O REI: ...Então, meiga rainha?
A RAINHA: Tanto as desgraças correm, que se enleiam no encalço umas das outras. Vossa irmã afogou-se, Laertes.
LAERTES: Afogou-se? Onde? Como?
A RAINHA: Um salgueiro reflete na ribeira cristalina sua copa acinzentada. Para aí foi Ofélia sobraçando grinaldas esquisitas de rainúnculas, margaridas, urtigas e de flores de púrpura, alongadas, a que os nossos campônios chamam nome bem grosseiro, e as nossas jovens "dedos de defunto". Ao tentar pendurar suas coroas nos galhos inclinados, um dos ramos invejosos quebrou, lançando na água chorosa seus troféus de erva e a ela própria. Seus vestidos se abriram, sustentando-a por algum tempo, qual a uma sereia, enquanto ela cantava antigos trechos, sem revelar consciência da desgraça, como criatura ali nascida e feita para aquele elemento. Muito tempo, porém, não demorou, sem que os vestidos se tornassem pesados de tanta água e que de seus cantares arrancassem a infeliz para a morte lamacenta.
LAERTES: Afogou-se, dissestes?
A RAINHA: Afogou-se.
LAERTES: Querida irmã, já tens água de sobra; não te darei mais lágrimas. Contudo, somos assim, que a
natureza o obriga, sem que importe a vergonha; uma vez fora, deixou de ser mulher. Adeus, senhor. Com
as palavras, só chamas me sairiam, se não fosse apagá-las a tolice.
(Sai.)
O REI: Sigamo-lo, Gertrudes. Que trabalho me custou para a cólera acalmar-lhe! Receio que de novo a
explodir venha. Sigamo-lo, portanto.
(Saem.)
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quinta-feira, 25 de julho de 2024
INEZITA BARROSO, CAPIBA E ISMÁLIA
segunda-feira, 22 de julho de 2024
DIA 2 LANÇO LIVRO EM BRAILLE NO MEMORIAL
domingo, 21 de julho de 2024
LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (116)
Além de romances e contos, Júlia também encheu páginas e páginas de jornais de sua época com crônicas e poemas. Na verdade ela começou a escrever escondida do pai. Em março de 1905, João do Rio a entrevista para o suplemento O Momento Literário, em carta dominical do diário Gazeta de Notícias, do Rio. Júlia ao jornalista:
Pois eu em moça fazia versos. Ah! Não imagina com que encanto. Era como um prazer proibido! Sentia ao mesmo tempo a delícia de os compor e o medo de que acabassem por descobri-los. Fechava-me no quarto, bem fechada, abria a secretária, estendia pela alvura do papel uma porção de rimas...
De repente, um susto. Alguém batia à porta. E eu, com a voz embargada, dando volta à chave da secretária: já vai! já vai!
A mim sempre me parecia que se viessem a saber desses versos em casa, viria o mundo abaixo. Um dia, porém, eu estava muito entretida na composição de uma história, uma história em verso, com descrições e diálogos, quando senti por trás de mim uma voz alegre: — Peguei-te, menina! Estremeci, pus as duas mãos em cima do papel, num arranco de defesa, mas não me foi possível. Minha irmã, adejando triunfalmente a folha e rindo a perder, bradava: — Então a menina faz versos? Vou mostrá-los ao papá!
— Não mostres! — É que mostro!
— Vai fazê-lo zangar comigo. Não sejas má!
Ela ria, parecendo refletir. Depois deitou a correr pelo corredor. Segui-a comovidíssima. Na sala, o papá lia gravemente o Jornal do Comércio.
— Papá, a Júlia faz versos! — Não senhor, não lhe acredites nas falsidades! — Pois se eu os tenho aqui. Olha, toma, lê tu mesmo...
Meu pai, muito sério, descansou o Jornal. Ah! Deus do céu, que emoção a minha! Tinha uma grande vontade de chorar, de pedir perdão, de dizer que nunca mais faria essas coisas feias, e ao mesmo tempo um vago desejo que o pai sorrisse e achasse bom. Ele, entretanto, severamente lia. Na sua face calma não havia traço de cólera ou de aprovação. Leu, tornou a ler.
