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sexta-feira, 10 de maio de 2013

POIS É...

Num recente fim de tarde, o jornalista e historiador santista criado no Rio de Janeiro José Ramos Tinhorão chegou dizendo que acabara de se deixar aplicar uma injeção no posto de saúde que fica aqui perto de casa, para depois resumir puxando no “r” que ganhou dos cariocas quando trabalhou para jornais e revistas como Correio da Manhã, Última Hora, Cruzeiro e Veja:
- Ser velho é uma merda!
Isso não pelo fato de às vezes sentir no corpo algum cansaço, mas por fazer parte, involuntariamente, do chamado grupo da “terceira idade” ou “melhor idade”, para ele outra “merda”.
O incômodo de Tinhorão merece reflexão pela discriminação silenciosa que mais das vezes lhe é dirigida e a outros que igualmente “passam da idade”, mas que idade?
Reflexão merece também o texto criterioso Cemitério de Elefantes, de Gabriel Priolli, que a revista Imprensa acaba de publicar na edição que se acha nas bancas.
Jornalista de currículo invejável e hoje produtor independente de TV, Priolli lembra que o fato de a imprensa norte-americana manter desde priscas eras nos seus quadros repórteres de “idade avançada”, isto é, ali pelos 60, sempre lhe impressionou.
No Brasil, exceções à parte, um jornalista de 40 e poucos anos já é considerado “velho”; e por ser o que acham que é o jornalista de 40 e poucos anos vai ficando cada vez mais na redação e menos na reportagem.
E Priolli confirma o que estava longe de se duvidar: “Lugar de tiozinho, no jornalismo pátrio, é na retaguarda, não na linha de frente. Isso para os poucos que ainda restam na ativa. Para a maioria, lugar de jornalista veterano é a rua mesmo. A da amargura”.
Lamentável, não é?
De clima tropical, bonito, gostoso, bom de viver, sem guerras, vulcões, terremotos, maremotos ou tsunamis para nos castigar além daqueles provocados pela gula insaciável dos políticos de espírito canalha, o Brasil é um país com quase 200 milhões de pessoas falando uma mesma língua e ocupando um espaço calculado em mais de 8,5 milhões de km2, o que o torna o 5º maior do planeta em termos territoriais, atrás apenas da Rússia, Canadá, China e Estados Unidos.
Vistos por esse ângulo, somos privilegiados.
Mas se é assim, o que nos falta?
Desde tempos remotos, o mínimo que nos faltam é uma boa formação escolar, respeito e igualdade no item cidadania, questões essas que passam naturalmente pelo explosivo quesito distribuição de renda.
Pois é, e ainda há gente passando fome e vivendo na linha da miséria no Brasil.
Pois é, continua assombroso o índice de analfabetismo no Brasil.
Pois é, povo analfabeto é povo oprimido e dominado.
Pois é, e como se não bastasse a falta de vergonha na cara, ainda nos vestimos e saímos por aí cantando a música dos gringos, sem nem sabermos a nossa língua direito.
Pois é, precisamos de uma injeção contra safadezas.
Agora vem o governador de São Paulo dizer mais uma obviedade: que faltaria guilhotina para punir corruptos.
Uma vez publiquei entrevista com Jece Valadão na Folha, em que ele dizia que se o povo soubesse a força que tem não deixaria que lhe pusessem canga.
Pois é, mas nós deixamos.
Deixamos de lado tanta coisa boa que poderíamos fazer e não fazemos, como tentar entender os caminhos da formação da cultura popular no nosso país.
Mas para isso é preciso ir às bibliotecas, aos museus etc.
Pois é...
Já se acha nas bancas a revista Bravo! (reprodução da capa, acima), com matéria à pág. 10 sobre o Instituto Memória Brasil, IMB.
Acesse e comente:
www.jornalistasecia.com.br/edicoes/culturapopular13.pdf

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