Seguir o blog

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

MOCINHA DE PASSIRA X LEILA DINIZ

O acidente aéreo que vitimou Eduardo Campos fez me lembrar de acidentes parecidos que também encerraram a vida de outros políticos famosos, como Siqueira Campos, no Uruguai, Castelo Branco, em Fortaleza, e Ulysses Guimarães, no mar do Rio; e de artistas muito conhecidos e queridos, como o cantor Agostinho dos Santos, na França, Mamonas Assassunas, em São Paulo, e Leila Diniz, na Índia.
Leila morreu no dia 14 de junho de 1972, três anos depois de sua célebre entrevista ao extinto semanário carioca Pasquim.
Além de atriz, Leila Diniz foi uma pessoa muito inteligente e agitada, que rompeu padrões na vida brasileira a partir da segunda metade dos turbulentos anos de 1960. Nesse ponto, ela lembra a poeta repentista Mocinha de Passira.
Mocinha, de batismo Maria Alexandrina da Silva, tinha 20 anos de idade quando Leila morreu e já fazia estripulias na sua terra pernambucana, casando antes dos 18 anos e brigando pra valer com quem a provocasse, inclusive os cantadores improvisadores mais importantes de lá, como o lendário Diniz Vitorino, ao lado de quem entrou num estúdio pel primeira vez para participar da gravação de um disco.
Leila e Mocinha, depois de Dercy Gonçalves, foram quem mais usaram o palavrão para melhor se comunicar.
Mocinha de Passira e o seu colega repentista Sebastião Marinho em visita ao Instituto Memória Brasil - IMB

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A VIDA É UM VAPT-VUPT!

Ao piano, Mário Albanese acompanha Darlan Ferreira
Quase sempre na vida as coisas ocorrem de modo muito rápido, começando ou acabando num minuto; numa fração de segundo, seja na geração de uma vida, seja no término dela, no tombo de um suicida, no vôo de um pássaro ou na queda de um avião.
É tudo vapt-vupt.
Às vezes pode doer, às vezes não.
Pra morrer basta estar vivo, como diz velho dito popular.
É quase certo que Eduardo Campos não teve tempo para sentir dor.
Nem ele e nem as pessoas que com ele estavam na manhã trágica de ontem, quando seu avião em vôo do Rio de Janeiro para São Paulo espatifou-se em solo santista.
Eu conheci o então governador de Pernambuco há alguns anos num almoço com nordestinos de destaque na cidade paulistana, entre os quais o editor José Cortez, o radialista Expedito Duarte – Mano Novo -, o poeta Moreira de Acopiara e o jornalista José Nêumanne, se a memória não me falha, no restaurante Andrade.
Achei-o uma figura simpática, alegre, de gestos firmes e cativantes.
Eduardo Campos parecia apostar todas as fichas na carreira de político nacional.
Não era verborrágico como Ciro Gomes, também presente na ocasião.
Lembro convrsamos sobre Pernambuco e a respeito de alguns artistas, como Luiz Gonzaga, Marinês e Anastácia.
Até então ele só ouvira falar de Gonzaga, que anos depois se envolveria num projeto de construção do Museu Cais do Sertão, em memória do Rei do Baião.
Mas a impressão que guardo a seu respeito é a de que não era muito chegado às coisas da cultura popular... Mas até aí nada demais em se tratando de político, não é mesmo? 
O ex-governador de Pernambuco morreu com 49 anos de idade.

ERUNDINA
Com o trágico desaparecimento de Eduardo Campos, quem do seu partido ou da coligação assumirá a candidatura à presidência da República? Na minha visão, mais do que Marina Silva, o nome mais gabaritado é a deputada federal Luiza Erundina, ficha limpíssima de comportamento cidadão - e político – exemplar, sem essa de Maluf ou Feliciano.

JEQUIBAU
O 13 de agosto é o Dia do Jequibau http://artspazio.blogspot.com.br/2014/08/13-de-agosto-e-o-dia-do-jequibau-vamos.html, em referência e homenagem ao rítmo musical criado por Mário Albanese e Ciro Pereira. No Instituto Histórico e Geográfico de São foram lembrados os 49 anos de criação do rítmo. O compositor e produtor musical Darlan Ferreira declamou, acompanhado pelo próprio Albanese ao piano. Fica o registro.  
No Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo momentos  pelos 49 anos do Jequibau

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

DIA DO PENDURA E DO GARÇOM

Hoje é Dia do Garçom, do Advogado, do Estudante – e do Pendura.
O garçom tem a ver com todo mundo que frequenta restaurante, incluindo estudantes e advogados.
Em 1827, precisamente no dia 11 de agosto, o imperador Dom Pedro I criou por Decreto, via Assembleia Legislativa, os cursos de ciências jurídicas no País através das faculdades de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo, e Olinda, em Pernambuco.
No rastro dessa instituição tão importante para a formação política e social do Brasil vieram o Dia Nacional do Estudante e o Dia do Pendura, que pessoalmente nunca validei como legal e correto, tanto que o Art. 176 da Lei Penal vigente diz que “Tomar refeição em restaurante, alojar-se em hotel ou utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos para efetuar o pagamento” é crime sujeito a punição.
Nos “penduras” é comum que se pague 10% da conta aos garçons, enquanto o prejuízo fica para o restaurante.
A regulamentação da profissão de garçon é realativaamente nova,
Há dois anos o Senado aprovou lei chamada Reginaldo Rossi que define tempo de serviço para aposentadoria de garçons, maîtres, confeiteiros e cozinheiros.
Os garçons se aposentam com 25 anos de trabalho.
O Brasil é o terceiro país com maior número de advogados: 750 mil e mais de 1,5 milhão de bacharéis em Direito. 
Para ouvir o clássico brega Garçom, de Reginaldo Rossi, clique:

