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quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Lua Luana e Marimbondo Chapéu

O mundo está pegando fogo, incluindo o Brasil e seus dirigentes sempre insensíveis com o futuro do povo.
O mundo está pegando fogo.
Vejamos o que está acontecendo no mundo árabe, na Europa.
Tudo um horror, um horror pela incapacidade de nós todos e, principalmente dos dirigentes mundiais, que escondem em si a capacidade de contribuir amando o próximo.
Os sírios continuam tentando atravessar o mediterrâneo para chegar à Itália, à Alemanha, Europa.
As pessoas continuam correndo atrás da sobrevivência. Isso mostra a importância do que é a vida.
A busca pela vida é a negação da morte.

Mas o que é que isso tem a ver com cultura popular?
O nome já diz.
Cultura Popular.
A cultura popular é feita pelo povo, povo de qualquer país.
Viver é um esforço de o povo se desdobrar em si, se desdobrar em arte.
O desdobramento do ser em si, em arte, é vida.
Quer ver?
Agora, a pouco, estiveram comigo na sede provisória do Instituto Memória Brasil (IMB), o maior cuiqueiro do Brasil, Osvaldinho, e o seu biógrafo: André Domingues. Com André veio o Gato com Fome, Cadu.
Foi uma conversa muito bonita a que nós tivemos hoje, aqui. Falamos de Brasil, de brasilidade, das incongruências da vida brasileira.
E na vida do mundo, em todos os tempos, tem e haverá, sempre, a lua.
A lua no nordeste é a lua que o mundo conhece. E tem a Lua Luana, o nome, um poema.

Na vida há tristezas, alegrias e, nisso tudo, a cultura popular.
Vocês querem saber um pouquinho sobre um fazedor de cultura popular?
O meu querido amigo jornalista Vitor Nuzzi gravou ontem as perguntas que fiz para Marimbondo Chapéu, um criador brasileiro. Leiam:




Quem é Marimbondo Chapéu? Nasceu quando, onde, e qual o nome verdadeiro?

Marimbondo Chapéu é da região dali de Alto Belo, próximo à cidade de Janaúba, vem da origem da espécie de marimbondo, foi o nome que eu ganhei, mas o meu nome mesmo é Ivanilton da Silva. Tenho 34 anos de idade, resido em Montes Claros, pretendo residir também em São Paulo, através de um grande projeto.


Você nasceu quando, exatamente?

Dia 27 do dois de 1981.


Pai e mãe, como chamam?

Maria de Fátima Marcelina Silva, Antônio Augusto Silva.


Todos mineiros?

Todos mineiros.


Quantos filhos o casal teve?

Nós somos nove filhos. Eu sou mais do meio. Tem mais três caçulas depois de mim.


E o pai e mãe, têm a ver com música?

A família já vem de origem de música, né, Assis? Desde contando com Jaquinho, Jackson Antunes, já vem do trabalho de ator. A nossa família já é direcionada a esse lado de trabalho. Eu parti para o lado da música porque gostava de ouvir o som da rabeca, pela primeira vez, com Zé Coco do Riachão. De lá para cá, apaixonei-me com a história.


E o Zé Coco, você conheceu?

Conheci, com certeza. Eu fui na casa dele quando era novinho. Um dia, vendendo picolé ainda na rua, vi ele fabricando as rabecas, as violas. Fiquei encantando com aquele trabalho dele, passei a ir lá várias vezes, fui aprendendo aos pouquinhos, depois vim a São Paulo para aperfeiçoar, porque não é fácil pegar uma perfeição de fabricar. 


O apelido, quem deu?

Foi José Osmar e Téo Azevedo.


Puxa, como assim?

Quando eu tinha 13, 14 anos, lá na Folia de Reis lá de Alto Belo, eu era meio traquinas, falavam que eu era um menino meio levado... Nisso, a gente estava foliando numa casa já antiga e na cumeeira da casa tinha a ... Aí, eu tocando a rabeca, vi a caixa, direcionei o arco da rabeca, coloquei o arco no meio dos marimbondos, os bichos veio caindo nas minhas costas, deu uma ferroada. Téo Azevedo olhou assim, deu uma risada e falou assim: "Esse aí é marimbondo chapéu, bicho". Aquela vozona rouca, estridente dele... Os dois (Téo e o declamador José Osmar) falaram na hora, né? Então ficou de autoria dos dois.


E você constrói rabeca, como é que é isso?

Assis, eu gosto de construir rabeca com pouquinha ferramenta. para mim não tem tanto maquinário para trabalhar. A rabeca é fabricada com amor, carinho, coração, você se entrega a alma, viaja no mundo. Cada vez que você dá um detalhe numa madeira, mais um sorriso você se encontra. Eu fabrico com facão, estilete, um serrotinho e o coração.


Quantas rabecas você fez até hoje, você tem ideia?

Já perdi a conta.


Quanto custa uma rabeca sua?

É baratinho, 300 reais.


E você escreve seu nome na rabeca?

Tem meu nome dentro da caixa da rabeca.


Que madeira usa pra fazer?


Eu uso pinho, cedro, uso aquela caixa de bacalhau. São madeiras fáceis de encontrar, porque tem aquela madeira de lei, que é difícil, então uso madeira mais tradicional mesmo.





terça-feira, 15 de setembro de 2015

PACOTE DE MALDADES E MARIMBONDO

A Igreja do Diabo é um conto do sempre bom Machado de Assis. Eu gosto muito desse conto. Nesse conto o Diabo, cansado dos ensinamentos de Deus e cheio de inveja pela quantidade enorme de seguidores de Deus, o Diabo inventa de fazer concorrência com Deus. Mas antes disso, o Diabo vai ao Céu pedir permissão a Deus para fundar a sua própria Igreja. E assim é feito. Ao descer a Terra, o Diabo resolve criar uma filosofia própria para destronar Deus.

