Seguir o blog

segunda-feira, 13 de maio de 2013

A FOME QUE AINDA TORTURA E MATA GENTE

O sistema capitalista continua fazendo grandes estragos na barriga do povo do mundo todo, através da fome que só no ano passado provocou a morte de pelo menos 18% de um total de 70 milhões de pessoas. Isso significa que a cada cinco segundos alguém morre de fome, ou: 57 mil por dia, o que quer dizer que nem o nazismo e o fascismo juntos foram páreo para o capitalismo que ainda massacra e assusta os povos de todos os recantos.
O assunto é conhecido e muito sério, com direito a lançamento de livro e debates que serão abertos daqui a pouco pelo rio-grandense do Norte José Xavier Cortez, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC. Os debates contarão com a presença de intelectuais mundialmente conhecidos como o sociólogo suíço de Berna Jean Ziegler e o economista e ativista social gaúcho João Pedro Stédile, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, MST, e da Via Campesina.
Ziegler autografará seu novo livro Destruição em Massa, Geopolítica da Fome (376 pág., Cortez Editora, SP), com texto de contracapa assinado por Stédile.
Em 1946 o médico pernambucano Josué de Castro, especializado em doenças de nutrição, publicou o desde então necessário livro Geografia da Fome (A Fome no Brasil), enquanto o mineiro João Guimarães Rosa publicava o belíssimo livro de contos Sagarana e a Assembleia Constituinte promulgava a 5ª Constituição dos Estados Unidos do Brasil e o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias extinguindo o fantasma da pena de morte e reafirmando as liberdades constantes na Carta anterior, a de 1934.
Josué de Castro foi deputado federal por sua terra e o mais votado no Nordeste, em 1958, e embaixador do Brasil junto à Organização das Nações Unidas, ONU. Foi ele quem primeiro abordou com rigor e método próprio os estudos que tratam da fome no mundo, até então um tabu intocável, delicado e perigoso.
A sua obra, constituída por 30 livros e centenas de artigos publicados em cerca de 30 idiomas, tem por base a fome, uma questão que considerava política e achava ser resolvida só com uma distribuição séria e metódica de renda e o respeito às leis da natureza mundo a fora.
Josué, que teve seus direitos políticos cassados pela ditadura militar, morreu triste no exílio em Paris, com 65 anos de idade.
O livro de Jean Ziegler, cuja capa traz uma reprodução da obra-prima Criança Morta, de Portinari, é dividido em seis partes. A primeira (O Massacre), a segunda (O Despertar Das Consciências) e a quarta (A Ruína do PAM e a Impotência da FAO), trazem referências importantes a Josué e à sua obra.
Ziegler conta a história e as mazelas da fome com base nas informações que colheu no correr de anos, em organismos internacionais.
Atualíssimo e de denúncia responsável, Destruição em Massa traz uma radiografia da fome no mundo e indicativos de solução que provavelmente jamais se serão aplicados porque, grosso modo, não é essa uma questão de interesse dos governos; e não sendo do interesse dos governos essa questão nunca terá um fim feliz, o que o autor lamenta com todas as letras quando lembra que a riqueza atual da terra daria para alimentar com folga quase o dobro da população do mundo, hoje estimada em 7 bilhões de pessoas.
E você que está nos lendo agora, quer saber a opinião de Ziegler sobre a fome que ainda faz sofrer e matar gente no Brasil? Então, leia o livro Destruição em Massa.

CARTUNISTA FAUSTO
Como costumo fazer, ontem estive na Praça Benedito Calixto, na região de Pinheiros, e para minha alegria revi, depois de anos, o amigo Fausto (abaixo, no clique de Andrea Lago), que é um baita cartunista. Revi também o compositor e cantor Ibys Maceioh. Aproveitei para almoçar com eles, depois de adquirir livros e discos na feirinha de bugigangas da praça.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

POIS É...

Num recente fim de tarde, o jornalista e historiador santista criado no Rio de Janeiro José Ramos Tinhorão chegou dizendo que acabara de se deixar aplicar uma injeção no posto de saúde que fica aqui perto de casa, para depois resumir puxando no “r” que ganhou dos cariocas quando trabalhou para jornais e revistas como Correio da Manhã, Última Hora, Cruzeiro e Veja:
- Ser velho é uma merda!
Isso não pelo fato de às vezes sentir no corpo algum cansaço, mas por fazer parte, involuntariamente, do chamado grupo da “terceira idade” ou “melhor idade”, para ele outra “merda”.
O incômodo de Tinhorão merece reflexão pela discriminação silenciosa que mais das vezes lhe é dirigida e a outros que igualmente “passam da idade”, mas que idade?
Reflexão merece também o texto criterioso Cemitério de Elefantes, de Gabriel Priolli, que a revista Imprensa acaba de publicar na edição que se acha nas bancas.
Jornalista de currículo invejável e hoje produtor independente de TV, Priolli lembra que o fato de a imprensa norte-americana manter desde priscas eras nos seus quadros repórteres de “idade avançada”, isto é, ali pelos 60, sempre lhe impressionou.
No Brasil, exceções à parte, um jornalista de 40 e poucos anos já é considerado “velho”; e por ser o que acham que é o jornalista de 40 e poucos anos vai ficando cada vez mais na redação e menos na reportagem.
E Priolli confirma o que estava longe de se duvidar: “Lugar de tiozinho, no jornalismo pátrio, é na retaguarda, não na linha de frente. Isso para os poucos que ainda restam na ativa. Para a maioria, lugar de jornalista veterano é a rua mesmo. A da amargura”.
Lamentável, não é?
De clima tropical, bonito, gostoso, bom de viver, sem guerras, vulcões, terremotos, maremotos ou tsunamis para nos castigar além daqueles provocados pela gula insaciável dos políticos de espírito canalha, o Brasil é um país com quase 200 milhões de pessoas falando uma mesma língua e ocupando um espaço calculado em mais de 8,5 milhões de km2, o que o torna o 5º maior do planeta em termos territoriais, atrás apenas da Rússia, Canadá, China e Estados Unidos.
Vistos por esse ângulo, somos privilegiados.
Mas se é assim, o que nos falta?
Desde tempos remotos, o mínimo que nos faltam é uma boa formação escolar, respeito e igualdade no item cidadania, questões essas que passam naturalmente pelo explosivo quesito distribuição de renda.
Pois é, e ainda há gente passando fome e vivendo na linha da miséria no Brasil.
Pois é, continua assombroso o índice de analfabetismo no Brasil.
Pois é, povo analfabeto é povo oprimido e dominado.
Pois é, e como se não bastasse a falta de vergonha na cara, ainda nos vestimos e saímos por aí cantando a música dos gringos, sem nem sabermos a nossa língua direito.
Pois é, precisamos de uma injeção contra safadezas.
Agora vem o governador de São Paulo dizer mais uma obviedade: que faltaria guilhotina para punir corruptos.
Uma vez publiquei entrevista com Jece Valadão na Folha, em que ele dizia que se o povo soubesse a força que tem não deixaria que lhe pusessem canga.
Pois é, mas nós deixamos.
Deixamos de lado tanta coisa boa que poderíamos fazer e não fazemos, como tentar entender os caminhos da formação da cultura popular no nosso país.
Mas para isso é preciso ir às bibliotecas, aos museus etc.
Pois é...
Já se acha nas bancas a revista Bravo! (reprodução da capa, acima), com matéria à pág. 10 sobre o Instituto Memória Brasil, IMB.
Acesse e comente:
www.jornalistasecia.com.br/edicoes/culturapopular13.pdf

