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quarta-feira, 14 de outubro de 2009

AINDA LEON

Leon partiu no meio da tarde de segunda e não de madrugada, como escrevi.
Ele esteve em Sampa no sábado, participou de uma festinha de aniversário de uma neta que acabara de fazer 18 anos. Depois, sempre alegre, seguiu para um encontro com amigos na região da Sé. Em seguida, já no domingo, pegou o carro e foi dirigindo até o Rio de Janeiro, onde também se encontrou com amigos e amanheceu no dia seguinte em Jacarepaguá, aparentemente bem de saúde. Falou da vida, de planos, riu, tomou uma cervejinha com outros amigos, almoçou e se despediu de todos após uma dorzinha besta aparecida no peito sem ser chamada. E pronto, foi assim que tudo aconteceu. Foi assim que o criador do Revivendo partiu.
Era daqueles caras, o Leon, que dificilmente dizia não a um amigo; ou mesmo a um desconhecido que o procurava, por exemplo, aflito pedindo uma gravação musical dos tempos de ontem.
Certa vez lhe pedi determinada cópia de uma partitura do Capitão Furtado.
Fui atendido.
Outra vez pedi que escrevesse algo sobre o grupo Demônios da Garoa, para o livro Pascalingundum. Respondeu que nunca escrevera nada, tampouco prefácio ou algo do gênero. Escreveu e publiquei.
Enfim era Leon uma pessoa admirável, solícita, como poucas que conheço.
Gostava de todo mundo, menos de piratas.
Ah! Os piratas.
O leitor José Carlos escreveu:
“Meu caro amigo Assis, todos vamos partir um dia, mas tem certas pessoas que deveriam ficar um pouco mais. É o caso do Sr. Leon Barg”.
Outro, o compositor Bismael Moraes, escreveu:
“Li com tristeza a notícia da morte do pernambucano/paranaense Leon Barg, criador do selo Revivendo, que salvou muitas composições do começo do século 20, no Brasil. Lembro-me de gravações de Francisco Alves, Augusto Calheiros, Orlando Silva, Dalva de Oliveira, Ademilde Fonseca e outros, além de músicos como Jacob do Bandolim, Waldir Azevedo, Luperce Miranda e tantas glórias musicais vividas e revividas. Uma pena. Receba um abraço e os votos de muita paz, sempre acreditando nas artes do Brasil”.
Amém.
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Como avisei ontem, aconteceu hoje o lançamento do livro Carinhas (os) Urbanos (os), Diálogos com a Cidade, de Luciana Fátima e Arlindo Gonçalves, no Bar Brahma. É um livro bonito, recheado de textos poéticos e fotografias incríveis, em p&b.
Munidos de máquinas fotográficas, o par de autores bateu pernas pela cidade que Nóbrega e Anchieta inventaram em janeiro de 1554.
O resultado desse passeio não poderia ter sido melhor.
Do detalhe de uma fachada localizada na esquina das ruas três de Dezembro com Quinze de Novembro, por exemplo, resultou a observação exposta à página 22: “Na crueza do concreto nasceu uma flor. Em meio ao duro asfalto uma plantinha desponta. Por entre tantos edifícios asas coloridas lutam para mais alto voar. Ao contrário do que todos pensam, meus olhos cinzentos enxergam a vida da cidade”.
No livro muito bem feito pela Editora Horizonte, acham-se rostos esculpidos em bronze, mármore e cimento escondidos em locais impossíveis aos olhares rápidos dos transeuntes apressados no dia-a-dia sem volta, como o que se vê à página 31 extraído de um prédio da Praça Clóvis Bevilacqua, no centro da cidade. E o texto: “A imortalidade de um gesto pode ser vista no frio detalhe do concreto. O calor de uma emoção pode ser sentido nas fachadas de alguns gigantes que resistem”.
Numa palavra: esse livro de Luciana e Arlindo é uma pérola não para ser guardada, mas para ser exibida a todos quanto gostam do belo escondido na mais cosmopolita cidade brasileira, que é São Paulo. Ambos estão de parabéns, como a editora Eliane Alves de Oliveira.
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O cantor e compositor da linha caipira, dos bons, Victor Batista (www.ictorbatista.com.br) manda avisar que a partir das 21 horas do dia 17 que vem, sábado, estará gravando seu primeiro DVD ao lado do violinista Galba, do baixista Ricardo Zohyo e do percussionista Rômulo Albuquerque, no Teatro da Vila, à Rua Jericó, 256, Vila Madalena, cá em Sampa.
Vale levar amigo, amiga, namorado, vizinho etc.
A entrada é 0800, isto é: franca.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

LEON BARG PARTE PARA A ETERNIDADE

O brasileiro Leon Barg partiu hoje de madrugada para a eternidade, levando consigo a certeza de ter cumprido a missão a que se deu em vida, que foi a de ajudar o Brasil a se conhecer um pouco melhor através da música popular, sabidamente uma das melhores do mundo. Isso ele fez com a firmeza de um titã, a partir do selo musical Revivendo que criou em setembro de 1987 na capital do Paraná, Curitiba, onde residia desde o ano de 54. Mas a idéia de preservar a memória musical do País ele teve quando em 1938, por volta dos 14 anos, adquiriu um disco de 78 RPM do rei da voz Chico Alves, com a marcha Ui, que Medo eu Tive!, de Aníbal Portela e José Mariano Barbosa; e o frevo-canção Júlia, de seu conterrâneo Capiba.
Chico foi, assim, o embrião dessa história toda.
Leon, que parte deixando saudade e um acervo estimado em cerca de 120 mil títulos, se casou e virou pai duas vezes, de Lilian e Laís, que desde sempre cuidam do Revivendo com paixão e zelo.
Mas e agora?
Lembro que em fevereiro de 97, em artigo que publiquei na Revista Shopping Music sobre marchinhas de carnaval (A Marchinha Agoniza, mas não Morre), inseri opinião de Leon, segundo a qual a marchinha sobreviveria se “Roberto Marinho começasse a fazer um programa em que só tocassem marchinhas de carnaval, aí seria possível trazê-la de volta, caso contrário...”.
Marinho morreu e a marchinha hoje pula miúdo no salão de Momo.
Sim, o fundador do Revivendo tinha dimensão da importância e força dos meios de comunicação; e para ele, era a Globo e ponto!
Multiplicam-se as leis de incentivo cultural por aí a fora e mínguam com a mesma rapidez as chances para projetos de real valor, seja pelos entraves burocráticos comuns ao Estado, seja pelo controle imperial dos espaços por grupos fechados etc.
A política cultural do País, a meu ver, precisa ser democratizada com seriedade e firmeza.
Revivendo sempre existiu sem apoios institucionais, você sabia?
Pois é.
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♦ Eliane Alves manda dizer que amanhã haverá lançamento da Editora Horizonte, que comanda, no bar Brahma, à Avenida São João, 677. O livro é de Luciana Fátima e Arlindo Gonçalves: Carinhas(os) Urbanos (os), com prefácio do jornalista Heródoto Barbeiro. Na compra de um exemplar, um chopp 0800, isto é: na faixa. Informações pelo telefone 3333.0855.
♦ Luciana Stábile também avisa que a Jazz Sinfônica e Fábio Caramuru apresentam músicas de cinema no Auditório Ibirapuera, nos próximos dias 16 e 17. No repertório, pérolas como Blue Moon. Mais informações pelo email imprensa@iai.org.br ou pelo telefone 3629.1017.
♦ A talentosíssima Cris Aflalo manda email convidando para apresentação única que fará no próximo dia 16, no Teatro Cacilda Becker, no Paço Municipal de São Bernardo do Campo. O convite é extensivo a todos os que gostam do que é bom. Informações pelo telefone 4348.1081.

ESPETÁCULO PARA TODAS AS IDADES

Singelo e muito bonito.
É assim o espetáculo infantil Sapecado, com texto e direção assinados por Marcelo Romagnoli.
No palco dez atores, mais o talentoso sanfoneiro Olívio Filho, o Olivinho, enchem os olhos de todos.
A história é simples: uma mulher do campo, um cachorro vira-lata e um carteiro aspirante a cantor fazem viagem por estrada comprida até um lugarejo imaginário de nome do título da peça, para assistir a um casamento nos moldes antigos. No correr do caminho, coisas curiosas e engraçadas acontecem. Entre essas as quais, o desafio entre o bem e o mal representados por uma benzedeira e pelo Demo; e a troca de falas entre uma vaca e sapos, enquanto, de noite, a mulher e o carteiro, doidos pra dormir, se vêm às voltas com muriçocas e outras pequenas pragas incômodas dos brejos dos confins do País.
Antes disso, e de tudo terminar numa bela festa caipira com a mulher Assunta e o carteiro Adauto fazendo juras de amor eterno, a platéia se deleita com a categoria e graça dos atores tocando e cantando cantigas do mundo rural, algumas autorais e outras adaptadas do nosso folclore. Tudo fluindo ao som de instrumentos simples, como o tarol, a viola e o contrabaixo.
Perfeito.
Ah! Sim, mas é bom que se diga logo e com prazer: Sapecado não é um espetáculo só para o público infantil; é um espetáculo para todos os públicos.
A foto que ilustra este texto é de autoria de Edu Marim Kessedjian.
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Vão se agendando aí: o Grupo Sombrero de Teatro, sob a direção de Sérgio Milagre, apresenta nos próximos sábado e domingo, no Teatro Irene Ravache (Rua Capote Valente, 500, Pinheiros), a peça O Grito, de Plínio Marcos. O texto é uma adaptação de outros textos de Plínio: Querô, O Abajur Lilás e Navalha na Carne. Traz a trajetória de um menino de rua como tantos, filho de prostituta como tantas, que come o pão que o diabo amassou e ainda paga caro por não se render a policiais bandidos e outros personagens do submundo, na sua luta pela sobrevivência. Atualíssimo. Reflete a sociedade injusta em que vivemos.
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De Luciano Sá, assessor de imprensa do Centro Cultural Banco do Nordeste, recebo informação de que o IV Festival BNB da Música Instrumental apresentará 22 concertos de 14 formações instrumentais oriundas de seis estados de quatro regiões brasileiras (Nordeste: Ceará e Paraíba; Sudeste: Rio de Janeiro e São Paulo; Sul: Paraná; e Centro-Oeste: Distrito Federal). Essas apresentações ocorrerão entre os dias 14 e 17 próximos, com entrada franca. Detalhes através de lucianoms@bnb.gov.br ou pelos telefones 85.3464.3196 e 8736.9232.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

A VIDA É UM PUF!