Na sua nova investida contra Deus e as coisas Divinas, o Diabo inverte tudo. Inverte os valores sociais, os valores de cada um de nós. Assim, por exemplo, a venalidade vira a principal virtude humana. Se a mulher pode vender o seu cabelo, o homem o seu chapéu, as botas, por que não pode também vender a sua palavra, a sua crença, a sua fé, o seu voto?

Essas questões se acham no conto A Igreja do Diabo.

Ouvindo ontem no Rádio os feiticeiros Barbosa e Levy justificando o injustificável perante o povo brasileiro, não deixei de pensar no Diabo e na sua igreja.

Pois bem, do forno da danação planautina acaba de sair um bolo amargo e indigesto. Esse bolo, chamado de “Pacote de corte de gastos” pela imprensa d’aqui d’acolá tem gosto de jiló. Um horro, na verdade, é bem mais amargo do que jiló, pois nesse bolo não há tempero que o torne digesto.

Mas, diachos, de novo não era bem isso o que eu queria dizer.

O povo brasileiro é muito, muitíssimo, maior do que as feitiçarias e maldades contra ele praticadas.

Ontem eu fiz uma referência, cá, neste blog a respeito do compositor, cantor e luthier Marimbondo Chapéu.


Hoje tem mais Marimbondo, clique:




segunda-feira, 14 de setembro de 2015

FREVO, SECA E CANTORIA

No centro do poder político, Brasília, feiticeiros estão em ação contra o humor de nós todos, brasileiros. O clima lá está fervendo, frevendo, do jeito que o diabo gosta.
          
Eu disse frevendo. O frevo veio daí. Digo: a origem da palavra frevo vem de “frever”. E hoje é o dia Nacional do Frevo, mas não é desse dia que eu quero falar e nem da “frevança” política que ora se desenvolve em salas secretas do Planalto.
          
Estamos nos últimos dias do inverno, mas a seca predomina em boa parte do território nacional. Inclusive São Paulo, onde o governo nega – mas há – racionamento da água. Há racionamento de água também, em Campina Grande, que é a principal cidade paraibana depois de João Pessoa, a capital do Estado.
          
No Piauí, há municípios que não tem o solo molhado por água de chuva há mais de 04 anos.
          
E o Rio São Francisco, hein?
         
O Rio São Francisco está secando, pedindo socorro.
          
A seca atinge o velho Chico há pelo menos dois anos seguidos. A sua nascente, na Serra da Canastra já secou, faz tempo. Em alguns pontos dos seus dois mil e setecentos quilômetros já é possível fazer a travessia a pé. Terrível, não é?
          
O rio passa por cinco munícipios beneficiando cerca de 16 milhões de pessoas. Mas e agora?
      
Há quase 200 anos já se falava na sua transposição. Parte dessa transposição foi inaugurada em Cabrobó, PE, há coisa de dois meses.
           
A próxima novela da Globo, Velho Chico, vai abordar o tema. A novela tem estreia prevista no segundo semestre do ano que vem, de acordo, como nos disse a autora, Edmara Barbosa, em visita ao Instituto Memória Brasil, IMB. Na ocasião ela estava acompanhada de um de seus colaboradores, o cordelista Marco Haurélio.
         
CANTORIA NO IMB
          
Nesse último final de semana, esteve em visita no Instituto Memória Brasil o luthier e instrumentista Marimbondo Chapéu. Marimbondo, que faz parte da trupe do ator mineiro, Jackson Antunes, atualmente na novela das 09 (Globo), tocou e cantou belas páginas do cancioneiro rural, entre as quais Luar do Sertão.
Clique:

domingo, 13 de setembro de 2015

NA VIDA, TUDO É POPULAR

Os últimos dias do inverno estão se indo. A temperatura aqui, na capital paulista, está pra lá de baixa. Ali pelos 14, 15 graus.
O Coringão acaba de abater o Joinville, por 3 a 0. E aí, naturalmente, a temperatura aumentou... E como se não bastasse, amigos e amigas chegam trazendo luzes à minha mente: Daniel, Celia e Celma...
A Celia chega toda feliz de Minas Gerais. Passou por Ubá, São João del Rei, Tiradentes, Bichinho... Em Bichinho, elas apresentaram a seus amigos Marisa e Osvaldinho Viana –excelente dupla de artistas-, que as acompanhavam, as doceiras da região, Maria e Osni.
A apresentação de Celia e Celma a Osvaldo e Marisa, foi só o começo de uma festa consagrada pela mágica das doceiras e da cantoria, que contou no repertório belíssimos clássicos da música brasileira, como Tristezas do Jeca, Luar do Sertão e Chalana. Fiquei encantado.
Puxa, como é a vida!
Hoje eu ia só falar de um cara que nasceu em 1265. Esse cara partiu com 56 anos de idade. Eu quero falar de Dante, o autor de A Divina Comédia.
No século XIV, a obra prima do poeta italiano já era conhecida do público na sua primeira e segunda partes.
A Divina Comédia, originalmente escrita como A Comédia, é dividida em três partes: o Inferno, que trata de ciclos terríveis relacionados ao humano; o Purgatório, que trata dos pecados capitais e ameniza o humano; e, por fim, o Paraíso, que é a parte em que o autor, na sua grandeza genialíssima, carrega para a felicidade, em pensamento, o amor da sua vida: Beatriz.
Beatriz já faz parte da música brasileira, por intermédio de Edu Lobo.
A Beatriz de Edu é, naturalmente, inspirada no poema do Dante.
Esse poema gerou muitas inspirações, como a Canção do Exílio, de Gonçalves Dias. O nosso Belchior espraiou-se por inteiro nesse famoso poema de Dante.  Salvador Dali, também. Em tempo mais distante, Franz Liszt, também espraiou-se numa composição totalmente baseada nas três partes de A Divina Comédia.
Dante Alighieri é incrível! E é tanto, que não me espantei quando o Papa Francisco disse que ele, Dante, foi o Poeta da Esperança.
E a esperança, cá pra nós, está na mágica das doceiras Maria e Osni, e, é claro, em Dante.
A vida é popular.


