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sábado, 28 de maio de 2016

MATUTO, LOGO EXISTO...





Matutando cá com meus botões, indago: quem vive mais, os calhordas ou as pessoas de bem?
Ainda cá com meus botões, matuto: para o Brasil ficar bom, é preciso apostar na educação, no respeito ao próximo, na formação cidadã e na cultura popular.
Muita gente boa, das minhas relações, partiu, foi embora misturar-se às estrelas. Um dia eu chego  lá.
O meu querido Paulo Vanzolini (1924-2013), doutor em cidadania, partiu, foi-se embora. Sobre ele, eu escrevi este poeminha:

Um dos últimos encontros de Paulo e Assis, na casa do Paulo








Manezinho, no dia dos seus 80 anos







Moraes Sarmento, um dia lá em casa...











O BRASILEIRO VANZOLINI

Vanzolini foi-se embora
Rumo à eternidade
Ele deixou obra completa
E em nós muita saudade
Foi mestre, compositor,
Cantou a alegria e a dor
Com galharda liberdade

Ele lutou por igualdade
E fez da música oração
Da ciência o seu caminho
Fortaleceu-se na razão
Vanzolini foi artista
Nascido em terra paulista
Foi ele exemplar cidadão

Fez samba, toada e canção,
Leilão e Volta por Cima,
Idem Napoleão e Ronda
Foi autor de boa rima
Craque da cantiga e ciência
Estudou com paciência
Mudanças do nosso clima

Vanzolini está acima
Do banal e do rasteiro
Pela vida ele passou
Como grande brasileiro
Fez o que tinha de fazer
Sem desistir do prazer
Foi ele de fato guerreiro

Poeta do Brasil inteiro
Vanzolini soube ser
Na sua morcega vida
Como aranha foi coser
Uma bela teia pra morar
Brincar, pensar, viver, amar,
E jamais essa teia descoser

Antes de Paulo – o Vanzo, como nós próximos falávamos –, foram de encontro às estrelas Moraes Sarmento (1922-1998) e Manezinho Araújo (1910-1993). Sarmento foi um grande nome do rádio e um cidadão que valorizou tudo o que era bom. 
Manezinho, o rei da embolada, foi outro que fez o bem, a partir da sua obra musical e pictórica. Mané era um pintor primitivo, como a gente chama os artistas do pincel que pintam no gênero naîf, descoberto pelo grande cearense Aldemir Martins (1922-2006).
Foram-se embora Sarmento, Manezinho, Paulo... Mas aí Deus queria uma deusa caipira ao seu lado. Foi quando olhou pra Pedro pedindo que ele convocasse a paulistana violeira Inezita Barroso (1925-2015), porque o céu estava ficando muito monótono, acho, e assim o Brasil e todos nós perdemos; e assim foi a vez de Inezita chamar Fernando Faro e Papete, para junto com ela fazer a festa no céu.


A última vez que estive com Faro,
ele dando bola para mim na TV Cultura





Sobre Inezita, escrevi o livro “A Menina Inezita Barroso” (Cortez Editora, 2011), que abre com um poeminha que eu lhe dediquei e que Papete, com muita categoria, musicou, para nossa alegria. O poeminha é este:

                                                   A BRASILEIRA INEZITA                          

O Brasil tem muita gente
A começar pelo Sudeste
Desde Inezita Barroso
E até cabra da peste
Tem causos de Trancoso
Revividos no Nordeste

Cantar o que se canta
É uma coisa bem bonita
Que nos faz acreditar
Na riqueza infinita
Deste Brasil brasileiro
Da talentosa Inezita

Viva Inezita Barroso
Essa grande brasileira
Que por si própria se fez
Uma rainha violeira
A cantar as coisas nossas
Tal e qual uma guerreira

Pois é, os meus amigos todos estão indo embora. Estou ficando sozinho. Quem fica só é solitário, e a solidão é coisa braba.
Outro dia, um amigo me disse que, cada vez que um amigo vai embora, ele vai junto. É como se chegasse ao céu em pedaços. É, acho que tem a ver...
Depois que a Inezita partiu, partiu também o querido Fernando Faro. Sobre ele, eu também escrevi um poeminha. Este:

                                        Fernando Faro partiu.
 Foi pra eternidade.
 Foi brincar com as estrelas.
 E foi brincar de verdade!
          Fernando, “Baixo”, partiu.
         Deixando muita saudade.

        Só que saudade tanta assim
        Não é certo alguém querer.
        É saudade demasiada
       Que vai muito além do ser.
       É saudade que machuca
       E essa ninguém quer ter.

E agora vai o Papete.
Eu conheci o Papete há muitos anos. Na minha vida, ele foi presente no correr de três décadas, pelo menos.
Papete, como Belchior, frequentou a minha casa no tempo em que minha filha Clarissa engatinhava... Mas, como diz Gisele – a companheira de sempre do Papete –, “Deus sabe o que faz”.

O Papete foi embora
Deixando muita saudade
O Papete foi embora
Meus Deus, é realidade...

Uma emissora do Maranhão hoje lembrou, com muita categoria, a grandeza de Papete; Papete, aliás, é o apelido que deu a ele Aldemir Martins.




Gisele ficou o tempo todo ao lado do seu companheiro, enfrentando as intempéries que a vida nos brinda. Ele foi, ela fica, como exemplo de dedicação ao outro.
Agora, cá com meus botões, eu fico pensando: essas pessoas queridas, que nos deixaram sem previamente avisar, devem estar fazendo festa no céu. Ficamos mais pobres, é claro, mas o céu ficou mais rico. Aliás, este é um pensamento de um grande amigo jornalista, de nome Vitor Nuzzi.
Os bons pensamentos, as boas ideias, o bom do bem-bom, têm de ser compartilhados.
A propósito, na Internet, no seu instrumento Facebook, as pessoas curtem, curtem, curtem... Poxa, além de curtir por que não opinam, não falam, não dizem o que pensam? É tão bom pensar...
E eu, cá com meus botões, matuto pensando que o Brasil pode melhorar, pode ficar bom, com gente que pensa e que vive educação.
  




quinta-feira, 26 de maio de 2016

ADEUS, PAPETE!