Poxa!
Domingo que passou o meu amigo Jarbas Mariz, paraibano que nem, pediu que eu fizesse uma letra pruma música sobre futebol, que falasse de ontem e de hoje. Também sobre Copa em África, Brasil, Olimpíada etc.
Tarefa e tanto!
Pensei sobre o assunto, na segunda.
Na terça fui a Niterói palestrar Patativa como tema, cultura popular como vida no SESC de lá.
Para educados e educandos, recebidos e bem recebidos fomos por Mariana e Eliana, deusas amabilíssimas.
A Andrea adorou.
E eu também.
Gostei de ver o Pão de Açúcar pelas costas e do mar de Niterói batendo nos nossos pés. Beleza, eu moraria lá. No mar.
Mas eu tava falando mesmo era do Jarbas. Mariz.
Braço direito querido, braço esquerdo pensante do baiano Tom Zé. E ele, Jarbas, me pediu letra para uma música.
Como negar?
Lá vai um sambinha-embolada do jeito-jeitinho que tem de se gostar:

O PAÍS DO FUTEBOL
Jarbas Mariz/Assis Ângelo

Você vai ver
Você vai vibrar
Com o Brasil em campo
Jogando pra ganhar

Agora nessa Copa
E depois em 14 e 16
Vamos botar pra quebrar
Fazendo o que ninguém fez

É 10!
É 14!
É 16!
É o Brasil fazendo
O que nunca fez

Brasil!
Brasil!
Brasil!

Já tivemos Friedenreich
Leônidas, Rivelino e Tostão
Pelé e Mané Garrincha
Brito, Piazza e Falcão

E mais a gente teve:
Zagallo, Zito e Vavá
Didi, Gérson e Jair
Agora Fabiano e Kaká

E mais e muito mais:
Alex, Ramires e André
Robinho, Lúcio e Nilmar
Luís, Victor e Josué

E mais e mais e mais...

Para essa nova Copa
Talento não vai faltar
Isso você vai ver
Nisso pode apostar

- Hexa! Hexa! Hexa! (grito de guerra)

A disputa na África
É a prova dos nove
Com os 11 no campo
Toda parada resolve

Campeão de 58
Bi de 62, tri, tetra e penta,
Quem sabe agora hexa
Isso tudo você aguenta?

Brasil!
Brasil!
Brasil!

Copa e olimpíada
É grande a emoção
Torça muito e brinque
Segurando o coração

Você vai ver
Você meu irmão
Um novo Brasil
Com taça na mão.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

CORINTHIANS, LULA E PATATIVA DO ASSARÉ

Como vezes acontece, ontem quase fim de noite a querida Inezita Barroso, o vozeirão de tantas canções, e emoções, telefona para contar novas. Diz que à tarde esteve tomando uns uísques e almoçando com veteranos do Corinthians, na sede da Gaviões da Fiel, no Bom Retiro, bairro onde em 1910 foi fundado por cinco operários o Timão das grandes torcidas. Melhor: da maior torcida de futebol do País, como todo mundo sabe.
Mas por que Inezita foi almoçar na sede da Gaviões?
Ora, porque é corinthiana desde menininha. Chegou até a gravar música em homenagem ao time do seu coração: Corinthians meu amor, de Idibal Piveta, advogado de presos políticos que no campo das artes ainda aparece como César Vieira, criador do grupo de teatro União e Olho Vivo; e Laura Maria.
E o livro, Inezita?
Diz que não sabe. O que sabe é o que eu também sei: que Arley Pereira, que partiu sem aviso prévio rumo à Eternidade, escreveu um livro a seu respeito, com prefácio meu, e que deveria ser publicado pela Editora 34. Mas o livro até hoje, não saiu e não sabe se sairá ou não.
Que coisa!
E que mais?
Diz que achou uma besteirada o chororô de alegria em que caiu boa parte do povo brasileiro aos saber que o Rio de Janeiro foi escolhido como sede das Olimpíadas de 2006. E eu?
Bom, eu achei legal.
Um prêmio para o Brasil e demais países de nuestra America.
Aliás, o mesmo achou o amigo Peter Alouche na mesa de restaurante em que tracei, ontem, um bacalhau e tomei umas também, que não sou de ferro. Ele disse: “Eu estava no Paraná, num congresso, quando o ambiente explodiu de alegria com o anúncio feito pelo Comitê Olímpico Internacional, COI, em Copenhague, Dinamarca. E chorei de emoção”.
Chorar, eu não chorei; mas, repito: achei legal.
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O cineasta Luiz Carlos Barreto, o Barretão, disse ontem à Folha que espera um público de 20 milhões para o filme Lula, o Filho do Brasil, do qual é consultor. Disse também que espera ganhar muito dinheiro com a fita dirigida pelo filho, Fábio. Mais: que o filme, com lançamento previsto para 1º de janeiro próximo, não tem nenhum vínculo político; que votou no Serra e que está se “lixando para a eleição, de dona Dilma ou de quem quer que seja”.
A ordem é faturar.
Mas fico pensando, cá com meus botões: não seria melhor e mais honesto fabricar e vender sabão?
Aliás, uma lembrança: durante a pré-produção do filme, o telefone tocou e Paulo Vanzolini atendeu. Do outro lado do fio, alguém que se identificou como Barreto pedindo a autorização do samba Volta por Cima, para a trilha do referido filme. Pela autorização, o autor, Paulo, receberia R$ 5 mil. Educadamente, “mandei o cara plantar coquinhos”.
Fica o registro.
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Embarco daqui a pouco a Niterói. Vou palestrar sobre Patativa do Assaré e lançar o CD O Poeta e o Jornalista, no SESC de lá. Vejam a programação pelo site www.sescrio.org.br

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O ESPECIAL LUIZ VIEIRA, NA CULTURA DIA 6

Tenho recebido muitos emails, perguntando por que não escrevo todo dia.
O Luiz Paulino, por exemplo, manda: “Vamos atualizar o blog, afinal desde sexta-feira que não entra nada de novo. Eu sou um dos milhões de assíduos internautas que diariamente pedem a sua bênção, clicando lá (no blog)”.
Na verdade eu quero, mas não está muito fácil encontrar tempo para postar texto todo dia, pois ando terminando novo livro, viajando para palestras etc.
Agora mesmo acabo de voltar de São José dos Campos.
Conto depois.
Amanhã, antes de um encontro na Casa de Cultura da Freguesia do Ó, dirigida pelo multiinstrumentista Jarbas Mariz, digo umas coisas (já gravadas) sobre cultura popular, política e pré-sal, na rádio Trianon. Domingo, na Rádio Cultura, falo sobre o grupo Demônios da Garoa em série de Luiz Giron baseada no livro que acabo de publicar via Grupo Trends Tecnologia, do empresário Assis Benites: Pascalingundum! Os Eternos Demônios da Garoa.
Aliás, vocês que me lêem, já o leram?
Segunda, antes de embarcar para uma palestra no SESC Niterói, no Rio, onde falarei sobre a importância de Patativa do Assaré no campo da poesia, estarei na telinha via Net e TVA.
E assim vamos.
Da jornalista Deborah Morabia, recebo release no qual se lê: “INÉDITO – TERÇA, DIA 6À 0h10 – MOSAICOS – A ARTE DE LUIZ VIEIRA – O programa Mosaicos presta homenagem ao cantor e compositor Luiz Vieira, com apresentações exclusivas de Trio Virgulino, Arirê e Ana Salvagni, além de depoimentos e interpretações de Pery Ribeiro e Carlos José. O documentário musical também revê a trajetória do artista por meio de imagens do acervo da TV Cultura, com participações de Luiz Vieira nos programas Bem Brasil (1992), Ensaio (1991), MPB Especial (1975), dentre outros. No repertório, sucessos como Estrela Miúda e Na Asa do Vento (Luiz Vieira e João do Vale); Largo do Cafunçu e Coreana (Luiz Vieira e Ubirajara dos Santos); e Guarania da Saudade (Luiz Vieira). A direção é de Nico Prado e a narração de Rolando Boldrin. Classificação indicativa: livre”.
Ótimo, pois sempre é tempo de lembrar Luiz Vieira, de batismo Luiz Rattes Vieira Filho, cantor, compositor, ator, o bute! Até tropeiro, lavrador, engraxate e pescador de siri o danado foi. E guia de cego também, com direito a almoço no lendário Hotel Glória, no Rio de Janeiro; ao lado do diabo cego, é claro.
Nascido na chamada capital do agreste pernambucano, Caruaru, no Dia da Criança há 81 anos, Luiz Vieira fez história.
Fez e continua fazendo, inclusive jús ao dia em que nasceu.
Compôs e cantou, e canta ainda muito bem.
Aos oito anos, no Rio para onde se mudou com os pais dona Anita e seu Luiz, pôs melodia nuns versos que não eram seus, mas de um professor de nome Ulisses. Estes:

O vento tem carta branca
Ele faz tudo que quer.
O vento gosta de saia
Persegue toda mulher.

Faz tempestade e faz graça.
Em tudo mete o nariz,
Em toda parte se acha,
É prazenteiro e feliz

Sentindo falta de algo mais para completar a canção, ele inventou esta quadra com rima entre o 1º e o 3º versos:

Outro dia eu vi o vento
Ventando lá na avenida,
Entrando no apartamento,
Procurando uma menina.