sábado, 12 de setembro de 2015

GERALDO VANDRÉ, 80

Todos nós deveríamos ser como vinho, ou seja: quanto mais velho, melhor.
Mas não é sobre isso que eu quero falar.
Há  750 anos, nascia na Itália o poeta Dante Alighieri (1265 – 1321), autor da obra-prima A Divina Comédia.
Mas não é sobre Dante que eu quero falar.
Houve um tempo em que todos nós éramos jovens.
Eu sou da safra de 1952 e o conterrâneo Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, de 1935.
Geraldo é o criador do mais polêmico personagem da música popular brasileira: Vandré.
Eu conhecí Geraldo em agosto de 1978 e um mês depois, precisamente no dia 17, um domingo, publiquei no extinto Folhetim, do paulistano Folha de S.Paulo, a primeira entrevista que o criador de Vandré deu ao retornar do exílio.
A entrevista intitulada O Desaparecido provocou grande polêmica dentro e fora da imprensa. Recebi centenas de telegramas e cartas de leitores espalhados Brasil a fora.Desde então eu e o entrevistado temos conversado muito. Ontem mesmo, à noite, conversamos um pouco sobre seus 80 anos hoje completados. Brincando, ele disse:
 - Vou comemorar a data no próximo  ano.
Também ontem falei com Boldrin, que conheço desde o começo dos anos 80.
À época ele gravava o programa Som Brasil no teatro Nydia Lícia. Bom, disse Boldrin:
- Há muito tento trazê-lo ao meu programa. Cheguei a convidá-lo para estar comigo na gravação do programa de dez anos na TV Cultura.
Geraldo é um ícone da nossa música popular e, como tal, por muita gente considerado uma pessoa “muito difícil”.
Ano passado ele me perguntou se eu poderia pô-lo em contato com a cantora Joan Baez, também ícone da música norte-americana. Realizei o seu desejo pondo-o frente a frente a Baez. Na ocasião, ela disse estar a sua disposição, inclusive para gravarem juntos um disco. Enigmático,  Geraldo riu e não
respondeu se aceitaria ou não a inusitada proposta.
Viva Geraldo Vandré!





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sexta-feira, 11 de setembro de 2015

NO FLA-FLU DA VIDA TEM VANDRÉ

Um amigo meu, Vitor Nuzzi, me disse outro dia que não poderia morrer sem assistir um Fla-Flu no Maracanã, Rio de Janeiro.

Ele é paulistano da Aclimação, bairro que faz divisa com a Liberdade.

O bairro da Liberdade é o que acolhe o maior número de japoneses no Brasil, desde 1908. Uma curiosidade: 100 anos antes, em 1808, era implantada no Brasil a Imprensa Régia.

Tanta coisa a dizer...

O meu amigo, ao contar que não poderia partir sem assistir um Fla-Flu, fez-me lembrar o tempo em que os grandes clássicos de futebol eram disputados naturalmente em campo e comemorados ao sair do campo.

Nuzzi, paulistano, como já disse, espantou-se com o fato de que as torcidas de Fla e Flu deixaram o estádio em confraternização, brincando, cantando, se divertindo. Um passatempo natural de domingo, com famílias inteiras assistindo e brincando, comemorando, se confraternizando...

A fala do Nuzzi me lembra também os grandes embates medievais entre mouros e cristãos.

Também me lembra os embates entre cantadores repentistas, aqui no Brasil...

A fala lembra ainda os embates entre compositores da nossa música, como Vandré, Chico, Gil, Sérgio Ricardo...

Mas tudo é paz, e tudo deve ser feito em disputa em paz.

No Maracanã, meu amigo realizou a sua vontade de assistir um Fla-Flu. Um Fla-Flu em que as torcidas se uniam e brincavam entre si, comemorando a vida, a alegria de viver.

Assim é que é a vida.

Ou assim é que deveria ser.

Por lembrança, o mineiro Rosa (1908-1967) dizia que todo ser inteligente deveria ser necessariamente torcedor do Flamengo.

Ninguém é perfeito, o Nuzzi é são-paulino.

Amanhã 12, um amigo em comum, e aqui me refiro a mim e ao Nuzzi, está fazendo 80 anos de vida.

Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, paraibano de João Pessoa, torcedor do Botafogo da Paraíba, nasceu no dia 12 de setembro de 1935.

E um dia, quem sabe, o levaremos a assistir a uma partida histórica entre o Juventus e o Nacional, cá da capital paulistana. Essa partida, certamente, ocorrerá no mítico estádio da rua Javari, que fica ali localizado no centro do mundo: Mooca.

Amanhã 12, quem sabe, voltaremos a falar um pouco mais a respeito de um cara que quer um Brasil para brasileiros, brasileiros cidadãos. Esse cara é Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, que nós todos conhecemos como Geraldo Vandré.


Fla-Flu!