Assis Ângelo e Papete num dedo de prosa
O dia amanheceu frio, feio e triste. E eu também amanheci assim: Frio, feio e triste.
A razão disso?
Terça feira passada eu e Ivone falamos muito sobre Papete. Ela lembrava de um prato especial que o Papete lhe pedira meses atrás pouco antes de ser levado por Gisele para uma “temporada” no Hospital Oswaldo Cruz. Esse prato era uma dobradinha com costelinha e fava verde.
Ontem telefonei para Gisele com o intuito de saber como Papete andava de saúde. O telefone tocou, mas ninguém o atendeu.
Hoje cedo, bem cedo, Celia e Celma me dizem pelo telefone que Papete morreu.
Papete morreu no começo da madrugada de hoje, dia de Corpus Christi. Muita gente morre nesse dia, mas Papete era pra mim, uma pessoa que jamais morreria.
Na verdade, Papete não morreu: Papete encantou-se.
A nossa amizade, minha e de Papete, estendeu-se por uns trinta anos. Ele frequentava muito a minha casa. Proseávamos e cantávamos. Falávamos muito dos rumos do Brasil. Ele torcia e sonhava por um País melhor do que o país que vivemos sob a batuta de oportunistas da raia política...
Papete era um cara incrível.
Cá em casa, proseávamos com Théo de Barros, Tinhorão, Oswaldinho da Cuíca, Osvaldinho do Acorden, Geraldo Vandré, Ana, Joel, Celia e Celma...
A última composição de Papete foi feita em parceria com as irmãs Celia e Celma. A música é um Calango já gravada em disco a ser lançado em breve. Música anterior a essa, A Brasileira Inezita Barroso, foi composta por mim e ele. Ficou linda, chegando a arrancar lágrimas da homenageada.No começo dos anos de 1970, Papete e Oswaldinho da Cuíca compuseram o samba Vai Corinthians, lançado num compacto simples pela extinta gravadora Continental.
Adeus Papete, que Deus o tenha em bom lugar.
Há sim! Pepete é o apelido de José de Ribamar Viana dado pelo pintor cearense Aldemir Martins.

domingo, 22 de maio de 2016

O BRASIL É UM BARCO FORTE

O Brasil é um barco forte, mas cheio de furinhos.
Vamos fazer de conta que esses furinhos estão se alargando rapidamente e pondo em risco a vida dos seus ocupantes.
E vamos fazer de conta que lá pras tantas ocorre, entre dois ocupantes, uma pequena discursão. A discussão é para decidir quem pega o remo para tirar o barco da iminência de um naufrágio.
A discursão cresce e cresce. Uma das partes ganha a discussão, pega o remo e começa a remar. A parte que “perdeu”, não se conforma e diz:
_ Não vai dar certo, não vai dar certo!
Pois é, estamos assim: torcendo para o barco afundar. Datalhe: Só que estamos todos nesse barco, um barco furado; mas é nele que estamos e temos que torcer para não naufragarmos.

Hoje, por volta das 08h00min, ouvi na Rádio Bandeirantes o ex-ministro da educação, Janine Ribeiro, dizer que uma de suas metas na pasta que ocupou antes de ser substituído por Aluizio Mercadante era trocar o livro por tablet nas escolas da rede pública de todo o País. A princípio eu não quis acreditar no que ouvi. Mas era verdade: Janine queria acabar com o livro impresso... Que coisa?
Cá eu com meus botões ficamos a imaginar: isso seria o fim da picada.
Como acabar com o livro? Se isso um dia acontecer, e tomara que nunca aconteça, o mundo vai ficar mais burro.
Se acabarem com o livro, a partir das escolas, as pessoas deixarão de escrever de próprio punho. Isso já começou, é verdade, mas não dá, pra fazer isso de modo incentivado pelo Estado.
Uma loucura não é?
Eu sou de um tempo em que professor ensinava a ler e a escrever e o aluno aprendia.
Eu sou de um tempo em que o saber era fundamental na vida de um cidadão. E o saber nos vinha pelo saber do professor ou da professora.
Eu sou de um tempo em que havia até tabuada.
Eu sou de um tempo muito recente, de um tempo em que todos se respeitavam e procuravam o saber como trilha para toda uma vida. Mas reconheço que muita coisa mudou...
É preciso investir na leitura, no conhecimento, no saber.
É preciso investir na educação e na cultura, na formação do cidadão.
Há! Eu sou do tempo em que professor estudava para ensinar e pesquisador ia a campo para pesquisar. Hoje tem Google...
Luis da Câmara Cascudo e Mário Souto Maior, que conheci de perto, foram, provavelmente, os últimos dois grandes pesquisadores que levaram o ensino e a pesquisa a sério.
E pensar que a origem da escrita data do tempo em que o homem habitava as cavernas. Esse homem morreu e agora querem matar a escrita.
Que coisa doida!
O que dirá o educador e editor potiguar José Côrtez diante de tal tragédia anunciada?
Somos um barco à deriva e temos que lutar e torcer para que não afundemos.
E chega da máxima que reza pela cartilha do “quanto pior melhor!”