Há anos Luiz Vieira apresenta todos os dias o programa Minha Terra, Nossa Gente, pela Rádio Carioca (AM 1400 kHz), no qual fala de gente do seu (e do nosso) tempo, com a simplicidade dos mestres.
Luiz é autor de clássicos, entre os quais O Menino de Braçanã, em parceria com Arnaldo Passos (1954) e Prelúdio pra Ninar Gente Grande, mais conhecido como Menino Passarinho (1962), com gravações até no Exterior.
Ele estreou no disco em julho de 1951, ao gravar, de sua autoria, Baião da Vila Bela e Coreana, no dia 10 de maio desse ano.
O Baião de Vila Bela é uma pérola.
Seus três primeiros discos traziam só baiões e o nome de um amigo que sua generosidade escolheu como parceiro, sem numa nota ou verso ter contribuído: Ubirajara dos Santos.
Além de compositor etc., Luiz Vieira é também um grande declamador.
Procurem e ouçam Se eu Pudesse Falar, poema lançado em 78 RPM em maio de 1953, pelo extinto selo Todamérica. Vale a pena procurar.
O selo Revivendo Músicas, do amigo pernambucano Leon Barg, é um caminho. No mais, quem procura, acha.
Bom, nos agendemos para assistir o Mosaicos especial da TV Cultura, à boca da madrugada de 6 próximo.
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Aproveito para agradecer os votos de vida longa enviados por amigos e leitores deste blog, entre os quais Laudecy Ferreira, Aparecida Ceciliano, Darlan Ferreira, Alcides Campos, Jarbas Mariz, Telma Nakano, Rozangela Inojosa, Roniwalter Jatobá, que me fez beber cachaça; Peter Alouche, que quer me dar um porre de uísque; cantador Sebastião Marinho, que quer cantar para mim; as cantoras Célia & Celma, que escreveram: “Dia de aniversário não é apenas para desejar felicidades para o tempo que virá, mas, também, para comemorar as conquistas do ano que passou. E nisso você é campeão! Que tenha sempre saúde para novas vitórias”.
Que posso dizer emocionado ainda como estou?
Obrigado a todos, de coração.
E arriba, e rumo aos 58!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

JATOBÁ, PARA CRIANÇAS DE TODOS OS TEMPOS

Adorei.
Há tempo eu não lia um livro infanto-juvenil, isto é, dirigido ao público infanto-juvenil, tão bonito quanto esse “Viagem ao Outro Lado do Mundo”, chancelado pela Editora Positivo e de autoria do mineiro de Campanário nascido em 49 Roniwalter Jatobá, também autor de livros importantes para a bibliografia brasileira, como A Crise do Regime Militar (Ática; 1997), O Jovem Luiz Gonzaga (Nova Alexandria; 2009) e tantos.
Roniwalter é uma antena aguda e sensibilíssima do Brasil. Sua sensibilidade ajuda a nos mostrar a grandeza deste País, seja através de seus contos desenvolvidos quase sempre com base no Real, seja através das histórias que busca sob o tapete da poeira do tempo a realidade do Brasil.
No que faz, Roniwalter é dos poucos.
Ele sabe o que diz.
E por saber o que diz Roniwalter conta nesse novo livro uma história simples para um público simples e em formação.
O autor fala de São Paulo, a cidade.
O autor, madeira de lei, fala do Metrô da cidade de São Paulo, do seu ruge-ruge e do ruge-ruge da cidade grande, e não de uma cidade grande qualquer, mas da 5ª maior cidade do mundo, que é São Paulo.
“Viagem ao Outro Lado do Mundo” se desenvolve de maneira tão natural; tão natural que fica, no correr da leitura, difícil até de acreditar que uma história tão banal, comum, tenha sido escrita por um autor do tamanho de Roniwalter.
Humilde, o grande escritor Roniwalter Jatobá desce do pedestal para contar o caso de um menino que é premiado pelo pai para conhecer São Paulo.
O menino dorme pouco, esperando o dia chegar.
A mãe prepara os detalhes, roupas etc.
E o menino se perde, quando chega a Sampa.
E se perde logo no Metrô, que hoje transporta 3,5 milhões de pessoas e muito mais de pensamentos, sonhos e dramas.
Como é bonito o novo livro de Roniwalter!
O autor mostra a solidariedade dos meninos de rua...
Chega!
Não vou falar mais.
Saiam correndo, vão comprar ”Viagem ao Outro Lado do Mundo”.
Presenteiem-no.
Vale a pena.
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Roniwalter é autor de um belo livro, entre vários que escreveu: "O Jovem Luiz Gonzaga". Pois bem, nos próximos textos estarei falando sobre três CDs que acabo de receber: Ed Carlos Canta Luiz Gonzaga, Luiz Gonzaga não Morreue Com a Sanfona Agarrada no Peito (Forroboxote 8), de Xico Bezerra.
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O ex-ministro não sei de quê Ciro Gomes, que detesta repórteres e imprensa, diz que Zé Serra é mais feio na alma etc. Putaquepariu! Assim não dá! Vamos ver o apito da Marina, porque o do Lulalá... Sei não.
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A Petrobras anuncia indícios de petrólçeo no pré-sal da Bahia. Essa história de pré-sal lembra o ditado: tão contando com o ovo no cu da galinha, e faturando... Aliás, sobre esse assunto falo em programa especial que vai ao ar segunda 28 pela NET e TV-A, e também pela rádio Trianon. Pois é: tá mais do que na hora de a sociedade brasileira discutir esse assunto.
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E essa história do Zelaya, hein? Acho que o Brasil está exagerando. O Brasil está indo pra uma direita indefinida, se me entendem...

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O COMÉRCIO DA VIOLÊNCIA

Os programas de televisão de coloração assustadora, inspirados no velho e sangrento Notícias Populares palistano dos anos 70/80, como o diário do começo da noite da Band e o seu similar de final de tarde da Record, e também um pouco o SPTV 2ª edição da Plim, Plim no ar no dia-a-dia à boca da noite pra quem quiser curtir, e outros mais que fazem da violência e morte cotidianas a vida deles próprios, têm me deixado pasmo, perplexo, dando a entender pelo medo que a vida dentro de casa é melhor do que a vida fora de casa. Noutras: que o cidadão de paz e ficha limpa no cartório anda preso no seu lar, enquanto o "outro" anda à solta cometendo horrores absurdos.
Poxa! Isso não é bom.
Precisamos é praticar mais e mais o salutar exercísio do ir e vir assegurado na Constituição Federal, Título II, Capítulo I, Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, Art. 5º, no qual é dito que somos "Todos iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza" etc.
Um amigo e conterrâneo de nome Geraldo me disse há uns trinta anos, em tom de alerta, que iríamos um dia chegar a esse ponto louco, o da desigualdade e do medo coletivos provocados pelo desrespeito e pela violência insana; essa, por si só, um produto de comércio muito valorizado no mundo cão, que é logo ali na esquina...
Resumo: violência gera violência, como sambemos, e como produto de troca e venda a alguém sempre interessa e beneficia.
Mas eu continuo chegando e saindo, até porque não rezo pela cartilha do isolamento social.
Não sou um Trevisan, não sou um Salinger.
Prefiro falar com as pessoas, tocá-las, rir, bricar, sair por aí.
Enfim, prefiro o risco de viver perigosamnte, como dizia Guimarães pela boca de Riobaldo.
Somos sertões em multidão, nordestes em cada peito.
Aliás terça anteontem 22 estive em São José dos Campos, interior paulista, 30ª cidade em grandeza do País, palestrando sobre o Nordeste em Sampa.
Foi legal.
Fui recebido por gente bonita, como Osvaldo, Cida, Fernando e Reginaldo Poeta Gomes paraibano como eu, que está lançando O Encontro Mágico do Pólen, livro que se ler num pulo. À página 71: "Portas/Janelas/Telhas./A vida é uma casa mobiliada/de dessvisos e incertezas".
Pois bem, faço esse arrodeio todo pra falar de uma mãe desesperada pelos atos de um filho de 14 anos. A mulher gritava, chorava enquanto mostrava a mão calejada ao delegado como prova de que era uma pessoa direita, trabalhadora e que tudo o que o filho pedia, ela dava com o maior gosto e carinho.
Até o que não podia dar, ela dava. O par de tênis importado que o danado do filho carregava nos pés, por exemplo. E aí a tristeza gigante: o moleque foi pego assaltando gente na rua, ao lado de más companhias...
Confesso, a cena me trouxe um nó na garganta que ainda insiste ficar.
Deus do céu, isso é o que deve ser o fim do mundo!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

RELEMBRANÇAS CORINTHIANAS: AGORA, 1 X 4

Eh, Coringão!
Tristeza.
1 a 4 a favor do adversário raçudo que se mostrou ontem no Pacaembu o Goiás, de Hélio dos Anjos.
Ouvi pela Pan, e também os comentários sucintos do amigo Fábio Sormani.
É de tirar o chapéu, sim, para o time do Cerrado que jogou bonito enfiando gols no espaço bobo do goleiro Felipe, diante de trinta mil e poucos espectadores.
E essa foi a primeira vez que o Timão levou de quatro – de quatro! – desde que Mano Menezes assumiu o comando, em janeiro de 2008, não foi David?
E não é pra qualquer um adversário. O Celsinho Sávio que o diga. O Zanfra, também.
Dramático o primeiro tempo. O segundo também, todo no tático 3-5-2.
Tímido, bobagem enorme. Erro.
Os adversários Iarley e Fernandão dominaram o jogo, e não era pra menos.
Poxa! E eu gosto tanto do Coringão, campeão mundial, tetra campeão brasileiro, tricampeão Copa Brasil e da supercopa do Brasil...
Já fui (hoje, não) ao Pacaembu e ao Morumbi gritar por ele, berrar por ele.
Em 1977, por exemplo, dia 13 de outubro – não dá pra esquecer –, eu estava lá, no Morumbi ao lado do amigo Antônio Carlos Fon e outros, torcendo a favor dele e contra a Ponte Preta.
Vinte e dois anos, oito meses e seis dias haviam se passado sem que o Timão abraçasse a taça de campeão paulista.
E naquele dia precisávamos apenas de um empate.
Zero a zero, no primeiro tempo.
A ansiedade tomando conta de todos.
Jogo retrancado, de ambos os lados.
O estádio lotado.
A surpresa ficando para o final.
O nervosismo aumentando.
Aos 36 do segundo tempo, pelo pé direito do meia Basílio, e depois de um rebote de Zé Maria na trave, veio o gol redentor.
Torcida em delírio.
O técnico era Brandão naquele 77, grande Brandão!
O presidente Vicente Matheus, de tantas boas clássicas. Umas:
- Sei não. Hoje acordei com esse tersol no olho.
- O jogo só acaba quando termina.
- O difícil, como todos sabem, não é fácil.
- O Sócrates é invendível, incomprável e imprestável.
Sócrates camisa 8 foi reforço contratado logo depois da grande vitória, em fevereiro de 78.
Poxa, as lembranças vêm à tona; de repente e à toa.
Por esses tempos eu tomava umas por aí.
No parque São Jorge, às vezes, com o Dr. Sócrates.
A foto acima lembra o tempo.
Cervejinha à mesa...
E na transmissão de Osmar Santos a pérola, ainda em 77: “Doce mistério da vida”, referindo-se, claro, ao Timão e ao belo resultado alcançado na ocasião.
Mas os tempos são outros.
Ontem, após o jogo, Ronaldo entrevistado pelo repórter da Pan à beira do campo disse o óbvio, com relação ao Goiás: "O time dominou em todos os aspectos".
E uma bobagem disse também: "Nosso objetivo já foi cumprido este ano".
.........................
E as figurinhas que aparecem no retrato do texto anterior, quem são?
Desistiram? O Coringão é time que não desiste. Isso vale como dica ou espelho.
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PLOCAS & BOAS
- Gostei de ver o ex-promotor público do Trabalho do Paraná, Dr. Ricardo Tadeu da Fonseca, ser empossado pelo presidente da República, Lula, como o primeiro Juiz de Direito cego do Brasil, que passa agora a ocupar o cargo de desembargador do Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região.
Como diria um amigo meu, Peter Alouche: nota 1 milhão!
- Você sabia que somamos cerca de 80% de deficientes visuais no País?
- A Folha deu manchete de página, ontem: “Viciados em jogos temem reabertura de casas de bingo”. Subtítulo: “Jogadores prevêem problemas familiares, caso Congresso legalize a atividade”. Pena, mas vai legalizar, porque o lobby é grande.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

E AS FIGURINHAS AÍ, QUEM SÃO?