quinta-feira, 9 de maio de 2013

ZÉ RAMALHO NA ESTRADA HÁ QUATRO DÉCADAS

Em maio de 1983, o paraibano Zé Ramalho estava bombando Orquídea Negra, seu 5º LP (Epic/CBS), nas emissoras de rádio de todo o País, quando ainda as emissoras de todo o País incluíam na sua programação músicas de boa qualidade.
O texto do encarte que acompanhava o disco era assinado porJosé Nêumanne Pinto.
Orquídea Negra foi reeditado no formato CD exatos 20 anos depois, em 2003, com duas faixas a mais: Os Doze Trabalhos de Hércules e A Última Nau.
Antes de dizer a que estava chegando com o álbum duplo Paêbiru (Rozenblit, 1975), gravado em parceria com Lula Côrtes, Zé Ramalho já tinha praticamente pronto o repertório para o seu primeiro disco solo, Avohai, que iria à praça três anos depois com estrondoso sucesso, através da CBS.
O primeiro disco da fábrica Rozenblit com o selo Mocambo trazia de um lado o frevo-de-rua Come e Dorme (Nélson Ferreira) e, do outro, o frevo-canção Boneca (Aldemar Paiva/José Menezes), foi lançado em 1953 no formato de 78 rpm e teve como intérprete o pernambucano Claudionor Germano. 
A Rozenblit encerrou suas atividades em 1983, em decorrência das enchentes de chuva seguidas que destruíram completamente os seus equipamentos, curiosamente no bairro recifense de Afogados.
Como o CD Nação Nordestina, que tem a participação de Hermeto Pascoal e no repertório Pra Não Dizer que Não Falei de Flores, originalmente uma guarânia de Geraldo Vandré, o LP Orquídea Negra foi um marco na carreira de Zé Ramalho, a partir, mesmo, da faixa-título assinada pelo carioca Jorge Mautner.
O disco traz participação especial de Fagner, Robertinho de Recife, Egberto Gismonti e da soprano e letrista Maria Lúcia Godoy.
Na reprodução da página de jornal acima, o registro de Vandré e Zé (ao centro) juntos.
Zé Ramalho continua sendo um dos maiores artistas da música brasileira.

CLIQUE:
http://www.institutomemoriabrasil.org.br/

quarta-feira, 8 de maio de 2013

PAULÍNIA, UMA CIDADE MODELO

Inezita Barroso telefona para dizer que acabara de voltar de uma apresentação musical feita em sua homenagem no município paulista de Paulínia, localizada na mesorregião e microrregião de Campinas, a 199 quilômetros da capital.
Ela disse que se surpreendeu enormemente com a beleza da cidade que sabia ser chamada de Hollywood brasileira, mas que conhecer de ir, mesmo, ainda não conhecia.
"Agora fui e gostei, inclusive porque lá eu não vi sujeira na rua e nem rua esburacada, tampouco ouvi notícia de violência”, disse entusiasmada, acrescentando ser Paulínia, por isso mesmo, um exemplo de cidade.  
“Teatro? O teatro de lá é fantástico! E até zoológico há em Paulínia. E o povo? Incrível! O paulinense é tranquilo e aparenta viver o tempo todo de bem com a vida”.
Depois de receber as homenagens que lhe foram prestadas pela Cidade do Petróleo, Cinema e Música, Inezita foi comer um churrasco “em plena madrugada”.
“Adorei”, ela resumiu.
Foi Inezita quem lançou em novembro de 1953 o samba Ronda do seu amigo biólogo Paulo Vanzolini (foto ao lado), que teve missa de sétimo dia celebrada segunda-feira na paróquia Santa Margarida Maria, no bairro paulistano da Aclimação.

ESPECIAL MEMÓRIA DA CULTURA POPULAR: Paulo Vanzolini
Clique:
www.jornalistasecia.com.br/edicoes/culturapopular13.pdf

segunda-feira, 6 de maio de 2013

HOJE É DIA DE MISSA PARA PAULO

Na terça 25 de maio de 1993, o pernambucano de Cabo Manezinho Araújo foi dormir com a sua companheira Lala e não mais acordou, assim como um pássaro, como Charles Chaplin...
A seu velório no cemitério da Consolação,  em São Paulo, compareceram cerca de 30 pessoas.
A Missa de 7º Dia, celebrada na capela do Divino Espírito Santo, à Rua Frei Caneca, 1047, foi marcada por uma bonita e pungente roda musical que improvisamos e que contou com  Audálio Dantas, Téo Azevedo e Rolando Boldrin, entre outros.
Manezinho, que foi o primeiro artista da nossa música a gravar um jingle para o rádio, ainda nos anos 30, ficou famoso como rei da embolada.
Ele deixou clássicos na sua própria voz, como Pra Onde Vai Valente (1934) e O Carrité do Coroné (1939), e na voz de artistas como Luiz Gonzaga.
No seu gênero, foi único.
Pois é, e nem parece que já faz uma semana que o cientista e compositor paulistano Paulo Vanzolini (aí na foto, comigo e amigos) nos deixou. E para lembra-lo será celebrada hoje, às 20 horas, uma missa na Paróquia Santa Margarida Maria, à Av. Lins de Vasconcelos, 2129, Aclimação.
Ana Bernardo, que foi a sua companheira por muitos anos, diz que à paróquia a música será bem-vinda.
O corpo de Paulo, como o de Manezinho, foi sepultado no cemitério da Consolação.
Em memória a Paulo, eu alinhavei estas linhas heptassílabas aos moldes dos poetas repentistas do Nordeste, de que tanto ele gostava:

Vanzolini foi-se embora
Rumo à eternidade
Ele deixou obra completa
E em nós muita saudade
Foi mestre, compositor,
Cantou a alegria e a dor
Com toda liberdade

Ele lutou por igualdade
E fez da música oração
Da ciência o seu caminho
Fortaleceu-se na razão
Vanzolini foi artista
Nascido em terra paulista
Foi ele um bom cidadão

Fez Samba Erudito e Leilão,
Ronda e Volta por Cima,
Amor de Trapo e Farrapo
Tanta coisa de boa rima
Fez Vanzolini com ciência
Porque teve paciência
Para estudar nosso clima

Vanzolini está acima
Do banal e do rasteiro
Pela vida ele passou
Como grande brasileiro
Fez o que tinha de fazer
Sem desistir do prazer
Foi da ciência guerreiro

terça-feira, 30 de abril de 2013

E AGORA?

Pois é, e agora?
Há pouco foi para a eternidade a paulista de Ibitinga Maria Elisa Campiotti (1913-2011), mais conhecida por Zica Bergamo, pintora naïf – nas horas que tinha vagas -, autora da valsa Lampião de Gás tornada clássica ainda no tempo e formato dos discos de 78 rpm, por Inezita Barroso.
Era uma flor dona Zica, de quem tenho na parede de casa desenhos maravilhosos que me deu e na memória guardo a sua imagem de vó incrível, sempre sorrindo, de bem com a vida.
Há pouco também foi para o infinito o paulistano, descendente de italianos, Alberto Marino Jr. (1924-2011), autor da letra de Rapaziada do Brás, a primeira valsa-choro – na verdade, a primeira música - que trouxe no título o nome de um bairro da capital de São Paulo, composta originalmente em 1917 e em disco gravada – ainda sem letra - pelo próprio autor e seu conjunto, o Sexteto Bertorino Alma, dez anos depois; e de modo independente, diga-se de passagem.
Paralelamente à carreira bissexta de poeta e compositor, Alberto Marino Jr. foi um dos mais importantes promotores, juízes e desembargadores do Brasil.
O selo musical que acolheu Rapaziada do Brás, na sua origem, chamou-se Brasilphone, hoje com história perdida na poeira do tempo.
Em seguida partiu para o céu o carioca Altamiro Carrilho (1924-2012), um deus da flauta.
Agora, meu Deus, quem acaba de ir para bem distante de nós, mortais, é o maior de todos os brasileiros atuantes no campo da Biologia e Humanismo, o Dr. Paulo Emílio Vanzolini (foto) que também foi compositor de música nas horas de lazer e que gerou – atentem! - o primeiro samba-canção que tem a cidade paulistana, a 3ª maior do planeta em população, como pano de fundo para uma história de amor de dor: Ronda.
Pois é, esses nomes, incluindo o pai do Dr. Alberto Marino Jr., o maestro Alberto Marino, foram muito importantes para o Brasil, em todos os sentidos...
E nenhum livro sobre eles foi publicado até hoje!
A dois ou três editores conhecidos, eu sugeri que publicassem livros que eu mesmo escreveria sobre eles, mas...
E eles, os personagens citados, ainda estavam vivos...
Os editores consultados responderam que não tinham interesse, porém sugeriram: se eu bancasse ou conseguisse quem bancasse os livros que propus escrever, eles publicariam...
E assim a história viva do nosso País, no casso a partir da música, vai se perdendo até que eu também vá embora.
Mas que importância tem isso, não é mesmo?
CLIQUE:

segunda-feira, 29 de abril de 2013

PAULO VANZOLINI ESTÁ NO CÉU

Hoje o dia amanheceu sem cor e triste anunciando, sem rodeios, a partida inesperada de Paulo Vanzolini, o Vanzo para os amigos.
Paulo Vanzolini está no céu.
Paulo Vanzolini nos lega uma obra musical sem par.
Como cientista, coautor da Teoria dos Refúgios, segundo a qual as mudanças climáticas em florestas contínuas, como a Amazônia, fragmentam formações vegetais que causam especiação e, consequentemente, enriquecem a biodiversidade da nossa América, o Dr. Paulo Emílio Vanzolini, Ph.D em herpetologia pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, era conhecido e reconhecido em quase todo o mundo por suas necessárias e contributivas pesquisas científicas.
O seu nome identifica vários répteis.
Ele parece ter vindo à vida para nos enriquecer com sua sabedoria, presença e obra.
Ele estudou muito, especializou-se na profissão que escolheu - a Zoologia - e foi a campo pesquisar para nos fazer bem.
Como passatempo e divertimento, ele compôs um punhado de músicas para nos alegrar a alma.
E ao fim disso, juntou tudo e nos deu de presente.
Viva Paulo Vanzolini, para quem dedico as setilhas abaixo compostas à maneira dos poetas repentistas improvisadores ao som de viola de que tanto ele gostava.
Um dos seus ídolos era Zé Limeira, paraibano que se evaporou num ano qualquer da década de 1950.
Enfim...