domingo, 10 de agosto de 2014

POEMA NO JORNAL DO SBT

Os telespectadores foram surpreendidos ontem à noite com o apresentador Carlos Nascimento (acima, CLIQUE), encerrando o noticioso Jornal do SBT declamando um poema – A Oração da Maçaneta – de Gióia Júnior.
O poema trata da apreensão – e alívio - de um pai à espera do filho de volta à casa após uma noitada com amigos. É um belo poema.
Jornalista com passagens pelo rádio e televisão, o campineiro Gióia Júnior nasceu um dia antes do Dia dos Pais, 9 de agosto, em 1931, e tem publicados pelo menos duas dezenas de livros e gravados vários LPs, nos quais ele próprio declama.
Alguns de seus poemas foram musicados e lançados em disco por intérpretes como Sérgio Reis.

sábado, 9 de agosto de 2014

A OPINIÃO COMO ESPETÁCULO

Lembrei-me há pouco do conterrâneo e xará famoso Assis Chateaubriand (1892-1968) ao escutar pela Rádio Jovem Pan Os Pingos nos is, programinha engraçado de final de tarde do crítico de plantão Reinaldo Azevedo.
Conta-se que certa vez ao velho Chatô um jornalista foi pedir emprego e como teste recebeu a incumbência de escrever um texto sobre Jesus Cristo, mas de bate-pronto perguntou:
- A favor ou contra, Dr. Assis?  
O cara ganhou o emprego, claro.
Opinar é bom e com responsabilidade, melhor ainda.
Hoje mais do que nunca, e mais até do que os jornalões tradicionais, as emissoras de rádio de São Paulo estão apostando firmemente em opinião como produto assinado, caso das rádios CBN, Estadão e Jovem Pan, que do ramo têm bons craques como Alexandre Garcia, Arnaldo Jabor e já referido Reinaldo Azevedo.
Dentre todos Reinaldo é o que exagera, ao se colocar como sabichão dos sabichões, o que mais sabe de tudo e muito mais, por isso chega a dizer besteira em nome do livre-pensar como o fez ontem ao falar sobre as origens do saiote dos escoceses e tomar para si a a manjada expressão que dá título ao programa.
A expressão “os pingos nos is” é uma expressão folclórica tão antiga como “quem fala muito, dá bom dia a cavalo”.
O fato é que a opinião, mais do que a notícia, está virando show, espetacularização.
Não sei se isso é bom.
           
O VELHO CHICO’
Ouço no rádio notícia dando conta de que o nível das águas do Rio São Francisco está baixando assustadoramente, por causa da longa estiagem. No leito do rio não tem caído um pingo d’água sequer. Por causa disso, as consequências têm sido dramáticas. Até o serviço de balsas que atende as necessidades dos moradores de várias cidades ribeirinhas, como Januária e Três Marias, está suspenso. Em Pirapora, os passeios no vapor centenário Benjamim Guimarães – o único em ótimo estado ainda movido à lenha -, também. Porém os trabalhos para o desvio de suas águas para Pernambuco e Paraíba e outros Estados nordestinos continuam de vento em popa nas suas diversas frentes. Ao lado do Tietê, o São Francisco é o rio mais cantado na música brasileira.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

SECA, IMPRENSA E FUTEBOL

Ouvi no rádio a notícia de que a cidade de Itu, localizada na região sorocabana e distante 102 quilômetros da capital paulista, está vivendo o pior e maior drama da sua história de 404 anos: a falta d’água.
Como Itu, chamada de Cidade da Criança e onde dizem que tudo lá é grande, inclusive a esperança, dezenas de outras cidades paulistas passam pela mesma terrível experiência, embora o governo do Estado não reconheça nisso drama nenhum.
Aliás, vários bairros da capital de São Paulo estão vivendo em sistema de racionamento há meses, embora o governo também negue esse fato.  
Ironicamente Itu é uma das 29 estâncias turísticas do Estado, mas o fluxo de visitantes está, obviamente, prejudicado por motivo de força maior: a falta d’água.
Outrora Itu foi a cidade mais importante e rica do Estado, tanto que chegou até a marcar presença de destaque no processo vitorioso que levou à proclamação da República em 1889, ao sediar 16 anos antes a primeira convenção de eminentes republicanos, entre os quais quase todos os barões do café.
Mas a notícia que me trouxe a realidade vivida atualmente pelos ituenses me levou também à dura realidade ora vivida pelos sertanejos nordestinos, que amargam as consequências da estiagem mais violenta do último meio século sem que o poder público nada faça para sequer amenizar as agruras sentidas.
E nestes tempos bisonhos de pré-eleição nem a imprensa diz nada.
Por que será, hein?
Ah! Sim, além de ser uma espécie de berço da República, Itu é berço também do futebol brasileiro, pois foi lá que se soube da existência do futebol, notícia trazida por um jesuíta que fora à Europa, em 1878, em busca de novidades para o colégio no qual lecionava e onde rolou bola no Brasil pela primeira vez: o São Luís. 
Alunos do colégio São Luís, de Itu, foram os primeiros jogadores de futebol no Brasil.  A foto é de 1897