A folha branca crescia nas suas mãos, tomava proporções gigantescas, as proporções de um grande muro onde na minha vida acabara a alegria... Então, que achas? O pai entregou os versos, pegou de novo o Jornal, sem uma palavra, e a casa voltou à quietude normal. Fiquei esmagada. Que fazer para apagar aquele grande crime? No dia seguinte fomos ver a Gemma Cuniberti, lembra-se? Uma criança genial. Quando saímos do espetáculo, meu pai deu-me o seu braço. — Que achas da Gemma? — Um grande talento. — Imagina! O Castro pediu-me um artigo a respeito. Ando tão ocupado agora! Mas o homem insistiu, filha, insistiu tanto que não houve remédio. Disse-lhe: não faço eu, mas faz a Júlia...
Minha Nossa Senhora! Pus-me a tremer, a tremer muito. O pai, esse, estava impassível como se estivesse a dizer coisas naturais:
— Estamos combinados, pois não? O prometido é devido. Fazes amanhã o artigo.
Sei lá o que respondi! O certo é que não dormi toda a noite, nervosa, imaginando frases, o começo do artigo. Pela madrugada julgava impossível escrevê-lo, tudo parecia banal ou extravagante. Mas depois do almoço, antes de sair, o pai lembrou-me como se lembra a um escritor: — Vê lá, Júlia, o artigo é para hoje. Tenho que o levar à noite. Havia um jornal que exigia o meu trabalho. Era como se o mundo se transformasse. Sentei-me. E escrevi assim o meu primeiro artigo... Só mais tarde, muito mais tarde, é que vim a saber a doce invenção de meu pai.
O Castro nunca exigira um artigo a respeito da Gemma…
O Senado Federal publicou em 2020 um livro reunindo crônicas esparsas de Júlia Lopes de Almeida. Título: Ânsia Eterna.
Nesse livro, originalmente publicado em 1903, se acha o conto O Caso de Rute. É sobre uma jovem órfã de pai. A mãe se casa de novo e o novo marido abusa sexualmente da pequena Rute. Tinha ela 15 anos quando isso ocorreu. Os transtornos provocados pelo fato jamais foram superados pela personagem.
Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora
sábado, 20 de julho de 2024
HÁ 90 ANOS MORRIA O PADRE CÍCERO
O céu de Juazeiro do Norte, CE, amanheceu embaçado no dia 20 de julho de 1934.
Sobre árvores, pássaros trinavam menos do que dias anteriores.
De um lugar qualquer ouvia-se o canto agourento da acauã.
Nas proximidades do centro da cidade, um mar de pessoas formava-se diante de uma casa. Nessa casa morava "o santo padre" Cícero Romão Batista.
O corpo do padre Padin Cícero do Juazeiro jazia num leito, cercado pelos amigos mais próximos.
Portanto, hoje 20 completam-se 90 anos da morte do famoso padre.
Cícero nasceu no dia 24 de março de 1844. Teve vida atribulada, atribuladíssima. Chegou até a ser castigado pelo Vaticano que o proibiu de celebrar missas, batizar e casar fosse quem fosse. Isso foi provocado por uma suposta armação que resultou num "milagre". Tal milagre teria ocorrido quando o padre enfiava uma hóstia na boca de uma beata. Essa beata, Mocinha, inspirou o rei da embolada Manezinho Araújo a compor uma música para Luiz Gonzaga gravar.
Quatro anos, uma semana e um dia depois em Sergipe, o mais famoso bandoleiro do Nordeste: Lampião.
Virgulino Ferreira foi expulso de uma igreja em Juazeiro a bengaladas dadas pelo padre Cícero.
LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (115)
Os contos de Júlia Lopes de Almeida são fortíssimos como A Caolha, originalmente publicado no jornal argentino La Nación; Os Porcos, dedicado a Artur Azevedo e Os Conventos. Esse último trata de uma mulher que perde o marido e fica com as filhas para criar.