terça-feira, 17 de maio de 2016

CAUBY PEIXOTO, UM SHOW NO CÉU


Calou-se para sempre a voz que imortalizou Conceição.
Conceição foi uma personagem criada pela dupla de compositores Jair Amorim e Dunga. Essa personagem ganhou corpo –e alma- em gravação lançada em setembro de 1956. Há sessenta anos, portanto. É um samba-canção que marcou profundamente o repertório do niteroiense Cauby Peixoto.
Encontrei-me com Cauby há uns quatro anos, quando eu e Paulo Vanzolini molhávamos a garganta num restaurante do Cambuci. Foi um encontro legal. Anos antes desse encontro, Cauby havia gravado o samba-canção Ronda, de Paulo.
Cauby Peixoto fez parte de uma era de grandes intérpretes da nossa música popular. Intérpretes de voz possante, como Francisco Alves (que morreu no dia em que nasci, 27/09/1952); Silvio Caldas, Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Orlando Dias, Adilson Ramos. Por esse prisma, Cauby deixa um vazio enorme, no campo da música popular. Na verdade, podemos até dizer que ele foi a última grande voz a silenciar. E uma coisa curiosa: ao contrário de muitos, Cauby recebeu em vida todas as glórias possíveis que um artista pode receber. Bastidores, de Chico Buarque, foi feita para ele.
Uma multidão de fãs acorreu ao salão nobre da Assembleia Legislativa de São Paulo, para lhe prestar a última homenagem. Lá estiveram, entre outros, Agnaldo Timóteo, Jerry Adriani, Roberto Luna, Claudio Fontana, Tobias da Vai-Vai, Agnaldo Rayol, Edith Veiga, Ângela Maria e Celia e Celma.
A última apresentação musical de Cauby ocorreu no dia 3 deste mês, no Teatro Municipal, do Rio de Janeiro. Ao seu lado estava Ângela Maria, a sapoti, assim apelidada pelo ex-presidente Getúlio Vargas.
Uma historinha: em 1986, Cauby e Celia e Celma embarcaram num voo de Brasília ao Rio de Janeiro, meio anônimos, discretos, até que um grupo de adolescentes em algazarra descobriu os três. Logo após o avião levantar voo e estabilizar-se no céu, um dos meninos do grupo gritou: Cauby!, Cauby!, e a essa voz, outras se seguiram, canta! canta! canta! E Cauby, sem se fazer de rogado, levantou-se da poltrona e começou a cantar: “cantei, cantei...”.
Muitos aplausos, foi uma festa, e aí, Cauby, feliz da vida, chama Celia e Celma para com ele cantar: “cantei, cantei...”. No dia seguinte, a coluna do Swann, do jornal O Globo, registrava o imprevisto espetáculo: Show nas Nuvens...
Pouca gente sabe, mas Cauby não gostava muito de cantar Conceição. Mas tinha que cantá-la, pois todo mundo exigia em shows que ele a cantasse, e ele a cantava como se fosse a 1ª vez, ou seja: com grande emoção.
O corpo de Cauby Peixoto (1931/2016) foi sepultado no jazigo da família de sua grande amiga, Ângela Maria.
Detalhe: Cauby participou de uma das mais bonitas faixas (Maria das Dores, de Ary Barroso) do CD Ary Mineiro, de Celia e Celma.


    

sexta-feira, 6 de maio de 2016

190 ANOS DO CONGRESSO NACIONAL: SEM CORRUPÇÃO?


Todo dia é dia
De Brasil especial
De Brasil de todos nós
De Brasil nacional

O Brasil tá se mexendo
O Brasil tá em ação
Procurando caminho
Pra sair da contramão

Mas a tarefa não é fácil
E tem lá seus empecilhos
Agora passou o tempo
De o Brasil entrar nos trilhos

Faz tempo, muito tempo
Que o Brasil sofre calado
Apanhando em silêncio
Como pobre coitado

O mal não é eterno
E nem eterna é a dor
Eterna é a vida
Que dá asa ao beija-flor



Como nunca, o Brasil e nós todos, brasileiros, vivemos uma crise profunda. Um dilema quase irracional, de difícil entendimento.
Crise... crise... crise...
O Brasil, e nós todos brasileiros, vivemos crises desde sempre. Desde a chegada dos primeiros invasores.
Em 1808, D. João VI chegou ao Brasil. Com ele, veio a prática da roubalheira, da usurpação, do 'tudo pra mim'. Ao fim e ao cabo, D. João VI e seus apaniguados retornaram a Portugal levando o que puderam do nosso País.
E não aprendemos nada?
São dezenas de políticos graduados, hoje, no Brasil que vivem a prática de D. João VI...

Eduardo Cunha, caiu.
Mas será que, com Cunha, caiu também a prática horrorosa de roubar o povo do nosso País?
O Congresso Nacional está levando, quarta-feira, Dilma para o limbo.

Hoje faz exatamente 190 anos que o Congresso Nacional brasileiro foi criado.

Com isso, tomara, que pela data simbólica, hoje registrada no Congresso, esteja renascendo um Brasil com uma cara mais bonita.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

O POPULAR E O ERUDITO EM RIACHÃO E BACH

O grupo paulistano Gato com Fome no show de reverência ao baiano Riachão
Tem coisas que eu não entendo na vida.
Como jornalista, eu conheci meio mundo e meio. Conheci pessoas incríveis. Pessoas que atuam e atuaram em todas as áreas do viver cotidiano. Lembro do Gonzaga, uma pessoa que me orgulho ter tido como amiga; lembro do Mario Zan, que Gonzaga o fez Rei da Sanfona; lembro do Zé Ketti, que chorou quando lhe mostrei Máscara Negra, dele, em inglês; do Sivuca e de tanta gente que a memoria ainda guarda... Câmara Cascudo, Eleazar de Carvalho...
Vocês ainda lembram de Inezita Barroso?
E do Paulo Vanzolini?
E do Nelson Gonçalves?
Pois é, é muito bom lembrar ontem. O ontem, nos faz viver hoje. E aí, de repente, um amigo acaba de telefonar perguntando se eu sei quem é Manezinho Araújo, Batatinha e Riachão. Manezinho...
Assis Angelo e Manezinho Araújo, o Rei da Embolada
A vida tem razão de ser quando a gente quer viver. E vivendo, a gente acha razão de ser e de viver. Nesse caminho, a gente se multiplica. Quando a gente se multiplica, e quando se é do bem, a vida fica melhor. Mas não quero perder o prumo à pergunta que me veio pelo telefone: você conhece Manezinho Araújo, Batatinha e Riachão?
Na última vez que Riachão esteve em São Paulo, dia 2 de abril deste ano, eu fui vê-lo. Até escrevi um texto que não sei por que razão, coisas da Internet, não foi publicado. O texto é este:

O Brasil está perdido, mas pode ser achado rapidamente na coisa mais importante que tem: a cultura popular, que é a representação mais autêntica do povo. Na sua forma mais bonita, fez-se presente ontem à noite, no teatro da unidade SESC Pompeia. No palco, uma legenda do samba da Bahia – e do Brasil: Riachão.
Há muito eu não via um artista tão completo mostrar-se ao povo cantando uma fieira de obras-primas autorais. E foi isso o que vi fazer o baiano Riachão, de batismo Clementino Rodrigues.
Riachão, aos 95 anos de idade, cantou com voz firme, afinada, e desembaraço de um jovem cinquentão.
Ele está em plena forma, foi o que mostrou.
Vi-me encantado e surpreso com a performance de Riachão. A dúzia e meia de músicos que o acompanharam são o suprassumo do samba de São Paulo, à frente os meninos do grupo Gato com Fome. Não custa lembrar: Gato com Fome nasceu com as bênçãos de outra grande legenda do samba: Oswaldinho da Cuíca.
Oswaldinho acaba de ser descoberto pelo grupo de rock londrino Rolling Stones, mas essa é outra história...
Conheci Riachão há uns vinte anos, e o que pude constatar é que ele continua o mesmo na sua grandeza de artista popular. Ele já foi gravado por dezenas e dezenas de intérpretes brasileiros, incluindo Jackson do Pandeiro, Jamelão, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Ivone Lara e Cassia Eller. No mais, ele contabiliza umas trezentas músicas suas ainda inéditas.
Riachão é uma fonte de pérolas musicais sem fim.
Ouvindo o autor de Cada macaco no seu galho, não posso deixar de lembrar do erudito alemão Johann Sebastian Bach (1685 – 1750).
Bach passou a vida louvando a Deus que, aliás, se acha presente literalmente em toda sua vastíssima obra. Quem não conhece Jesus a alegria dos homens?
Medindo as diferenças, o popular Riachão tem a grandeza de Bach e um ponto em comum: ambos falam de Deus o tempo todo.
Agora meu amigo, agora minha amiga, imagine Deus se fazendo presente num ser humano. Calma. Não esqueça, que Ele disse que somos no rigor a sua semelhança. Agora imagine Ele sendo acompanhado por mestres do samba. Samba como sangue que corre nas veias. A noite que vi Riachão cantando, sambando sentado, é divino ou não é? Atrás, na frente e no meio, Riachão cantando com a voz de Deus. Cavaquinho, violão (e 7), trombone, pandeiro, surdo, tamborim, cuíca, reco-reco, agogô e atabaque. E como se não bastasse, um coro formado por vozes que parecia ter vindo de outro mundo.

Eu acho que foi a vez que o grupo musical Gato com Fome se saciou por completo.

sábado, 30 de abril de 2016

AMIGOS, O MELHOR REMÉDIO

Intimado a produzir uma ilustração para este blog em dois minutos,
Fausto atendeu o desafio e fez a ilustração em menos de dois minutos.
É bom ter amigos. Quem tem amigos, tem alegria. Amizades são uma boa razão para viver. Para viver bem. Quem não tem amigos, toma muito remédio de farmácia.
Eu não me lembro da última vez que entrei numa farmácia. E querem saber de uma coisa? Depois que fiquei cego, passei a ver melhor. A ver melhor as pessoas que me cercam. E vendo assim, cada vez mais não preciso ir à farmácia.
Hoje, a minha casa, templo onde moro, recebeu Fausto e Vitor.
Fausto é o cartunista que boa parte deste país tão judiado politicamente conhece, amigo de todos nós. Sensível, de alma encantadora e talento absurdo. Vitor é o Nuzzi, jornalista, autor do livro mais completo que trata sobre a vida e obra do conterrâneo Geraldo Vandré: Uma Canção Interrompida (editora Kuarup).
Fausto é paulista de Reginópolis. E Vitor, paulistano da Liberdade.
E conversa vai, conversa vem, lembramos de muitos amigos. Amigos que nunca foram à farmácia; e se foram, foram poucas vezes.
Anna de Hollanda e Fernando Faro com Assis Ângelo no programa de rádio "São Paulo, Capital Nordeste"
Lembramos do Fortuna, Fausto, Goethe, Angeli, Baltazar - o “Cabecinha de Ouro”, herói do Timão em 1954 –, Quarentinha, Sócrates, Garrincha,  Tinhorão, Vandré, Inezita, Vinícius, Alcy, Gê, Ziraldo, Jaguar, Chico, Lula, Temer, Dilma, Fernando Pessoa, Brian de Palma, Rolling Stones, Téo Azevedo, Marcos Zanfra, José Cortez, Anna de Hollanda, Osvaldinho da Cuíca, Izilda Alves, Edu Lobo, Lucy Alves, Erico Verissimo, Luís Dantas, Joel dos Santos, Carla Maio, João Henrique, Cecília Thompson. E também as três ceguinhas da Paraíba: Maroca, Pondoca e Indaiá.
Conversa que vai e vem é conversa que quase nem termina, de tão gostosa que é. Ah! Inda lembramos de alguns personagens que também viveram sem farmácia e que partiram este ano, como o teatrólogo Naum Alves de Souza, o jornalista Sandro Vaia, os atores Umberto Magnani e Flávio Guarnieri e o multi-tudo sergipano Fernando Faro...
A última vez que estive com Faro faz uns dois anos. Estávamos com Vandré, Peter Alouche, Paulo Benitez e outros amigos, comendo uma saborosíssima paella. Lembro-me que, ao sairmos, no carro ele contou, sem eu perguntar, sobre um show musical que produziu para o PT em fins dos anos 1970, no Juventus. O partido estava em formação. O resultado desse espetáculo, segundo ele, foi lamentável. Ele passou a detestar Lula desde então. Grana na parada, desviada.
Quanta história a contar.
Poucas horas antes de o Brasil tomar conhecimento do passamento de Faro, por esses inexplicáveis da vida, o Vandré telefonou para saber como estou. E, como sempre, conversa vai, conversa vem, falamos de muita coisa. Ele gargalhando do outro lado, e eu deste também. Ele acha que tenho de dar aulas, que tenho de voltar ao rádio.
Uma coisa puxa a outra, e não há como eu não tecer os versos que se seguem:

Fernando Faro partiu.
Foi pra eternidade.
Foi brincar com as estrelas.
E foi brincar de verdade!
Fernando “Baixo” partiu.
Deixando muita saudade.

