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quinta-feira, 20 de março de 2025

EU E MEUS BOTÕES (82)

"Olha lá, olha lá, gente!", diz Mané eufórico, chamando a atenção dos coleguinhas. E todos voltam o olhar à porta por onde entra Flor Maria. "O seu Assis está logo atrás. Olha lá, olha lá. E ele está sorrindo".

Muito bem, gostei de ver. Agora quero saber o motivo de tanta euforia. 

De certo modo e pra começo de conversa, Lampa diz em nome de todos que a alegria que se vê é devida ao modo sábio de falar de Flor Maria.

Hummm... 

Com leve sorriso no rosto, a historiadora agradece o elogio e diz: "Falar é se comunicar. Comunicação é item necessário à boa convivência social. E falar de história falo com prazer, pois sempre é tempo de aprender".

Dito isso, com firmeza e brejeirice, Flor diz que está à disposição para qualquer pergunta que lhe façam sobre história. 

Zoião: "Dona Flor, achei muito interessante a leitura do polêmico livro Os Sertões. Acho que todos aqui poderiam lê-lo".

"Concordo, concordo. E a mim não custa dizer, mais uma vez e sempre, que ler é fun-da-men-tal.

Zé, aproveitando a deixa, abre a boca pra pedir de empréstimo a Zoião o livro de Euclides da Cunha. 

O trio Olavim, Pitoco e Fuinha está atento a tudo que ali se diz. 

Zilidoro: "Seu Assis, dona Flor, confesso que estou sem dormir desde ontem. Isso porque não me saiu da cabeça a ideia de o nosso novo amigo Olavim ser um ser de fora do planeta Terra".

Pra mim isso que você diz não é surpresa. Também não consegui dormir pensando no que foi dito. Nem café da manhã tomei direito...

Fuinha devagar foi se levantando. E disse: "Curiosidade mata".

"E mata mesmo. Curiosidade mata, sim!", reforça no seu jeito natural de ser o sempre enervado Lampa. 

Calma, calma. Deixemos o Fuinha dizer o que quer dizer.

"Obrigado, seu Assis. Sou muito amigo do Olavim. Pessoa rara, raríssima. E o que aqui digo tem a sua anuência. Ele confia em mim e eu nele...".

Os manos Bio e Barrica interrompem a fala de Fuinha pra perguntar: "Queremos saber é de onde vem o Olavim".

Calma, calma. Pra que tanta pressa?

"É de muito longe. Ele vem de lugar longínquo, de distância inimaginável pra nós mortais comuns. É pra lá de..., retoma à fala Fuinha enquanto Olavim dá sinais de que vai dar o ar de sua graça e responder as perguntas que lhe forem feitas. Num piscar de olhos, porém, no lugar que estava já não está. Sumiu, evaporou-se, sabe-se lá! Fuinha:

"Ele é assim mesmo, quando se sente ameaçado toma chá de sumiço e chau!".

Pelo jeito teremos bons papos no correr dos dias. Eu, particularmente, sou leitor assíduo de Júlio Verne, Isaac Asimov e outros bambas da ficção científica. 

"Eu também sou grande apreciador desse tipo de literatura. Além de Verne e de Asimov, também gosto de Arthur C. Clarke", revela o poeta Zilidoro. Zoião:

"Seu Assis, o sinhô sabia que o nosso Machado de Assis também enveredou na trilha desse tipo de ficção?".

Realmente, vocês estão impossíveis! Passo batido. Sei, no entanto, que há autores brasileiros de ficção científica. 

Zoião, todo orgulhoso: "Em 1882, o bruxo do Cosme Velho escreveu e publicou o conto O Imortal. Esse conto trata do enfado que seria a imortalidade humana".

Lampa, se ajeitando no tamborete: "No meu caso, seu Assis, estou fazendo uma pesquisa sobre esse assunto e também sobre o Cangaço".

Zé: "Muito bem, muito bem. Agora pergunto se vocês sabem que existe até o Dia Nacional da Ficção Científica?". Zilidoro:

"Eu sei, eu sei que esse dia existe. É o 11 de dezembro".