PARA PAULO

Vanzolini foi-se embora
Rumo à eternidade
Ele deixou obra completa
E em nós muita saudade
Foi mestre, compositor,
Cantou a alegria e a dor
Com galharda liberdade

Ele lutou por igualdade
E fez da música oração
Da ciência o seu caminho
Fortaleceu-se na razão
Vanzolini foi artista
Nascido em terra paulista
Foi ele exemplar cidadão

Fez samba, toada e canção,
Leilão e Volta por Cima,
Idem Napoleão e Ronda
Foi autor de boa rima
Craque da cantiga e ciência
Estudou com paciência
Mudanças do nosso clima

Vanzolini está acima
Do banal e do rasteiro
Pela vida ele passou
Como grande brasileiro
Fez o que tinha de fazer
Sem desistir do prazer
Foi ele de fato guerreiro

Poeta do Brasil inteiro
Vanzolini soube ser
Na sua morcega vida
Como aranha foi coser
Uma bela teia pra morar
Brincar, pensar, viver, amar,
E jamais essa teia descoser

Apresentamo-nos algumas vezes juntos, a última na noite de 9 de fevereiro de 2012, no Sesc-Santana, zona Norte da capital paulista. O tema apresentado - São Paulo como inspiração musical - contou com a presença do compositor e instrumentista Eduardo Gudin.
Para conferir trecho da nossa prosa editado por Darlan Ferreira, CLIQUE:



CLIQUE também, a ver com Zé Limeira e Paulo Vanzolini: Memória da Cultura Popular, ed. 8 || J&Cia

domingo, 28 de abril de 2013

PAULO VANZOLINI NÃO ESTÁ EM CASA

O compositor Paulo Vanzolini está internado desde a última quinta 25 no hospital Albert Einstein, na zona Sul paulistana.
Ele deu entrada com um quadro de pneumonia preocupante e deixou a Unidade de Terapia Intensiva, UTI, ontem.
Está sedado e recebendo todas as atenções médicas e familiares.
As visitas estão proibidas.
Autor de obras-primas como Samba Erudito e Cravo Branco, praticamente desconhecidos do chamado grande público, ao contrário de Ronda e Volta Por Cima, Paulo Vanzolini fez 89 anos de idade exatamente no dia em que foi levado ao hospital por sua companheira Ana Bernardo.
A obra musical de Paulo é pequena, porém densa demais.
No dia 9 de janeiro de 2003 ele reuniu amigos e lançou o que considera a sua “obra completa”, reunida numa caixa com quatro CDs de 13 faixas, cada, que rapidamente se esgotou e nunca mais foi relançada ao mercado.
A seleção musical incluída na caixa (Acerto de Contas) foi feita por ele próprio e dela participaram Chico Buarque, Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Martinho da Vila, Eduardo Gudin (aí na foto comigo e Paulo, numa prosa no Sesc-Santana em 2012), Inezita Barroso e Ventura Ramirez, entre outros.
Paulo nunca se considerou um compositor profissional.
Sempre disse que fez música por distração, e que Ronda – um dos clássicos da chamada MPB – é uma bobagem lançada em 1953, por sua amiga Inezita Barroso.
Provocador, sempre disse também que a gravação de Ronda feita por Inezita é uma bobagem.
Considera sua profissão, mesmo, a Medicina; principalmente um dos ramos dela, a herpetologia.  
Foi diretor do Museu de Zoologia da USP por muitos anos.
É PhD em Harvard.
Eu sempre gostei de beber e prosear com Paulo, e isso desde o começo dos anos de 1980, quando ele ainda continuava à frente do Museu de Zoologia da Usp.
Sai logo daí, Paulo!
O teu lugar não é hospital; é aqui entre nós, jogando conversa fora e botando cerveja pra dentro.
CLIQUE:

segunda-feira, 22 de abril de 2013

HÁ GÊNIOS JOVENS, SIM

Antônio Nóbrega é um recifense da safra de 1952, nascido quatro meses antes de mim, que sou escrevinhador de vivências e de coisas perdidas da nossa cultura popular como a catira e as quadrilhas juninas, entre outras; mas também um tanto atento a artistas em ação que levam a vida mostrando com categoria no palco ou na rua o que há de melhor do universo da nossa cultura.
E ele, Antônio Nóbrega, faz isso de modo muito bem, e há 50 anos; 30 dos quais na capital paulista, onde montou barraca, isto é: o teatro Brincante, que fica ali na agitada Vila Madalena, zona Oeste da cidade.
Mas ao contrário do que muita gente pensa Antônio Carlos Nóbrega não começou a carreira trilhando o caminho sagrado das artes populares, no sentido autêntico, de originalidade.
Ele começou tocando o que ouvia no rádio e na televisão, ainda nos tempos dos Beatles, da Jovem Guarda e da incipiente MPB, representada por Chico, Caetano, Edu Lobo, o pessoal dos festivais... 
Mas ele teve a sorte de se recuperar a tempo, com o chamamento do medievo escritor paraibano Ariano Suassuna, que ao vê-lo tocando violino em João Pessoa, na Orquestra Sinfônica de lá, logo o convidou para fazer parte do Quinteto Armorial que estava criando, em 1971.
E assim foi, para o bem da Pátria e de todos nós.
E agora uma historinha: em junho de 1997, no extinto Jornal da Tarde, escrevi um artigo com o título Nóbrega, um Gênio (reprodução aí ao lado).
O título foi um espanto para o editor, que a mim me perguntou mais de uma vez se eu tinha mesmo certeza de que queria que o título fosse aquele.
O que passou pela cabeça do meu amigo editor, ao me fazer essa pergunta, não sei.
Quem me responde?
Viva Antônio Nóbrega!
Viva a cultura popular! 

SÃO JOÃO
O mês dos Santos Antônio, João e pedro está chegando. Mas para animar com um colorido todo especial faltam quadrilhas juninas, daquelas bonitonas de Fortaleza, João Pessoa, Campina Grande e Aracaju na principal cidade do Brasil e do hemisfério Sul, a 3ª maior do mundo em população: São Paulo.
Clique:
http://www.youtube.com/watch?v=8dp6k5OPxFc 