Só que saudade tanta assim
Não é certo alguém querer.
É saudade demasiada
Que vai muito além do ser.
É saudade que machuca
E essa ninguém quer ter.

...

A tarde de quem não precisa de farmácia é sempre uma boa tarde, e a de hoje foi uma boa tarde. Falamos, eu, Fausto e Vitor, sobre tudo; até sobre a formação do mundo. Falamos até de Copérnico, Isaac Newton, Albert Einstein, pés de maçã, de jaca. Só não falamos de pé de minhoca. Depois disso, fomos comer um baião de dois, que ninguém é de ferro. E lá encontramos Regina, Nilson e outras pessoas queridas. De lambuja, eu trouxe pra casa uma garrafa de manteiga de garrafa.

Para lembrar: 



sexta-feira, 29 de abril de 2016

FERNANDO FARO PARTIU

Fernando Faro representou o pensamento mais lúcido da intelectualidade cultural do nosso País. Prova disso foi a sua presença inestimável desde os primeiros anos da televisão brasileira, trazida pelo paraibano Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, em 1950. Não dá para esquecer a interferência de Faro em programas musicais como Móbile e MPB Especial, que virou Ensaio. Só nesse último, ele entrevistou mais de setecentos artistas de nossa música, entre os quais Adoniran, Elis,  Baden, Chico e Tim, aliás, a única vez que o Tim chegou no horário. Só por isso,  ele é merecedor de todos os aplausos e reconhecimento. Portanto, acho que o tema Fernando Faro não pode nunca ser esquecido.

Fernando Faro partiu
Foi para a Eternidade
Foi brincar com as estrelas
E foi brincar de verdade!
Fernando “baixo” partiu
Deixando muita saudade...


Fernando Faro permaneceu na TV Cultura de São Paulo por dois séculos e meio, pelo menos. E na nossa memória, para sempre.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

UMA CIDADE QUE LÊ

José Antônio Severo ladeado pela cantora Celia e o diretor de cinema Tabajara Ruas
Milhares de quilômetros separam o Brasil da Grécia. Não, milhões de quilômetros...
Na verdade, correm tempo adentro os quilômetros que separam o Brasil da Grécia.
Cerca de cinco séculos antes de Cristo, a Grécia era chamada de O País da Filosofia e Atenas, a Cidade da Sabedoria, ou do Saber.
Ano passado, o Brasil foi apelidado de A Pátria Educadora. Mas isso não tem nada a ver com a Grécia, com filosofia, saber ou sabedoria.
Você, amigo, sabe que um dos nossos 5.570 municípios é conhecido como “uma cidade que lê?” Pois é, essa cidade existe desde 1831 e fica ao sul do País, mais precisamente a 259 km de Porto Alegre. Seu nome? Caçapava do Sul. Desnecessário dizer que os caçapavanos são um povo feliz.
O escritor paulista Monteiro Lobato (1882/1948) cunhou a frase definitiva que traduz a importância da leitura e de quem lê: “quem lê sabe mais”.
Termina no próximo dia 1º, a 26ª Feira do Livro de Caçapava do Sul, dedicada à Simões Lopes Neto (1865/1916). Claro, essa feira reúne muitos bam-bam-bans do ponto e vírgula nacionais. O patrono dessa feira, este ano, é o jornalista e escritor José Antônio Severo, autor de vários títulos fundamentais para o conhecimento da epopeia gaúcha desde tempos d’antanho.
Severo é de Caçapava do Sul.
Detalhe: no segundo dia da feira, os caçapavanos aplaudiram de pé a exibição do filme Os Senhores da Guerra (adaptação do livro homônimo de Severo), dirigido por Tabajara Ruas e que conta com um grande elenco encabeçado por Rafael Cardoso e participação das irmãs cantoras, Celia e Celma. O filme entrará em circuito nacional no próximo mês de junho.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

O PIOR CEGO É O QUE NÃO QUER VER

Essa história de golpe já está enchendo a paciência, pois até cego como eu sabe perfeitamente que golpe não há no caso que põe Dilma como irresponsável e praticante do crime das “pedaladas” amplamente por aí difundido. O processo de impeachment assinado por Bicudo, Reale e Janaina está minuciosamente justificado, tanto que foi aceito pela grande maioria das excelências da Câmara Federal. Aliás, foi um espetáculo horroroso... o pior disso tudo são as mentiras alardeadas aos quatro ventos pela presidenta, que se acha em Nova Iorque para de dizer, na ONU – e à imprensa local -, que está sendo vítima de golpe no Brasil. Terrível. Ela corre o risco seriíssimo de ser levada à chacota e, de tabela, também o nosso País.
A fala de Dilma é uma fala frouxa que deixa o nosso País em maus lençóis.
Por que a nossa mais alta representante fala mal da gente, fala mal do Brasil aqui e lá fora? Isso me faz lembrar de d. Helder Câmara que, para os militares, falava muito mal de nós no Exterior. Na verdade, ele denunciava a violência injustificada dos militares contra nós, brasileiros.
Ah! Sim! Na última eleição eu votei em Dilma, Erundina, Suplicy e Alessandro Azevedo,- o palhaço Charles - e deu no que está dando...





A fala repetitiva de Dilma sobre o suposto golpe de que se considera vítima me faz lembrar o personagem o Grilo Falante da cultura popular; faz-me também lembrar o ministro da Propaganda de Hitler, Goebbels (1897-1945), que deixou no ar a frase famosa: a mentira tantas vezes repetida torna-se verdade. Mas, no caso da Dilma, a mentira que diz é impossível de tornar-se verdade, pois o crime praticado está previsto em artigo constante da Constituição em vigor.
O pior cego é o que não quer ver... aliás, Dilma usa muitos ditos da cultura popular que ela mesma não leva a sério. Alguns:
- vamos por os pingos nos is
- nem que a vaca tussa
- é hora da onça beber água
A cultura popular é a alma de um povo... essa é de minha autoria  e no original é: a cultura popular é a identidade de um povo.