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

UM MIILHÃO E MEIO DE LIVROS A PREÇO DE BANANA

Padam, Padam...
Fico ouvindo na vitrola o disco rodar com Piaf repetindo quase a exaustão:
Padam, Padam...
Padam, Padam talvez não queira dizer nada, não há tradução.Mas Padam, Padam, na memória de Piaf traz uma história de amor que termina em “coração de madeira”.
Padam, Padam, talvez seja essa expressão entendida na interpretação da Piaf como o “tam, tam, tam, tam”, do Beethoven; o “pararam”, do amigo Luiz Guerrero. É como se de um modo ou de outro usássemos o et-cetera para dizermos coisas que tais. Assim, como...Reticências servem para deixar no ar uma imagem, uma repetição, uma ideia de algo por vir. Também quase uma obviedade.
Padam, Padam...O amigo José Cortêz me telefona,um tanto decepcionado, com os rumos inda indefinidos ora hoje o Brasil passa.
Através dele, José, fico sabendo que a Bienal do Livro de Recife foi abreviada.
E também através dele, José, fico sabendo que houve – a imprensa não noticia – que como tão rapidamente chegou da mesma forma acabou a Bienal, ou algo que o valha, do Rio de Janeiro. O assunto é música, o assunto é poesia, o assunto é conhecimento.
E também através do meu amigo José, fico eu sabendo que o governo deixou de comprar livros para distribuição entre as escolas do meu Brasil brasileiro.
È, também não gostei. É como se a Pátria Educadora fosse uma mera referência a educação.
E aí o meu amigo José, um louco educador, fundador de uma tradicional editora que leva o seu nome (Cortêz Editora), como espécie de protesto achou de presentear o Brasil com algo em torno de 1,5 milhão e meio de exemplares de livros que editou distribuindo praticamente de graça. De graça porque cada exemplar, desse milhão e meio, custará pra todo mundo reais de cincoenta 50 centavos, um, dois, três...
A tristeza de José Cortêz reflete na grandeza dele em distribuir todo o seu estoque de livros a preço de banana. De banana não, pois banana esta com o preço pela hora da morta, como o tomate, o abacaxi, o limão...
As bienais ou feiras de livros no Brasil, estão em extinção.
Que pena.
E a educação do Brasil para onde é que vai?
E a cultura popular do Brasil, meu Deus!



segunda-feira, 7 de setembro de 2015

O 7 DE SETEMBRO CINCO ANOS DEPOIS

Nós, brasileiros, lutamos desde sempre pelo direito de ir e vir. Está na Constituição, em todas as nossas Constituições; desde a primeira, de 1824. E desde ontem, vivemos problemas de todos os tipos. Problemas graves. Problemas de corrupção...
O Regente Feijó (Diogo Antônio Feijó, 1784 -1843), foi o nosso primeiro governante.
Bastardo, criado entre padres, fez a sua época o que hoje ninguém faz: dedicou-se completamente ao Brasil, querendo, desejando, lutando de todas as formas para que o Brasil ganhasse a liberdade.
Em 1821, o Regente Feijó, paulista, herdou da família que o criou um volume bastante de dinheiro.
Em 1822, Dom Pedro disse num berro “independência ou morte”.
Foi num dia como hoje, 7 de setembro.
Era um sábado. Hoje, tantos anos depois, segunda, ainda não o entendemos.
O grito do Ipiranga, ou seja: foi um grito pela insatisfação que o seu autor, a essa altura, já nutria por sua terra Portugal. Mas esse seu gesto, só foi reconhecido cinco anos depois.
Que eu quero dizer o seguinte: a liberdade tão ansiada por nós, todos, é um passarinho que deve ser, sempre, bem tratado.
O grito do Ipiranga passou a ser reconhecido como importante verdadeiro, repito, só cinco anos depois.
A Inglaterra e França foram os primeiros países, depois de cinco anos, a reconhecer o ato de Dom Pedro como um berro de liberdade.

Agora, que tal você aí procurar saber o que é que  tem o Regente Feijó com a independência do Brasil?

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

CORDELISTAS E AVIÃO BRASIL

O dólar no céu, cutucando o sol que está meio doido, torra os miolos do Brasil. Quer dizer:: dólar subindo, alto estima descendo e o prato na mesa do pobre cada vez mais minguando ...
A crise política e a crise econômica se abraçam pondo a vida brasileira em estado de alerta.
A imprensa mundo a fora,  especialmente The Economist e o Financial Times, bota lenha na fogueira dizendo que dona Dilma e a sua equipe econômica perderam o rumo tipo: Apertem o Cinto Que o Piloto Sumiu.
Pois é, é como se todos nós estivéssemos sozinhos dentro de um avião a três mil pés e a três mil km/h voando em direção ao  inferno. Mas, calma, pensemos como Gramsci  (1891 -1937). Segundo ele ser pessimista na avaliação é correto, como é correto também  sermos otimistas na ação.
O mundo, desde a sua origem, tem se apresentado a nós pobres mortais  crise, crise, crise, crise e crise, mas de todas as crises, pequenas, médias e catastróficas, temos saído. Portanto, não vai ser essa merrequinha, ou marolinha como dizia Lula, que vai nos levar as profundas do inferno.
O Brasil não é propriamente o Olimpo, embora alimente deuses de todas as matizes.
Eu Gostaria de saber como é que os cordelistas deste Patropi estão acompanhando a turbulência que o avião Brasil esta sofrendo.  