sábado, 20 de abril de 2013

O CRAQUE SINFÔNICO OSWALDINHO DO ACORDEON

No século passado Oswaldinho me disse que ia mais uma vez à França para tocar com cobras criadas do zydeco, que é um ritmo nascido ali pelos anos 1950, em Louisiana, EUA, que se mistura de modo bom com o cajun, que é a música do povo acadiano expulso do Canadá, e com o canto creole de trabalho dos negros escravos americanos e tem na canção Les Haricot Sont Pas Sales a origem do seu nome.
Clifton Chenier, discípulo de Amédé Ardoin, primeiro negro sanfoneiro a gravar música creole, em 1929, foi um dos mais expressivos representantes do gênero.
Chenier morreu em 1987 e Amédé, em 1934.
Pois bem, e aí eu pedi a Oswaldinho me trouxesse o catálogo ou folder desse encontro de cobras para os nossos arquivos.
E ele trouxe, porque nordestino ou filho de nordestino quando diz que faz, faz.
E Oswaldinho faz e toca de um jeito que ninguém faz, nem toca.
Oswaldinho, filho do baiano Pedro Sertanejo, que foi pioneiro na difusão do forró e do baião em São Paulo, a pedido e orientação do seu amigo Luiz Gonzaga, é uma espécie de reserva do que há de melhor em termos de música sanfonada no Brasil.
E o Brasil, ó, parece que nem liga.
Enquanto norte-americanos, japoneses, franceses, espanhóis, portugueses, holandeses, suíços, alemães, canadenses, italianos e outras raças e gentes de outras falas e cores o requisitam e o aplaudem e o cortejam de todas as maneiras, fazendo afagos, acarinhando e convidando-o para festivais, nós ficamos indiferentes a isso tudo e, lamentavelmente, dando uma de morto para torturar o coveiro.
Até quando?
O carioca de Duque de Caxias Oswaldo de Almeida e Silva, o Oswaldinho, filho de seu Pedro e de dona Noêmia, nasceu no dia 5 de junho de 1954 e cresceu com o Nordeste dentro de casa, isto é: com os mais importantes artistas nordestinos visitando e tocando com seu pai. O Rei do Baião, por exemplo, o punha no colo. O mesmo fazia a filha de baianos e cearenses Carmélia Alves
O pai Pedro lhe deu a primeira sanfona de oito baixos e depois eletrizou a de 120.
Pronto! Não havia mesmo jeito de o menino fugir da sina de sanfoneiro.
E como se não bastasse, o rei Gonzaga também lhe dava sanfona e o incentivava a ir em frente para alegrar o povo.
E foi assim que Oswaldinho se apaixonou pelo instrumento.
Mas para que tudo corresse bem, tinha de estudar.
E estudou, no Brasil e na Itália.
Aos 13 anos de idade ele já gravava disco com o pai, que tinha casas de forró e programas de rádio.
E o menino foi crescendo e ficando famoso e importante.
Tem mais de 30 discos gravados, entre LPs e CDs.
Tem também centenas de participação em discos de outros artistas e shows de gente como o norte-americano All Jarreau e o paraibano Sivuca.
Os moldes das suas mãos estão expostos no Museu de Reggio Emilia, Itália, “identificados como as mãos mais ágeis do acordeon”.
É pouco?
No Brasil, nada.
Mas ele vai seguindo a vida, fundindo sonhos com cores e sons.
No teclado da sua sanfona, ele vai do baião e do forró gonzaguianos ao blues e a todos os ritmos e gêneros musicais conhecidos ou não.
E se você não sabia, fique sabendo que Oswaldinho foi o primeiro artista brasileiro a se divertir com uma sanfona digital, que nada, nada, tem  140 timbres acústicos.
Nesses anos todos ele tem atuado também como solista de várias orquestras, entre as quais a Jazz Sinfônica de São Paulo, a Sinfônica do Paraná, a Sinfônica de Santo André, a Sinfônica de Porto Alegre, a Sinfônica de Santos, a Infanto-Juvenil de Violões...
E agora, para relaxar, ouça um baiãozinho que fizemos juntos. CLIQUE:

SARAU
Oswaldinho do Acordeon participará do Sarau Popular do Instituto Memória Brasil que será apresentado no próximo dia 24, às 19h30, no Centro de Convenções Rebouças. O evento faz parte da programação do 16º Congresso Mega Brasil de Comunicação, que este ano se desenvolve sob o tema Planeta Comunicação na Era do Diálogo. Também participarão do sarau que terei o prazer de estar, o jornalista e poeta Fernando Coelho, o multitudo Jorge Mello, o mágico da percussão Papete, as cantoras Fernanda de Paula e Celia e Celma. 

PS – A foto em que também se vê Cesar do Acordeon, registra apresentação nossa no teatro Brincante, de Antônio Nóbrega, quando comemorávamos a primeira edição do Dia Nacional do Forró - 13 de dezembro - , que nasceu no programa São Paulo Capital Nordeste, virou projeto-lei aprovado pelo Congresso Nacional e em seguida sancionado pelo então presidente da República, Lula da Silva.    