E eu não ia falar hoje nada disso do que acabei de falar. Eu ia falar sobre cultura popular, praia em que navego com algum desembaraço. Eu ia falar, por exemplo, das três irmãs que nasceram cegas na minha terra, a Paraíba. Elas são incríveis! Cantam bem e tocam bem o ganzá. Eu estive com elas recentemente, em companhia da minha filha, Ana, e do amigo Chico Pereira, pró-Reitor da Universidade Estadual da Paraíba, UEPB. Vejam, clicando abaixo:


Assis Ângelo e as paraibanas Maroca, Poroca e Indaiá, em Campina Grande - PB

E sobre elas, escrevi:


O Sol e três mulheres 
Três mulheres, três visões
Três visões e mil planetas
Há milhões de rotações
Indicando que há Deus
Em todas as dimensões

O Sol, Deus e mulheres
Energizando a Criação
Da vida no Universo
Em eterna gestação
Mas como explicar isso
Em meio à escuridão?

A vida traz histórias
De luta e superação
De olhos que tornam a ver
Pela força da oração
Mas como explicar isso
Se não há explicação?

É tudo uma incógnita
É tudo interrogação
Quem somos, pra onde vamos?
Teremos salvação?
Mas uma coisa eu digo:
Há luz na escuridão!

Não é fácil ver sem luz
Mas impossível isso não é
É preciso crer na vida
E no Homem de Nazaré
Filho especial
De Maria e de José

Que o digam Maroca
Poroca e Indaiá
Três mulheres, três irmãs
Rainhas do ganzá
Nascidas em Campina
Na Para-i-b-a-bá



sexta-feira, 15 de abril de 2016

ESTÁ CHEGANDO A HORA...

Assis Ângelo e Geraldo Vandré
Para uns, o tempo passa rápido. Pelo menos, é essa a impressão.
Para uns a semana, por exemplo, passa rápido. No momento todo mundo vê que a política no Brasil está pegando fogo. O Planalto Central é um fogaréu só. A Dilma sai, a Dilma não sai. Eu acho que sai. Eu e a torcida do Flamengo e do Treze de Campina Grande; ou do Botafogo Paraibano de Geraldo Vandré.
Quando ontem eu disse que domingo 17 começou segunda 11, é porque domingo que vem está se apresentando  como um domingo interminável...
Quando o Presidente da Comissão de Ética da Câmara pôs ponto final no seu relatório, ouvimos na própria Câmara muitas excelências cantando desafinados a cantiga “Cielito Lindo”, na versão em português do carioca Henricão:

Ai ai ai ai
Está chegando a hora
O dia já vem raiando meu bem
E eu tenho que ir embora




Em 1992, quando Collor caiu por força de processo de Impeachment o que se cantou muito nas ruas foi a Guarania “Para não dizer que não falei de flores”, de Vandré. Aliás, essa cantiga era alternada com o hino nacional brasileiro, cujo dia foi ontem.


quinta-feira, 14 de abril de 2016

UM PROCESSO PENOSO...

Domingo 17, começou segunda 11.
17 Domingo, é quando a Câmara apresentará ao Pais o resultado da votação oficial do processo de Impeachment contra a presidente Dilma.
Quando digo que domingo 17 começou na segunda 11, é porque naquele dia, 11, começou o martírio da quela de quem a maioria dos brasileiros tem dito horrores.
Quase todo mundo quer ver a Dilma de costas.
Os principais jornais e cadeias de rádio e tv espalhados mundo afora têm dito que Dilma não se sustentará por muito tempo.
Tudo que tenho dito a respeito do assunto é de me cortar o coração. Pois na verdade, na verdade, jamais se quer imaginei poder presenciar o processo de derrubada de dois chefes da minha Nação. O primeiro foi Collor em 1992...
Estou triste.

CAMPINA GRANDE

Quinta feira passada falei a alunos e professores da Universidade Estadual da Paraíba, UEPb, em Campina Grande. Falei sobre cultura popular e cidadania. Falei do Instituto Memória Brasil, IMB.
Falei da importância do nosso Pais, da importância de se fazer política; de participar emfim da vida brasileira. Tudo nessa nossa vida é politica, já dizia Brecht . A minha ida da Campina deveu-se a programação comemorativa aos 50 anos de fundação da UEPb. Gostei basante. Revi amigos, como, o reitor Rangel Junior e o vice reitor Chico Pereira. Também revi o colega jornalista Fernando Moura, coautor de um livro sobre o paraibano Jackson do Pandeiro, e Ajalmar e Rilávia, criadores do Troféu Gonzagão, que me levaram a farrear no Manoel da Carne de sol. Alegria enorme foi também poder abraçar o amigo Rômulo Nóbrega, autor de um belíssimo livro sobre o pernambucano Rosil Cavalcanti. Rômulo teve tempo de me levar para saborear uma fava com cana no Qdoca. A minha cicerone foi minha filhona Ana Maria...
De quebra ainda proseei com três maravilhosas artistas do povo: Maroca, Poroca e Indaiá (foto acima, no clic de Ana Maria).

sábado, 2 de abril de 2016

VIVA A CONSTITUIÇÃO!

Eu sou de um tempo recente, mas de um tempo que homem fumar era coisa elegante. Era charmoso e denotava independência e até masculinidade.  Pois é. Hoje quem fuma vive no pior dos mundos, vive arreliado, perseguido. Na verdade, quem fuma hoje, vive no inferno. Beber pode.
Eu sou de um tempo em que a solidariedade existia pra valer, ao contrário de hoje.
Em 1953, Luiz Gonzaga gravou o baião Vozes da Seca. Obra-prima dele e do seu conterrâneo, Zé Dantas. Começa assim:

Seu dotô os nordestino têm muita gratidão
Pelo auxílio dos sulista nessa seca do sertão
Mas dotô uma esmola a um homem qui é são
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão...