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

O DIA EM QUE MORRI DE VERGONHA

Da mesma maneira que é difícil ver Vital Farias acomodado aos padrões atuais do meio fonográfico, digo o mesmo do estaduzudense Wynton Marsalis, tido e havido como o maior trompetista do mundo.
À parte gêneros e dimensões, os dois são pérolas que brilham indifentes à crítica e ao próprio mercado.
Eles cuidam de arte.
Negro, ao contrário de Vital, Wynton é um músico que encontra no trompete o seu instrumento de expressão maior, como Vital tem no violão a sua extensão mais expressiva.
À maneira de cada um, os dois são grandes.
Ouvindo Concerto Para Dois Trompetes, do italiano Antonio Vivaldi (1678-1741), a impressão que se tem é que essa peça, que abre o LP Música Barroca Para Trompetes, foi feita especialmente para Wynton.
Ouvindo Estudo nº 22, do francês Napoleon Coste (1805-1883), a impressão que se tem, com relação a Vital, é a mesma.
Nesse caso, o que faz a diferença é a Orquestra Inglesa de Câmara que acompanha o estazudense, sob a regência de Raymond Leppard.
Eu fui apresentado a Wynton Marsalis há uns 20 e poucos anos, por um amigo comum que tocava trompete na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, à época do maestro Eleazar de Carvalho.
Gostei dele.
E entre um assunto e outro, ele disse:
- Se você fosse norte-americano, você teria todas as condições para realizar seus trabalhos de pesquisa.
Morri de vergonha.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

HIROSHIMA, MEU AMOR

Há cem anos completados no último dia 28, um estudante desconhecido matou a tiros em Sarajevo o arquiduque herdeiro do trono Austro-Húngaro Franz Ferdinand e a sua mulher duquesa de Hohenburg, Sofia.
Esse duplo homicídio foi o estopim da deflagração da Primeira Guerra Mundial.
Há 69 anos completados hoje, duas bombas atiradas em Hiroshima e Nagazaki, no Japão, selaram o fim da Segunda Guerra.
Milhões de pessoas morreram tanto na Primeira quanto na Segunda Grande Guerra.
Muitas músicas e filmes renderam e ainda rendem os dois conflitos.
Dentre todos, talvez o filme mais famoso e bonito seja Hiroshima, Meu Amor, do diretor francês Alain Resnais (1922-2014), que inspiraria o autor baiano Tom Zé (aí ao lado comigo, Jarbas Mariz e Arnaldo Xavier) a compor uma música com o mesmo título que o levaria à fama em 1968, após ganhar o principal prêmio do IV Festival de Música Popular Brasileira promovido pela TV Record. Detalhe, ele me contaria anos depois: “Jamais recebi o prêmio”.
Os fatos passam e ganham lugar na história.
Para lembrar, um trecho da canção de Tom Zé:

... Salvai-nos por caridade
Pecadoras invadiram 
Todo centro da cidade 
Armadas de ruge e batom 
Dando vivas ao bom humor
Num atentado contra o pudor
A família protegida
Um palavrão reprimido
Um pregador que condena 
Uma bomba por quinzena
Porém com todo defeito
Te carrego no meu peito...

Num encontro mais recente, eu e Tom

terça-feira, 5 de agosto de 2014

PRAÇA ALBERTO MARINO JR.

Dois anos e nove dias depois de partir para a eternidade, o paulistano Alberto Marino Júnior, autor da letra da valsa-choro Rapaziada do Brás, virou nome de praça em Uberlândia, Minas Gerais.
Algo parecido na capital paulista até agora, nada.
Seu pai, Alberto Marino, em vida foi homenageado com nome de rua em Itanhaém, no litoral de São Paulo.
Em seguida, no ano de 1967, Marino emprestaria o seu nome a um viaduto no bairro paulistano do Brás.
Alberto Marino Júnior estudou Direito como vários integrantes da sua família, incluindo Roberto que ontem à noite, por telefone, passou a notícia da homenagem póstuma ao pai, que chegou ao cargo de desembargador do Estado de São Paulo.
Como promotor público ele jamais perdeu uma sessão do Júri, mandando pra cadeia muitos marginais, como o que se tornaria famoso como Bandido da Luz Vermelha.
Alberto Marino era compositor, instrumentista e maestro, com programa de rádio em São Paulo dos anos 30/40 do século passado.
Ele tinha 17 anos de idade quando compôs Rapaziada do Brás, sem letra, gravada entre 1926/27 pelo grupo musical Bertorino Alma, do qual era líder.
A música virou um clássico, na sua forma instrumental.
Em1960, o cantor argentino naturalizado brasileiro Carlos Galhardo pediu ao autor que à melodia acrescentasse uma letra, tarefa que foi delegada ao filho Júnior.
A tarefa foi cumprida da noite para o dia, e de modo definitivo.
Viva os Marino@
Para ouvi-la clique:

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

FARO, BONI E NÉLSON RODRIGUES

A TV da Fundação Padre Anchieta tem uns programas muito bons, como o Roda Viva, Viola Minha Viola, Sr. Brasil, Ensaio e Móbile, sem falar dos documentários.
Ontem mesmo o Móbile – o Ensaio -, criado, dirigido e apresentado pelo mágico Fernando Faro, inovador da nossa TV, estava imperdível com o osasquense José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, falando sobre si e sobre a televisão brasileira que ele tanto tem ajudado na sua melhoria; primeiro pela Globo e em seguida pela Vanguarda, que já tem uma rede formada por mais de 70 afiliadas interior paulista a dentro.
Ver e ouvir Boni revelar que passou um ano inteiro trabalhando sem ganhar um tostão sequer do todo-poderoso Roberto Marinho é, no mínimo curioso; e que só depois é que passou a receber grana através de contrato de risco firmado com a Globo, além de curioso é estimulante. 
Apostar na vida é para profissionais.
Boni trabalhou de graça porque Roberto Marinho não tinha como pagar, até porque empenhara no negócio de TV a casa e até as cuecas, na própria expressão do Boni.
É gratificante também ouvir do Boni falas como esta: “Somos concessionários do serviço público. Nós temos responsabilidade social sobre isso aí”. 
E ele ainda falou que é sonhador, como Fernando Faro.
O programa seguinte a entrar no ar pela TV Cultura já na madrugada de hoje tratou da vida e trajetória profissional do pernambucano de Recife Nélson Rodrigues, também imperdível. 
Muito bem feito, o documentário destacou o autor de Bonitinha, mas Ordinária, como o mais importante dramaturgo brasileiro.
Nélson, que nasceu há 101 anos a se completar no próximo dia 23, foi jornalista, pensador e um frasista insuperável. São dele, por exemplo, estas pérolas:
- Toda mulher gosta de apanhar, menos as anormais. As neuróticas revidam.
- Toda unanimidade é burra.
- O dinheiro compra até o amor verdadeiro.
- Só o rosto é indecente. Do pescoço para baixo, podia-se andar nu.
- O jovem tem todos os defeitos do adulto e mais um: o da inexperiência.
E ainda tem aquele conselho dele aos jovens, na televisão.
Clique:
E O BRINCANTE, HEIN?
Foi muito bonita a concentração de pessoas de todas as idades no Parque do Ibirapuera, ontem à tarde. Chamou-se Brincada. Muitos artistas se apresentaram, tendo à frente o brincante dono da festa Antônio Nóbrega. Predominaram o canto e a dança do maracatu, com direito a cortejo que mobilizou um público graúdo estimado em dez mil viventes. 
O motivo dessa beleza, que se repetirá, é impedir que o Teatro-escola Brincante deixe a Rua Purpurina, como querem os tubarões urbanos do mercado imobiliário.
O Teatro-escola Brincante está há duas décadas na Rua Purpurina, 428.A luta continua.
O povo unido, jamais será vencido.
Viva o Brincante!
Viva o mágico da alegria Antônio Nóbrega! 

domingo, 3 de agosto de 2014

O FAZER POÉTICO DE VITAL FARIAS

O paraibano de Taperoá Vital Farias, antena viva e lúcida do nosso cotidiano, é dos raros artistas que têm garantido desde sempre um espaço especial na galeria dos que se diferenciam pelo estilo e postura na forma de compor e interpretar.
Vital é um violonista de formação erudita.
Ele marca pontos ao navegar com galhardia no mar revolto da intranquilidade, mas os tubarões da mediocridade urbana não o assustam.  
Fugir do fácil e da obviedade tem sido a sua meta, tanto que não há, no seu estilo e forma, como compará-lo a outros artistas.
O fazer musical dele é um fazer artesão e solitário.      
Paciente, ele investe no conhecimento e na arte.
O seu berço
tem base e apoio na cultura popular, daí a sua força.
Como poucos, ele sabe de cantador e cordelista.
Exemplo é o texto que me manda em versos de sete linhas formados por sete a onze sílabas, em que o 2º rima com o 4° e 7º e o 5º com o 6º e onde o 1º e o 3º não encontram guarida rimática.
Eis o texto:
A CHEGADA DE LAMPIÃO NO CÉU E O SEU RETORNO PARA O NORDESTE DO BRASIL. 