sexta-feira, 19 de abril de 2013

PAPETE, O REI DO BERIMBAU

Em 1982 ele estava em Montreux, Suíça, participando do festival de jazz que há lá desde 1967. 
Montreux é uma cidadezinha bonita e aconchegante de 25 mil habitantes e 33,4 Km2 de extensão, localizada à margem setentrional do lago Léman, considerado o segundo maior da Europa Ocidental.
Em beleza Montreux é parecida com a maranhense cidade de Bacabal, berço de José de Ribamar Viana, que boa parte do mundo civilizado chama carinhosamente de Papete. 
A diferença entre uma e outra cidade se acha apenas no tamanho, no clima e no número de habitantes.
Bacabal, que é conhecida como a Capital do Médio Mearim, tem 1.683 Km2 de extensão, o seu clima é tropical e o território habitado por pouco mais de 100 mil habitantes.
Essa é a diferença, “e a língua!”, acrescenta Papete brincando, naquela sua calma franciscana.
A língua do povo de Montreux é francesa.
Houve um tempo que os franceses construíram um forte e tomaram para si o Maranhão.
O forte chamou-se São Luís, em homenagem ao rei Luís 13.
Hoje, São Luís é a capital do Maranhão.
Mas essa é outra história.
Papete voltou à Montreux mais vezes como um dos três maiores percussionistas do mundo, ao lado de Naná Vasconcelos e Airto Moreira.
Na verdade, Papete voltou muitas vezes a muitos lugares por onde andou.
E em muitos desses lugares ele ainda é idolatrado, como na Itália.
Depois de gravar com Ornella Vanoni o disco Uomini, a imprensa italiana não só considerou o melhor disco do  ano, em 1977, como o chamou de "o mais importante percussionista do mundo".
Mas como bom nordestino, Papete não liga muito para essas coisas; tanto que não guarda nem recortes de jornal e revista que tratam dele e da sua obra, seja no Brasil, seja onde for.
Papete, o único artista do mundo que faz um berimbau falar, é um intransigente estudioso da cultura popular da sua terra, produtor musical apuradíssimo, compositor, cantor e tocador de instrumentos de cordas e de todos os instrumentos de percussão que lhe caírem ou lhe caem às mãos.
Papete tira som de tudo.
Do nada, ele próprio se transforma numa orquestra.
É um mágico!
É um gênio!
A enorme importância que o berimbau tem hoje em dia no Brasil e fora do Brasil se deve a ele, sem a menor dúvida, da mesma maneira que se deve a Waldir Azevedo a importância do cavaquinho em qualquer conjunto de chorinho que se preze, por exemplo.
Um conjunto de choro sem cavaquinho, não é conjunto de choro.
Antes de Waldir, o cavaquinho era um instrumento sem muita serventia, apagado, sem expressão, esquecido.
Aliás, da mesma forma que a cuíca.
Há a cuíca antes e depois de Osvaldinho... da Cuída.
Toquinho e Papete correram o mundo, cantando e tocando, mostrando o Brasil.
No começo dos anos 1980, os dois interpretaram a toada Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, para muitos públicos.
Eles interpretaram Asa Branca em muitos lugares: na suíça, na Itália... 
Um show deles na Suíça foi gravado e comercializado na Europa toda, no formato de vídeo-cassete, antes de se transformar em DVD (reprodução da capa acima; abaixo, um trecho do show). 
Pois é, e na noite do próximo dia 24, Papete vai estar conosco participando de um sarau no Centro de Convenções Rebouças. A apresentação faz parte da programação do 16º Congresso Mega Brasil de Comunicação, cujo tema este ano é Planeta Comunicação na Era do Diálogo.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

JORGE MELLO É MULTITUDO

Jorge Mello é cantador
Jorge Mello é bom rapaz
Toca, canta, pinta e borda
Jorge Mello tem cartaz
Em São Paulo ou lá longe
É competente no que faz

Eu assino com gosto esses versos sobre o compositor piauiense Jorge Mello (na foto ao lado, em ação), também exímio tocador de viola e violão, produtor, arranjador, repentista, ator, cordelista, conferencista, romancista, artista plástico, autor de teatro, diretor de cinema e TV, campeão de festivais de música e, como se não bastasse, ainda advoga no campo minado do direito autoral, o que o faz muito requisitado por seus colegas artistas.
Mesmo com tantos afazeres e responsabilidades profissionais no seu dia-a-dia, Jorge parece fazer questão de mostrar estar o tempo todo de bem com a vida.
“E pra que se irritar, macho”, ele indaga com ar professoral, rindo é claro, para em seguida ensinar, numa expressão:
“Só se irrita na vida quem não tem o que fazer”.
E ao modo dos bons cantadores, seus pares, ele se apresenta numa estrofe perfeita de Martelo Agalopado, modalidade do mundo da cantoria outrora também chamado de Trinta por Dez.
Esse estilo poético se desenvolve em estrofes de dez versos decassílabos, rimando o 1º com o 4º e o 5º, o 2º com 3º, o 6º e o 7º com o 10º, e o 8º com o 9º, obedecendo, sempre, o rigor formal da acentuação tônica na 3ª, 6ª e 10ª sílabas, assim:

E quando minha mente de fora examina
Minha vida de artista, de compositor,
E toda estrada de improvisador
E vejo essa força que é nordestina,
Assim vejo o véu que me ilumina.
Poeta que sou, poeta no prelo
Trabalho palavras, o som que é belo,
Tirando belezas da imaginação
E assim me apresento com toda emoção:
Aqui está o artista que é Jorge Mello!

Jorge, que fez parte do grupo Pessoal do Ceará, teve os primeiros contatos com as artes num circo armado na sua cidade, Piripiri, junto com o qual fugiu aos 14 anos e voltou ainda adolescente para os braços da família e estudar num seminário e servir o Exército, “só para comer de graça”, segundo diz.
É bastante comprida a história de Jorge Melo.
Ele estará conosco no próximo dia 24, às 19h30, participando como atração do Sarau da Cultura Popular no grande auditório do Centro de Convenção Rebouças.
A apresentação faz parte da programação do 16º Congresso Mega Brasil de Counicação, cujo tema este ano é o Planeta Comunicação na Era do Diálogo.
CLIQUE:
http://www.youtube.com/watch?v=cWTqXjru95o