Valendo a idéia do músico Júbilo Jacobino: quem acertar na identificação das figurinhas que aparecem na foto aí, ganha um kit litero-musical assinado por este aprendiz de bloguero, formado por um CD e dois livros.
Ah! Esqueci de informar ontem: hoje às 20 foi ao ar a primeira edição de uma série de três matérias sobre a trajetória do grupo musical Demônios da Garoa no programa A Voz Popular, do editor de cultura da revista Época Antônio Giron, na Rádio Cultura Cultura AM 1200 kHz de São Paulo. Será reprisada às 7 de domingo que vem, no mesmo dial.
Claro, recomendo.
Sobre o blog de ontem não custa lembrar a recomendação, por ser bom demais: o documentário Muito Além do Cidadão Kane que oi feito para a BBC de Londres em 1993, proibido no Brasil e cujos direitos a Record acaba de adquirir.
O locutor em off conta que Fernandinho Collor de Melo foi invenção da Plim, plim, e que suas primeiras aparições na telinha ocorreram no programa do velho guerreiro, Chacrinha.
E tem Lula, tem Falcão...
Até agora a Globo não se manifestou a respeito da compra ou não da não compra das redes Bandeirantes e Record...
Hummmmm...
Hoje começou a valer a ordem para que bananas sejam vendidas nas feiras-livres por quilo. Putz! Com tanta coisa importante para fazer, vem um deputadinho que não sei quem proibindo que seja vendida banana a granel, quando uma dúzia passava de doze e meia dúzia, de seis...
Fui!

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

GLOBO COMPROU BANDEIRANTES E RECORD?

Muita bomba foi pro ar acionada por repórteres e apresentadores nesses 40 anos de existência do Jornal Nacional, da Plim, plim, completados no último 1º deste mês.
Num tempo não muito distante, quase todo o Brasil parava às 20 para ver e ouvir o que sucedia à nossa volta, da mesma forma que parava para ver a novela Selva de Pedra. Só que o que sucedia à nossa volta era real e o que se via na telinha global era meio irreal, como até hoje é, aliás.
Politicamente, portanto, incorreto
Mas sabemos que a Globo é governista, quem não sabe?
E sempre!
É filosofia do dono que parte, mas fica. Se me entendem...
Poxa! E eu trabalhei lá, na Plim, plim, onde tenho até hoje amigos.
Com o William Bonner e outros companheiros da época íamos, depois de apresentado o Jornal da Globo – que eu ajudava a produzir, pois era meu trabalho –, jantar no Metrópoles, restaurante com pista de dança localizado ali no fim da Paulista.
Delícia!
Eu jantava e bebia uns gorós e ia dançar com quem fosse.
Gostava disso, pois relaxava. Ficava bem pra pegar melhor o batente no dia seguinte.
O Bonner foi sempre certinho, digo. Não ia à pista, preferia ficar à mesa papeando com a Marilena Chauí. Era melhor, acho.
Bom, há pouco navegando pelas entranhas do Youtube encontrei um documentário que há tempo quis ver: Muito Além do Cidadão Kane, documentário de 105 minutos, que passam rápidos, dirigido por Simon Harton para a BBC de Londres em 1993 e que a Record acaba de comprar por 20 mil dólares. É baseado na carreira do bam-bam-bam das comunicações norte-americanas Randolph Hearst, lembram?
É interessantíssimo.
Recomendo.
Há ótimos e esclarecedores depoimentos de colegas jornalistas como o bom Gabriel Priolli – hoje na TV Cultura, ao lado do querido Markum –, e de artistas como o craque Chico, que diz ser a Globo “mais realista do que o rei”. E de publicitários famosos como Washington Olivetto: "Muitas e muitas vezes nossa publicidade chega a ser melhor do que o nosso País". Phtgfbnnt! E também há, nesse documentário, depoimentos de tristes figuras dos tempos da repressão, como Armando Falcão.
Falcão, aquele que sempre tinha na ponta da língua a frase feita “nada a declarar”, proferida quando lhe perguntávamos algo a ver com a área da Justiça, da qual era ministro, baba nesse documento fronhas em louvor ao Hearts tupiniquim, seu chefe eterno e igualmente falecido, Roberto Marinho.
O Lula também aparece no documentário de Harton, espinafrando a sua casa de hoje, a Globo. Ora...
Pois bem, e como Pelé, o Lula de 93 já falava na terceira pessoa: “O Lula...”. Lá pras tantas, o Lula lembra, puto, que a Globo ouvia os dois lados nas reportagens que fazia: o do empregado e o do patrão, mas só a fala do patrão ia ao ar.
Muito Além do Cidadão Kane é muito bom.
Confiram.
Ah! Hoje no Jornal Nacional foram citadas com naturalidade as televisões Bandeirantes e Record. O pretexto foram ferimentos sofridos por repórteres dessas empresas cometidos por marginais do Rio de Janeiro, em tiroteio com policiais. Mortos, quatro.
Sei não, e por não saber pergunto: a Globo comprou as referidas TVs?
E os personagens da foto acima, quem são?
Uma dica: o da ponta da mesa sou eu, em 30 de março de 1988.
O local é uma das dependências do prédio onde está instalado hoje o jornal O Estado de S.Paulo

CONTINUAM QUERENDO NOS FERRAR

De repente, não mais do que de repente como diria o poeta, o Senado aprova liberdade de expressão via web.
Foi ontem.
Anteontem, mais de um terço era contra.
Dá pra entender?
São uns fela ou não são uns fela?
Essa raça brinca conosco, com o cidadão, com os eleitores, com o Brasil.
Dói, sim.
Mas não é pra menos, pois os exemplos de desgraceira que o Senado tem nos mostrado ao longo do tempo e da sua história não são poucos.
Na verdade são uma tristeza o Senado, a Câmara, e a Presidência do Brasil.
Pqp!
E ainda queriam os caras que vivem do bem-bom cercear o livre-pensar via web...
Epa!
Mas ainda não foi liberado o livre-pensar-falar pela web, notou?
Alguns jornais de hoje deverão falar a respeito. Tomara, senão falarei eu depois.
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O pasquineco oficial do Brasil Plim plim oficializou ontem que o Meirelles, poderoso do BC, estava insatisfeito com seus parceiros (banqueiros) estrangeiros. e usou, curiosamente, expressões do ramo próprio da Medicina. Disse que para frear um colapso é preciso usar de frieza na hora certa etc.
Hein?
Logo depois entrou o Dr. Lula falando de febre etc.
Caceta!
Uma vez mestre Câmara Cascudo, o Homem, sim, me disse na sua casa ser os brasileiros todos médicos, pois receitam tudo.
Tem dor de dente, use tal remédio.
Dor de cabeça, espinhela caída, bicho de pé, ora...?
Outra vez dediquei um opúsculo de minha autoria, A Presença do Futebol na Música Popular Brasileira, “aos 170 milhões de técnicos (...) inclusive a Felipão, por sua paciência, experiência, raça, teimosia e vontade, muita vontade de vencer a mediocridade reinante no mundo animal que fala, gesticula, nada diz e nada fala”.
Pois é, você aí entendeu?
Somos todos especialistas na cura de tudo, menos na cura dos nossos males reais, que são os que nos representam nas diversas esferas políticas.
E tem a febre suína, que ninguém fala mais: chegou de repente e de repente sumiu, que nem os parcos salários do trabalhador anônimo.
Fui!
Ah! Adivinhem quem está na foto que ilsutra o blog. Não, assim não vale. Tem que ser um por um.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O METRÔ DE SÃO PAULO, 35 ANOS

A Companhia do Metropolitano de São Paulo, Metrô, foi fundada no conturbado 68, ano em que o mundo todo pegava fogo e explodia em manifestações diversas, com prisões, tiros, mortes e o diabo a quatro. O primeiro trecho, de sete quilômetros, passou a funcionar na manhã de 14 de setembro de 1974, entre as estações Jabaquara e Vila Mariana. Naquele tempo, eu ainda não habitava a cidade. Isso aconteceria somente em 76. Doze anos depois, e depois de passar pela Folha de S.Paulo como repórter e chefiar a reportagem da Editoria de Política do jornal O Estado de S.Paulo, eu dedicaria onze anos seguidos da minha vida à Companhia, cuidando do seu Departamento de Imprensa. Boas lembranças... O Metrô continua sendo o orgulho do sistema de transporte público para paulistas, paulistanos e todo mundo que o usa. Deve-se dizer, porém – e isso nunca é dito –, que a mão-de-obra nordestina foi fundamental para o Metrô de São Paulo ser o que é hoje. E também a cidade, fundada pelo jesuíta espanhol José de Anchieta. Não é à toa que a capital paulista acolhe mais de 2 milhões de nordestinos. Sobre esse assunto farei palestra no próximo dia 22 numa unidade do SESC, em São José dos Campos. ......................... O que se passa com a cabruêra de terno e gravata do cerrado, hein, que tem à frente dos seus e nossos destinos a lamentável figura do rei do Maranhão como cacique mor? Agora o alvo dessa raça duvidosa é a web. Dos 81 cabras que representam os brasileiros, ai, ai, ai, pouco mais de um terço até ontem se mostrava favorável a derrubada de artigo que restringe a livre expressão nas páginas da Internet a partir de 2010, ano de novas eleições. São uns 40 os países que são contra a liberdade de pessoas dizerem o que pensam, entre os quais Arábia Saudita, Mianmar, China, Coréia do Norte, Cuba, Egito, Irã, Uzbequistão, Síria, Tunísia, Turcomenistão e Vietnã. Agora se dormirmos no ponto, será a vez de o Brasil engrossar a lista. Um dia eles invadem o nosso jardim, roubam nossa flor e não falamos nada... Lembram desses versos? Pois é. Ah! Na foto que ilustra este blog apareço ao lado de um colega de trabalho, Osmar Maeda, numa viisita às obras de construção da estação Trianon/MASP, a cerca de 20 metros do leito da Avenida Paulista. Fica o registro.

