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domingo, 26 de novembro de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (55)

Lê-se na apresentação do livro História dos Grandes Bordéis do Mundo, de Emmett Murphy, o seguinte: 
"Em meados de 1970, na maior cidade da América, na capital mundial do entretenimento, foi elaborado um plano para abrir o maior bordel dos Estados Unidos. 
O estabelecimento deveria ficar situado a poucos passos do Times Square: segundo as estimativas, o local é frequentado anualmente por dezesseis milhões de visitantes, tanto turistas como participantes de congressos, que geram um movimento anual de 5 bilhões de dólares...".
A exploração do lenocínio sempre rendeu muito dinheiro, em qualquer tempo e lugar. E quem menos ganha nessa história é a mulher que abre as pernas. 
O que se sabe com certeza é que vem de tempos imemoriais o uso do corpo como mercadoria. 
Já no início do primeiro capítulo do seu livro, Murphy escreve:
"Estamos em 1200 a. C. Na Ásia os chineses estão publicando um dicionário de 40 mil caracteres. Na Ásia Menor, os gregos estão sitiando Tróia. No Mediterrâneo os fenícios constituem o principal poder comercial. No Egito, são promulgadas as primeiras leis regulamentando a venda de cerveja. E na Terra Santa, Josué está prestes a atacar a cidade de Jericó...".
Jericó é uma cidade palestina localizada na Cisjordânia. É das mais antigas do mundo. Por lá andou Cristo.
Na Bíblia há a informação de que Josué, depois de comandar uma matança em Jericó, casou-se com uma prostituta de nome Rahab.
O Velho Testamento apresenta algumas pistas para se ir a lugares em que mulheres de má fama atendiam os estímulos sexuais de homens de boa fama, casados e tal.
Pois é, no tocante a essa questão, a história ainda se acha muito distante de nós. Nebulosa.
Os portugueses trouxeram para o Brasil além de folguedos populares, ditos que caíram facilmente na boca do povo. Um desses é "casa da mãe Joana".
Você não sabe o que é casa da mãe Joana?
Essa expressão, surgida lá pelo século 14, talvez na França, tem por significado um lugar ou local em que a desordem é uma constante. Desordem no sentido de desarrumação, bagunça etc.
Outra versão dessa expressão tem a ver com uma cafetina muito "bondosa" que tratava as prostitutas como uma mãe. Chamava-se Joana.
A prostituta Rahab era independente. Atendia a "clientela" em casa, como tantas e tantas fazem até hoje nos pequenos e grandes centros.
Mas, enfim, o papo aqui é bordel. 
Não sei como se fala ou se escreve bordel em grego.
Há uns seis séculos antes de Cristo, o governador de Atenas era Sólon não sei de quê. Era grandão e integrava o grupo fechado de meia dúzia de sábios idolatrados pelos gregos.
Naquela época, gregos tarados pegavam mulheres na rua. Era uma esculhambação, uma zona só! Foi quando Sólon chegou pra dar um basta e pôr ordem na desarrumação. 
Àquela altura, Sólon tentava a todo custo resolver problemas de ordem financeira que estava enfrentando. E aí ele delimitou espaço para a prática da prostituição remunerada. 
O curioso nesse caso é que o Estado recebia uma porcentagem do faturamento do que hoje chamamos lenocínio. 
Como se vê, não é de hoje que se faz ou se tenta fazer o que se fez lá atrás, na Grécia.
Há até os dias atuais cidades mundo afora que têm ambientes reservados para exploração sexual: Rio, São Paulo...
No Rio existiu um bordel muito famoso chamado Casa Rosa. Começou nos anos 40 e seguiu anos adentro. Ficava em Laranjeiras. Foi tombada e virou centro cultural. Até um filme virou. Título: Pretérito Perfeito, em cujo elenco entrou o compositor e cantor roqueiro Lobão. 
Tão famosa como a Casa Rosa foi a boate La Licorne. Funcionou na capital Paulista, entre 1965 e 1991. Ficava na Vila Buarque.
O título dessa casa remete à figura mitológica do Unicórnio, que nas páginas da história aparece como uma espécie de cavalo com um corno na testa.

(CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO…)
Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 25 de novembro de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (54)

Em que lugar, na história, surgiu o primeiro bordel? Teria sido na Grécia ou em Roma, na China ou Japão, na Índia ou Egito?
Num livro há informação de que surgiu na Grécia, noutro em Roma e assim por diante.
Na verdade, na verdade, ninguém sabe ao certo onde e quando surgiu o primeiro bordel. Mas ainda é o caso de se perguntar: em Sodoma ou Gomorra? Há 2 ou 3 mil anos?
A História de Sodoma e Gomorra é contada e recontada de todas as formas no Teatro, no Cinema e em livros, como fez Sade em 120 dias de Sodoma ou a Escola da Libertinagem. É um livro muito louco, escrito em 1785. Romance no qual algumas dezenas de pessoas se juntam num castelo ou algo parecido para fazer o que os capetas do inferno fazem: putaria de todos os níveis, incluindo masoquismo. Ninguém sai ileso dessa história. E nem o leitor.
Sade de católico não tinha nada.
A Bíblia conta que Deus mandou fogo e o diabo a quatro para acabar com Sodoma e Gomorra e mais duas cidades de população pecadora. 
Sodoma e Gomorra que ficavam no Oriente Médio, foram destruídas centenas de anos antes de Cristo. 
Pompéia, que pertencia a Roma, implodiu poucos anos depois de Cristo. Num piscar d'olhos.
Arqueólogos descobriram restos de Pompéia. Nesses restos havia rastros pontilhados com o que seriam representações de falos indicando como chegar ao que chamamos hoje de casa de tolerância. 

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

O PAPA, LULA E TERROR. E AÍ?

O Papa Francisco disse que o Hamas é terrorista. Disse também que o reverso é Israel.
Israel está fazendo o que o Hamas começou, há um mês e meio.
O noticiário dá conta de que o Exército israelense já matou mais de 15.000 palestinos, incluindo gatos pingados do Hamas. O mesmo noticiário internacional dá conta de que as baixas israelenses são, desde o fatídico 7 de outubro, 1.200 pessoas.
Tem muita coisa errada nessa história. 
O que o Papa disse sobre o Hamas e Israel, Lula já tinha dito ali pelo dia 8 ou 9 do mês passado. 
Hoje 24, caminhões com víveres e tal estão chegando a quem ainda está vivo na Palestina.
O grupo extremista Hamas soltou 30 e poucos reféns, dos 240 sequestrados. Em troca, Israel tem de soltar pelo menos 150 palestinos, entre crianças e mulheres. 
No começo dos anos 1980, Israel homenageou a brasileira Aracy.
Aracy Moebius de Carvalho Guimarãe Rosa (1908-2011), no caso, era viúva do escritor mineiro João Guimarães Rosa (1908-1067).
A homenagem deveu-se ao fato de dona Aracy, que era paranaense do Rio Negro, ter salvado centenas e centenas de judeus das garras de Hitler. À época, a viúva de Guimarães Rosa trabalhava no consulado de Hamburgo, Alemanha. 
Entrevistada sobre o assunto, dona Aracy disse apenas que agira certo, com justeza.

domingo, 19 de novembro de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (53)