De repente,  como num passe de mágica, entre Pitoco e Fuinha se acha o incrível Olavim. 


quarta-feira, 19 de março de 2025

EU E MEUS BOTÕES (81)

 Olá, pessoal! Tudo bem?

"Tudo bem, seu Assis!", disseram todos.

Zoião, cada vez mais solto nas estribeiras, quase sem respirar, foi perguntando: "Dia desse ou tarde dessa, o sinhô ou dona Flor disse que o livro Os Sertões acaba com o autor contando que tudo em Canudos se acabou restando apenas três sobreviventes. Ouso discordar e discordo porque li cá com os meus próprios olhos que o final do acontecido é que, aspas por favor, Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança na frente dos quais rugiam enraivecidos cinco mil soldados".

Muito bem, Zoião. Gostei.

"Eu também gostei Zoião. Você está lendo Os Sertões?", pergunta entusiasmada Flor Maria.

"Se estou lendo, dona Flor? Não, não estou lendo. Já o li", conta orgulhoso e insuspeito Zoião, acrescentando: "Aliás devo diz também, pra ficar bem claro, que Antônio Conselheiro foi acusado de matar a esposa e a própria mãe.  A acusação era vazia, sem fundamentos". 

A fala de Zoião  levou entusiasmo aos presentes, que se levantaram batendo palmas.

Zoião, eu quero dizer: essa sua fala me deixa feliz. Isso porque leitura é fundamental na nossa vida...

"O escritor paulista Monteiro Lobato disse uma vez Quem lê mais sabe mais", interrompeu Zilidoro.

Pois é, pois é, vocês estão impossíveis. Você concorda, Flor?

"Claro, claro que concordo. É muito bom, bonito mesmo, conversar com pessoas como vocês".

Num relance, Lampa dá uma espiada geral na casa (de botões) e flagra Mané e Zé cochichando sob o olhar dos manos Biu e Barrica. Sabe-se lá como, mas o fato é que o nervoso Lampa descobriu que as duas duplas estavam a falar a seu respeito. Não disse palavra, mas a sua cara de poucos amigos fez as duplas silenciarem. Eu vi o movimento e não deixei de rir. Surpreendentemente, Lampa pergunta se Euclides da Cunha escreveu sobre o Cangaço. A pergunta é dirigida à historiadora que diz:

"Lampa, Euclides não viveu no tempo de Lampião. O seu velho parente nasceu em 1898 e o autor de Os Sertões em 1866. Lampião foi morto de emboscada em 1938. Quando Euclides morreu, de tuberculose, Lampião tinha apenas 11 anos de idade. Ele caiu no cangaço no começo dos anos de 1920. Satisfeito?".

Lampa diz que sim, que está satisfeito e que gostaria de saber mais sobre o assunto. 

Barrica, quieto até então, pergunta à Flor Maria se está sabendo da doença do papa Francisco e do inferno que voltou a provocar Israel na Faixa de Gaza. Flor diz que sim.

Pois é, o mundo está pegando fogo. Dá pra perceber que a guerra deflagrada por Putin contra a Ucrânia ainda vai continuar, pois Putin não quer paz e paz também não quer na Faixa de Gaza o mandachuva de Israel, Netanyahu. E acabam de voltar à Terra os dois astronautas que foram ao espaço para um tempo de oito dias e por lá ficaram sem querer por nove meses. 

"Como é mesmo seu nome?", pergunta a historiadora dirigindo-se a Olavim, que surpreendido gagueja sem saber bem o que dizer. Fuinha pede licença pra dizer o seguinte: "Dona Flor, o Olavim é um cara que não é daqui. Digo isso e não digo mais".

Como é que é? 

"Não entendi, confesso que não entendi", diz embatucada Flor Maria. 