Com o passar do tempo, Artur Azevedo inspira-se num texto de Júlia (Reflexões de um Marido) para escrever uma comédia em três atos intitulada O Dote, em 1907. Essa peça o autor dedicou à escritora.
O enredo de Artur gira em torno do casal Ângelo e Henriqueta. Ambos são apaixonados.
Henriqueta é do tipo gastona, viciada em supérfluos. Isso leva o varão a tremer na base, prevendo a bancarrota. Preocupado ele procura o amigo Rodrigo, a quem pede conselho. E o conselho é: divórcio.
Machado de Assis foi também agraciado com uma dedicatória de Júlia. A dedicatória aparece no conto Perfil de Preta, escrita em 1903.
Perfil de Preta é a história de um triângulo amoroso, cuja vítima é um mulato de nome João Romão.
Entre os romances de Júlia destaco, além de A Viúva Simões, A Falência e A Intrusa.
O romance A Falência trata de um português que vem ao Brasil ainda jovem e pobre. Enriquece negociando café. Uma hora ele é tentado a investir na bolsa de valores americana. Começo do século 20. A bolsa quebra e com ela o personagem português.
A Intrusa conta a história de um advogado que depois de perder a mulher e ficar viúvo, promete nunca mais se casar. Mas há uma reviravolta. O viúvo tem um adolescente para criar e a casa para cuidar. Sozinho… É quando ele contrata uma governanta. E mais não digo.
sexta-feira, 19 de julho de 2024
EU SOU DO TEMPO DA PAZ E DO AMOR
quarta-feira, 17 de julho de 2024
O REBELDE CAMÕES


terça-feira, 16 de julho de 2024
CAMÕES NO MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA
segunda-feira, 15 de julho de 2024
A CULTURA POPULAR PERDE SÉRGIO CABRAL
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Clique para ler a reportagem de Tinhorão e Sérgio Cabral |
domingo, 14 de julho de 2024
VIVA CLARISSA!
![]() |
Clarissa |
LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (114)
Outra mulher que também abriu o coração e a mente para o sexo foi a goiana Cora Coralina, de batismo Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (1889-1985). Deixou uma obra pequena, porém resistente. É dela Pouso de Boiadas:
Conversa sem sentido.
Os homens estirados
nas redes e nos forros,
assuntam de mulheres...
- Fêmea. Erotismo de macho.
Palavreado obsceno.
(...)
Manelão canta sozinho.
Manelão canta baixinho.
Moda de mulher.
...Dola... Xandrina...
... o chamado obscuro, sexual.
(...)
Manelão canta em surdina,
Manelão canta baixinho,
Manelão canta sozinho
Toada de mulher.
Dola... Xandrina...
O rude chamado sexual.
A saga bárbara
dos boiadeiros.
Quatro anos depois de seu falecimento, foi lançado o LP Cora Coralina com 13 poemas, entre os quais: Velho Sobrado, Estas Mãos, O Cântico da Terra, Todas as Vidas e Meu Epitáfio, que diz:
Morta… serei árvore
Serei tronco, serei fronde
E minhas raízes
Enlaçadas às pedras de meu berço
são as cordas que brotam de uma lira.
Enfeitei de folhas verdes
A pedra de meu túmulo
num simbolismo
de vida vegetal.
Não morre aquele
que deixou na terra
a melodia de seu cântico
na música de seus versos
Num dos contos incluídos no livro Contos Novos (1947), o autor Mário de Andrade fala de dois jovens estudantes que sentem atração física mútua. Ainda nesse livro, Mário escreve a história que tem como personagens centrais Nízia e Rufina. Já falamos. O final desse conto é dúbio, como dúbio é o final do conto Frederico Paciência.
Enfim, quem transou com quem?
Amor e preconceito sexual sempre geraram discussões febris, no Brasil e noutras plagas.
A escritora inglesa Jane Austen (1775-1817), mostra isso no livro Orgulho e Preconceito, publicado pela primeira vez em 1813.