Não será ou seria exagero dizer que entre tantos profissionais de áreas diversas se acha o psicanalista alemão Sigmund Freud (1856-1939). Não foi Freud que certa vez disse que "Vivemos sob o princípio do prazer"?
Rétif de La Bretonne foi um cara que despertou antipatia e discussão, amor e raiva. O seu tempo foi o tempo do Iluminismo. Brilhou. Era poeta bissexto, político sem grande expressão, mas tinha lá seus admiradores. Não foi vítima nem algoz da Revolução Francesa. Era, digamos, um defensor dos oprimidos e dos vagabundos de rua. Pelas narrativas, era um devasso. Teve centenas de mulheres e um número expressivo de filhos, embora não se saiba exatamente quantos. Espécie de Casanova?
É possível que Casanova tenha inspirado Kierkegaard a escrever o Diário de um Sedutor, que no rigor do termo é uma bobagem. 
Tinhorão, no seu texto para o Diário Carioca, lamenta que o nome de Bretonne não fosse ainda conhecido no Brasil.
Em 1989, o diplomata e ensaísta carioca Sérgio Paulo Rouanet (1934-2022) publicou pela Companhia das Letras, SP, o livro O Espectador Noturno, com o subtítulo A Revolução Francesa através de Rétif de La Bretonne no qual discorre sobre a vida e obra deste autor. O destaque é para a política, mesmo assim afirma que "Rétif é dominado pelo fantasma da paternidade e, se defende o incesto, é em parte porque ele permite a cada família produzir um número ilimitado de filhos. Nisso ela se distingue do aristocrata Sade, que representa o consumo, e não a produção, que defende o incesto na perspectiva do consumidor - fonte de gozo, e não de filhos - e que de resto advoga a sodomia porque ela constitui um freio para a natalidade".
Para se contrapor ao livro Justine, de Sade,
Bretonne escreveu e publicou o livro Anti-Justine. No seu livro Sade falava de política social, criando uma personagem que perde os pais prematuramente e sofre todas as injustiças possíveis que alguém possa sofrer. Mas ao fim dessa história, o bem vence o mal. Enquanto isso, na vida real, Bretonne soltava o tesão e refestelava-se na cama com quem estivesse mais próximo. Por isso e outras coisas foi que José Ramos Tinhorão encerra seu artigo para o Diário Carioca dizendo que:
"Rétif de La Bretonne precisa ser lido novamente. O precursor do romance realista, que Lavater, o criador da fisiognomonia, chamava de 'Richardson francês' - embora outros preferissem chamá-lo de 'Voltaire das criadas de quarto' - não faria má figura, num tempo onde ainda se vende tanto as Confissões de Rousseau e as Memórias de Casanova".
Na vasta obra de Bretonne destacam-se vários títulos, entre os quais Le Palais-Royal, Le Paysan et La Paysanne Pervertis, As Noites Revolucionárias e Anti-Justine.
A sua biógrafa Elizabeth Lorenzotti, Tinhorão disse alto e bom som: 
"Fui eu quem, muitos anos antes de Sérgio Rouanet, revelou o Rétif de La Bretonne, grande ícone da literatura  libertina francesa, e um cronista da Revolução".
A vida e obra de José Ramos Tinhorão tem conteúdo e são extensas. Atuou em vários
jornais e revistas, ora com contrato fixo ora como freelancer. Como free chegou a publicar na revista Chuvisco e no Jornal dos Sports. 
Em maio de 1965, Tinhorão publicou no Jornal dos Sports o artigo As Dúvidas do Gênesis ou a Gênese da Dúvida. Na página onde aparece esse texto, aparecem também propagandas das extintas boates Pigalle e Moulin Rouge. E mais uma: da rádio Mayrink Veiga anunciando na programação a presença do seu astro rei do baião Luiz Gonzaga. 
E Tinhorão não bastou-se nos jornais e revistas do Rio, também apresentou um programa de entrevistas, Tudo é Música, na TV Brasil.
No cinema, Tinhorão aparece curiosamente como um dos personagens de Nelson Rodrigues. O filme, Asfalto Selvagem, deu o que falar. A respeito da "participação" de Tinhorão, o jornalista Ruy Castro escreveu no livro O Anjo Pornográfico:
"O futuro historiador da música popular, José Ramos Tinhorão, então copy desk do Jornal do Brasil, era mostrado como um jovem sátiro a bordo de um calhambeque e mantendo um caderninho onde anotava os nomes de suas conquistas - a maioria das quais iludia com a promessa de que Accioly Neto mandaria fotografá-las para a capa de O Cruzeiro".
Tinhorão gostou.

Foto e reproduções por Flor Maria e Anna da Hora

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

VAMOS FALAR DE BOA MÚSICA?

Assis Ângelo e Manezinho Araújo 
Sempre bom falar do que é bom, principalmente do Brasil. Somos ricos em música, literatura, cinema, dança, teatro, do popular ao erudito e tudo o mais.
É grande o número de cantoras e cantores e recomendo uma visita à obra de Manezinho Araújo, Carmem Costa, Maria Bethânia e por aí!
Manezinho Araújo, com quem tive a alegria de partilhar a amizade, deixou uma obra musical muito significativa. Neste ano de 2023 completam-se 90 anos da primeira gravação de de Manezinho em disco de 78rpm..
Além de emboladas, Manezinho gravou sambas, toadas, canções e outros ritmos.
Carmen Costa foi uma cantora muito importante para a nossa música. Cantava com alegria, extraíndo da garganta a beleza da sua alma. Nasceu em 1920. Eu a entrevistei. Perguntei sobre Luiz Gonzaga, Rei do Baião. 
A primeira cantora a gravar Luiz Gonzaga foi Carmen Costa. Dele gravou dois chorinhos.
E Bethânia? 
A filha de dona Canô é irmã de Caetano, recebeu na pia batismal o nome de Maria Bethânia por causa de uma canção de mesmo nome composta pelo pernambucano Capiba.
É bela e rica a cultura musical popular do Brasil.
É isso. Acesse:

terça-feira, 14 de novembro de 2023

BAMBAS NEGROS DO BRASIL. VIVA!