Bom pessoal, voltaremos ao assunto. Sim, esse mesmo: astronautas e tal.



domingo, 16 de março de 2025

EU E MEUS BOTÕES (80)

Bom, minha gente, hoje ninguém há de dizer que cheguei atrasado. Já dona Flor...

"Dona Flor está chegando, está bem atrás do senhor, seu Assis", diz o desenvolto Barrica. E todos ali se levantam batendo palmas. Flor: "Obrigada, pessoal, assim vocês me deixam sem jeito".

Hummm... Realmente você nos surpreende, Flor Maria. 

"Deixa disso, Assis. Estou,  como sempre, de bem com a vida".

Flor foi chegando e espalhando bom astral e um perfume de cheiro inebriante. Num fechar d'olhos, Lampa levanta-se como um raio em direção ao banheiro. Sua ação não passou desapercebida. Olhei nossa historiadora que riu de forma assim-assim à toa. Os olhares de todos os botões voltaram-se ao cabra Lampa que num minuto voltou passando a mão no rosto,  na camisa... Foi quando o Lampa percebeu os olhares irônicos e sem se conter grunhiu entredentes, já com a mão no seu indefectível punhalzinho: "O que que há, o que que há? Nunca viram macho, não??"

O comportamento do cabra Lampa provocou uma risada incontrolável. Flor Maria: "Vamos parar com isso, pois somos todos aqui amigos".

Zilidoro: "Dona Flor, a última vez que a senhora aqui esteve nos falou sobre o massacre de Canudos. O Euclides, autor do livro Os Sertões, cobriu o massacre do começo ao fim?".

Depois de agradecer a pergunta, a historiadora disse que o escritor e jornalista nunca esteve no campo de batalha. Não conheceu o Conselheiro e o máximo que fez foi andar um pouco pelas vielas que ele chamaria de Troia de Taipas. Ficou na região menos de um mês. Na verdade, Euclides chegou a Canudos no dia 16 de setembro de 1897".

A maioria dos botões presentes fez um "Oh! Oh! Oh!...Puxa!!!".

Zoião, com aquele jeitão de quem tudo vê, perguntou se é verdadeira a frase "O sertanejo é antes de tudo um forte".

"Acho que é verdade, sim. Mas acho que o Assis poderia falar um pouco a respeito".

Bom, o livro é muito controverso. Tem muita coisa boa e outras coisas nem tanto.  A frase a que se refere o querido Zoião é verdadeira e o seu autor é Euclides. E antes que me perguntem, acrescento que Euclides era preconceituoso, muito preconceituoso. E até racista. Achava que o branco era a "raça" dominante. Pra ele havia raça e "sub-raça". Achava que mulato, mestiço, curiboca era gente fraca.  De certo modo, dava algum valor ao vaqueiro. 

"É isso mesmo, o Assis tem razão. O livro tem três partes: A Terra,  O Homem e A Luta. Essa última parte considero a mais legível, pois mesmo com algumas cenas ficcionais, prevalecem dados históricos".

"Estou curioso, quero ler esse livro. Tem muitas páginas?", pergunta Mané.

"Os Sertões foi publicado em dezembro de 1902. A primeira edição foi bancada pelo autor. No original tinha cerca de 500 páginas, talvez mais. A sétima edição, considerada definitiva com acréscimos do autor feitos de próprio punho, foi publicada em 1923", explicou a historiadora. 

No canto da sala onde costumeiramente nos encontramos Olavim, Pitoco e Fuinha quietos estavam e quietos ficaram enquanto tudo ouviam.

Bom, está na hora do lanche. Vamos nessa pessoal?

Zé pediu licença pra perguntar: "Seu Assis, ouvi em algum lugar alguém dizer que já faz 40 anos que vivemos na Democracia, é verdade?".