Nesse livro, Austen conta a história de um casal que tem cinco filhas prontas para se casar. A mãe, Sra. Bennet, faz tudo e muito mais para que suas belas donzelas não padeçam no poço profundo do caritó. A mais nova, porém, de 16 anos, foge de casa com um cara sem futuro. A partir daí o romance ganha força.
A leitura de Orgulho e Preconceito nos leva à cena rural onde tudo se passa. Lá a mulher solteira que saía de casa e não se casava logo caía na boca ferina do povo. Isso, para uma família bem constituída, era o pior que podia acontecer.
Maria Firmina dos Reis, boa no verso como Cora Coralina, foi a primeira brasileira a publicar um romance no Brasil. Úrsula foi levado à praça em 1859. Três anos depois nascia no Rio de Janeiro Júlia Lopes de Almeida.
Júlia, primeira e única mulher a participar das reuniões que resultaram na fundação da Academia Brasileira de Letras, ABL, foi a segunda mulher brasileira a escrever e a publicar um romance: A Viúva Simões.
O livro de Júlia, lançado em 1897, conta a história de uma mulher que perdeu o marido e por bom tempo passou a cuidar apenas da filha Sara, enquanto a criadagem cuidava das duas.
O isolamento da viúva, Ernestina, dura até o momento em que ela reencontra um namorado da adolescência. Esse, Luciano, de tanto atentar, finda por amolecer o coração da protagonista. O fim beira a tragédia.
Júlia Lopes de Almeida foi, até aqui, a escritora que mais contos e romances publicou. Seus títulos andam na casa dos 50.
Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora
sábado, 13 de julho de 2024
LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (113)
Maria Firmina dos Reis (1822-1917) foi uma professora do Maranhão e a primeira mulher a escrever um romance intitulado Úrsula (1859). Era abolicionista. Amor e paixão se misturam na história. Bonito, bem movimentado. Personagens negros. Era também poeta.
Discretíssima no comportamento pessoal, Maria Firmina abriu o coração para poucas paixões. Um exemplo disso é o poema Ela!, incluído no livro Cantos a Beira-mar:
Ela! Quanto é bela, essa donzela,
A quem tenho rendido o coração!
A quem votei minh’alma, a quem meu peito
Num êxtase de amor vive sujeito...
Seu nome!... não — meus lábios não dirão!
Ela! minha estrela, viva e bela,
Que ameiga meu sofrer, minha aflição;
Que transmuda meu pranto em mago riso.
Que da terra me eleva ao paraíso...
Seu nome!... Oh! meus lábios não dirão!
Ela! virgem bela, tão singela
Como os anjos de Deus. Ela... oh! não,
Jamais o saberá na terra alguém,
De meus lábios, o nome que ela tem...
Que esse nome meus lábios não dirão.
Esse poema tem tudo a ver com amor feminino, entre uma mulher e outra. Apesar disso, não chamou a atenção de ninguém. Quer dizer: embora tabu, o tema aqui abordado por Firmina dos Reis não provocou espanto nem polêmica.
Essa poetisa, de origem maranhense, morreu pobre e cega na casa de uma amiga no ano de 1917.
sexta-feira, 12 de julho de 2024
EM CAMPO, FUTEBOL E CEGUEIRA
Se são milhares de agremiações esportivas Brasil afora, imaginemos agora a quantidade de agremiações esportivas no mundo todo. E referi-me aqui apenas aos times de futebol.
Dito isso, pergunto: quem aí pode me dizer quantos profissionais de futebol existem no Brasil?
Além dos profissionais aos milhares, existem os candidatos a profissionais de futebol.
A verdade é que são poucos os profissionais que ganham muito. O resto é lanterna, lanterninha, apagada.
Confesso que já faz tempo que não dou bola ao futebol.
Noutros tempos eu estaria ligado aos grandes campeonatos.
Domingo que vem Espanha e Inglaterra disputam o final da Eurocopa em Berlim, Alemanha.
Eu estaria também ligado à finalíssima da Copa América no domingo que vem em Miami, entre as equipes da Argentina e Colômbia.
E a Seleção Brasileira por onde anda, hein?