Os negros no Brasil tem uma história própria, além do período terrível de escravidão que viveram no Brasil até recentemente. Claro, antes de 1888 a situação era muito pior. Mas ainda sim problemas graves ainda atingem a vida dos brasileiros e brasileiras negros.
A maior parte da população brasileira é constituída de negros e pardos. 
O cantor pioneiro da nossa música popular, Manuel Pedro dos Santos, era negro. Sua primeira gravação em disco ocorreu em 1902. A música era um lundu intitulada Isto é Bom. O autor dessa música, também ator e autor de teatro, era negro e tinha por nome Xisto Bahia. Esses dois artistas nasceram em Santo Amaro da Purificação, mesmo berço de Caetano e tal.
Na mesma leva de intérpretes pioneiros da nossa música também se acha Cândido das Neves. Antes de cantor, Neves era palhaço de circo. Negrão, alto e dono de dentes alvíssimos. A história conta que esse Neves era cheio de onda, engraçado, admirado e desejado pela mulherada.
Cândido das Neves, carioca, é um dos personagens do jornalista João do Rio. Passeia no livro A Alma Encantadora das Ruas.
João do Rio, pioneiro no jornalismo, era baixo, fofinho e negro. Foi o mais novo integrante da Academia Brasileira de Letras, ABL.
Tudo que João do Rio escreveu e deixou em livro, principalmente, vale a pena ler.
Sou, confessadamente, um apaixonado por João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto. Em sua homenagem, perdi a vergonha e compus Embolada pra João do Rio. A gravação é da dupla Cajú e Castanha. Ouça:

ESTÃO NO CÉU

Eu não disse, mas digo agora: o craque da graça e da música Cândido das Neves nasceu no dia 24 de julho 1899, mesmo ano em que a maestrina Francisca Edwiges Neves, mais conhecida como Chiquinha Gonzaga, compunha a primeira marchinha de Carnaval, a famosa Ó Abre Alas. E morreu num dia como hoje em 1934.
E Zé Kéti, você sabe quem foi Zé Kéti?
Zé Kéti (acima, com Assis) foi um dos mais importantes compositores de música de Carnaval do nosso País. Nasceu em 1923, no Rio e morreu em 1999. Agora façam as contas: se Cândido das Neves nasceu em 1899, quantos anos passariam para que o bamba Zé, também morresse?
Viva os bambas!

domingo, 12 de novembro de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (52)

Diário Carioca
José Ramos Tinhorão era um jornalista dono de uma bagagem intelectual invejável. Era um erudito, podemos dizer. Saia-se bem em espanhol, italiano, inglês e francês, que conseguia falar sem sotaque e escrever sem erros gramaticais. Deixou publicados 29 livros, todos tratando a fundo sobre música popular, o primeiro (Música Popular - Um Tema em Debate) lançado em 1966.
Era propósito de Tinhorão fechar o ciclo de pesquisas que iniciou em fins dos anos de 1940 com um livro sobre licenciosidade ou "putaria", como dizia fazendo graça aos amigos mais próximos. 
Ele achava um barato e como tal respeitava os cordelistas, também chamados de "poetas de bancada". 
De fato, os cordelistas são grosso modo bastante inspirados.
A literatura de cordel é classificada por ciclos temáticos: religião, cangaço, guerra, política, personalidades, esporte, erotismo, feitiçaria, gracejo e tal.
Dentre o material "garimpado" para fechar seu próprio ciclo como pesquisador ou historiador como preferia ser chamado e não como crítico musical, Tinhorão começou a reunir folhetos de cordel e livros nacionais e estrangeiros que tratassem de putaria. Foi assim que caíram em suas mãos Manoel Monteiro, Franklin Maxado, Klévisson Viana, Bastinha Job, Dalinha Catunda e outros.
No folheto de oito páginas Um Jumento e Duas Doidas as autoras, em peleja, se desafiam numa quase agressão. Começa assim:

DALINHA CATUNDA 

Eu sou nordestina
Da cabeça chata
Raiva não me mata
E nem me alucina
Olhando sua crina
Pensei em montar 
Se me derrubar 
Não tem nem talvez
Até lhe amansar


BASTINHA JOB

Também sei montar
Cedinho aprendi
Jamais esqueci
Achei bom trepar
Melhor é gozar
De tanto prazer
Corpo e alma gemer
Sentir alegria
Que até contagia
Quem meu verso ler!...


O paraibano Manoel Monteiro sustentou a família publicando e vendendo folhetos Nordeste afora. Era chegado a gracejos e até explícito nas suas incursões que fazia no campo erótico. Em Mulher Gosta de Ouvir, por exemplo, indicava já na capa ser "impróprio para menores de 90 anos". Veja:

Qual a mulher que não gosta
De ter o homem que ama
Com o corpo nu sobre o seu
No vai e vem duma cama
Ofegante e meio torpo 
Com as mãos a roçar-lhe o corpo 
E a boca a sugar-lhe a mama?...