O Brasil é muito grande
É um país continental
Que tem passado por turbulências
Desde os tempos de Cabral....


domingo, 30 de agosto de 2015

A SECA TORTURA E MATA

O dia começou com os jornais noticiando só coisas feias como, por exemplo,  o estágio em que se acham os processos da operação Lava Jato conduzida com mão de ferro pelo Juiz Sérgio Moro, que já mandou para o Xilindró duas dúzias de roedores do Tesouro Público.
Fora isso, os jornais continuam destacando as diversas crises que ora, nós, pobres mortais brasileiros, amargamos. Mas crise mesmo, das grandes, é a de sem-vergonhice que assola o País de ponta a ponta.
Na TV, hoje, vi para minha alegria, a bem humorada Inezita Barroso chamando pra cantar no palco os seus violeiros. Na mesma telinha ouvia-se a chamada para o filme em que ela era a personagem central: Mulher de Verdade.
Ainda no mesmo canal, o 2, o Boldrin proseava com os integrantes do Trio Gato Com Fome.
Bela prosa em torno de Raul Torres.
O Gato Com Fome está lançando seu primeiro CD, que traz apurado repertório baseado na obra musical de Torres.
Mas voltando às mazelas do nosso cotidiano,  uma foto na primeira página do Estadão era estampada com o propósito de nos chocar pela irresponsabilidade dos homens que nos governam.  A foto substituía mil palavras, como no jargão jornalístico.
A foto em questão mostrava animais pastando no que fora há bem pouco tempo o reservatório da Cantareira.  Imediatamente lembrei das diversas crises hídricas que endoida o povo mais simples do  Nordeste, que secularmente têm tangido populações inteiras de um lado para outro, como o poeta popular Patativa do Assaré muito bem registrou na sua clássica toada  A Triste Partida, em que conta a fuga de uma família de nordestinos para São Paulo.
A foto estampada no jornal me trouxe  outras imagens geradas pela solidão assassina da seca secular também tratada na canção Maringá, do poeta Joubert de Carvalho. Essa canção, lançada em julho de 1932 pelo cantor Gastão Formenti, conta de uma bela retirante chamada Maria do Ingá e nasceu a pedido do político paraibano José Américo de Almeida, integrante do governo Vargas.
A irresponsabilidade dos governantes nas suas três esferas, é chocante; tão chocante quanto a foto publicada hoje na primeira página do Estadão.
São Paulo está vivendo a sua pior seca desde 1924.
Não custa lembrar que o Imperador D. Pedro II, chocado com a tragédia provocada pela seca no Ceará, jurou que venderia, se preciso fosse, até a última pérola da Coroa.  Milhares e milhares de nordestinos sucumbiram diante da seca e diante do Rei que, na verdade, nada fez para impedir que morresse gente, gado e até passarinho.
Em 1915, portanto há exatos cem anos, levas de retirantes tangidos pela seca saqueavam os estabelecimentos comerciais de Fortaleza (Ce).
Dado o noticiário do dia, recordo o escritor Rômulo Nóbrega dizendo da tragédia que hoje continua a viver o Nordeste profundo, o Nordeste pé no chão, o Nordeste descalço, faminto, esquecido pelo poder público ou pelas autoridades de que, a rigor, cuidam mais é mesmo de interesses próprios.
Rômulo é Campinense.  Ele conta que Campina Grande (Pb), vive com racionamento de água há meses e que a situação é gravíssima em vários municípios paraibanos.  Ele me pergunta:
- Você já ouviu falar em Stênio Lopes?  Pois bem, do Dr. Stênio (1916-2010) escreveu um livro em que relata os problemas provocados pela estiagem e assume uma espécie de máxima que diz “Não haverá futuro para Campina Grande sem a transposição de águas do Rio São Francisco”.
Pois é, as águas do Velho Chico estão sendo desviadas para Pernambuco, Paraíba... A troco de bilhões.

Tomara que nessa empreitada não haja problemas que a operação Lava Jato identifique.

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

SÃO PAULO DE TODOS NÓS




Terminando agosto, fim de mês, o Capeta se afastando...
Segundo o folclore, no que há no folclore, fica-se sabendo que agosto “é o mês do cachorro louco”.
Para muita gente, o mundo acaba ou acabou em agosto.
O Brasil todo, a exceção de São Paulo, enlutou-se com a morte do caudilho gaúcho Getúlio Vargas, na manhã de 24 de agosto de 1954.
Eu tinha dois anos de idade e não vou morrer nunca, pelo menos da forma acontecida com Getúlio e narrada minuciosamente por cordelistas do nordeste- de-meu-Deus-do-céu.
Getúlio, aliás, foi o presidente da nossa República mais cantando em verso e prosa até hoje.
Foi também num mês de agosto que o Brasil exasperou-se com a renúncia inexplicável do mato-grossense Jânio Quadros.
Uma vez entrevistando Jânio, perguntei a razão que o levou a renunciar a presidência da República. Ele soltou uma risada que reboa até hoje nos recônditos invioláveis da minha memória. A sua risada estrepitosa, emendei:
- Presidente, o Sr. é um grande ator!
Ouvindo o rádio, fiquei sabendo que o Brasil hoje é habitado por 204 milhões de pessoas e São Paulo figura como  o estado mais populoso, com 44 milhões.
No tempo de Jânio não havia nem 15 milhões de brasileiros aptos a votar. Hoje, somos cerca de 120 milhões. Mas tanto ontem como hoje é enorme o número de brasileiros judiados, analfabetos, sem rumo nem prumo, perdidos, desprovidos de educação e distantes, também, da cultura que forma uma nação.
Ontem a Câmara Municipal de São Paulo , representando o povo, homenageou em sessão solene, um dos mais visíveis artífices da cultura popular, Téo Azevedo, 72 anos, mineiro de Alto Belo.
Téo Azevedo é compositor e violeiro. No seu alforje de cantador se acham mais de 80 mil fonogramas por ele produzidos. Ele é o artista com o maior número de músicas próprias gravadas em disco.
A primeira música que Téo gravou foi de cunho religioso, Deus te Salve Casa Santa. Isso, em 1965; ou seja, a exatos 50 anos.
Onde estão os responsáveis do Guiness Book, para registrar as façanhas do mais novo Cidadão Paulistano?
Eu abri a sessão falando de crises e crises históricas que o Brasil tem vivido desde o século 16. A sessão foi encerrada, hora e meia depois, com Téo Azevedo cantando a canção São Paulo de todos Nos, dele e de Peter Alouche.
  






