gravuras obscenas
3. característica do que fere o pudor (numa publicação, num filme etc.); obscenidade, indecência, licenciosidade
4. qualquer coisa feita com o intuito de ser pornográfico, de explorar o sexo tratado de maneira chula, como atrativo (p.ex., revistas, fotografias, filmes etc.) ‹vende pornografias› ‹fica vendo p. pela televisão› tb. se diz apenas pornô
5. (1899) violação ao pudor, ao recato, à reserva, socialmente exigidos em matéria sexual; indecência, libertinagem, imoralidade
O jornalista e humorista Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé, nasceu no Rio Grande do Sul em 1895 e morreu no Rio. Fez muita gente rir com suas tiradas bem humoradas. Tiradas essas que irritaram profundamente os agentes da ditadura militar. Foi vereador. Preso certa vez, e depois de muito apanhar, escreveu numa tabuleta que pôs presa na porta do seu escritório. Nela lia-se: “Entre sem bater”.
Vejam só de que o Barão era capaz:

Na França, pescoço é cou
(como anda tudo a esmo!)
No Japão, Ku é ministro,
No Brasil cu é cu mesmo…

Essa pérola se acha no livro Antologia da Poesia Erótica Brasileira, organizado por Eliane Robert Moraes.
Torelly e seu personagem morreram em novembro de 1971.

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

domingo, 14 de abril de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (88)

No Brasil, além de Bernardo Guimarães, outros poetas e romancistas abordaram explicitamente a linguagem pornográfica em livros e folhetos. Muitas dessas publicações não eram assinadas e eram vendidas às escondidas, anonimamente.
Essas publicações, na maioria, traziam a indicação: “Leitura para homens”.
No artigo Erotismo & Pornografia na Arte: Uma História Mal Contada, assinado pelo professor da Universidade Federal do Pará Afonso Medeiros, lê-se que:
A simples menção da palavra “pornografia” acarreta estranhamento e, no campo das artes visuais, resume-se tudo ao termo “erotismo”. No tratamento do tema persiste a ideia de que basta uma inversão de sentido dos signos (entre pornografia e erotismo) para se resolver a questão. E, no entanto, a pornografia é, ao mesmo tempo, ascendência e descendência do erotismo na medida em que a existência de ambos é inextricável e essencialmente interdependente. Em outros termos, não existe erotismo sem pornografia e vice-versa.
Houve um jornalista e escritor português muito conhecido no Brasil chamado Joaquim Alfredo Gallis (1859-1910), que usava pseudônimos nos seus livros e folhetos de cunho pornográfico: Rabelais e Condessa de Til, por exemplo.
Como Rabelais, sobrenome do grande escritor francês, publicou Volúpias: 14 Contos Galantes, Lascivas, Libertinas e por aí vai.
Como Condessa de Til, Alfredo Gallis pôs à praça O Que as Noivas Devem Saber! Livro de Filosofia Prática.
Com seu próprio nome, Alfredo publicou dois livrecos que deram muito o que falar no seu tempo: A Amante de Jesus e As 12 Mulheres de Adão. Críticos da época não economizavam adjetivos para esculambá-lo.

segunda-feira, 8 de abril de 2024

ZIRALDO NÃO MORREU!



Conheço bem o artista Fausto Bergocce.
Conheço bem um monte de cartunistas, chargistas, pessoas que viraram amigas como Angeli, Glauco, Laerte, Fortuna. Fui amigo dessas pessoas queridas ali na Folha, no Folhetim.
Doeu muito, em nós, a notícia do desaparecimento de Ziraldo. Do humanista Ziraldo.
Em julho de 1978 eu telefonei para o Pasquim e lá, no outro lado, atendeu Ziraldo. 
Ele me ouviu e rapidamente chamou Jaguar: "É de São Paulo, um cara chamado Assis".
A conversa era sobre uma reportagem de muitas páginas que eu escrevi sobre o Esquadrão da Morte, que a Folha não quis publicar.
A matéria foi publicada três ou quatro dias depois. Capa do Pasquim. Seis ou sete páginas.
A última vez que vi Ziraldo foi numa Bienal do Livro em São Paulo, onde ele, eu e outras pessoas fomos homenageadas com um prêmio.
Pois, pois: o que falar mais?
O Fausto Bergocce tinha em Ziraldo o seu mestre.
Ziraldo conquistava as pessoas da mais tenra idade à idade maior. Dos 100 anos, por exemplo.
Bom, leiam o que Fausto acaba de nos mandar para este Blog: 

Um maluquinho por Ziraldo (1932-2024)

No início dos anos 1960, uma das grandes diversões da garotada de Reginópolis era a leitura
de gibis, que chegavam em profusão à cidade. Entre todos os estilos, todas as histórias e todos os personagens, um gibi muito especial se destacava: “Turma do Pererê”, do Ziraldo.
Grandes aventuras se passavam na Mata do Fundão, através dos personagens tipicamente
brasileiros. Foi para mim meu primeiro toque de “brasilidade”. Desde então, me tornei um
menino maluquinho por Ziraldo e pude seguir seu trabalho pela vida inteira.
Por toda a sua grande obra, mestre Ziraldo se tornou referência para muitas gerações,
inclusive para a minha. Obrigado, Ziraldo.

 

POSTAGENS MAIS VISTAS