(CONTINUA…)

Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

O SEDUTOR CASANOVA

É provável que você já tenha ouvido falar em Casanova, Giacomo Casanova.
É provável que você nunca tenha ouvido falar em Aretino, Pietro Aretino.
Casanova e Aretino amavam amar mulheres e escrever tudo que sentiam e viam ao derredor. Os dois tinham em comum, além disso, o fato de serem italianos. Viveram, porém, em tempos diferentes. 
Casanova nasceu em 1725 e morreu em 1798. Seu livro mais conhecido é A História de Minha Vida, em quase 4 mil páginas manuscritas.
Aretino morreu em 1556, aos 64 anos de idade. Seu livro mais conhecido é Sonetos Luxuriosos. 
Casanova tinha um ídolo: Pietro Aretino.
Para Casanova, acabo de gerar o poeminha abaixo:

Comecei lendo livros
Lendo livros me formei
Certa vez eu quis ser padre 
Mas a tempo recuei 
Foi numa biblioteca 
Que finalmente me achei

Pra mim foi tudo fácil 
Fácil tudo se acabou 
Amei muitas mulheres 
Mas nenhuma me amou 
Foi assim que descobri 
Que pra mim a luz pifou 

Ora pois eu sei que fui

Bom aluno e professor 

Na escola aprendi

Os segredos do amor

Desde então eu parti

Pra viver com destemor


Eu sou o personagem

Das histórias de amor

Muitos mentem sobre mim

Comigo fazem terror

Eu não sou o que dizem

Tampouco sou sedutor!


Era veneziano 

O mais famoso sedutor 

Nascido para ser padre

Desistiu foi professor 

Pra com calma ensinar

Os caminhos do amor


Foi um aventureiro

Diferente dos demais

Não pensava duas vezes

Pra quebrar regras legais

Pra ele certas coisas

Eram muito naturais


A mãe era uma atriz

E o pai um bom ator

O casal teve seis filhos

Entre eles um pintor

Que fixou em tela

O mano galanteador


Era um cara simples

Bonito e elegante 

Andava bem vestido

Com firmeza, confiante

Chamava a atenção 

Por ser também galante


Varão, forte e viril

— E bem dotado também!

Andou por todo canto

Num eterno vai e vem 

Verdade seja dita

Nunca dormiu sem ninguém 


Casanova era fã

De Pietro Aretino 

Um poeta sem vergonha 

Devasso e cretino

Diziam inimigos 

Do ousado libertino


Mas ele não ligava

Pois tempo não perdia

Gostava de bom vinho

De mulher e putaria 

Quando queria chamava

O Deus Baco pra orgia


Por um rabo de saia

Tudo fazia num piscar 

Leão caçava a pau

E onça fazia miar

Do céu tirava o sol

Somente pra se mostrar


Casanova foi um cara

Que gostava de pecar

E pecava todo dia

Sem poder se controlar

Sua fama ele fez

Pra na história ficar


No seu tempo fez de tudo

Com beleza, alegria

Seu prazer era o prazer

Que dava e recebia

Casanova fez de tudo 

Com mulher o que queria 


Um amante completo

No rigor da perfeição 

Casanova sempre foi

Um mestre da sedução 

Pra ele toda mulher

Era benção da Criação 


Esse cara tudo fez

Inda mais até faria

Pra um dia ser lembrado

Pelas coisas que sabia

No seu mundo aprendeu

A viver com ousadia


Casanova nunca teve

Nem limite nem noção 

Por uma mulher gostosa

Agarrava até o cão 

o Inferno todos sabem

É o mundo da perdição 


Pode ser pode não ser 

Verdade o que contou 

Mas ele contava bem 

As batalhas que travou

Sua luta era na cama 

Com as mulheres que amou 


Nesse mundo ele passou 

Amando e sendo amado 

Pra onde quer que fosse 

Era sempre desejado 

As mulheres viam nele 

Um macho apaixonado 


Casanova não fumava 

Casanova não bebia

Casanova tinha medo 

De brochar em plena orgia 

Por isso se cuidava 

Pra fazer o que fazia 


O cara no entanto

Não era brinquedo, não

Estava sempre pronto

Para entrar em ação 

Mulher ele chamava

Para chamegar no chão


Viver é coisa boa

Mas é bom ter cuidado

Quem anda sem destino

Pode pegar trem errado

Um trem de pés pra cima

É um trem descarrilado


Pacato de bom papo

Detestava confusão 

De briga ele fugia

Sem nem topar discussão

Porém um dia foi preso 

E atirado na prisão 


Fora vítima de quem

E qual a acusação?