https://www.youtube.com/watch?v=zOViTnEHrGI











quinta-feira, 27 de agosto de 2015

TÉO AZEVEDO, CIDADÃO PAULISTANO

Neste ano de 2015, completam-se exatas cinco décadas que o mineiro de Alto Belo Téo Azevedo entrou, pela primeira vez, em um estúdio de gravação que resultou num acetato com a cantiga Deus Te Salve Casa Santa, adaptada do folclore português. Essa gravação perdeu-se na poeira do tempo e daquela data até hoje, Téo entrou milhares e milhares de vezes em centenas de estúdios espalhados em Minas, São Paulo etc.

Eu conheci Téo Azevedo quando ele tinha 33 anos de idade. Naquele tempo, eu era repórter da Folha.

Nos últimos 38 anos, tornamo-nos amigos e parceiros musicais.
Téo pôs melodia em pelo menos uma trintena de poesias, várias delas gravadas por intérpretes de reconhecido talento, entre os quais ele próprio.

Uma de nossas composições (Clarissa) chegou a ser inserida no filme Saudade do Futuro de produção franco-brasileira.

Hoje, a Câmara Municipal de São Paulo confere a Téo Azevedo o título de cidadão paulistano.

Eu já passei por essa maravilhosa experiência.

A solenidade de entrega do título de Cidadania a Téo Azevedo tem início previsto para às 19 horas. Eu estarei lá formando a mesa e saudando o homenageado.


Vamos lá?

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

CRISES, COISAS E HOJE

Agosto, gosto.
No calendário dos dias, meses e anos, fica-se sabendo que agosto é o mês de grandes acontecimentos.
No Brasil, o 5 de agosto marca a fundação da cidade que desde o começo dos anos de 1930, leva o nome de um cidadão chamado João Pessoa.
O dia 11 lembra o dia que D. Pedro criou a faculdade de direito no Brasil. O 24, nos lembra a tragédia que foi a morte de Vargas; dia seguinte, outra tragédia marcou profundamente a vida brasileira: a renúncia de Jânio.
Hoje 26 estávamos, eu e o editor da revista Kalunga, Manuel Dorneles, conversando exatamente sobre Vargas e Jânio quando, de repente,  chega o historiador José Ramos Tinhorão.
Tudo se passa aqui, no Instituto Memória Brasil.
E a conversa seguiu por aí.
Crises, crises, crises.
Ora, a República começou com a derrubada do Imperador.
Deodoro foi tirado da cama em pijamas para assumir a República.
Não demorou muito Floriano assumiu o poder e mandou muita gente ao paredão e depois também sumiu. O tempo o emparedou. O Hermes chegou, São Paulo em guerra: 24, 32...
João Pessoa se junta a Getúlio Vargas para, em campanha, assumirem a Presidência.
No meio do caminho, João Pessoa é morto a tiros em Recife. E aí Getúlio perde e golpeia o Brasil assumindo à revelia dos votos nas urnas o comando do País.
E aí, hein? Isso é crise ou não é crise?
E ainda teve: 32...
Em 1939 (ou 37?), Getúlio dá outro golpe dentro do golpe e cria o Estado Novo.
Bom, a 2ª Guerra começa em 39 e termina em 45.
Em 1945, além de entrar em guerra, o Brasil entrou em parafuso.
E aí, em 1954, Getúlio dá um tiro no peito e transforma aquele dia em noite: luto de ponta a ponta do Brasil, menos São Paulo que não chorou.
São Paulo não chorou, porque Getúlio fez São Paulo chorar em 32.
E aí chegou JK, chegou JQ e chegou também Jango.
E a noite mais escura do Brasil chegou exatamente com a deposição de Jango em 1964.
Essa noite durou 21 anos.
E aí, Diretas, Tancredo...
Essa história de crises dura muito tempo, vem desde o macaco desceu do galho e achando que tinha duas pernas, pulou, pulou, pulou e cá estamos nós, achando que a crise está começando agora.
E essas lembranças históricas vêm e são compartilhadas com Dorneles –nome que a mãe deu ao Manuel em homenagem a Vargas.
E presentes nessa conversa no IMB, Tinhorão, Celia, Celma...
A história está na memória, na boca do povo.

Viva o Brasil!

domingo, 23 de agosto de 2015

NÃO, INEZITA NÃO MORREU

Sem ter muito que fazer, ontem à noite liguei a televisão e, para a minha alegria, ouvi a minha querida Inezita Barroso chamar a seu palco para cantar a paraguaia Perla.
Perla!
Perla é meio soprano, como Inezita.
Que beleza ouvir Perla cantar Las Cositas de Nuestra America!
A última vez que vi Perla foi em Campo Grande, MS, cantando para mim. Eu entendi que era para mim que ela estava cantando naquele começo de noite em terras mato-grossenses.
Inezita é incrível!
Sem ter muito que fazer, hoje de novo liguei a televisão, e para a minha surpresa, deparei-me com Inezita chamando a seu palco Pereira da Viola.
Antes de Pereira cantar tocando, apareceram na telinha grupos musicais de São Luís do Paraitinga e de Mogi das Cruzes cantando e dançando em louvor ao Divino E.S.
Eu conheço esses grupos.
O Paranga, de São Luís, em ação toca em qualquer coração.
Lindo!
Em Mogi, a grupos de Congada, Marujada, e Moçambique.
Pois é, ai estar uma bela parte do folclore que herdamos de Portugal.
O povo de Portugal foi o que mais nos deu por tudo que de nós levaram.
A riqueza cultural do Brasil tem tudo a ver com Portugal.
Você, que me ler sabe que em Portugal a uma belíssima cidade chamada Baião?
Viva Inezita Barroso.