I
No tempo que eu era menino
Dormindo lá no Sertão
Eu sonhei que Virgulino
Chegava assim no Oitão
Da casa que nós morava 
Uma poesia recitava
Tudo em forma de Oração
II
Pedindo a Deus por seu povo
Com tanta Indignação
No seu choro ele dizia
Da cruel ingratidão
Que um seu irmão Nordestino
Cometera desatino 
Enganando a Multidão.!!
III
Quanto mais ele falava
Mas seu coração doía
Parecia uma fogueira
Precisando de água fria
Fome e sede de vingança
Eu comparo com uma Onça
Quando perde a sua Cria."!
IV
Dizendo não aceitar
(Nessa hora eu me comovo)
Um nordestino enganar
Essa Atitude eu não louvo
E depois se aproveitar
Pra depois Milhões Roubar 
Chupando o Sangue do Povo.!
V
Dizendo que confiava
Em cada um Nordestino
Foi o que o Pai lhe ensinava
Desde os tempos de menino:
"Clara e Gema se estranhar !!!!!
Pois, se a Casca se quebrar
Nem Deus consegue Colar!”!
""Cometeu um desatino."" !!
VI
No seu choro desmedido
Falava assim desse jeito
Dizendo:Oh Deus de Bondade
Sei que"Humano" não é perfeito
Mas ensina a perdoar
Se não eu vou desandar
E voltar do mesmo jeito.!
VII
Se eu perder minha cabeça
Conforme a Polícia quer
Vou me virar numa Besta
Vou virar um Lucifer
Mas não aguento Traição
Saiba que sou Lampião
Haja no mundo o que houver
VIII
Assim gemendo e chorando
Batendo de déo em déo
Lampião seguiu vagando
Foi cumprindo o seu papel
Fechou o Portão do Inferno
Disse assim: Oh Pai Eterno
Me Abra o Portão do Céu !
IX
E foi batendo na porta 
Nessa mesma ocasião
São Pedro tava sentado
Com a chave do Portão
Disse assim pra São Silvestre:
-Tem gente aí do Nordeste
Acho que é Lampião.!
X
Lampião entrou no céu
De Fuzil e cartucheira
E disse assim pra São Pedro:
-"Quero ouvir Muié Rendera !
Num vim aqui fazer fita
Cadê Maria Bunita !!
Eu num tô de brincadeira!"
XI
São Pedro tomou um susto
Desmaiou na mesma hora 
São Mateus deu logo um grito:
"Valei-me Nossa Senhora!"
-Me acuda Pai Eterno
Que o Céu virou inferno
Vou sair daqui agora!"
XII
Ao dizer essas palavras
Todo o Céu escureceu
Foi,chegando Jesus Cristo
E um clarão resplandeceu
Nessa hora Lampião 
Caíu de Joelhos no chão
-"Dizendo: ÉS FILHO DE DEUS!"
XIII
Ao se ajoelhar no chão 
Caiu num sono profundo
Jesus com essas palavras
Foi dizendo ao Moribundo:"
"Te levanta Lampião
Protetor és do SERTÃO,
Teu sentimento é Profundo.!"
XIV
- Jesus diz a Lampião:
"Tu foste Caluniado
Pelos poderes vigentes
Não fizeste mal algum
Tua alma é de inocente
Só castigasse o cruel
Inverteram o teu papel
Te fizeram de serpente"
XV
Jesus continua dizendo:
"È serpente venenosa
Gente que te calunia 
Também fui caluniado
Na presença de Maria
E na Cruz Crucificado.
Apanhando de soldado
Muito mais Mamãe Sofria. !"
XVI
Jesus com Indignação, diz:
-"Te levanta e Toma o Cetro
Tu és Um Rei Coroado
Teu valor é Bem Maior
Que qualquer Um Potentado
Vai Governar teu Sertão
Livrar da Humilhação
Todo Aquele Povo Honrado"!
XVII
Jesus Cria a Fábula da Raposa,,
Vou dizer mais uma fábula
Pra todo mundo escutar:
"A Raposa é bicho esperto
Na hora que quer Roubar
Mas se dormindo tiver
Um sujeito com um "*Quicé" 
Pode lhe desapontar !"
XVIII
JESUS CRISTO, condena a maldade do homem Traidor:
"Não existe nesse mundo 
Homem capaz de enganar
Mesmo sendo Poderoso
Qualquer dia, irá pagar
Não admito a Traição,
Dentro do meu coração
Pra ele não tem Lugar !"
XIX
Jesus dá um Conselho a Lampião e se despede com humildade:
Vá agora pro Brasil
Tomar conta do Nordeste 
E político que não Preste,
“Passe ele no Fuzil”.
Sei que lá tem mais de Mil
Se fazendo de Coitado..
São quase todos safados
Com ganância e Covardia
Reze pra Virgem Maria
E Um adeus do seu CRIADO.!
XX
E assim fui me acordando
Do Sonho quase Real
Minha mãe pro pai dizia:
Vamos acordar o Vital,
Que nem o Fogão tem Brasa,
Não tem Feijão, nessa casa.
Só tem um Restim de Sal&gt!
(fim)