domingo, 13 de setembro de 2009

O MUNDO E O NADA NA TV

O mundo capitalista sobrevive pelo pão e pelo circo.
Em nome do povo tudo se faz. E de Deus também.
As religiões, as seitas espalhadas por aí mostram isso.
São inúmeras, para todos os gostos.
Na telinha da sala desfilam horrores e bobagens de todos os tipos, principalmente aos domingos. Concorrem Faustão, Netinho, Eliana e outros que tais.
Quem mostra mais bobagem?
Quem faz pior?
Pelos programas do Faustão e do Netinho passei hoje ao largo. De carona, vi a loirinha do SBT. Mas pergunto: pra que nos serve saber que 13 ou 14 cordões de elástico, daqueles de amarrar maços de qualquer coisa, sustentam um peso de 80 quilos, hein? E lá estava um sujeito pendurado, dando provas da resistência dos cordões...
Depois entra em cena Cacá não sei quê, ao lado de uma massagista.
Depois um garotão tímido, “virgem” segundo a apresentadora, contracenando com uma... Mulher Melancia, rainha do funk ou sei lá. E aí não deu mais, eu saí da sala envergonhado do que vi.
Poxa! E tanta coisa boa e bonita pra mostrar...
De manhã, antes de passear no Parque Villa-Lobos ao lado de Clarissa, Andrea e os meninos, e de rever o amigo Sinval de Itacarambi Leão, ouvi na Rádio Jovem Pan a transmissão do circuito de Monza. Achei legal, vibrante. Parecia transmsissão de futebol. Claro, claro, bem melhor do que ver e ouvir na telinha as abobrinhas do Bueno. Mesmo! O Barrichello saiu na 5ª posição, subiu logo, logo, pra 4ª e passou pra 2ª. Ao fim, papou o prêmio.
Mas é tudo circo, não é mesmo?
O inho filho do Piquet está aí pra provar.
Ah, não, Deus do céu! Não vou falar sobre isso.
É muita baixaria!

sábado, 12 de setembro de 2009

DIA DE VANDRÉ

O amigo e conterrâneo Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, Vandré, completa hoje 74 anos de idade. Nasceu na capital paraibana, numa quinta-feira de chuva. Estudou, fez Direito e virou artista.
Como cantor e compositor, ele gravou e levou à praça apenas cinco LPs, o primeiro em dezembro de 1964 pelo selo Áudio Fidelity, com texto de contracapa assinado por J. L. Ferrete, em cujo primeiro parágrafo se lê:
“Geraldo Vandré já se constitui em figura de grande prestígio no cenário musical do Brasil, malgrado ser apenas um jovem de 28 anos e ter ingressado no profissionalismo há comente 5 anos”.
Mas antes disso, muita água rolou rio abaixo.
Tinha uns 14, 15 anos quando se apresentou pela primeira vez num programa de calouros da Rádio Tabajara, em João Pessoa. E foi reprovado. Depois, a contragosto, foi levado a estudar num colégio interno, o São José, no município pernambucano de Nazaré da Mata, de onde saiu no começo dos anos de 1950 e foi morar no Rio de Janeiro, junto com os pais. Nas horas altas da noite, muitas vezes João Gilberto passava para apanhá-lo em casa e o levava a cantar em boates.
O pai, seu Vandregísilo, não gostava disso.
Quantas histórias!
É conversa a história de a mãe, dona Maria, ter patrocinado uma gravação em cera do filho. Ela o apoiava no propositor de ser artista. Apenas isso. E estava certa, pois Geraldo Vandré se tornou um dos mais importantes artistas da música brasileira. O mundo que o diga.
Ontem ao lhe telefonar para parabenizá-lo pelo aniversário, eu o senti de bem com a vida, apenas uma reclamaçãozinha fez: não lhe pagam o que lhe devem no campo do direito autoral. E olha que houve um tempo que ganhava mais do que Roberto Carlos. Seus contratos eram milionários.
Viva Geraldo Pedrosa de Araújo Dias!
Viva Geraldo Vandré!
A foto que ilustra este blog foi feita no camarim do Palace, cá em Sampa, quando levei o autor de Pra não Dizer que não Falei de Flores para assistir a um espetáculo do também conterrâneo Zé Ramalho em 2000, ano em que foi lançado o CD duplo Nação Nordestina, com texto escrito por mim.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

CALDEIRÃO CAI, COM BOMBAS E BALAS

O dia 10 de setembro de 1936 terminou com um pedaço de chão do Cariri cearense encharcado do sangue de mil mortos.
A violência partiu do céu, com avião do Exército soltando bombas e balas pela primeira vez sobre a cabeça de compatrícios inocentes: crianças, mulheres e homens que só queriam viver na santa paz de Deus.
Por terra, o ataque também foi intenso.
As vítimas tombaram sem reação, surpreendidas pelo ataque covarde dos homens que por princípio deveriam zelar pela lei e pela ordem.
Mas não, um horror!
Os casebres pegando fogo.
Um pandemônio.
Só escapou quem a sorte quis.
Aos mortos, coitados, coube cova coletiva feita em local até hoje não identificado.
O cenário dantesco pouco se diferenciava do que se viu em Canudos de Conselheiro, no sertão da Bahia, nos fins dos 800.
Lá não havia avião de guerra, porque ainda avião não havia.
O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto – um sítio fincado em solo do Deus-dará – tinha uma área de 500 a 700 hectares, cedidos pelo padre Cícero do Juazeiro ao beato Zé Lourenço, chamado pelos representantes das forças repressoras de “fanático tresloucado” e “marxista prático”, tal como o Conselheiro.
Situava-se o Caldeirão ao pé da serra do Araripe, a 20 km do Crato e a 540 km de Fortaleza.
Pouco mais de 1500 pessoas o habitavam.
A classe dominante temia seu líder, o paraibano analfabeto Zé Lourenço.
Por isso, Caldeirão caiu.
Como Canudos.
E nem uma nota nos jornais saiu falando do cometimento dessa injustiça.
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Amanhã 11 de setembro, ops! é sexta.
Às 21 horas, à Avenida Paulista, 119, a Cia. do Tijolo volta a apresentar o belo espetáculo Concerto de Ispinho e Fulô. Ao contar histórias do sertão e sertanejos, com base na obra do poeta-agricultor Patativa do Assaré, o grupo faz referência ao massacre de Caldeirão.
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O cienasta Rosemberg Cariri, sensível, competente e prático, tem um documentário que recomendo assistir: "O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto". É de 1986.
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O imperador do Maranhão está pedindo liberdade total na Internet. Justifica dizendo que "é impossível fazer qualquer controle na rede".
Pôxa, ele acaba de descobrir a roda. Agora só falta pôr um ovo em pé.
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O pré-sal já está dando lucro. Pro Lula.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

BRASIL BRASILEIRO DE ISPINHO E FULÔ

O nosso país de dimensões continentais, novo ainda para o mundo, é, sim, injusto com seus filhos.
Quanta gente incrível chega e parte no anonimato, embora muitas vezes seja dotada de inteligência e sensibilidade invulgares?
Quantos de nós sabemos, por exemplo, ou lembramos quem foi Paula Nei, Álvaro Martins, Joaquim Serra, Raul Machado, Domingos Margarinos de Sousa Leão, Cristóvão Barreto, Rodolfo Teófilo e Ferreira Itajubá, que escreveu uma quadrinha que diz assim:

Quem canta alivia as apenas
Ah! Se eu pudesse cantar
Como canta o verdelinho
Nas ribanceiras do mar!

Eram poetas nordestinos esses todos, nascidos nos séculos XIX e XX, que ousei, após seleção rigorosa de poemas deles, gravar num CD ano passado com tiragem de 1000 cópias, que ninguém deu bola, que ninguém disse nada.
E Renato Caldas, quem foi?
Dica: nasceu na terra de Itajubá e Auta de Sousa.
Quem foi Auta de Sousa?
De outra terra, mas do nosso mesmo Brasil, foi também Alberto Nepomuceno.
O amigo aí saberia dizer quem foi e o que fez na vida Alberto Nepomuceno?
Certa vez lá em casa, Belchior me desafiou: por que você não escreve um livro sobre Alberto?
Estou devendo...
Ah! Claro, políticos-poetas e contistas que assinavam como Barão do Rio Branco e Rui Barbosa muitos conhecem, mas de onde eles eram?
Rui era baiano, tudo bem, todos sabem. E o barão, e o que fez ele de tão importante para o Brasil?
Leonardo Mota, que sabe quem foi?
E Gustavo Barroso, Afrânio Peixoto, C. Nery Camello?
Camello descobriu um cara no mundo da poesia, chamado Zé da Luz? Já ouviu falar? Zé:

Campina Grande! Campina!
Sois a cidade aloprada,
Sois a cidade-sustança!
Reúna dez cidadesinha
Que tu Campina, sozinha
Pesa mais numa balança.