Não era bem esse tipo de solidariedade que se praticava àquela época. E não é também o tipo de solidariedade a que me refiro. Esse tipo de solidariedade aí, que Dantas e Gonzaga de modo poético contestam, não é propriamente a solidariedade no seu estado mais puro que vi, vivi entre amigos, vizinhos, desconhecidos em geral. Esse tipo aí, no baião gonzagueano, já é o tipo de solidariedade político/partidário, praticado pelos políticos de hoje, com bolsa disso, bolsa daquilo. O que todos nós queremos, mesmo, é trabalho, respeito e que a Constituição nunca mais seja violentada.
Mas como eu ia dizendo, eu sou de um tempo recente em que fumar era coisa elegante.
No ano em que nasci, 1952, o Rei do Baião –no mês de abril- lançou Cigarro de Páia, de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti. Cavalcanti era general. Ops!


domingo, 20 de março de 2016

VIVA A DEMOCRACIA!

O poder continuado leva à tirania, em qualquer tempo ou lugar.
A democracia nascida na Grécia, país hoje arrasado pela má administração politica, é uma forma de governo que prioriza a pessoa.
Demos em grego é povo e cratos é poder, ainda na velha língua de Platão, o professor do gênio Aristóteles.
Democracia é, pois, é o que dá poder ao povo ou para o povo.
Democracia é tudo de bom que a vida nos permite no cotidiano. Tratar bem, para ser bem tratado. Essa é a lógica. As leis servem como meio de organização social.
Há quem goste do vermelho e há quem goste do azul.
Não sei se o Chico ainda gosta de mim, mais eu ainda gosto dele, tim tim.
Chico dá a vida pelo PT.
Outro dia conversando cá em casa com o Vandré, o assunto foi o Brasil.
Vandré gosta do Brasil, mas não gosta do PT. Ele acha a Dilma um horror e que ela não merece o Brasil. Nem ela e nem o Lula.
Daí a importância da democracia, que permite a boa convivência entre os contrários.
Tomara que a democracia,  que reconquistamos há trinta e cinco anos, não esteja correndo o menor risco de sobrevivência.

Viva a democracia!

sábado, 19 de março de 2016

O BRASIL TÁ SE MEXENDO...


O editorial de hoje do Times novayorquino mostra espanto na explicação da presidente brasileira, Dilma, para a escolha do ex-presidente Lula para o cargo de Ministro-Chefe da Casa Civil. Diz o editorial que Dilma está totalmente desacreditada perante a população e, pois, sem cacife para justificar o que tentou justificar e que terminou brecado por decisão, ontem à noite, do juiz Gilmar Mendes, do STF.  
A opinião do jornal leva-me a pensar sobre as enormes dificuldades que os jornalistas estrangeiros estão enfrentando para explicar a seus leitores a situação política e econômica que o Brasil e os brasileiros estão ora enfrentando. É kafquiana a situação.
O vendaval de novidades que ouvimos no rádio e na televisão chega a ser assustador. A cada instante nos chegam notícias que estarrecem o mais apolítico dos cidadãos. Ele é ministro, não é ministro, o que é que ele é? Ele é Lulla.
Collor aprontou o diabo e caiu empurrando um carro Elba.
Dilma pode cair por causa de um Santana e otras cositas más...
O pernambucano Luiz Inácio Lula da Silva nasceu pobre de marré-marré e ficou, embora rico, pobre. Mas, tem muitos amigos de posses estratosféricas.
A biografia de Lula é uma biografia incrível, até certo ponto.
Lula enfrentou milhões de problemas, familiares inclusive, mas sobreviveu a todas as intempéries que a vida lhe impôs como desafio. Dançou forró na casa de espetáculos de Pedro Sertanejo, na Vila Carioca, SP, fez bicos, virou metalúrgico em São Bernardo, fez animação de comícios como personagem central antes de ser deputado Constituinte e Presidente da República. De tabela, transformou-se numa das personalidades mais conhecidas e respeitadas do planeta. Mas, aparentemente, borrou essa biografia com atos que a sociedade civilizada condena. Improbidade, por exemplo.
Aristóteles foi o cara que nos trouxe à luz os fundamentos necessários para o bom-viver em sociedade. Mas ele foi muito mais, ele fez muito mais. Sua teoria de causalidade universal abriu a mente do homem desde seu tempo. Depois de estudar a vida humana, a natureza, a astronomia, ele empacou numa figura invisível, sem nome pra ele, mas que outros filósofos entendem como Deus. Aristóteles identificou as virtudes humanas e definiu a Justiça como meio de apaziguamento social. A ética para ele é algo muito importante na vida, ao contrário do que pensa o pernambucano Luiz Inácio Lula da Silva.
Ler como divertimento ou para entender o que a nós se apresenta como incompreensível, é fundamental. Mas Lula não gosta de ler, ele mesmo já disse isso publicamente.
É do escritor paulista Monteiro Lobato a frase: “quem lê mais, sabe mais”.
Aristóteles falou com excelsa propriedade sobre tudo ou quase tudo que hoje conhecemos.
A Grécia era conhecida como a Pátria da Filosofia e Atenas a Cidade do Conhecimento.
O Brasil de Dilma é a Pátria Educadora. E que pátria!

Escrevi:

Todo dia é dia
De Brasil especial
De Brasil de todos nós
De Brasil nacional

O Brasil tá se mexendo
O Brasil tá em ação
Procurando um caminho
Pra sair da contra-mão

A tarefa não é fácil
E tem lá seus empecilhos
Mas já passou da hora
De o Brasil andar nos trilhos

Faz tempo, muito tempo
Que o Brasil sofre calado
Apanhando em silêncio
De modo resignado

E tudo isso tem a ver
Com roubo e corrupção
O que deprime o País
E revolta a Nação

Mas o mal não é eterno
Nem eterna é a dor
Eterna é a vida
Que dá asa a beija-flor
                                      




NO AR, A RÁDIO BORBOREMA DE CAMPINA GRANDE !