Sim, foi no dia 15 de março de 1985 que o maranhense José Sarney foi empossado como presidente do Brasil no lugar do mineiro Tancredo Neves. A ditadura militar foi aqui instaurada no dia 1° de abril de 1964, depois de Jango ser posto pra correr. Antes, e isso é história, militares da Aeronáutica armaram uma operação denominada Mosquito. A ideia era derrubar o avião onde se achava Jango, pouco depois de Jânio renunciar. Jango morreu em 1976. Um século antes, o imperador Pedro II se achava na Síria. Nesse mesmo ano, Antônio Conselheiro era preso pela polícia acusado de matar a esposa e a própria mãe. Agora chega, né?

Olavim, Pitoco e Fuinha foram os primeiros a se levantar e a bater palmas.


sábado, 15 de março de 2025

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (172)


De todas as regiões do Brasil, estatisticamente o Nordeste é a mais sofrida. A seca chegou lá e lá ficou.

Apesar das intempéries, o Nordeste e sua gente continuam insistindo em viver. Com graça, inclusive. Os exemplos são muitos. 

Chico Anísio fez sucesso e deixou saudade e pupilos como Tom Cavalcante.

São muitos os artistas talentosos que andam por aí espantando mau olhado, mau humor e desgraças de todo tipo que nos incomodam no dia a dia. 

Quando ouço Jessier Quirino declamando acho sempre graça. Das boas. O cabra tem presença. 

Quando ouço Jessier Quirino declamando lembro do Chico Pedrosa e do velho Patativa do Assaré. 

Quando ouço Jessier Quirino declamando lembro do querido Orlando Tejo, que usou seu talento para recriar Zé Limeira e sua obra. 

Digo isso com firmeza. 

E digo mais: quando ouço Jessier automaticamente lembro de outras belas figurinhas carimbadas como Rolando Boldrin, João Cláudio Moreno e Klévisson Viana, por que não?

Pois bem, Jessier Quirino traz consigo o talento do mundo. É autor e declamador de alto nível. Nasceu na Paraíba. Tem livros e discos lançados na praça. 

Outro dia peguei Jessier de jeito e tasquei-lhe perguntas que você meu amigo, minha amiga, pode conferir lendo o que segue aí abaixo:


ASSIS ÂNGELO — Como você vê a questão da licenciosidade nos dias atuais?

JESSIER QUIRINO — Licenciosidade partindo de quem se revela um desregrado moral, vejo como algo deplorável a qualquer tempo. Já o licencioso como objeto, texto, música etc., mesmo ferindo questões de virtude, educação e tudo mais, se estiver dentro de certas regras (fugir do escatológico), modos e circunstâncias, me parece palatável e digno de risos e aplausos. Destacando que sempre carece de uma boa embalagem para ser dita, escrita e representada. 


ASSIS Vê hipocrisia em condená-la? 

JESSIER — Acho que há uma boa dose de hipocrisia sim, devido ao quão falso são o caráter e a moralidade das pessoas, principalmente aquelas supostamente mais importantes, educadas, cheias de recatos e princípios religiosos, que a condenam até mesmo na arte. Mas foi me valendo da licenciosidade verbal que sobrevivi em colégio noturno e até botei o pé na poesia e nos palcos da vida.


ASSIS Como se deu isso?

JESSIER — Eu, rapazote de 16 anos, me beneficiei e muito por fazer uso da dita imoralidade em verso e prosa. Isso para despistar uma timidez aguda em território hostil de sala de aula no turno da noite no Colégio Pio XI, em Campina Grande. Eu trabalhava durante o dia e estudava no 3º turno onde a faixa etária dos colegas era muito desigual. Isso me obrigou, a bem dizer, ser artista e abrir os braços pra não ser engolido. Por quem? Por quem fumava, bebia, raparigava,  brigava, tinha carro e inda por cima era conquistador. Os bambambãs do lugar.


ASSIS Como foi conviver com isso na cabeça? 

JESSIER — Eu, coitado, zero tiquinho de pessoa, não tinha nenhum desses predicados. Na devassidão, eu era o mindinho do pequeno polegar e no comportamento era amoitado que só carneiro que tomou bicho na capação. E assim mesmo precisava sobreviver.  Era o segundo caçula de Seu Quirino - um homem cordial, poeta, de bons modos, culto e afável – fui dando de garra da poesia fescenina de domínio público que aprendia com a molecada do bairro. E tome paródias, declamação e loas em corredor de escola e só assim consegui ser respeitado. Depois virei declamador com a “pegada” matuta, depois virei poeta.