A verdade é que o nível do futebol não anda bem, principalmente no tocante aos nossos profissionais...
Agora fico imaginando coisas de ontem, do passado.
Lembro que gostei de ver a Seleção Canarinho, em campo, em 70. Foi um show. Todos botaram pra quebrar. Muitos já partiram, entre os quais Pelé.
Tostão, de batismo Eduardo Gonçalves de Andrade, tinha 26 anos de idade quando brilhou em Guadalajara e lugares outros. Curioso e lamentável foi o fato de ele estar jogando com a retina esquerda desabando.
Três anos depois da Copa 70, Tostão perdeu completamente a visão esquerda.
São muitos os atletas que atuam cegos põe aí afora.
Em 1920, na Espanha, cegos começaram a praticar futebol em campo. No Brasil, isso ocorreria trinta e poucos anos depois.
Organizados, cegos criaram o Futebol de 5.
O Futebol de 5 parece um pouco com Futebol de Salão.
O Brasil tem um tricampeão nessa modalidade. Seu nome é Ricardinho, gaúcho.
Até um técnico de futebol cego nos temos: Márcio Bastos Moreira.
Ricardinho ficou cego aos seis anos de idade, vítima de glaucoma.
O Márcio sofreu descolamento de retina.
quinta-feira, 11 de julho de 2024
A CEGUEIRA NÃO É O FIM
Na infância conheci bons professores e professoras e gente mais da lida cotidiana.
Conheci gente de todo tipo, enquanto ganhava forma e mais vontade de viver.
Aprendi muita coisa com pessoas de profissões diversas portadoras de saber.
Entre a gente que conheci se acham cordelistas e cantadores de viola.
No mundo da sabedoria se acham pessoas fisicamente tortas e desprovidas de visão via olhos.
Quem já não ouviu falar da obra do grande gênio mineiro Aleijadinho?
Quem já também não ouviu falar do cego Homero dos tempos gregos, autor de Ilíada e Odisséia.
E Camões, hein?
Camões perdeu um dos olhos e continuou a ver as coisas da vida...
O argentino Jorge Luis Borges, escritor de grande categoria, seguiu fazendo história depois de pelos olhos nada mais ver.
Mais pra cá surgiram cegos Aderaldo, Sinfrônio...
Não conheci pessoalmente nenhuma dessas pessoas, mas conheci Patativa do Assaré, José Ramos Tinhorão, Paulo Vanzolini, Luiz Gonzaga.
O poeta Patativa perdeu os olhos nos seus tempos de infância no Assaré, CE.
O jornalista Tinhorão, estudioso da nossa música, deixou que lhe escapasse a visão de um olho.
Quando eu próprio estava para perder os olhos, o cientista e compositor bissexto da boa música pediu que eu o olhasse bem nos olhos. E perguntou: "Está vendo aqui, no olho esquerdo, por ele já não vejo nada".
O sanfoneiro Luiz Gonzaga, Rei do Baião, perdeu o olho direito num acidente de automóvel.
Nunca, em nenhum momento, ouvi dessas pessoas qualquer lamentação referente à visão parcial ou total perdida. Ao contrário, até brincavam.
Pouco tempo antes de elevar-se às nuvens, em tom de galhofa, disse-me Tinhorão: "Estou ficando que nem você. Daqui a pouco vamos estar dois ceguinhos andando tontos pelas ruas".
E Lampião, hein?
quarta-feira, 10 de julho de 2024
TODO DIA É DIA DE CUIDAR DOS OLHOS
Dos mais de oito bilhões da raça homosapiens, pelo menos 1,2 bi vive com algum grau de deficiência visual. Desse total, cerca de 300 milhões de homens e mulheres, mais mulheres, não vê um milímetro à frente do nariz. Ou seja: é uma multidão que vive totalmente cega.
No Brasil, o número de pessoas totalmente cegas se acha na casa dos 500 mil.
Os números globais referentes a cegos e cegas são da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Os números tocantes ao Brasil, referentes ao mesmo problema, são disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Por que venho eu cá com esses números?