E Abílio Victor, Inaço da Catinguera, Joaquim Mello, Chico Nunes das Alagoas?
No livro O Poeta do Povo, Vida e Obra de Patativa do Assaré, à página 45, eu falo de poetas esquecidos, inclusive de Juvenal Galeno mais antigo, e mais novo Chico Pedrosa que ninguém dá bola.
Com relação a Chico, o Lirinha andou declamando e até gravando umas coisas.
De Luiz Campos e Alberto Porfírio, ninguém fala.
Pois, é.
No nosso país poeta vivo vale pouco; morto, nada.
Poxa! E eu ia falar do Francisco Araújo, um violonista do tamanho do mundo.
Ia falar também de Elifas Andreato, um cara que no mundo não tem outro...
Ia voltar a falar mais um pouco da Cia. do Tijolo e do Concerto de Ispinho e Fulô.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

ISPINHO E FULÔ, UM BELO ESPETÁCULO

Fui, vi e gostei.
Foi sábado 5 último, às 21, na unidade Avenida Paulista do SESC.
Oito bons atores, mais um sanfoneiro, num palco improvisado falam, cantam, se movimentam desembaraçadamente entre utensílios domésticos e ferramentas de uso comum no campo, incluindo enxadas. É simples o cenário; tudo é simples para uma história também simples, mas séria, que se passa nas quebradas do sertão nordestino, onde ainda um exército de gente forte vive ao Deus-dará, sem estudo, sem emprego, sem profissão, sem amparo, sem respeito, rejeitado pelo poder público. É uma gente bonita essa, carente e sem anel de doutor enfiado no dedo, que sobrevive a todas as intempéries da vida, impolutamente.
A história – Concerto de Ispinho e fulo – começa pelo microfone de uma emissora de rádio fictícia, a Caldeirão conexão São Paulo/Assaré, anunciando notícias e condições climáticas da grande cidade, São Paulo, e também da pequena cidade, Assaré, CE.
Prossegue com um canto em coro afinado, a cargo dos atores, e uma colagem de poemas de autores diversos, que vão de Drummond a Bilac, de Castro Alves a Camões.
Beleza, sem tirar nem pôr.
No palco, bem discreta, a figura do poeta Patativa, ex-cantador repentista e cordelista sem banca na feira, sem nenhuma banca, vai surgindo devagar e crescendo, crescendo... Palmas para o intérprete pernambucano de Tacaimbó, Dinho Lima Flor.
A alguns presentes na platéia, atores solicitam que escrevam a giz seu nome e uma palavra qualquer, de maneira espontânea.
Essa interação é boa, a ver com o personagem Patativa – semi-analfabeto –, que emergiu do nada para a fama.
O espetáculo Ispinho e fulô tem por base a poética do autor de A Triste Partida e enxertos ilustrativos da didática do educador Paulo Freire, que o enriquecem...
E com singeleza e simbolismo, sob a direção de Rogério Tarifa da recém criada Cia. do Tijolo, de São Paulo, nova, formada por atores novos e surpreendentes, tudo transcorre com naturalidade espantosa, ganhando formas; belas formas, diga-se.
A história faz rir e emociona em vários momentos.
A cena que a foto exibe neste blog, é simplesmente hilariante.
O poeta de Assaré foi um exemplo de cidadão, oxalá a Cia. do Tijolo se firme como exemplo de bom teatro.
Teatro se faz com verdades.
Ah! Acho que todo mundo deveria ir assistir Ispinho e Fulô. Vale a pena, ora se vale! De sexta-feira a domingo, às 21 horas, à Avenida Paulista, 119. Reservas pelo telefone 3179.3700.
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Domingo 6 quase no fim da noite fiquei sapeando com o remoto na mão. Só besteiras nos canais, em todos. Irritado, já estava desistindo quando topei na Rede Vida dois amigos, um tocando violão magistralmente, o Francisco Araújo, tão novo e tão mestre; e o Elifas Andreato, autentissímo fazendo uma espécie de balanço da sua vida. Sensível, incrível. Despiu-se. Isso é pra poucos. Amanhã falarei a respeito.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

TRISTEZA: O BRASIL ESTÁ MORRENDO

Uma jovem cearense de 17 anos, de nome Ana Cristina, voltava da escola quando uma bala a achou e a matou na noite da última segunda 31 na favela Heliópolis, zona sul de São Paulo, onde vivia desde os quatro anos de idade, sonhando ser pedagoga e cuidar de crianças abandonadas, carentes.
Já tinha uma filha a quem dera à luz aos 15 anos, e cujo companheiro construíra uma casa para os três morarem.
Triste, mas até aí os mais frios podem dizer que isso corre todo dia em algum lugar do País; aliás, quase rotina no Rio de Janeiro.
Pois bem, tudo indica que a bala assassina saiu do revólver de um policial idiota, irresponsável, cretino, que anos atrás foi expulso da corporação por usar as dependências do quartel para manter relações sexuais com mulher estranha à corporação.
É agravante.
O palco do crime virou campo de guerra com a polícia partindo pra cima dos moradores em protesto contra a violência, contra a impunidade secular neste Patropi.
Pelo menos 13 automóveis foram incendiados pela turba em polvorosa.
Duas dezenas de trabalhadores foram detidos para averiguação...
Logo depois, na telinha da Plim, plim ouvi o correto ministro Marco Aurélio Mendes de Farias Mello, do Tribunal Superior Federal, STF, dizer do seu aperreio perante a realidade que nos cerca:
– A falta de segurança no Brasil nos alarma.
Esse ministro é o mesmo que não faz muito disse que “a inviolabilidade é a regra” e pronto!
É defensor dos direitos humanos, seja que tipo for o humano.
Foi o mesmo Marco Aurélio Mello quem disse que “não há o que retrucar quando o algoz é o próprio Estado”.
Essa fala, meus amigos e amigas, ele a expôs ao decidir pela condenação da Rede Globo de Televisão a indenizar os proprietários da Escola Base – lembram? – por “danos morais”.
Sem dúvida, ouvir isso hoje em dia da parte de alguém tão importante na cena brasileira chega a ser, sem dúvida, um grande alento. Isso quer dizer também o seguinte: que o nosso País ainda tem jeito.
O governador de São Paulo poderia se espelhar no ministro e também se indignar e tomar providências de fato contra a incompetência policial, pois a onda de crime é realmente uma onda assustadora.
Da parte federal, diria que o presidente da República, que é de Pernambuco, nordestino como Ana Cristina, também poderia arregaçar as mangas e partir para a solução que o caso da violência, seriíssimo, exige no País.
Ele nos faria bem a todos se fizesse isso.
Ontem, da noite para a madrugada, na Plim, plim, assisti reportagem especial de Caco Barcelos sobre a violência contra brasileiros jovens.
Um documento e tanto!
O Brasil precisa parar de morrer, minha gente.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

DE VANUSA E HINO NACIONAL BRASILEIRO

Hoje, início de novo mês, eu pretendi dedicar, aqui, espaço maior sobre a companhia aérea Gol, por inventar de tomar dinheiro de seus incautos passageiros nos vôos pelos céus do nosso Patropi, mas desisti.
Motivo?
O fato de agora nos vermos obrigados a pagar pelas bobagens sem gosto que nos põem sobre o colo quando estamos a bordo. Essa tarefa, a de falar sobre o assunto, deixo para os coleguinhas de batente dos jornais do dia-a-dia.
Por que desisti?
Por continuar recebendo e-mails nervosos que põem a cantora Vanusa no fogo do inferno, por causa da péssima apresentação que fez num evento em março na Assembléia Legislativa de São Paulo. Na ocasião, ela tentou interpretar o Hino Nacional Brasileiro, mas não conseguiu.
Esse hino, certamente o mais bonito do mundo, foi gravado pela primeira vez de forma instrumental pela Banda da Casa Edison, no Rio, e lançado pela Zon-O-Phone. Depois, em 1913, ainda sem letra, a Banda Escudero o gravou para a Odeon. Por esse mesmo tempo, e ainda sem letra, o hino foi gravado pela Banda do 1º Reg. de Cavalaria com Fanfarra de Clarins. Com letra, a gravação do Hino Nacional coube ao cantor Vicente Celestino (e coro), em 1918. De lá para cá, inúmeras gravações foram feitas, inclusive por Fafá de Belém, que, diga-se, o exigente maestro cearense Eleazar de Carvalho (1912-96) reprovou. E olha que a Fafá estava em dia com a voz...
Hoje, Vanusa disse a um programa de televisão que não estava bem de saúde na ocasião, que tinha discutido com o filho, que tinha ingerido remédio para labirintite etc. Palavras suas: "Eu estava nervosa, eu estava com medo e aí eu me automediquei. Eu tomei calmante, eu tomei remédio pra labirintite, eu tomei neosaldina e fui (cantar). E quando eu subi (a rampa), eu me senti tonta. Teve um primeiro momento que eu parei de cantar, porque deu um estalo. A labirintite faz isso, dá uma parada e parece que fica tudo oco. Quando eu voltei, não sabia onde o músico estava e o mal-estar foi aumentando. Eu me virei e falei que não estava me sentindo bem e eles me levaram embora".
Poxa, o que estão fazendo com ela é desumano!
Mas há um lado bom nessa história, que é o de nos fazer lembrar que são poucos os brasileiros que sabem cantar o hino inteiro, sem errar. E agora repito o que disse ontem, aqui mesmo: que tal o nosso principal hino ser ensinado nas escolas?
Fica a dica para quem pode decidir.
Ah! Vamos lembrar Vanusa cantando ao lado de Simonal?
http://www.youtube.com/watch?v=vNU9YIlnWyM
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PLOCAS & BOAS
- Desconhecidos armados de revólveres invadiram hoje estúdios das rádios Correio e CBN, em Alagoas, AL, e levaram a grana destinada a pagamento dos funcionários. Já foi dito que as emissoras pertencem ao senador-chefe de tropa de choque Renan Calheiros. Segundo velho ditado, ladrão que rouba ladrão...
- E em Salvador, hein? Os coveiros de lá estão em greve. Quer dizer: baianos, não morram!
- Lívia Mannini manda avisar que quinta 3, a partir das 21 horas na choperia do SESC Pompéia, será lançado o CD João Borba Canta Jorge Costa, com show. A cantora dona Inah terá participação e o radialista Moisés da Rocha Dara de garra do microfone para apresentação.
- A foto que ilustra hoje o blog, feita, acho, no século passado, mostra Geraldo Vandré tentando fotografar Zé Ramalho. O outro sou eu, sim. Ah! E depois disso o autor de Caminhando, ou Pra não Dizer que não Falei de Flores, tomou doril e sumiu. Fui!

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

ACHADOS E PERDIDOS, DESAPARECIDOS ETC.