ASSIS Frequentou cabaré?

JESSIER — Penso, talvez, que ser putanheiro é uma aptidão que se herda. Um “talento” que nunca tivemos lá em casa. Éramos quatro filhos homens. Já entrei em cabaré pra tomar cerveja e me fazer de escroto. Mas tinha lá certa vontade de ver a música e dança da noite: Apolo na bateria e Jaime no piano, no Luz-Vermelha de Cazé lá em Campina Grande.

Fui lá, subi a escadaria, fiz cera, mas ainda era cedo pra tal música ao vivo.  


ASSIS Os cabarés de hoje já não são lá essas coisas…

JESSIER — A concorrência pesada derrotou o seguimento e a decadência impera. Mas como bom roteirista que sou e prestador de atenção da experiência alheia, boto olho de tejo no assunto e ouvido na escuta. É material de pesquisa. 

Um amigo meu chegou a morar durante três anos dentro dum cabaré aqui em Itabaiana. Exímio raparigueiro, pouca grana e bom de papo, convenceu a dona a ocupar o único espaço vago da casa: um quarto de duas portas, na esquina da sala para o corredor, que tinha uma radiola engavetada na porta da frente e que cantarolava pra sala. Morou nesse quarto e conta que nos domingos de manhã debulhava feijão verde no quintal arrodeado de quenga entre fuxicos e risadas. Pode?


ASSIS Que outras lembranças você tem?

JESSIER — Poucas. Basicamente a música. O sotaque dançante dos boleros, o brilho dos azulejos do boteco e portas de pano estampado. Mas a música é realmente o que marca. Só agora dou fé do quanto havia de produção naqueles discos: arranjos bem feitos, músicos talentosos, pianos e demais instrumentos. Uma mini orquestra.

  

ASSIS — Você lembra algum poema escrachado?

JESSIER — Lembro sim, dos mais ingênuos até um retrato-falado vaginal. 


A Ingênua é uma musiquinha:


Dona Maria o seu gato deu

Vinte cinco pirocada na bunda do meu

De novo!

Dona Maria o seu gato deu

Vinte cinco pirocada na bunda do meu


Já deu tá dado

Piroca de gato, não faz mal a ninguém

Já deu tá dado

Piroca de gato, não faz mal a ninguém


O Retrato Falado Vaginal é:


A buceta é uma gruta

De cabelo arrodeado

Tem parte que é enxuta

E tem parte que é molhada

É o roçado da puta

Consolo do vagabundo

Fica a dois dedos do fundo

Mas, pra aqueles que vêm nascendo

É a porteira do mundo


ASSIS - Nos velhos cabarés sempre teve música de putaria nos mais diferentes rítmos… 


JESSIER- Músicas, além dos boleros dançantes e samba canção, eram os sambas de latada ou samba de gafieira tocados nos bares. Lembro também de Abdias dos 8 baixos cantando Minha ex-Mulher: Coiatada da mulher que já foi minha / Hoje vive tão sozinha / Perambulando na rua  / Ninguém me ama / Ninguém me quer / E como sofre minha ex-mulher


E tem ainda o clássico de João Silva, Pra Não Morrer de Tristeza:


Mulher 

Deixaste tua moradia

Pra viver de boemia

E beber nos cabarés...


Na Rádio Borborema de Campina Grande o programa Forró do Zé Lagoa, do mestre Rosil Cavalcanti, tocava o clássico de Jackson do Pandeiro Forró em Campina que cita nomes dos cabarés (e de prostitutas) da época: 


Ó linda flor, linda morena

Campina Grande, minha Borborema

Me lembro de Maria Pororoca

De Josefa Triburtina e de Carminha Vilar

Bodocongó, Alto Branco e Zé Pinheiro

Aprendi tocar pandeiro nos forrós de lá


ASSIS — Na sua formação cidadã como entrou a licenciosidade?