quarta-feira, 17 de abril de 2013

UM POETA NERVOSO E DEFINITIVO

Fernando Coelho é um poeta brasileiro extraído de sons e ventos do misterioso Recôncavo Sul Baiano, região de Santo Antônio de Jesus, Castro Alves, Cruz das Almas e São Felipe, distante cerca de 160 quilômetros de Salvador e bem longe do nada.
Ele é moldado a bênçãos e a rezas dos negros velhos iluminados da sua querida Bahia.
Mas por acidente, talvez, tenha nascido em Conceição do Almeida, um lugar sagrado onde deuses, duendes e santos se misturam num eterno fazer, numa mesma labuta, abrindo caminhos e rompendo barreiras por um tempo sem briga, sem encrenca, de paz e esperança para quem deseja paz e esperança.
Talvez por isso Fernando seja poeta.
Talvez por isso a poesia dele brote - do nada? - com tanto vigor e assim venha se apresentar a vida e a nos ensinar sobre o belo que há no amor.
É romântico o poeta.
A sua poesia é nervosa ao nascer e rápida ao conquistar corações, pois feita no calor do improviso tal e qual fazem os cantadores medievos brotados do solo estorricado do sertão nordestino, de onde de certo modo ele veio.
E ele se define, e ele confessa no texto que lhe vem ligeiro:
“Sou um poeta que não presta muito. Escrevo tudo de uma vez só. Num fôlego mortal. Poeta bom escreve, joga fora, reescreve, pensa. Fica aflito e faz de novo. Eu prefiro ficar aflito e morrer. Não sou um bom poeta por isso. Os bons rasgam e recomeçam. A única coisa que consigo rasgar quando escrevo é a mim. Insofisticado e ineficiente. Escrevo logo, de vez, com medo que a palavra tenha medo de mim e se afaste, e vá embora, e não me entenda, e desista de me permitir escrevê-la. Sou inseguro com as palavras. Elas determinam em que lugar gostam que eu as coloque. Sou sombra das palavras. Ainda bem que não concordo com muitas palavras. E elas gostam. O poema só não pode conter vileza. Não pode ser vil. Essa palavra, vil, por exemplo, entrou aqui sem pedir licença. E fica, porque ela manda. Enfim, o meu amor me ajuda: pensando nela, escrevo como quem jamais vai voltar, ou ir, ou sair, ou ficar. Escrevo assim. Como quem vai despencar”.    
Pois é, aos borbotões surge a poética de Fernando, como um samurai em guerra no escuro, como um vulcão em erupção.
O poeta é inquieto e exagerado.
Inda assim a sua poesia transborda de lirismo e se sustém em ritmos e asas, dispensando rimas e métricas e preferindo ganhar a forma livre de viver como os pintassilgos.
A poesia de Fernando Coelho é atrevida e tem de vida própria.
Isso é inquestionável.
Ele é um mágico, amante fiel das palavras que o ajudam a desvendar segredos da alma.  
"O poeta é um agricultor do semiótico. Planta horizontes nos galhos dos olhos", ele diz, e promete: “Um dia quando eu fizer do meu coração o que ele quer que eu faça e chegar em Conceição do Almeida, onde a poesia me pegou no colo insuflado de palavras meninas, não sei como vou chegar. Mas o mesmo, embora atravessado de caminhos densos. Por dentro, quando encontrar o meu velho eucalipto, naquela praça de pergaminhos da infância, uma coisa estará mudada: só ele vai saber e vai me chamar pelo nome do meu amor”.
Há vinte e poucos anos escrevi texto em que dizia que “Fernando Coelho é econômico, enigmático, simbólico, mas claro como uma manhã setembrina da paulistana garoa”.
O título do texto publicado no Diário do Grande ABC, era: “Variações em Torno de um Poeta Definitivo”.
Fernando continua econômico e cada vez melhor na poesia que gera.
Bom para seus admiradores, que somos nós.
Ele estará conosco no Congresso Mega Brasil de Comunicação, a se realizar no próximo dia 24, às 19h30, no
Centro de Convenções Rebouças. 
Vai declamar. 

terça-feira, 16 de abril de 2013

A MELHOR DUPLA VOCAL FEMININA DO PAÍS

Sambas, valsas, toadas, marchas, canções, xotes, baiões, modas de viola, cateretês, rasqueados e até cantos sacros fazem parte do eclético e excepcional repertório das mineiras de Ubá Celia e Celma, cantoras e atrizes com participação em filmes como O Viajante, de Paulo Cesar Saraceni, e na novela A História de Ana Raio e Zé Trovão, de 1990, na qual chegaram a fazer cenas ao vivo, cantando.
Elas são também artesãs, educadoras, apresentadoras de TV, colunistas de jornal, divulgadoras da cultura popular com LPs e CDs gravados desde o início da década de 1970 e, como autoras, ganhadoras do Prêmio Gourmand World Cookbook Awards (Pequim, 2006) pelo livro de culinária regional Do Jeitinho de Minas (Senac, SP, 179 páginas), que, aliás, acompanha um disco autoral delas com receitas musicadas, em 15 faixas, compostas em parceria com o músico e produtor musical Sérgio Turcão. 
O livro trás 165 receitas de bolinhos de chuva, tutu de feijão e vaca atolada, entre outras, todas típicas da culinária mineira.
A trajetória artística de Celia e Celma tem como ponto de partida o ano de 1957, quando se apresentaram em público pela primeira vez cantando num circo.
Tinham apenas cinco anos de idade, à época.
Logo depois elas passaram a atrações do programa A Hora do Guri da Rádio Educadora, de Minas.
As duas cresceram cantando no coral do Colégio Sacrè-Coeur de Marie, de sua terra, dançando quadrilhas juninas, acompanhando novenas, ouvindo histórias de Trancoso e cantadores de calangos e mestres de folias de reis e congadas tão comuns ainda em Minas.
Daí para a profissionalização foi um passo.
Celma tocava percussão – o que faz até hoje – e Celia, bateria.
Deixaram Minas e foram estudar no Instituto Villa-Lobos, no Rio de Janeiro, onde se diplomaram em Licenciatura Musical.
O catedrático Edson Carneiro foi quem lhes chamou a atenção para a importância e a riqueza do folclore brasileiro, o que fez com que jamais se desligassem das raízes da cultura popular.
A culinária elas aprenderam com a principal professora que tiveram: a mãe, que cozinhava em fogão à lenha.
O gosto pelas artes veio do pai, que era fotógrafo e tocador de bombardino da banda de música de Ubá.
O cantor Moacyr Franco e o pianista Luiz Carlos Vinhas, Miéle e Bôscoli foram os primeiros nomes famosos com quem trabalharam.
Muita água passou por baixo da ponte até vencerem um festival de música em Juiz de Fora ao lado de Clara Nunes com a música Mandinga, de Ataulfo Alves e Carlos Imperial.
Antes de irem à China para receber o prêmio pelo livro de receitas culinárias regionais do ano, as duas cantoras fizeram uma temporada de seis meses no Japão, sempre cantando temas brasileiros.
Celma (1ª voz) e Celia (2ª voz) se constituem hoje na mais afinada dupla vocal feminina do País.
E estão com CD novo na praça: Lembrai-vos das Procissões e Devoções de Minas.
Quer saber mais?
Acesse o site 
No próximo dia 24, a partir das 19h30, as duas cantoras estarão conosco participando do Sarau Memória Brasil no Congresso Mega Brasil de Comunicação, no principal auditório do Centro de Convenções Rebouças, na capital paulista.