Hoje 10 é o Dia Mundial da Saúde Ocular.
A data foi criada com o propósito de tomarmos vergonha na cara para a cara ficar mais bonita com os olhos distinguindo cores e sorrindo.
Eu cuidei muito bem dos meus olhos, mas mesmo assim fugiram de mim. Descolamento de retina e coisa e tal.
Existem centenas de doenças d'olhos.
E aí o jeito é seguir a vida criando novos caminhos.
Descobri que há vida além da cegueira.
terça-feira, 9 de julho de 2024
SÃO PAULO DE PERNAS PRO AR
Hoje 9 é feriado em São Paulo.
O feriado paulistano deve-se à Revolução Constitucionalista ou Revolução de 32, como também ficou conhecido o levante do povo de São Paulo contra Getúlio Vargas e o seu governo. Durou pouco tempo, mas deixou expressivo saldo de mortos e feridos.
A revolta do povo de São Paulo perdura até os dias de hoje, tanto que não existe nenhuma rua, avenida, praça, monumentos e coisa e tal em nome do velho caudilho gaúcho. Oficialmente, claro.
A FGV, Fundação Getúlio Vargas, é uma entidade de constituição particular.
O dia 9 de julho, hoje, marca também a fundação da Sala São Paulo.
A Sala São Paulo, instalada ali no que foi a gare da estação ferroviária da Luz, foi criada no governo Montoro. Isso exatamente há 25 anos, ou seja, há um quarto de século.
Franco Montoro foi um governador que deu muita atenção às artes e artistas.
Antes de criar a Sala São Paulo, Montoro cuidou de reerguer o Teatro São Pedro. Esse teatro foi construído por um jovem empresário português e entregue aos paulistanos em 1917.
Hoje, em Campina Grande, PB, será sepultado o corpo do cantor e compositor paraibano Biliu de Campina. Tinha 75 anos de idade quando morreu ontem, num hospital campinense. Não era casado e nem deixou filhos.
Biliu gravou vários discos, incluindo dois LPs.
Biliu de Campina |
segunda-feira, 8 de julho de 2024
VIVA PROCÓPIO FERREIRA!
domingo, 7 de julho de 2024
LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (112)
No livro Contos Amazônicos (1893), Sousa nos apresenta uma curiosa personagem: Maria, no conto Amor de Maria. No texto o autor conta a história de uma jovem muito bonita que finda por apaixonar-se por um desconhecido que de repente chega à cidade onde ela vive. O cara é do tipo bonitão, enxerido, disputado pelas moçoilas. O caso termina em morte.
O primeiro livro de Inglês de Sousa foi O Cacaulista, publicado em 1876.
Os textos inseridos no Contos Amazônicos não são, grosso modo, contos. O último, O Rebelde, por exemplo, é memorial. É texto em que o autor encontra na infância a morte do pai e tal. Nesse texto há momentos muito fortes:
Paulo da Rocha pareceu hesitar algum tempo, mas um novo gesto de meu pai, cheio de uma desesperada energia, o decidiu. Carregando-me ao ombro com um vigor incrível, pôs-se a
correr para o quintal, donde em breve saímos pelo portão, apesar das minhas súplicas e dos esforços que fazia para que me deixasse.
Bem compreendia eu que era a última vez que via a meu velho pai, e doía-me abandoná-lo naquele supremo momento.
Durante algum tempo andou Paulo da Rocha dando voltas pela vila, até que chegamos ao porto. Na extremidade da vila, em uma enseada, estava uma canoa, e nessa canoa se achavam três pessoas: Padre João da Costa, minha mãe e Júlia.
Caí nos braços de minha mãe que me recebeu soluçando. Depois da primeira efusão, minha mãe perguntou:
— E teu pai?
Lágrimas foram a única resposta que dei. Para fazer diversão a esta cena, o pernambucano empurrou a canoa, saltando dentro dela, e armando-se do mará exclamou em voz que procurou tornar alegre.
— Agora, fujamos!...
Perguntar, não custa: quem foi o pioneiro do Naturalismo no Brasil, Aluísio de Azevedo ou Inglês de Sousa?