JESSIER — Antes de mais nada, a mulher tem que ser respeitada. Havia sim um padrão Seu Quirino de civilidade na família. Na comissão de frente: educação, honestidade e respeito, sem exageros. Tinha de tudo um pouco do que tinha no Colégio. Os temas devassos eram assuntos de rua, de conversa de calçada e dos famosos “bacuraus”, que eram encontros noturnos de conversa fiada em esquinas estratégicas no esfriar da noite. 

E assim cresci. Dizer qualquer coisa pesada e com arte, como citei no início, era uma questão circunstancial. O acessório principal viria a ser a composição declamada com segurança. O texto pronto, a personagem e o tempo. Dizer quando? A qualquer momento a depender das circunstâncias. Aí nasce o compositor. Mas, mulher tinha que ser respeitada.


ASSIS — Alguma curiosidade autoral na área da licenciosidade? 

JESSIER — Algumas histórias autorais viraram clássicas.  Ex: O Matuto Doente das Partes, que conta a cirurgia de hemorroidas e outras mais:

 

UM RAPAZINHO FODAZ   -   (publicado no livro Bandeira Nordestina Editora Bagaço)

MATUTO DOENTE DAS PARTES  -  Cirurgia de hemorroidas  ( publicado no livro Agruras da Lata d´água – Editora Bagaço)

RELEMBRANDO A CHUPADELA  -  História de Bill Clinton e Mônica Lewinsky  ( Inédito)

SE ACHAR RUIM, COITE-SE!  - Um poema fescenino, baseado no clássico poema “SE” do poeta inglês Rudyard Kipling (1865 – 1936).   (Inédito)

MANIFESTO DA FUDENE (publicado e posteriormente retirado do livro Agruras da Lata D´água)


UM RAPAZINHO FODAZ

Jessier Quirino 


De primeiro, uma revista

Era a maior das conquistas

Dum rapazinho fodaz

Amaridado com ela

Era aquela coisa bela

Sonhando de paz em paz


Ele sorria e beijava

E ela de puta ria

Era revista rameira

Flor de lodo, messalina

Biscaia, franga, dadeira

Tolerada e pistoleira

Com semblante de felina


Sem cancha pra vadiagem  

Ou pra luz de cabaré

O jeito pra o rapazinho 

Era correr pro migué


Migué de porta fechada

E a revista escancarada

Querendo se desfolhar:

Tanta coisa em coisa-fofa

Tanto fruto proibido

Maçã de Adão provar...


Tanta matinha encantada

Tanto ventre, tanta furna

E tantos lábios vulvares

Pro mundo se envaginar


Tanta peça mamalhuda

Peitudinha, bundudinha

Luz-em-cu sem pirilampo

Tanta feira de mulher...


Tanto estrabismo nos olhos

Tantas vogais pelos lábios

Tanto fêmur almofadado

Antes de ser oboé


E o rapazinho fodaz

Amativo pela vista

Namorava essa revista 

Gozando de paz em paz

De garra com os possuídos

De punho masturbativo

Era aquela liberdade 

Misturada com prisão:


Teje solto, teje preso

Teje solto, teje preso

Teje solto, teje preso

Teje solto, teje preso...


A professora chega...

– Menino?!

– Professora! 

A senhora não morre tão cedo


MATUTO DOENTE DAS PARTE 

Jessier Quirino


No tronco do ser humano

Nos finá mais derradêro

Tem uma rosquinha enfezada

Que quando tá inflamada

Incomoda o corpo inteiro


Se tossir se faz presente

Se chorar se faz também

O cabra não pode nada

Com nada se entretém

Eu lhe digo meu cumpade

Não deseje essa maldade

Pra rosca de seu ninguém


Não sei o nome da cuja

Desta cuja eu tiro o “ja”

O que resta é quase nada

Bote o “nada” na parada

Quero ver tu aguentar?!