O número de pessoas desaparecidas na 5ª maior cidade do planeta, São Paulo, chega a 30 por dia e a cerca de dez mil/ano.
No País, o total de desaparecidos pode ultrapassar a duas centenas de milhar.
Embora sério, o assunto, porém, já não desperta tanto interesse por parte de quem é, digamos, achável; do mesmo modo que a questão dos atropelamentos – e morte – de motoqueiros nas ruas da cidade.
No caso, o aumento anual é de pelo menos 10%; e três vezes isso, no resto do País.
Como repórter da Folha e de outros jornais, fiz reportagens sobre desaparecimentos. Creio que todo repórter um dia fez matéria sobre desaparecimentos.
Coisa banal, como quase tudo hoje em dia.
Os reálites vieram pra isso.
Orwell antecipou a idéia agora fato, no livro 1984.
Bom, mas eu quero mesmo é falar do achável Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelles Fernandes, o cearense latino-americano sem-dinheiro-no-bolso que deixou a zona sul da megalópole paulistana para trabalhar novas canções num lugarejo esquecido das terras do Uruguai.
Belchior foi encontrado fácil, fácil, no último fim de semana porque, ora, porque Belchior é Belchior. Se não fosse, e se o jornalismo do Fantástico tivesse mais o que fazer, ele não teria sido achado, certo? E ele não gostou disso, mas civilizado inda que é, atendeu a reportagem e, finalmente, todos ficaram felizes e felizes ficarão certamente para sempre.
Mas há outras pessoas, digamos, desaparecidas além das que se acham no número extraído da estatística, no início deste texto: Paulinho da Viola, Milton Nascimento, Chico Buarque, Roberto Luna, Odair Cabeça de Poeta, Oswaldinho do Acordeon, Beth Carvalho, Amelinha... E quem mais, quem mais? Geraldo Vandré! Hahaha!
Na foto acima, feita no século passado, eu e o rapaz latino-americano trocando idéias sobre achados e perdidos, perdidos e achados; sumidos, aparecidos e reaparecidos e coisas que tais.
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PLOCAS E BOAS
- O Lobão, das Minas e Energia, e dona Dilma-não-sei-quê dizem que a exploração do petróleo pré-sal, achável em camadas profundas do oceano, em nada vai mudar a rotina dos motoristas, porque o preço da gasolina, por mais que a tenhamos, não vai baixar. Dá pra entender? E por ainda estar em rebuliço o Senado, Lula sugere que todos dêem uma “cheiradinha no pré-sal” pra coisa acalmar. Eu, hein!
- Vanusa, a única cantora a gravar Avohai, de Zé Ramalho, em outubro de 1977, está sendo pichada por errar a letra do Hino Nacional Brasileiro, em solenidade meses atrás na Assembléia Legislativa de São Paulo. Isso é covardia. Quantos sabem de cor a letra de Duque Estrada, hein? Eis, aliás, mais uma razão para que o nosso hino seja ensinado de novo nas escolas. Hino nacional é a reza de um país.
- O querido amigo Júbilo Jacobino, fiel escudeiro do músico Costa Senna, manda avisar que a filhota Ornela está à beira de completar 15 primaveras. Isso ocorrerá no próximo dia 5. E eu também, no próximo dia 27. Quantas? 57, no talo!

domingo, 30 de agosto de 2009

O CIRCO SENADO

"Renuncio ao mandato de presidente do Senado sem mágoas ou ressentimentos, de cabeça erguida, demonstrando mais uma vez que não usei das prerrogativas do cargo pra me defender".
Adivinhem de quem é essa lorota.
Ah! Sim, o texto abaixo eu escrevi no dia 5 de dezembro de 2007 e foi originalmente publicado, na coluna que eu assinava no portal Music News. Apenas encurtei o título.

Ontem iniciei a minha fala no programa Balanço Geral, da Rádio Record, com um poema de Berthold Brecht, que diz: “O pior analfabeto é o analfabeto político/ Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos/ Ele não sabe que o custo de vida/ O preço do feijão, do peixe/ Da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas // O analfabeto político é tão burro/ Que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política/ Não sabe o imbecil que da sua ignorância política/ Nascem a prostituta, o menor abandonado/ E o pior de todos os bandidos/ Que é o político vigarista, pilantra, o corrupto/ E lacaio dos exploradores do povo”. Lembrei o poema por imaginar o rebuliço que iria ocorrer logo mais ao decorrer do dia, no circo em que se pôs um calhorda em julgamento, por seus pares, e que ao fim resultou absolvido das imoralidades cometidas, e de todos conhecidas por estarem a meses estampadas nos principais jornais nacionais e estrangeiros. O Brasil está de luto, perdeu. Os brasileiros estão satisfeitos, ganharam com a vitória do calhorda, rico de roubos e bois de ouro. O episódio de ontem no circo Senado, armado na praça dos Três Poderes, me levou a recordar, com tristeza, uma fala antiga do amigo Vandré, autor de Pra não Dizer que não Falei de Flores, quando certa vez, ao caminhar no Centro da cidade de São Paulo, a meu lado, apontou com irritação e desdém para um grupo de jovens em algazarra: “É pra essa gente que querem que eu cante? Não, não vou cantar!”. Ao ler carta de um leitor do suplemento Folhateen, da Folha, da última segunda 10, me arrepiei: “A nota que eu daria para vocês era dez, mas de vez em quando vocês publicam matérias muito sem graça, como ´órfãos do tropicalismo` (edição 30/7). Quem quer saber de um grupo de MPB dos anos 60?...”. Pois é, falta aos brasileiros em formação curiosidade, vontade de aprender, de conhecer a arte, artistas, personalidades, a história do País... E o autor da carta só tinha 13 anos. Em palestra recente a estudantes do 3º ano do ensino médio da escola Waldorf Rudolf Steiner, em São Paulo, dom FHC, ex-imperador do Brasil, deu uma dica registrada no jornal: “Eu acho que é melhor ter formação aqui e depois fazer aperfeiçoamento fora, para não desenraizar...”. Já estamos desenraizados. O lixo estrangeiro já invadiu a mente de todos e a meta é: tudo por dinheiro. Silvio Santos, o biscateiro eletrônico, não me deixa mentir. Ainda FHC, justificando: “Nós vivemos numa sociedade capitalista. Ela nasce da acumulação e não é igualitária. É um pouco de hipocrisia imaginar que uma sociedade capitalista vá ser igualitária. Mas você tem que dar igualdade de oportunidade na educação, no acesso à saúde, para compensar essa desigualdade”. Nos anos de 1960, Stanislaw Ponte Preta, decepcionado com os rumos da política partidária, de conchavos, desabafava: “Se é para se locupletar, que nos locupletemos todos”. É isso o que os brasileiros parecem querer: se locupletar. Uma vez perguntei ao poeta Carlos Drummond de Andrade qual o partido político de sua predileção. Resposta, a seco: “O homem de partido é partido”. Brecht, citado na contra-capa do Lp Canto Geral, de Geraldo Vandré, em 1968: “Vós que vireis na crista da onda em que nos afogamos, quando falardes de nossas fraquezas pensai também no tempo sombrio a que haveis escapado”. E vivido, acrescentaria. O calhorda foi absolvido no primeiro tempo, por margem de cinco gols. E parece justo o placar... O culpado pela derrota do time Brasil, sem técnico, são os brasileiros. Bandido vence, povo perde. Valores invertidos, a nação de cabeça baixa. A culpa é nossa. Um dia Pelé disse que brasileiro não sabia votar. E levou pau, mas ele tinha razão. Como saber votar, se sequer sabe ouvir, falar, ler, brigar por direitos? Lula outro dia disse que “ler é uma chatice”. Dizer mais o quê, hein? Lembro de velha piada, segundo a qual Deus estava pondo os pontos finais na criação do mundo, distribuindo mazelas, tragédias no planeta que agora estamos. De repente um anjinho desses de asas tortas pergunta, num fio de voz, por que ele, Deus, não punha umas castastrofezinhas num tal Brasil, como terremotos, maremotos, tsunamis, essas coisas. E Deus, como quem não quer nada, respondeu: “Espere só o povinho que vou botar lá”.///Da coleguinha Macida Joachim, recebo a mensagem: “Eu e minha família temos um projeto de alfabetização para adultos, totalmente voluntário, que funciona numa casinha no Bairro do Bixiga, em São Paulo. Lá, reunimos educadores voluntários para ensinar pelo método Paulo Freire. Já estamos nessa batalha há pouco mais de ano. Também aprendemos muito nesse projeto. Seria desejo nosso ter você para falar sobre música, cultura popular”. Sim, por que não? Outras pessoas podem se juntar a Macida. Contato: macidajoachim@uol.com.br ///Que viva a esperança! /// Outra coleguinha, Márcia Accioly, manda e-mail convidando para assistir apresentação do grupo pernambucano SaGRAMA, no Teatro-Escola Brincante. Ora se vou! Será no próximo dia 18. Do grupo acabo de receber Cd novo: Tenha Modo. A respeito falarei depois. /// Fui!
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Nada mudou na casa de mãe-joana. Os personagens continuam os mesmos.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

MÊS DE CACHORRO LOUCO

Foi num mês como este, agosto, num domingo dia 15, há cem anos, que o militar, engenheiro, jornalista e escritor carioca Euclides da Cunha, autor da obra-prima Os Sertões, caiu morto após uma troca de tiros com o cadete, depois tenente e general Dilermando de Assis.
Sete anos depois, Euclides da Cunha Filho, com 19 anos, tentou vingar a morte do pai e também caiu morto pelas balas assassinas do mesmo Dilermando.
Ciúmes e traições não escolhem vítimas.
Foi sempre assim, ainda é e será. E não interessa se o sujeito é rico ou pobre, branco ou preto, analfabeto ou intelectual como Euclides, que até presidir presidiu interinamente os destinos da Academia Brasileira de Letras no lugar do seu fundador, Machado de Assis.
Mas essa é outra história.
O tema traição já foi desenvolvido zilhões de vezes de todas as formas e em todas as línguas, desde que homem é homem e mulher é mulher.
Há uma dica na tábua dos dez mandamentos: não cobiçar a mulher do outro... Mas cobiça-se!
Dilermando cobiçou a mulher de Euclides e o resto se sabe. Importante, porém, é que ele legou à posteridade uma obra sem igual, sem a qual não se entenderia Canudos.
O arraial de Canudos, no norte da Bahia, caiu nos fins do século XIX pela força bruta do Exército comandado pelo general Artur Oscar de Andrade.
Euclides escreveu, no seu livro mais famoso:
“Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores (...) Um velho, dois homens feitos e uma criança na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados...”.
Até hoje Canudos e o seu líder, o cearense Antônio Conselheiro, são cantados em verso e prosa por poetas eruditos e populares, como João Melchíades, Apolônio Alves dos Santos, Patativa do Assaré, Leandro Tranquilino, Ivanildo Vila Nova, Antônio Queiroz de França, Klévisson Viana; e também por compositores da nossa música, como João da Bahiana (samba Cabide de Molambo), em 1931; Almirante e Luiz Peixoto (toada Pai João), em 1932.
Até o romancista peruano Vargas Llosa escreveu um livro sobre a insurreição popular na Bahia: A Guerra do Fim do Mundo.
N´O Clarim e a Oração, Cem Anos de Os Sertões, organizado por Rinaldo de Fernandes e editado pela Geração Editorial em 2002, escrevi que já há mais de 50 músicas a Canudos e a Conselheiro, inúmeros folhetos de cordel, filmes e peças para teatro.
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POUCAS E BOAS