sábado, 22 de agosto de 2015

O POVO É SÁBIO

O POVO É SÁBIO


Quem já não ouviu falar que “agosto é mês de desgosto”?
Pois é, esta é só uma das milhares e milhares de frases carimbadas pela boca do povo.
E esta aqui: “quem cochicha, o rabo espicha”.
Claro, esta serve para todos nós peregrinos do céu e da terra: “quem tem boca vai à Roma”.
Tem outra que diz: “quem fala muito, dá bom dia a cavalo”. Aliás, outro dia uma amiga me contou que certa vez inventou de bater boca com uma senhora que o tempo parece ter esquecido de levar e boca vem e boca vai, as duas findaram por se desentenderem completamente. A amiga então lhe dirigiu essa velha frase do folclore. Resposta:
-Você tá pensando que eu sou o que, uma cavala?
A minha amiga riu muito e apaziguadora apenas disse:
-Eu estou lhe provocando só porque eu gosto de ouvir a senhora falar, e como fala!
Hoje é o Dia Internacional do Folclore, que os países civilizados certamente comemoram.   
A palavra folclore é uma palavra que ainda não tem nem duzentos anos. Ela surgiu da curiosidade de um arqueólogo inglês chamado William John Thoms (1803–1885).
Um dia, Thoms enviou uma longa carta à redação da revista de Atheneu, de Londres. Nessa carta ele demonstrava toda a curiosidade que nutria em torno das coisas que o povo fala e faz. Coisas que têm a ver com anedotas, histórias infantis, cantigas, rezas mágicas, pragas e tudo mais que tem a marca anônima e indelével do povo.
Pois bem, o conjunto de todas essas coisas vindas, surgidas, criadas, por obra e graça do popular, têm a ver com folk-lore, de origem anglo-saxônica. Em tradução livre e espontânea: folclore vem a ser nada mais nada menos do que ciência do povo.
O meu querido Luiz da Câmara Cascudo detestava a expressão folk-lore.
Cascudo –que bela palavra como sobrenome para um ser tão importante para o Brasil- foi um dos nossos mais importantes e o mais prolífico estudiosos do saber popular. Deixou cerca de 150 títulos publicados, dos quais cerca de 10 ou 15 podem se achar por aí.
Aprendi muito com o mestre Cascudo. O folclore é de fato uma ciência de suma importância para a compreensão da vida. Toda inteligência passa pelo saber do povo.
Há uns cinco séculos, outro cidadão inglês e também de nome William, no caso, Shakespeare, inventou de passar todo seu tempo a escrever histórias; histórias. Do povo para o povo.
Pois bem, grosso modo, podemos afirmar que toda obra de Shakespeare é baseada no tesouro em que se encerra a sabedoria popular. E o que fez Shakespeare, antes e depois, fizeram outros grandes nomes da literatura e música que não morrem. Bach, também fez isso, por exemplo.
O folclore é tão importante que até faz parte do imaginário de mestres da música erudita como o húngaro Béla Bartok (1865-1945).
Em 1923, Bartok decidiu compor uma obra em homenagem às cidades que deram o nome de Budapeste. E de sua mente privilegiada saiu a Suíte das Danças. Nessa música o autor expõe, a partir do imaginário, o que seria na sua visão, folclore.
Entre nós, brasileiros, Tom Jobim, Zé Dantas, Luiz Gonzaga e tantos e tantos, foram céleres beber na fonte imorredoura da sabedoria do povo.
Asa Branca e Assum Preto são boas amostras disso, cá entre nós.
Viva o folclore brasileiro!

     


terça-feira, 18 de agosto de 2015

COISAS DA VIDA

Chovem mensagens de parabenização pela entrevista publicada domingo passado no Caderno 2 do Estadão: Memória visual. Agradeço. Foi uma espécie de desabafo, regrado à esperança, muito bem captado pela sensibilidade dos repórteres Júlio Maria e Gabriela Bilo. Falei, falei, falei a respeito do mundo que nos cerca, da política, dos políticos e da dor.

A dor foi embora no correr dessa fala. Dor de falta, dor que sobra, dor misturada com tristeza pela falta, traição e abandono de uns e outros que parecem não valorizar os olhos da cara. Uma amiga, do campo da Psicologia, disse-me que estou de “luto”. Interessante essa observação.

Somos coisinhas especiais da Criação. Amor e solidariedade são combustíveis que nos movem na movediça areia da vida. Um povo sem esperança é um povo perdido, é uma nação perdida que forma um País sem crédito no espelho do mundo.

Dor que dói, aquela que vem das profundezas da alma, machuca e ensina. Pra que reclamar, não faz sentido reclamar. Aliás, eu digo assim nestes versos em sextilhas:  

         Muita gente reclama
         Reclama sem precisão
         Reclama por reclamar
         Pois reclama sem razão
         Não é o caso de perguntar
         Por que tanta reclamação?

