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terça-feira, 8 de setembro de 2009

ISPINHO E FULÔ, UM BELO ESPETÁCULO

Fui, vi e gostei.
Foi sábado 5 último, às 21, na unidade Avenida Paulista do SESC.
Oito bons atores, mais um sanfoneiro, num palco improvisado falam, cantam, se movimentam desembaraçadamente entre utensílios domésticos e ferramentas de uso comum no campo, incluindo enxadas. É simples o cenário; tudo é simples para uma história também simples, mas séria, que se passa nas quebradas do sertão nordestino, onde ainda um exército de gente forte vive ao Deus-dará, sem estudo, sem emprego, sem profissão, sem amparo, sem respeito, rejeitado pelo poder público. É uma gente bonita essa, carente e sem anel de doutor enfiado no dedo, que sobrevive a todas as intempéries da vida, impolutamente.
A história – Concerto de Ispinho e fulo – começa pelo microfone de uma emissora de rádio fictícia, a Caldeirão conexão São Paulo/Assaré, anunciando notícias e condições climáticas da grande cidade, São Paulo, e também da pequena cidade, Assaré, CE.
Prossegue com um canto em coro afinado, a cargo dos atores, e uma colagem de poemas de autores diversos, que vão de Drummond a Bilac, de Castro Alves a Camões.
Beleza, sem tirar nem pôr.
No palco, bem discreta, a figura do poeta Patativa, ex-cantador repentista e cordelista sem banca na feira, sem nenhuma banca, vai surgindo devagar e crescendo, crescendo... Palmas para o intérprete pernambucano de Tacaimbó, Dinho Lima Flor.
A alguns presentes na platéia, atores solicitam que escrevam a giz seu nome e uma palavra qualquer, de maneira espontânea.
Essa interação é boa, a ver com o personagem Patativa – semi-analfabeto –, que emergiu do nada para a fama.
O espetáculo Ispinho e fulô tem por base a poética do autor de A Triste Partida e enxertos ilustrativos da didática do educador Paulo Freire, que o enriquecem...
E com singeleza e simbolismo, sob a direção de Rogério Tarifa da recém criada Cia. do Tijolo, de São Paulo, nova, formada por atores novos e surpreendentes, tudo transcorre com naturalidade espantosa, ganhando formas; belas formas, diga-se.
A história faz rir e emociona em vários momentos.
A cena que a foto exibe neste blog, é simplesmente hilariante.
O poeta de Assaré foi um exemplo de cidadão, oxalá a Cia. do Tijolo se firme como exemplo de bom teatro.
Teatro se faz com verdades.
Ah! Acho que todo mundo deveria ir assistir Ispinho e Fulô. Vale a pena, ora se vale! De sexta-feira a domingo, às 21 horas, à Avenida Paulista, 119. Reservas pelo telefone 3179.3700.
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Domingo 6 quase no fim da noite fiquei sapeando com o remoto na mão. Só besteiras nos canais, em todos. Irritado, já estava desistindo quando topei na Rede Vida dois amigos, um tocando violão magistralmente, o Francisco Araújo, tão novo e tão mestre; e o Elifas Andreato, autentissímo fazendo uma espécie de balanço da sua vida. Sensível, incrível. Despiu-se. Isso é pra poucos. Amanhã falarei a respeito.

Um comentário:

  1. Caro jornalista Assis Ângelo. São mais que merecidas as justas homenagens ao poeta PATATIVA DO ASSARÉ no ano do centenário de nascimento.
    O problema é que, enquanto PATATIVA é sobejamente lembrado pela mídia, poetas do mesmo nível, da mesma estirpe, do mesmo valor literário estão morrendo a mingua e no anonimato.
    Dentre estes, desprezados pela mídia e pela sorte, eu citaria os mestres LUIZ CAMPOS, de MOSSORÓ-RN (autor, dentre outros de CARTA A PAPAI NOEL, ME ENGANEI COM MINHA NOIVA) e o grande ALBERTO PORFÍRIO, gênio da poesia cearense, autor de grandes poemas, tais como A ESTÁTUA DO JORGE, EU GOSTEI MAIS FOI DO CÃO, A CANTIGA DA DOURINHA, NO TEMPO DA LAMPARINA dentre outros.
    Por que será que o Brasil é tão injusto com seus artistas???

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