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sexta-feira, 9 de outubro de 2020

O POPULAR E O ERUDITO EM ELOMAR


Ouvi recentemente o papa Francisco fazer referência a um poema do nosso Vinicius de Morais (1913-80). Mais precisamente, falou o papa do Samba da Bênção, na parte que diz: “A vida é arte do encontro / Embora haja tanto desencontro pela vida...”.
A lembrança de Vinicius lembrou-me de Elomar Figueira Mello, cantador das quebradas do Reino Encantado do Rio Gavião.
Em 1973, Vinicius endossou com um belo texto de contracapa o primeiro LP de Elomar. Esse disco, uma raridade, é de uma beleza ofuscante. Clique: https://www.mpbnet.com.br/musicos/elomar/
Vinicius chama Elomar de menestrel.
Menestrel era o nome dado aos declamadores de poesias alheias. Elomar é mais do que isso, é trovador.
Trovador era como se chamava o declamador que escrevia seus próprios poemas. É isso: Elomar é a mistura de menestrel e trovador.
O menestrel e o trovador surgiram ali pelos fins do século 11, na Península Ibérica. O trovadorismo foi um movimento surgido entre poetas improvisadores e de bancada. A ver com cordel, cordelismo ( https://anovademocracia.com.br/no-12/1048-uma-breve-historia-do-cordel).
Não será exagero dizer que o menestrel foi uma espécie de folheteiro, sem folheto.
Os trovadores escreviam em galego-português, língua procedente da Galícia, Espanha.
O nosso Elomar fala uma língua que não é, propriamente, a língua portuguesa fluente, corrente. É “sertanesa”, segundo ele mesmo diz. Mistura do falar nordestino com o arcaísmo mais antigo. Tanto que a maioria dos seus discos traz um encarte com glossário.
A estreia de Elomar Figueira Mello em disco ocorreu em 1968: o disco, um compacto simples, trazia as músicas O Violeiro e Canção da Catingueira. Independente.
Não há, nunca houve, um artista brasileiro com o perfil de Elomar Figueira Mello. É diferente em tudo. No compor, no tocar, no cantar e no próprio comportamento. É como se encarnasse as figuras do menestrel e do trovador numa pessoa só. O diferencial talvez seja o cigarro de palha muito frequente no
bico.
Elomar navega entre o popular e o erudito. O seu fazer popular é erudito.
Nascido no dia 21 de dezembro de 1937, Elomar tinha 34 anos de idade quando Vinicius escreveu a contracapa do seu primeiro LP.
Se tudo der certo e o mundo não se acabar, neste sábado (10/10), Elomar e amigos (malungos) estarão em espetáculo virtual entre 12h15 e 19h. Confira: https://www.sympla.com.br/as-guariba-encontro-de-elomar-e-malungos---vi-edicao---mao-de-prosa--exibicao-inedita-de-faviela__957621?fbclid=IwAR1QkC8EljH25sY9zi_FcRDX2CGiUr6_OS_W4U3remZpTsmQA9YUQmHekSo
O acervo do Instituto Memória Brasil (IMB) tem todos os LPS e CDs de Elomar (foto acima).


Leia mais: http://assisangelo.blogspot.com/2010/11/ainda-elomar-e-culturabrasileira.html http://assisangelo.blogspot.com/2010/11/elomar-e-sua-obra-delouvor-deus.html




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