         Eu perdi a minha vista
         Mas não da vida à visão
         Eu hoje vejo tudo
         Com os olhos do coração
         E o que eu não via antes
         Vejo com a imaginação
        
         Não dá para reclamar
         De muitas coisas na vida
         Pois ela nos prega peça
         Na chegada e na partida
         Uma caixinha de surpresa
         É o que é a nossa vida

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

SÃO PAULO NÃO TEM HINO

São Paulo e Rio de Janeiro foram fundadas em 1554 e 1565, respectivamente, pelos primeiros jesuítas que chegaram à nossa terra. A terra carioca foi capital nacional entre 1621 e 1815.
Por muito tempo tentou-se criar uma certa rixa  entre a população das duas cidades. Bobagem. É verdade que São Paulo cresceu mais depressa, recebendo grandes levas de migrantes e imigrantes a partir do século 19. Espanhóis e italianos foram os primeiros.
 A presença nordestina em São Paulo e no Rio de Janeiro se intensificou e é marcante até hoje.
A “rixa” entre São Paulo e Rio de Janeiro, se houve, terminou em 1965, quando os cariocas comemoraram o quarto centenário da cidade. Na ocasião, o conjunto musical Demônios da Garoa faturou o 1º lugar no concurso musical promovido pela prefeitura da cidade. Música premiada: Trem das Onze, do paulista de Valinhos, Adoniran Barbosa. Detalhe: Trem das Onze foi gravada em agosto de 1964.
Anos antes, em 1954, a programação comemorativa aos quatro séculos de fundação de São Paulo foi toda recheada de artistas do Rio, entre eles, mestre Pixinguinha (1897-1973).
Há cerca de duas décadas, a Rede Globo, em São Paulo, desenvolveu pesquisa para saber da população qual a música de sua preferência: deu na cabeça Trem das Onze.
Essa história eu conto em detalhes no livro Pascalingundum! Os Eternos Demônios da Garoa.
Exposição Roteiro Musical da Cidade de São Paulo
Essa história eu também contei num debate com Paulo Vanzolini (1924-2013) e Eduardo Gudin  promovido como parte da programação Roteiro Musical da Cidade de São Paulo, que ocupou por uns três ou quatro meses um bonito espaço no Sesc Santana.
Essa exposição contou a história de três mil músicas que têm a cidade de São Paulo como tema.
Você sabia que ainda não há um hino oficial para a cidade de São Paulo?
Por várias ocasiões, escrevi a respeito da importância de um hino oficial para a cidade. Cheguei até a sugerir o título São Paulo de Todos Nós, de Peter Alouche e Téo Azevedo.

Pois bem, o estado de São Paulo tem hino escrito pelo poeta Guilherme de Almeida e Spartaco Rossi. Ouça:

E dentre os demais estados brasileiros, tem um que também não tem hino: Minas Gerais.
 Você estará errado se acreditar que Oh! Minas Gerais, canção de origem napolitana, é o hino oficial dos mineiros.
Por três vezes, governos em tempos diferentes promoveram concursos para escolha de hino do Estado. Em vão.
O hino que muita gente crê ser o oficial do estado, Oh! Minas Gerais (abaixo), traz o nome do pernambucano Manezinho Araújo e do mineiro José Duduca Morais. 


domingo, 16 de agosto de 2015

AS MÃOS TÊM OLHOS...


Texto do repórter Júlio Maria informa, hoje,  em matéria de capa do Caderno 2 do Estadão, que a vida me reservou o mistério da surpresa.
Sim, estou cego.
O descolamento de retina, depois de várias intervenções cirúrgicas no Hospital das Clínicas e em outros lugares, levou-me ao mundo da escuridão.
Sim estou cego, mas não vejo nisso nenhum problema. O problema é a adaptação nesse novo mundo ao qual ingresso com a ajuda de amigos queridos e da equipe da Associação Brasileira de Assistência a Pessoa com Deficiência Visual, mais conhecida como Laramara.
O pior, já passou.
Verdade que morri nove vezes e nove vezes ressuscitei; agora, como a Fênix, das cinzas estou ascendendo.
Vez ou outra, de João Pessoa, Vital Farias me telefona  para saber como estou.
Vez ou outra, de Teresópolis, Vandré  me telefona para saber como estou.
Quase sempre, esses telefonemas são de longa duração.
Pelo menos uma vez por semana, José Ramos Tinhorão e Célia e Celma me visitam para saber como estou. E entre uma cachacinha e outra, Tinhorão me diz um monte de coisas interessantes a respeito deste nosso  Brasil tão ruído e corroído  por  ratos de plantão. E conversamos e conversamos.
Célia e Celma são ótimas no fazer chá da tarde.
Também com alguma frequência tenho a alegria de receber Papete, Osvaldinho da Cuíca, Téo Azevedo, Luiz Wilson  e os rapazes do Tri Gato com Fome.
Com essas pessoas, eu me sinto em festa.
E como se não bastasse, ainda tem Luiz Guerrero que me leva, quase sempre atropelando as minhas falas, até a Laramara.
Na Laramara, tenho me sentido em casa.  
Até aqui aprendi que posso ver através das mãos, das pernas, dos pés, pelo pensar e pelo ouvir das vozes que até mim chegam.
Eu perdi a luz dos meus olhos, mas ganhei a nova vida que me levará aos caminhos do bem fazer e educar e aprender; aprender para ensinar; aprender para educar.
O resumo disso é Cidadania.
E pensar que a gente reclama de tanta coisa...Se chove, a gente reclama. Se faz sol, a gente reclama.Se faz frio, a gente reclama. Se faz calor, a gente reclama.

A gente reclama de tudo
Reclama sem precisão
Reclama por reclamar
Por reclamar sem razão
A vida é muito boa
Ora, chega de reclamação!

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