DIA MUNDIAL DA VOZ
Por ser hoje o dia que é, Mundial da Voz (World Voice Day), está em andamento a 15ª Campanha Nacional da Voz. Mas independentemente dessa iniciativa da Associação Brasileira de Fonoaudiologia, que tal cuidarmos sempre da voz, hein, que é o nosso principal instrumento de comunicação e encantamento? Uma dica: pimenta faz bem, como água de coco e menos gelados. Um conhaquinho também é bom, principalmente para quem canta profissionalmente. 
Está aí a contralto Inezita Barroso, ainda em forma, que não me deixar mentir. 
A música popular já teve um rei da voz: Chico Alves.
Viva Celia e Celma!

segunda-feira, 15 de abril de 2013

TEM SOPRANOS NA MÚSICA POPULAR

A nossa música popular, chamada de MPB desde o começo dos anos 1960, está há muito recheada de cantoras líricas interpretando sambas, valsas, modinhas e modas de viola entre outros gêneros e ritmos, a exemplo da paulistana Inezita Barroso que no começo da carreira chegou a estudar canto com a musicista Mary Buarque, no melhor dos sentidos um assombro na sua época.
O timbre vocal de Inezita é mezzo-soprano, como de mezzo-soprano é o timbre da macaense Ângela Maria e era o da gaúcha Elis Regina.
E tão importante quanto Inezita e Ângela foram Elis e Dalva de Oliveira, que passava do contralto ao soprano com a maior facilidade do mundo.
A sua voz ganhava altura e beleza inimagináveis.
E o que dizer da pianista e também soprano Cristina Maristany, que veio de Portugal para o Brasil com menos de um ano de idade e se transformou numa das artistas mais aplaudidas nos teatros do Rio de Janeiro entre os anos 30 e 50, e deixou como legado um punhado de discos de 78 rpm?
As canções Prenda Minha e Casinha Pequenina, de domínio público, e a modinha Quem Sabe?, de Carlos Gomes e Bittencourt Sampaio, na sua voz ficaram definitivas.
Cristina estreou em disco gravando para a Odeon Saudade Sombria, canção de Bento Mossurunga e Silveira Neto, e Solidão, valsa de Eduardo Souto e Osvaldo Santiago, no final de 1929.   
Depois de Inezita, Ângela, Elis, Dalva e Cristina, muitas outras cantoras de formação erudita continuaram - e continuam - passeando com desenvoltura pela música popular, como a santista Tulipa Ruiz, a paulista da capital Mônica Salmaso, a caxiense Daniela de Carli, a carioca Marisa Monte, a baiana Virgínia Rodrigues e as mineiras Maria Lúcia Godoy e Fernanda de Paula, entre outras de alcance vocal surpreendente.
Fernanda estudou Psicologia na Universidade Federal de Minas Gerais, mas preferiu seguir a carreira de cantora depois de se preparar estudando canto lírico no Palácio das Artes, entre 1997 e 2001.
E como Inezita e Cristina, Fernanda também estudou piano.
Integrando o Coral BDMG (Bando de Desenvolvimento de Minas Gerais), ela se apresentou na Itália, Portugal, Alemanha, Suíça, Inglaterra, França e Argentina, em 1998.
Depois disso Fernanda, dona de uma das vozes mais bonitas do Brasil, criou o Grupo Sagarana e passou a correr o Brasil até se juntar a outro grupo, Camiranga, com o qual já gravou dois discos: Madeira de Lei e Da Afonso Pena à Paulista, que está chegando ao mercado.
No próximo dia 24, às 19h30, ela estará ao lado de vários artistas participando de um sarau no Congresso Mega Brasil de Comunicação, no Centro de Convenções Rebouças. 

domingo, 14 de abril de 2013

REVISTA BRAVO E INSTITUTO MEMÓRIA BRASIL

A principal revista de cultura brasileira do País, Bravo!, em parceria com a Abril Mídia, lançou no mês que passou um concurso para seus leitores.
O prêmio oferecido era/é uma visita ao Instituto Memória Brasil, IMB.
Para concorrer ao prêmio a revista esclareceu, em texto específico (http://bravonline.abril.com.br/materia/concurso-visita-cultural), que era preciso que o concorrente escrevesse uma frase dizendo por que estava concorrendo e porque desejava a oportunidade de conhecer o IMB.
Muitos se inscreveram e uma pessoa, de São Paulo, ganhou: Ana Vitória Bomfim, com a frase "Eu ficaria aqui no meu cantinho, ansiosa, esperando ser sorteada e ser chamada para conhecer esse belíssimo e histórico acervo do mestre Assis Ângelo. Porque eu sei e sinto que eu vou ser sorteada, e vou poder ter esse privilégio, porque eu também sou filha de Deus!".
A iniciativa da direção da revista é curiosa e louvável.
Curiosa pela iniciativa inédita, de levar leitor a conhecer, in loco, um acervo cultural.
E louvável por isso mesmo; principalmente num tempo que a globalização chega a seus finalmente, que é acabar com a cultura, com a tradição de onde quer que seja.
Seja bem-vinda ao IMB, Ana Vitória Bomfim.

SARAU
Os nossos dicionários são pobres e os filólogos se repetem, não investindo no conhecimento natural e necessário na vida da língua cotidiana. Pena. Tenho dicionários de muitos anos aqui, no acervo do Instituto Memória Brasil. Num deles, o primeiro e ainda principal da nossa língua, editado em Portugal, de Caldas Aulete (Dicionário Contemporâneo da Lingua Portugueza), da segunda metade do século 19, num verbete de poucas linhas até hoje repetido com mínimas variações por autores ou grupos de autores diversos, diz que SARAU é “(ssa-ráu), s. m. baile nocturno, reunião de pessoas de uma ou mais famílias em casa onde se dança e se executa musica mas sem grande cerimônia; festim noctuno entre pessoas de condição;//F. fr. Soirée”.
E é isso, sarau, o que vamos fazer no próximo dia 24, no Centro de Convenções Rebouças, cá em Sampa, durante congresso Mega Brasil de Comunicação. Conosco estarão o poeta Fernando Coelho, o multipercussionista Papete, que foi um dos braços mais importantes do selo musical Marcus Pereira; o multitudo Jorge Mello, a dupla feminina mais afinada do Brasil, Celia e Celma; o maior sanfoneiro em atividade no País, Oswaldinho do Acordeon... E mais uns.
Alguns dos artistas que estarão presentes na noite de 24 no Centro de Convenções Rebouças estiveram conosco ontem na sede do IMB, entre eles Celia, Jorge Mello, Celma e Papete (foto ao lado, no clique de Andrea Lago).

POSTAGENS MAIS VISTAS