Quem seria seu carrasco

Alguém da inquisição?

Ou um maluco qualquer

Sem rumo, sem direção?


Agora o que fazer

Ali encarcerado

Que nem um preso qualquer

Depois de condenado?

Fugir, tinha de fugir

Pra não ser crucificado 


Pra isso fez um plano

Pra lá de bem bolado:

Furar uma parede

Subir lá no telhado

E pronto! Estava livre

Que nem um ser alado


Muita coisa ele fez

Até mesmo por compulsão 

Estudou e aprendeu 

A arte da tradução 

Não à toa encantou-se

Com Homero e com Platão


Teve tempo pra ouvir

Muito tempo para ler

Escutando aprendeu

A cultura do saber

Seguindo essa trilha

Completou-se no prazer


Traduziu Elíada

Para italianos

Livro trata da guerra

Entre gregos e troianos

Que começou com um rapto

E durou mais de dez anos


Aprendeu tudo que quis

No belo campo da cultura

Leu Dante, Camões e Sade

Mestres da literatura

Porém ele aprendeu

A viver com pica dura 


Tinha sorte no amor

E no jogo tinha azar

Não sabendo o que fazer

Ajoelhou-se pra rezar

Seu destino era perder

Muitíssimo antes de ganhar.


Morreu longe de casa

Esquecido sem ninguém 

Distante das mulheres

E dos seus filhos também 

No jogo perdeu tudo

Um por um cada vintém 


sábado, 11 de novembro de 2023

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (51)

Franklin Maxado
Como expressão artística, a licenciosidade se acha em tudo quanto é língua no vasto campo da cultura popular e erudita. Seja na música, na dança, na poesia, no romance e em todo canto mais.

A poesia popular é a poesia feita por pessoas não letradas, sem nenhuma ou pouca frequência nos bancos escolares; ao contrário do que podemos classificar de erudito ou erudita.

Olavo Bilac, Manuel Bandeira, Drummond eram eruditos, por exemplo. 

A licenciosidade como tal conhecemos e chamamos se acha nas culturas espontâneas ou fabricadas desde os tempos de tresontonte, também conhecido como tempo em que galinha tinha dente e voava que nem águia.
Até hoje o Brasil gerou centenas de ótimos poetas populares como Leandro Gomes de Barros, Zé da Luz, Patativa do Assaré, Manoel Monteiro,  Franklin Maxado, Klévisson Viana, Marco Haurélio.

Populares aí falei de homens, mas não são poucas as mulheres que se aventuram nesse campo. Entre essas Dalinha Catunda (Maria de Lourdes Aragão Catunda), Bastinha Job (Sebastiana Gomes de Almeida Job), Nevinha (Maria das Neves), que entrou para a história da cultura popular ao publicar o primeiro folheto intitulado O Violino do Diabo ou o Preço da Honestidade. Ela usava o pseudônimo do marido. Mas essa é outra história.

sexta-feira, 10 de novembro de 2023

EU E MEUS BOTÕES (74)

Confesso que achei meio esquisito, pois ainda não me acostumei a certas coisas. Digo isso porque nem bem cheguei à casa e logo fui cercado pelos amigos que atropeladamente perguntavam o que havia ocorrido comigo. Pedi calma. Contei que fizera uma viagem de última hora à Grécia. Deu tudo certo, não fosse a irresponsabilidade que me levou a esticar as pernas até Israel. Eu jurara a mim mesmo que na primeira oportunidade iria pagar pecados de amigos no Muro das Lamentações. Eu nem acabara de dizer isso, justificando minha ausência na casa, os amigos caíram na risada.

"Desculpa, chefe", disse se levantando o brutamontes Lampa, acrescentando: "Desculpa de novo, mas eu não consigo imaginar o chefe ajoelhado rezando num muro e pedindo a Deus que apague os pecados dos amigos!".

Dessa vez fui eu que não aguentei e caí na gargalhada. Outros me acompanharam. 

Zilidoro pediu a palavra e antes mesmo que todos cedessem o aparte pedido, foi logo dizendo que Lampa estava enganado. Explicou: "Lá no Muro pecador não se ajoelha pra rezar". 

"Lampa é uma besta!", falou em voz alta Barrica. Bil, seu irmão, disse que Lampa é uma besta mesmo. E nem acabara de dizer isso, Lampa deu um pulo do tamborete ameaçando: "Se repetir eu te sangro!".

Barrica repetiu.

Lampa, suando e babando feito um bicho, partiu pra cima dos irmãos Barrica e Biu. 