sábado, 2 de agosto de 2014

O LUA E AS FASES DA LUA

Numa foto de 1978, em São Paulo, eu e o rei do baião Luiz Gonzaga
A lua no céu era Nova naquela manhã de 2 de agosto de 1989, uma quarta-feira.
Hoje, 25 anos depois, no céu a lua aparece na sua fase de Quarto Crescente.  
Para os gregos antigos, a deusa da Lua Nova atendia por Hécate e da Quarto Crescente, Ártemis.
Na Mesopotâmia, a Lua era uma deusa chamada Sin.
Na China, Kwan-Yin.
No mundo árabe, a Lua é a representação de Alá.
Os israelenses alinhavam a Lua ao povo nômade.
Jaci ou Cairê é como os nossos índios denominam a Lua, independentemente das suas fases, como a Cheia, que na velha Grécia era chamada de Selene, uma deusa, claro.
Para muitos, desde tempos imemoriais, a Lua sempre representou mitos, segredos e mistérios da vida – e da morte.
E por isso e muito mais a Lua sempre foi reverenciada e adorada pelos antigos, até como uma espécie de deus andrógino, como na Índia onde a Lua na sua fase crescente é Shiva.
No campo da cultura popular musical, os nordestinos brasileiros têm também uma espécie de deus baseado no satélite natural da Terra que tanta curiosidade e crença desperta: Luiz Gonzaga, chamado de Lua desde 1944, primeiro pelo carioca Horondino José da Silva, o Dino 7 Cordas (1918-2008), e depois por todo mundo graças à divulgação do ator e radialista Paulo Gracindo nos microfones da Rádio Nacional.
O Lua brasileiro morreu numa Lua Nova,
Vinte e cinco anos depois, pela crença católica, Gonzaga renasce na Lua Crescente, que é como a Lua aparece hoje no céu.
Aliás, dizem que é na Lua Crescente que se deve casar ou mudar, por ser para isso a melhor de suas fases.
Eu, que nasci numa Lua Crescente (27 de setembro de 1952, um sábado), casei noutra fase e dancei.
Pois é, viva o Lua!
E para lembra-lo, clique:


sexta-feira, 1 de agosto de 2014

AGOSTO É O MÊS DO FOLCLORE

O mês do folclore, que muita gente chama de mês do cachorro louco, começa hoje com comemorações em torno do Dia do Poeta de Cordel.
Folclore é uma palavra criada pelo arqueólogo inglês William John Thoms (1803-1885), que em 1846 enviou uma carta à revista The Atheneum, de Londres, sob o pseudônimo Ambrose Merton, na qual ele fazia referências a tradições e lendas do seu país. A carta foi publicada no dia 22 de agosto daquele mesmo ano. Não demorou e a data se transformou no Dia Internacional do Folclore.
Em anglo-saxão, folk significa povo e lore, conhecimento e tradição.
O estudioso da cultura popular Luís da Câmara Cascudo não gostava da expressão https://www.youtube.com/watch?v=5AoY8wZHIE4, mas essa é outra história.
O Poeta de cordel é como é chamado o poeta de bancada, aquele que escreve sem a marca da improvisação, que é a marca dos poetas repentistas, de viola, como Ivanildo Vila Nova, Sebastião Marinho e Oliveira de Panelas, entre muitos outros.
Os paraibanos Leandro Gomes de Barros e Silvino Pirauá de Lima (1848-1913) foram os pioneiros no campo da poética de cordel.
Leandro, que nasceu em 1865 e morreu em 1918, foi também o mais caprichoso e talvez o mais completo dentre todos os cordelistas brasileiros.
Há muitos bons autores de folhetos de cordel ainda hoje, como Mestre Azulão, os irmãos Klévisson e Arievaldo Viana, Marco Haurélio, Rouxinol do Rinaré, Pedro Costa, Varneci Nascimento, Beto Brito, Jorge Mello, Bule-Bule e até o mestre de mamulengo Valdeck de Garanhuns.
Existe até uma entidade no Rio de Janeiro criada há muitos anos para representar esses poetas, que é a Academia Brasileira de Literatura de Cordel, ABLC, cujo presidente é o cearense de Ipu Gonçalo Ferreira da Silva.
A literatura de cordel é um dos pilares da cultura popular, tema de um opúsculo (acima, reprodução da capa assinada por Ionaldo Cavalcanti) que publiquei em 1998 via Cia. Do Metropolitano de São Paulo – Metrô. escrevi .
Quer saber mais?
Clique, leia e opine:

quinta-feira, 31 de julho de 2014

E O BRINCANTE, HEIN?

O guloso e insaciável mercado imobiliário está engolindo tudo quanto é casa e mais o que pode para no lugar erguer gigantescas construções. A mansão do conde Francisco Matarazzo, na Avenida Paulista, ao lado do prédio da Gazeta, foi ao chão na calada da noite sem que ninguém e nem o chamado poder público impedissem.
Daqui a meses surgirá ali uma torre de 20 andares.
Antônio Nóbrega  em prosa comigo e Andrea Lago na sede provisória do Instituto Memória Brasil - IMB
Agora o alvo são pelo menos onze espaços teatrais da cidade, incluindo o casarão da Rua Purpurina, no Sumarezinho, onde o artista pernambucano Antônio Nóbrega construiu há duas décadas um dos templos da cultura popular brasileira, o Brincante.
Faz uns três meses que Nóbrega (aí ao lado) em visita ao acervo do Instituto Memória Brasil na sua sede provisória no bairro paulistano de Campos Elíseos, nos disse isso de modo muito preocupado.
A situação é mesmo preocupante, por isso está na hora de todos nos mobilizarmos para impedir que o mercado imobiliário continue com sua fome incontrolável destruindo espaços culturais e históricos.
No dia 13 de dezembro de 2005, poucos dias depois de o Congresso aprovar o projeto que inseriu no calendário de comemorações o Dia Nacional do Forró, em homenagem ao Rei do Baião, Antônio Nóbrega abriu as portas do Brincante e fizemos uma bela festa com Carmélia Alves, Anastácia, Socorro Lira, Oswaldinho e César do Acordeon, entre outros artistas.
CLIQUE:

quarta-feira, 30 de julho de 2014

HOMENAGENS A ARIANO SUASSUNA

Filho de Cássia e João, marido de Zélia e pai de Maria, Manoel, Isabel, Mariana, Ana e Joaquim que optou despedir-se da vida quando quis, há quatro anos, o poeta e romancista paraibano Ariano Suassuna, vítima de complicações provocadas por um ataque no coração há oito dias, continua sendo lembrado por artistas da cultura Popular, como Miguel dos Santos e Flávio Tavares http://g1.globo.com/pb/paraiba/jpb-1edicao/videos/t/edicoes/v/artistas-prestam-sua-ultima-homenagem-a-ariano-suassuna/3519272/; e cordelistas de várias partes do País, a exemplo de Klévisson Viana, Bule-Bule e Chico Salles.
Agora mesmo acaba de ser produzido um belo filme de animação intitulado A Peleja do Sonho com a Injustiça, oteirizado  e dirigido por Filipe Gontijo para a Fundação João Mangabeira, de Recife, sobre a trajetória e obra do escritor.
A narração é do compositor e cantor Lirinha, do extinto Cordel do Fogo Encantado, e a base musical o Martelo do Marco do Meio-dia, de autoria do homenageado e um de seus pupilos, o brincante Antônio Nóbrega.
Clique:
Os folhetos de cordel tiveram grande influência em toda a obra de Ariano, desde o seu primeiro texto publicado (para teatro), Uma Mulher Vestida de Sol, em 1947.
O seu último livro, O Jumento Sedutor, que durou 30 anos para ser escrito, deverá chegar às livrarias ainda este ano.
A escola de samba Unidos de Padre Miguel vai homenagear o Nordeste e Ariano Suassuna com um enredo especial no carnaval do ano que vem. Clique:

E para lembrar Ariano no Programa do Jô, clique:

terça-feira, 29 de julho de 2014

BOM DE COPO E GRAÇA

O Brasil está perdendo a graça, com o sumiço dos humoristas.
Já não temos um Oscarito, nem Mussuns, Zacarias ou Chicos Anísios com suas dezenas de personagens a nos fazer cócegas com qualidade no cérebro.
Hoje, aliás, está fazendo 20 anos que o carioca Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum, da trupe televisiva Os Trapalhões, morreu em decorrência de complicações surgidas durante uma malfadada cirurgia de transplante de coração em São Paulo.
Ele tinha 53 anos de idade quando isso ocorreu.
Antes de encarar o humor como sua profissão na TV Globo, Mussum – apelido dado pelo ator Grande Otelo, em 1965 – foi ritmista do conjunto musical Os Originais do Samba, que ele próprio criou e pelo qual era chamado de Carlinhos do Reco-Reco.
Mussum era um cara muito bem resolvido e humorado.
Pra ele não havia tempo ruim e a vida era uma festa, e para melhorar bastava ter um “mé” ao seu alcance.
“Mé” era como ele chamava cachaça.
Eu o conheci em São Paulo, na ocasião em que estava lançando pela extinta RCA Victor o seu primeiro LP individual, Água Benta, em 1978 (acima, detalhe da capa).
Por mais de uma vez tomei uns “mé” com ele em botecos da rua Dona Veridiana, onde se localizavam o escritório e estúdios da RCA na capital paulista.
Sim, Mussum era um bom companheiro de copo.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

LAMPIÃO, PERSONAGEM DA MPB

Passava um pouco das cinco horas da manhã de 28 de julho de 1938 quando a volante do tenente João Bezerra quebrou o silêncio da grota de Angico, em Sergipe, com o matraquear impiedoso de metralhadoras portáteis. Não houve tiroteio, houve uma chacina. As vítimas: Lampião e Maria Bonita e outros nove cangaceiros. Nenhum deles teve tempo de sacar suas armas para se defender. “Foi tudo muito rápido”, disse Ilda Ribeiro de Souza, a Sila de Zé Sereno, em longa entrevista ao programa São Paulo Capital Nordeste, que apresentei durante anos na Rádio Capital AM 1040, de São Paulo.
Sila lembrou que pouco antes do ataque dso policiais estava conversando amenidades com sua amiga e companheira de cangaço Maria Bonita, e que em certa ocasião chamou a sua atenção para uns pisca-piscas dentre a vegetação que avistava de momento em momento, mas que Bonita não deu importância, comentando:
- Liga não, Sila, são vagalumes.
A maior parte do bando conseguiu fugir, quem tombou foi degolado e as cabeças, como troféu, foram exibidas nas ruas da capital sergipana até serem levadas para o Museu Nina Rodrigues, na Bahia, onde permaneceram ao alcance dos visitantes até 1968, quando, enfim, foram sepultadas.
Até hoje continua em discussão a questão sobre se Lampião foi herói ou bandido.
No dia 19 de agosto de 2003, por nossa iniciativa o Rei do Cangaço foi levado a julgamento no Centro Acadêmico 11 de Agosto da Faculdade de Direito de São Paulo, por um júri popular http://www.anovademocracia.com.br/no-13/1009-juri-simulado-condena-lampiao?videoid=0q-NUQciUvk. Ele foi condenado a 12 anos de reclusão. Um mês antes, em consulta formal junto a usuários da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos, foi considerado herói.
Procurado por toda a polícia do Nordeste, o cabra era temido menos pela irmã Maria Ferreira Queiroz, a Dona Mocinha, uma senhorinha simples, incrível, que entrevistei há alguns anos para o programa Tão Brasil https://www.youtube.com/watch?v=ioS3GpIa7Kc
Ao contrário de Dona Mocinha, que morreu em fevereiro de 2002, a sua única filha, Expedita Ferreira Nunes, me disse com todas as letras:
- Eu tinha muito medo dele (Lampião). Quando ele ia me visitar, eu me escondia debaixo da cama.
Expedita nasceu no dia 13 de setembro de 1932, em Sergipe, onde mora.
Lampião há muito entrou para a história, inclusive da nossa música popular. É vasto o repertório que trata do personagem. A primeira música que o cita é do paulista Raul Torres: Bota a Mão na Roda, de 1934 (Columbia), que diz:

Oi minha gente vou deixar de ser carreiro
Me torná um cangaceiro
Pra brigá com Lampião
Eu vou comprá uma faca e um cravinoti
Pra mostrar pra esse coiote
Que eu também sou valentão...

Até um de seus companheiros, Volta Seca, chegou a gravar um disco inteiro só com cantigas do Cangaço (acima).

PRIMEIRA GRANDE GUERRA
Pois é, e exatos 24 anos antes de Lampião ser pego de surpresa na grota de Angico, um cara anônimo na Europa matava a tiros um cara famoso - e sua mulher - e dava início, assim, a Primeira Guerra Mundial, que durou quatro anos e quatro meses para acabar. Nesse período foram mortas pelo menos nove milhões de almas.
É a vida, que é de morte.

domingo, 27 de julho de 2014

A MORTE DOS RIOS

É muito triste ver um rio seco, um açude seco, uma cacimba seca e bois e cabritos magros soltos, sem pasto.
Quem não está acostumado e vê, chora.
Eu já vi muitos rios secos, açudes secos e cacimbas sem um pingo d´água; e também vi muita gente e bichos secos, sem tem o que comer.
Lembram-se daquele poema do Bandeira em que ele se surpreende ao ver alguém catando lixo e comendo lixo feito um cão, gato, rato, sem ser cão, gato nem rato, mas um homem?
Pois é, outro dia mesmo eu vi, com esses olhos que a terra há de comer (Augusto dos Anjos), um fiozinho d´água do Tetê, em Tietê, escorrendo timidamente pelas beiras e uns peixinhos pulando agoniados e outros boiando empanzinados por veneno industrial, mortos.
A cena umedeceu meus olhos e me levou aos versos de Maringá (Olegário Mariano e Joubert de Carvalho), na parte que diz:

...Antigamente
Uma alegria sem igual
Dominava aquela gente
da cidade de Pombal

Mas veio a seca
Toda chuva foi embora
Só restando então a água
Do caboclo quando chora...

Esses versos foram inspirados numa história que tem como personagem uma linda Maria, Maria do Ingá, vítima entre milhares da seca de 1932 que assolou o Nordeste inteiro, deixando para trás um rastro de dor, tristeza e morte.
Ingá é o nome de um município paraibano distante da capital cerca de 100 quilômetros e significa, ironicamente, na expressão de origem tupi-guarani “cheio d´água”.
A música de Carvalho e Mariano também faz referência a Pombal, no sertão da Paraíba e, territorialmente, a maior do Estado.

Tietê é uma cidade encantadora, localizada a 121 quilômetros da capital de São Paulo, berço de alguns dos mais importantes e representativos compositores brasileiros, como Marcelo Tupinambá, Cornélio Pires – também produtor pioneiro de discos independentes no nosso País -, Capitão Furtado (aí à esquerda, na reprodução da capa de um CD produzido pelo Instituto Memória Brasil, IMB) e Itamar Assumpção.
O rio Tietê deu nome a cidade em que esses artistas nasceram.
O Tietê, que nasce em Salesópolis e desemboca no rio Paraná, está morrendo; como também morrendo está o rio Piracicaba, que fica na mesorregião de Tietê.  
O que há em comum entre Pombal e Tietê?
Simples, o ano de fundação: 1842.
A canção Maringá, que nasceu de uma situação especial para agradar o paraibano José Américo de Almeida, ministro da Viação e Obras Públicas (1932-1934) do governo Getúlio Vargas, virou nome de cidade no Paraná, em 1947.
Tudo liga tudo, não é mesmo?


ROGÉRIO MOURÃO
O Brasil acaba de perder mais uma pessoa importante: o astrônomo Rogério de Freitas Mourão que, como Malba Tahan ajudou brincando a popularizar a matemática, fez as estrelas e os mistérios do céu ficarem mais simples e mais pertos de nós. Eu o acompanhava lendo os seus escritos primorosos no Jornal do Brasil. Pois é, e a cada perda dessas o nosso país fica meno. Ele partiu sexta, aos 79 anos de idade, deixado publicados 98 livros e mais de hum mil artigos publicados desde 1953, o primeiro deles na revista Ciência Popular.

POSTAGENS MAIS VISTAS