Bom, não digo. Porém a mim não custa dizer que o francês Émile Zola (1840-1902), foi o criador do movimento naturalista. O cabra era bom em verso e prosa.
Em 1890, o maranhense Aluísio de Azevedo publicou o romance O Cortiço. Obra-prima sobre a qual já falamos.
Em 1890, a contista e romancista carioca Júlia Lopes de Almeida publicou o livro Memórias de Marta. A história toda, quase toda se passa num cortiço.
O livro de Júlia é o primeiro na nossa historiografia literária que rola num cortiço. Pois, pois.
Em 1964, a escritora Lygia Fagundes Telles abordou a temática religiosa no livro Verão no Aquário, no qual cria um nervosíssimo triângulo amoroso entre a mãe Patrícia e a filha Raíza, com o seminarista André. O caso de Lygia dói nos nervos, é tenso, como só ela sabia fazer. Aliás, esse foi o primeiro livro de uma escritora brasileira abordando essa temática, no século 20. No fim o padreco se mata, cortando os pulsos.
Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora
sábado, 6 de julho de 2024
LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (111)
O Missionário, romance do paraense de Óbidos Herculano Marcos Inglês de Sousa (1853-1918), trata de um religioso que resiste o quanto pode aos clamores da carne. Seu nome: padre Antônio de Morais.
O padre de Inglês de Sousa é um idealista, mas passa a duvidar dos seus princípios quando jovens raparigas o assediam na paróquia que é titular.
A história se passa numa fictícia cidade chamada Silves, localizada nas brenhas do fim do mundo amazônico.
Antônio deixa Silves para reencontrar no coração da floresta uma razão para resgatar a firmeza que tinha na carreira sacerdotal. Porém quanto mais foge para se reencontrar, se perde. À pág. 145 do livro de Sousa, diz o narrador:
… Então ele, saindo de uma luta suprema, silencioso, com um frio mortal no coração, com o cérebro despedaçado por um turbilhão de sentimentos contrários, atirou-se à moça, agarrou-a pela cintura e mordeu-lhe o lábio inferior numa carícia brutal. Foi breve a luta. A neta de João Pimenta caiu exausta sobre o tapete de folhas úmidas do orvalho, douradas pelo sol. Entre os ramos dos cacaueiros os passarinhos sensuais cantavam…
O personagem aí não é outro senão o padre Antônio.
Foi publicado em 1891, tornando o autor mais apreciado pelos leitores e crítica.
ADEUS LAÉRCIO DE FREITAS!
A vida é uma caixinha de surpresas. Pois, pois.
Na última quinta 4, Paulo Garfunkel, o Magrão, falava comigo sobre o pianista paulista de Campinas Laércio de Freitas.
Essa conversa foi ali pelos começos da tarde de anteontem.
No começo da tarde de ontem 5 ouço no rádio notícia dando conta da morte de Laércio. Estou pasmo até agora.
Laércio Freitas tinha 83 anos de idade quando a Megera o levou. Nessa hora ele se achava dormindo como dormindo também partiram Charles Chaplin, Manezinho Araújo e Zuza Homem de Melo.
Manezinho, o Rei da Embolada, era amigo meu, como amigo meu era o colega jornalista Zuza Homem de Melo.
Pois é, a vida é de morte.
GUERRA PAULISTA
Era um sábado como hoje o dia 5 de julho de 1924, quando São Paulo acordou com gritos e ruídos incomuns até então provocados por manobras militares nas ruas da cidade. À frente desses ruídos todos se achava o general de brigada gaúcho Isidoro Dias Lopes. Esse general comandava o repúdio dos militares contra o presidente Artur Bernardes.
Bom, a revolta de São Paulo em 1924 durou 23 dias.
Não custa lembrar que os revoltosos, pelo menos parte, reforçaram a Coluna Prestes que seria gerada no Rio Grande do Sul em abril de 1925.
quinta-feira, 4 de julho de 2024
VIVA IRENE DIAS CAVALCANTI!
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