Tumulto feito, Lampa foi imediatamente imobilizado. E desarmado. 

A turma do chega disso, que somos todos nós, evitou que algo grave pudesse acontecer.

Ânimos acalmados, pedi que Barrica e Biu se desculpassem apertando a mão de Lampa. 

Com cara de poucos amigos, Lampa apertou a mão dos irmãos cuspindo de lado. E resmungando disse: "Na próxima não vou apertar a mão de feladaputa nenhum".

Bom pessoal, recomecei. Faltei a várias reuniões porque fiquei preso em Israel. 

Zoião, Zé, Jão e Mané se levantaram e curiosos perguntaram em uníssono: "Seu Assis, o Sr. viu a guerra?".

Não só vi, eu disse, escapei dela no primeiro avião que pude.

E todos bateram palmas.

Encerrando, Zilidoro abriu a boca pra dizer que "Estamos no fim do mundo!".

quinta-feira, 9 de novembro de 2023

OLHO POR OLHO, DENTE POR DENTE

Não pude ficar indiferente à fala de uma mulher que eu saberia em seguida ser de origem palestina. Rosto antigo de quem sofre muito, machucado. Voz trêmula, balbuciante, disse: "Mas consegui salvar uma tartarugazinha e quatro passarinhos, estes aqui".
Chorar não chorei, mas o talo do gogó deu-me um nó que tocou fundo na minha alma. Fiquei com cara de paisagem, tentando entender o que ocorria no íntimo daquela mulher que tinha uns 80 anos de idade. Eu a ouvi num canal de TV.
O canal de TV onde falou essa mulher mostrava, além dela um amontoado imenso de destruição. Prédios no chão, caídos e corpos espalhados ao Deus dará. Um horror! A cena lembrou-me Dante e o Inferno que criou.
Enquanto a mulher falava, ao fundo ouviam-se estouros de bombas e pipocar ensurdecedor de balas de metralhadora.
Zapeando, encontrei outros canais. Em um deles aparecia o primeiro-ministro de Israel, Netanyahu, dizendo que o Hamas vai aniquilar-se por completo. O Hamas, por sua vez, tem jurado e espalhado aos quatro ventos que nem cinzas restarão de Israel.
Pois é, está na Bíblia: olho por olho, dente por dente.
Enquanto isso, as guerras continuam engolindo inocentes.
Ah! Sim: não sei se a mulher da tartaruga e dos passarinhos sobreviveu após a entrevista à TV.


O IVO DA IVA

Menino novo que sou e memória boa que tenho lembro como se fosse hoje das primeiras lições de Bê-á-bá que a dona Margarida me deu já no primeiro dia de aula, em Alagoinha, PB. Dizia: um b com a...
Dias depois, avançando nos estudos, a professora pedia pra repetir: Ivo viu a uva...
Pois bem, essas histórias continuam ilustrandi as paredes da minha memória.
Ontem 8 acompanhei a aprovação da Reforma Tributária no Senado. No placar: 53 × 24. Foi quando me lembrei do Ivo.
Vamos fazer de conta de que Ivo é Iva e Ivo é Ivo mesmo.
Ivo representa o governo que temos e Iva é o povo que ganha nada ou muito pouco.
Na reforma em pauta IVA é a sigla Imposto sobre Valor Agregado. Esse imposto reunirá IPI, PIS e tal. Ouça:

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

HÁ 31 ANOS MORRIA PENSAMENTO

Você sabe quem foi o cantor e compositor Pensamento da Silva?
Esse artista, paulistano, nasceu no dia 8 de novembro de 1945. E quando morreu tinha 46 anos de idade.
Esse Silva começou a carreira de cantor cantando em programa de calouros. Seu primeiro disco foi um compacto simples com as músicas A partida e Quero te dar meu Coração. Saiu pela extinta RCA. Nesse disco, o artista foi acompanhado musicalmente pelo grupo Os Iguais. Não vendeu horrores, mas deu para o gasto.
A essa altura o público começava a conhecer o jovem Antônio Marcos.
Conheci de perto Antônio Marcos. Era um cara bom, tranquilo, em paz com a vida. Estava sempre com a língua molhada de álcool. Mas era bom de papo, conversador. Eu o definiria como uma pessoa ótima. Foi casado com  a cantora Vanusa, com quem teve 2 filhos.
Antônio Marcos deixou vários sucessos, um desses entrou para a história da música romântica. Título: Como Vai Você, lançada por Roberto Carlos em 1972.
Você lembra da música Oração de um Jovem Triste?


terça-feira, 7 de novembro de 2023

VIVA A PREGUIÇA!