Eu lhe digo meu cumpade

Que é grande humilhação

Um cabra do meu quilate 

Adoecido das parte

Fazer uma operação


Não suportando mais dor

O meu ato derradeiro

Foi procurar um doutor

Do “Bocá do Arenguêro”


Do Bocá do Arenguêro

Fejoêro,  Fiofó

Bufante, Frescó e Lôrto

Apito, Brote e Bozó


De Furico, Fedegoso

Piscante, Pelado e Bóga

Fosquete, Frinfra e Sedém

Zuêro, Ficha e Vintém

De Ás de Copa e de Fóba


De Oití, Ôi de Porco 

Ané de Couro e Caguêro

De Gira-Sol e Goiaba

Roseta, Rosa,  Rabada

Bôto, Zero e Mialhêro


De Nó dos Fundo e Buzéco

De Sonoro e Pregueado

Rabichol, Furo e Argola

Ané de Ouro e de Sola

Boca de Véia e Zangado


Um doutô de Aro Treze

De Peidante e Zé de Bóga

Que não aperte o danado

Nem deixe com muita folga


Um doutô piscialista

Em Bocá da Tarraqueta

Doutô de Quinca e Dentrol

Zebesquete e Carrapeta


Doutô de Rosca, Rosquinha

Tareco, Frasco e Obrom

Ceguinho, Butico e Zero

Tripa Gaitêra e Fon-Fon


Mialhêro e Mucumbuco

Buraco, Brôa e Boguêro

For Ever, Cruaca, Urna

Gritadô, Frande e Fuêro.


Cano-de-Escape e Pretinho

Rodinha, X.P.T.O. 

Zerinho, Subiadô

Tripa Oca e Fiofó.


Um doutô de Helidório

Ou de Boca de Caçapa

Que não seja inimigo

Também não seja meu chapa

Tratador de Canto Escuro

De Boréu ou de Cheiroso

De Formiróide e Alvado

De Parreco e de Manhoso


De Chambica e Cibazol

Apolonio e Fobilário

Bilé, Briôco e Roxim

Fresado, Anílha e Cagário

Vazo Preto, Zé Careta

Olho Cego e Espoleta

Fuzil, Fiôto e Fuário


Não é doutô de ovário

É doutô de Oriol

De Cá-pra-nós e  Bostoque

De Futrico e de Ilhó


De Culiseu e Caneco

Roscofe, Forno e Botão

De disco, de Farinheiro

De Jolí, Fundo e Fundão

De Quo-Vadis e Fichinha

Que não venha com gracinha 

E que que não tenha  dedão


Um doutô de Zé de Quinca

Canal 2 e Cagadô

Buzina, Vesúvio e Cego

Federá e Sim-sinhô

Fagulhêro e Zé Zoada

Rosquete, Fim de Regada...

...Eu só queria um doutor


O doutô se preparou

Parecia Galileu

Aprumou um telescópio

Quem viu estrela fui eu

Ele disse arribe as perna

- Tenha calma, sonho meu!

A partir daquela hora

Perante Nossa Senhora

Não sei o que sucedeu


C`as força da humildade

Já me sinto mais milhó

Me desejo um anus novo 

Cheio de verso e forró 

Pros cumpade, com franqueza

Desejo grande riqueza:

Saúde no fiofó


RELEMBRANDO A CHUPADELA                   

Jessier Quirino

 ( Inspirado no mote de Alan Sales )


Foi na sala oval da Casa Branca

Que Biu Clinton hasteou seu berimbau

Chupistério maior não teve igual

E o mondrongo Lewinsky quase arranca

Presidente saiu botando banca

Pau-babado, machudo e comilão

A bruaca tacou-lhe uma versão

Que foi vítima daquele pau viril

O chupão que a Lewinsky deu em Biu

Custou caro para o Clinton garanhão


Ao desencaralhar seus possuídos

Da garganta daquela estagiária

Carimbou uma nódoa ordinária

E orgasmática no colo do vestido

Uma prova cabal de ter havido

Boceteio, ou qualquer xumbregação

E a bruaca fez a reclamação

Com a impressão genital do seu xibiu

O chupão que a Lewinsky deu em Biu

Custou caro para o Clinton garanhão


Viciado em rolhar uma perseguida

Pela cuja se achava perseguido

Biu-femeeiro, broxado e deprimido

Prometeu nunca mais foder na vida

Toda livre-fodança foi banida

Das alcovas e salas da mansão

E o Pentágono fez uma preleção:

“Putaria que é bom nem mais um piu”

O chupão que a Lewinsky deu em Biu

Custou caro para o Clinton garanhão


Nesta casa tão cheia de brancura

Já se viu muita escolhambatriz

A Lewinsky, fregona e meretriz

Por ali puteou e quis ser pura

Fuxicou pruma amiga de aventura

Que entregou à justiça a gravação

Foi fuxico no cu desta nação

E a nação dando corda ao mulheril

O chupão que a Lewinsky deu em Biu

Custou caro para o Clinton garanhão.


Êta feladaputa de azar

É o coitado do dito presidente

Bolofôtica, rameira e indecente

Foi a tipa que o leso quis champrar

Paula Jones foi outra que a chorar

Quis “pensão de priquito” de um milhão

Se disser que comeu vai pra prisão

Se mentir, toma dentro pois mentiu

O chupão que a Lewinsky deu em Biu

Custou caro para o Clinton garanhão


Ô país invocado é os Isteites

Machear ninguém pode machear

Se o sujeito quiser gavionar

Tem que vir pro Brasil mamãe-de-leite

Puteagem-política tem aceite

Pelas vias-urinárias da razão

Vaginosa ou macheira de plantão

Foi escrota a justiça faz psiu!

O chupão que Lewinsky deu em Biu

Custou caro para o Clinton garanhão.


MANIFESTO DA FUDENE

Fudedeiras Desenvolvendo o Nordeste

Jessier Quirino


Meus amigos fudedores

Gigolôs e cachaceiros

Ilustres raparigueiros

E todos da região!


Se a FUDENE não fudesse

Não fosse mulher bolida

Se não quengasse na vida

Não tava na eleição

Disputou com puta a puta

Mas trouxe no fim da briga

Um coral de rapariga

Pra cima do caminhão


Trouxe Zefa  Pragatão

Trouxe Priquito de Frande

Teinha do Obreiro Baixo

E com licença da palavra

Trouxe Roquete Cuzão


Roquete é feito feijão

Quando esquenta dá o bicho

Mas andará no capricho

No rumo da eleição


Reparem bem o estado

Dessa nossa região:

Do Estreito da Galheira

Do Beco do Pinguelão

Lá do Buraco da Velha

Do Pau Torto e Suvacão


Da Rua do Arrombado

Lá da Taiáda da Jega

Esquina do Lasca e Trinca

Suvaco de Cururú

Atolado da Frieira

Rua da Beira Seca

E do Beco do Tejú

                  

Não queiram ver o estado

Do Apertado da Hora

Da Pinguela do Tauá

Do Beco do Quebra Pote

Da Rua do Quixelau

Rua do Grude e da Merda

Escorrega Lá Vai Um

E Beco do Eita Pau

 

Estão levando na zona

A nossa zona sofrida

Zonaram da nossa zona

Nunca nos deram carona

No trem que sobe na vida


Mas esta bacafuzada

Tá com seus dias contados

Quem ganha a vida fudendo

Levando e sendo enganado

De tanto saber gemer

Quer “tanto assim” pra fuder

Prefeitos e Deputados


Vote em nossa bandeira

De Norte Sul Leste Oeste

Vamos votar na FUDENE

A redenção verdadeira

Que são essas Fudedeiras

Desenvolvendo o Nordeste


Finalizo estas palavras

Clamando de braço aberto

Aos companheiros de luta

Que vamos votar nas putas

Pois nos filhos não deu certo


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