- O Senado brasileiro continua em brasa.
Ontem Suplicy se destemperou e deu cartão vermelho ao rei do Maranhão, que no palco falava de Euclides da Cunha, como se tudo estivesse na santa paz de Deus.
- Crise braba na Receita Federal se alastra que nem estopim aceso, enquanto o ministro Mantega, da Fazenda, diz, como Lula, que tudo está bem. Ora, ora, agora são mais não sei quantos os auditores que pediram demissão dos cargos de confiança que ocupavam.
- E o amigo Belchior, hein? Agora virou notícia no The Guardian.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

GETÚLIO VARGAS E BELCHIOR

O Brasil caiu em prantos e se vestiu de luto na manhã do dia 24 de agosto de 1954, ao tomar conhecimento do suicídio do gaúcho Getúlio Dorneles Vargas, baixinho que formara chapa à Presidência no ano de 30 com o paraibano João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, morto a tiros numa confeitaria da capital pernambucana, Recife.
Na hora como a de agora, naquele agosto de 54, muita gente desmaiava no Rio de Janeiro, sofrendo tipos diversos de dores e sentimentos no velório do político que ficou conhecido de norte a sul do País como o “pai dos pobres”.
O Catete, em Copacabana, virou muro de lamentações.
Primeiro, foi a Rádio Nacional que divulgou a tragédia na voz do ministro Oswaldo Aranha, da Fazenda.
Depois, todas as emissoras de rádios do País emitiam seguidamente a íntegra e partes mais fortes da carta-testamento do presidente morto.
Essa carta logo teria interpretação registrada num disco (selo Monumento) de dez polegadas na voz do paulista Silvino Netto, cantor, compositor, radialista:
“Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram, respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate”.
A carta dramática, com imagens shakespearianas, findava assim:
“Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história”.
Getúlio começou a morrer na Rua Tonelero pelos tiros de uma Smith & Wesson 45 disparados pelo pistoleiro de aluguel Alcino João que atingiram o major Vaz, e no Catete quando acionou o gatilho de um Colt 38 com cabo de madrepérola no próprio peito. Mas seu fim fora anunciado bem antes, pela boca de seu arquiinimigo Carlos Lacerda que o chamava nas páginas do seu jornal, Tribuna da Imprensa, de “protetor de ladrões”.
A história polêmica é conhecida por muita gente.
Um dia antes do suicídio, o jornal Última Hora estampou em manchete uma frase histórica: “Só morto sairei do Catete”.
Nunca, nenhum presidente do Brasil foi tão espontaneamente cantado em verso e prosa como Getúlio Vargas.
Dezenas e dezenas de músicas foram compostas e gravadas em sua memória. E até clássicos perduram no nosso cancioneiro, como o rojão Ele Disse, de Edgar Ferreira, gravado, entre outros, por Jackson do Pandeiro e Zé Ramalho. Diz o refrão:

“Ele disse muito bem
O povo de quem fui escravo
Não será escravo de ninguém...”
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Nunca também nenhum presidente do Brasil fez o que Getúlio fez. E não por falta de bala ou revólver...
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Mas cá pra nós, o que diria hoje Carlos Lacerda do presidente Lula, hein?
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O rei do Maranhão, o bigodudo Sarney, subiu mais uma vez ontem ao palco da Casa que preside – a de mãe Joana – para falar sobre o escritor Euclides da Cunha. O velho ator falou e falou como se nada tivesse acontecido. Crise, que crise? E ainda ficou irritado com o aparte feito por Eduardo Suplicy, que queria explicações dos atos que lhe renderam 11 denúncias indevidamente arquivadas pelo Conselho de aÉtica da Casa. Resposta ao aparte: Vossa Excelência, disse ele a Suplicy, “coloca neste gesto um gesto que não é de Vossa Excelência. A não ser que tenha sido tomado por paixão política para que tenha desrespeitado as regras da educação e convivência parlamentar. Eu coloquei todas as acusações feitas à minha presidência do Senado. Se Vossa Excelência tiver alguma a apontar, coloque se é da minha primeira presidência, da segunda. Se naquela época não protestou, qual tomamos nos últimos cinco meses se não corrigir o Senado? Mas não quero arranhar a memória de Euclides da Cunha".
Pqp!
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E o caso Belchior?
Quanta besteira foi dita ontem no programa Fantástico, da Plim plim. O programa mostrou exatamente como não fazer jornalismo sério.
Há uns dois anos, eu já registrava isso na coluna que assinava no Music News. Mas um registro comum, natural; do sumiço voluntário e momentâneo de um artista que tem mais o que fazer além de cantar simplesmente o que as gravadoras querem, ora!
O Vandré fez o mesmo.
Onde anda Vandré? Compondo em casa, tomando uma cervejinha, conversando com amigos fora dos palcos.
Do colega jornalista Luciano Sá, assessor de imprensa do BNB, eu recebo:
“Em 28 de agosto de 2007, o cantor e compositor Belchior concedeu entrevista musical, aberta ao público, no Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza, dentro do programa Nomes do Nordeste, quando compartilhou sua história de vida e descreveu sua trajetória artística. Nessa entrevista, Belchior falou sobre os projetos artísticos em andamento. Ele revelou ter iniciado a exaustiva façanha de traduzir o poema épico e teológico A Divina Comédia, de Dante Alighieri (1265-1321), considerado até hoje o maior poeta italiano. Para se ter uma idéia da proeza estética enfrentada pelo artista cearense, o poema tem nada menos que 14.233 versos a serem vertidos para o Português. A Divina Comédia é a fonte original mais acessível para a cosmovisão medieval, que dividia o Universo em esferas geocêntricas, dividindo a Terra e o Céu pela órbita lunar. (Coincidentemente, Belchior é autor de uma canção intitulada Divina Comédia Humana, gravada em 1978, como faixa de abertura do disco Todos os Sentidos.
Paralelamente, ele afirmou estar preparando um CD que incluirá músicas com diversos parceiros, além de uma caixa com três DVDs, trazendo uma completa retrospectiva sobre sua vida e obra. Enfim, será um documentário com tratamento cinematográfico apurado, abrangendo imagens de espetáculos e entrevistas realizadas, material musical inédito e depoimentos de amigos, parceiros, pesquisadores e fãs.
Essas duas informações foram publicadas na matéria intitulada Belchior em Quatro Tempos, veiculada na revista Conterrâneos (edição nº 8, setembro/outubro 2007), editada pelo Banco do Nordeste com periodicidade bimestral, tiragem de sete mil exemplares e distribuição entre os funcionários do BNB.
Talvez o sumiço de Belchior - divulgado ontem (domingo, 23) pelo programa Fantástico, da TV Globo - possa estar relacionado à sua imersão total nesses dois projetos”.
Tel.: 85 3464-3196 / 8736-9232
lucianoms@bnb.gov.br

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

VIVA O CINEMA BRASILEIRO!

O pessimismo é uma desgraça, corrói e mata alma; embora Augusto não achasse isso, e nem Shopenhauer, tampouco Mark Twain que dizia que “só os tolos não são pessimistas”.
Já Wilde parecia brincar com sua definição sobre o tema: na escolha de um entre dois males, o pessimista prefere ambos.
Mas o fato é que muita gente foi pro inferno sem sorrir, e isso não é bom.
Sorrir faz bem, relaxa os músculos e ainda é o melhor remédio pra dor de dente.
Desde há muito ouço dizer que o samba morreu, que o Brasil é um horror etc.
“Só aqui (no Brasil), isso (coisa ruim) acontece”, quem já não ouviu?
Este preâmbulo faço para dizer da alegria que senti ao assistir, hoje de manhã, o longa O Milagre de Santa Luzia (Uma Viagem pelo Brasil que toca Sanfona), de Sergio Roizenblit, numa sala do Shopping Frei Caneca, cá em Sampa.
De 104 minutos, o filme começa com o sanfoneiro Dominguinhos puxando seu fole de ouro enquanto caminha devagar pela estrada de terra que leva a Exu, de Luiz Gonzaga.
O canto é bonito, choroso: Lamento Sertanejo, parceria com Gilberto Gil.
Um trecho do livro Os Sertões, de Euclides o Sertanejo é antes de tudo um forte da Cunha, diz a que vem O Milagre.
Roizenblit conta um pouco do Brasil através de foles, desde o Nordeste.
Alguns depoimentos enriquecem o filme.
A poética de Patativa, por exemplo: é significativa sobre o Rei do Baião, que nasceu no Dia de Santa Luzia, 13 de dezembro.
Uma informaçãozinha: o poema que Patativa declama fui eu quem lhe pediu que fizesse para o livro Eu Vou Contar pra Vocês (Ed. Ícone, 1990), sobre Luiz Gonzaga, que lancei em 1990. Está na página 114, sob o título Adeus, Luiz. Na ocasião, lembro, eu me encontrara com poeta no Memorial da América Latina e no extinto Teatro das Nações Unidas. Foi nesse teatro que lancei o livro em noite de autógrafos ao lado de amigos como Juarez Carvalho, José Nêumanne, José Ramos Tinhorão e Paulinho Nogueira e show com Inezita Barroso e grupos folclóricos.
E ainda há gente que diz que não temos cinema, ora. Temos, sim! E também cinema documental.
Nesses dias, por exemplo, o bom Versificando, de Pedro Caldas, estará sendo exibido no 33º Festival de Filmes do Mundo, em Montreal.
Versificando conta a história da poesia feita de improviso, ao som de violas, pandeiros e outros instrumentos. Importantíssimo, não?
O diretor embarca quarta que vem.
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Da colega jornalista Anna Pires recebo a informação de que os artistas Claudette Soares, Pery Ribeiro, Os Cariocas, Izzy Gordon, Alaíde Costa, Ithamara Koorax e a atriz/cantora Soraya Ravenle (a Zefa da novela Paraíso) estarão na cidade participando de três shows gratuitos em homenagem à cantora Dolores Duran, desaparecida dentre nós há 50 anos. A irmã de Dolores, Denise, também participará dos shows, que ocorrerão na Praça do Patriarca. Mais informações pelo telefone 3865.8840 ou através do email annac.p@uol.com.br
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Bom, agora vou à Casa das Rosas, ali na Avenida Paulista, 37, onde logo mais às 20 horas será lançado Catálogo da Exposição Poesia Experimental Francesa: Zona Digital.

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