O cantor e compositor baiano Dorival Caymmi, um dos nossos grandes cidadãos, adorava não fazer nada. Mas o nada que ele fazia, nunca ninguém fez. Exemplo?
Caymmi, que tive o prazer de entrevistar para o programa que eu apresentava na Rádio Capital, partiu para a Eternidade deixando uma obra pequena em tamanho e densa na qualidade... E aí perguntei ao mestre sobre o seu esporte predileto, o de não fazer nada. E ele, rindo uma risadinha sacana, disse apenas: "Pois é, Assis, ninguém me chama pra nada".
Hoje é o Dia da Preguiça, que a Bíblia condena.
Hoje é também o Dia do Radialista.
Meu amigo, minha amiga, se ainda não teve o prazer de ouvir ouça O Samba do Rádio que compus com o amigo Jarbas Mariz: 


GUERRA É COISA DO CAPETA!



Não era para tal, mas até hoje me surpreendo com notícias sobre guerras. 
Pra mim, guerra é coisa do Capeta.
Grandes escritores brasileiros, como Joel Silveira e Zé Hamilton Ribeiro, cobriram guerras. Joel, que era empregado de Assis Chateaubriand, cobriu parte da Segunda Guerra Mundial. Zé Hamilton, repórter da Realidade, foi enviado ao Vietnã. 
No momento há várias guerras rolando mundo afora. Umas lá pelos lados africanos, outras na Europa e Oriente Médio. A mais recente foi deflagrada há um mês. 
No dia 7 de outubro deste quase findo 2023, os incendiários do ultra-violento e radical grupo Hamas invadiram a parte sul de Israel provocando a morte de pelo menos 1,5 mil homens, mulheres e crianças. A resposta israelense foi imediata. 
Formalmente declarada, o sangrento conflito já gerou pelo menos 10.000 mortos. Ou 11.000? Ou 12.000...
Verdade é que oficialmente ninguém sabe quantos mortos essa maldita guerra já gerou.
Israel, pedaço de terra que fica ali nas proximidades de Canaã, vive em sangue há milhões de anos.
Nessa terra Jesus, Maria e José puseram os seus santos pés. 
Antes de crescer, o filho famoso de Maria e José foi levado em fuga ao Egito governado tempos atrás pela majestosa Cleópatra, filha de Ptolomeu XII.
Como rainha do Egito, Cleópatra desposou o ditador Júlio César e depois o General Marco Antônio, com quem teve pelo menos três filhos. Mas essa é outra história. 
Jesus, depois de batizado por João no Rio Jordão, saiu por lá pregando pela paz. Mas não deu certo, como se vê...
Mexendo nos arquivos do Instituto Memória Brasil encontrei um exemplar da extinta Realidade, revista que marcou época. Durou
10 anos, de 1966 a 1976. O exemplar achado, de n° 33 de dezembro de 1966, traz na capa o rosto do revolucionário Luis Carlos Prestes (1898-1990). E uma chamada à leitura de uma bela reportagem escrita pelo saudoso Eurico de Andrade (1940-2005), ex-diretor de jornalismo da Globo de São Paulo e Rio de Janeiro.
A reportagem em pauta tratava da história de Israel, Estado fundado em 1948.
Junto com Israel, era também pra ser criado o Estado da Palestina. Não foi e o resultado é bomba pra lá e pra cá e gente inocente morrendo à toa.
O título da reportagem de Eurico é Israel: Paz e Guerra no Kibutz. Começa assim:
Eles abandonaram seus cursos, deixaram seus países, mudaram seus valores, adotaram uma nova língua. Vieram construir o lar nacional judeu. Em Bror Chail — fazenda coletiva israelense —, nosso repórter Eurico Andrade presenciou o resultado da fusão do jeitinho brasileiro com os ideais socialistas e a mística da Terra Prometida. Em Israel, esse pequeno país encravado entre o mar, o deserto e a morte, 85 mil pessoas vivem na fazenda

GUERRA E PAZ NO KIBUTZ
Centenas de brasileiros já foram repatriados. Outros, deverão voltar ao Brasil ainda nesta semana.
Enquanto isso o presidente da Ucrânia lamenta o fato de a guerra declarada por Israel ao Hamas venha desviando a atenção da guerra da Rússia contra o seu país. Ele disse: “É claro que está claro que a guerra no Médio Oriente, este conflito, está tirando o foco”.
Isso tudo me faz lembrar a definição de guerra feita pelo filósofo francês Charles Voltaire (1694-1778): "A guerra é o pior dos crimes, mas não existe agressor que não disfarce seu crime com pretexto de justiça".

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