No Brasil, o rádio deu o ar da sua graça em 1922.  À época o presidente do País era o paraibano Epitácio Pessoa. O primeiro discurso de um político levado ao ar pelo rádio foi o do Presidente Pessoa.
Em 1922, comemorava-se o centenário da independência do Brasil.
O ano de 22, foi um ano marcante não só pelo fato de o rádio dar a sua graça no País.  Nesse ano, em São Paulo comemorava-se um grande evento cultural, que entraria para a história como  A SEMANA DE 22, liderada pelo escritor e musicólogo paulistano Mário de Andrade.
É muita história.
Em 1924, São Paulo é cenário de uma revolução.  Em 29 o chefe do governo paraibano, João Pessoa, é assassinado em Recife.  Ele integrava a chapa que disputava a presidência da república ao lado do gaúcho Getúlio Vargas.  Um ano antes, o paraibano Francisco de Assis Chateaubriand  Bandeira de Melo, de Umbuzeiro, inaugurava a revista semanal O Cruzeiro.
O Nordeste, de grandes lutas passava a aparecer, com destaque, no cenário nacional.  Inclusive, através da música.
O pernambucano Luiz Gonzaga, que iniciara a carreira musical em março de 1941, firmava-se como cantor e sanfoneiro com a toada-baião Asa Branca.  Isso, em 1949.
Entre 1922 e 1949, passaram-se 27 anos.  Nesse ano Chateaubriand se deslocava do Rio de Janeiro até Campina Grande, na Paraíba, para inaugurar a quinta emissora de rádio da rede Associada no Nordeste: Rádio Borborema,  ZYO-7 , AM.
Hoje, mais de três mil emissoras de rádio na frequência AM estão espalhadas Brasil afora.  É claro que muitas encerraram suas atividades e outras permanecem na origem...
Muitas emissoras de rádio, e de televisão a partir de 1950, integraram a Rede Associada.
Eu comecei a minha carreira profissional de jornalista no jornal O Norte, de João Pessoa.
O Norte, não existe mais em papel.
O Norte fez parte da Rede Associada, como o Diário da Borborema.
O Diário da Borborema, do qual fui colunista na primeira parte dos anos de 1970, também não existe mais em papel.
A Rádio Borborema, e velha e boa Rádio da Borborema, que teve na sua programação nomes brilhantes como Hilton Mota, Leonel Medeiros, Ramalho Filho, Deodato Borges, Genésio de Sousa e Rosil Cavalcanti.
Eu trabalhei com Genésio de Sousa, Hilton Mota e Deodato Borges.  Todos estão no céu.
O livro PRA DANÇAR E XAXAR NA PARAÍBA: andanças de Rosil Cavalcanti , (Gráfica Marcone, 444 páginas; 2015), de Rômulo C. Nóbrega e José Batista Alves, trata das origens da Rádio Borborema no capítulo VII.  Aliás, esse é um livro de fundamental importância para se conhecer um pouco da cidade de Campina Grande e, principalmente, o pernambucano-campinense Rosil Cavalcanti, autor de verdadeiros clássicos da música popular brasileira.  Entre esses clássicos, estão Sebastiana, Cabo Tenório, Faz Força Zé e Tropeiros da Borborema.
Rosil, que deixou 82 músicas gravadas por Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, Marinês, Genival Lacerda, Abdias e até Teixeirinha, partiu para a Eternidade carregando no peito uma decepção.  Meu Cariri ganhou uma parceira que, a rigor, nunca existiu: Dilú Mello.
A Rádio Borborema nunca fechou suas portas mas durante um tempo ia ao ar como Rádio Clube.  Hoje, na verdade, desde terça-feira última, seus ouvintes foram alegremente surpreendidos com o anúncio do seu verdadeiro nome: Rádio Borborema;  melhor ainda: Rádio Borborema de Campina Grande

A Rádio Borborema é um marco de extrema importância para os paraibanos.

quinta-feira, 17 de março de 2016

ARISTÓTELES E O HOMEM DA COBRA

Aristóteles dizia que política é o esforço da realização da ética na vida social.
O cientista e compositor musical Paulo Emílio Vanzolini, meu amigo, também achava isso.
O doutor Paulo, especialista em hepatologia – ramo da Zoologia -  vivia arte e ciência o tempo todo. Incluindo ai, a política.
No correr da ditadura militar, o doutor Paulo ajudou a tirar do Brasil muitos perseguidos políticos. O doutor Paulo odiava o PT. Aliás, ele não autorizou a produção do filme Lula, o filho do Brasil (Direção Fabio Barreto, 2009) a incluir na trilha sonora o Samba Volta Por Cima, de sua autoria. Isso ele me disse numa das vezes em que saímos tantas e tantas vezes para comemorar a invenção da cachaça e da cerveja.
Aristóteles dizia que a justiça é a maior das virtudes.
A cantora Inezita Barroso considerava-se uma pessoa justa. Ser justo consigo mesmo, Aristotelicamente falando, é muito fácil. Difícil é o contrário. Mas Inezita costumava dizer o que lhe vinha à telha. Ela era uma pessoa que não tinha papas na língua.  Era maravilhosa, autêntica. As pessoas maravilhosas estão todas, partindo em viagem sem volta.
Inezita Barroso, paulistana do berço do samba, bairro da Barra Funda, também detestava o PT.
Eu fui uns dos fundadores do PT.
O mais importante sambista e cuiqueiro de São Paulo, e do Brasil, Osvaldinho da Cuíca, tem a mesma política que tinha Inezita Barroso.
Osvaldinho da Cuíca é um mestre da música popular.
A Paraíba, minha terra, deu muita gente importante em todas as áreas da atividade humana.
A Paraíba deu o poeta simbolista Augusto dos Anjos, os cordelistas Leandro Gomes de Barros e Silvino Pirauá, Ariano Suassuna, João Pessoa, Zé Américo de Almeida, autor do romance regionalista nordestino A Bagaceira, 1922; Zé Limeira, Zé Ramalho, Deus...
A Paraíba também deu o cantador violonista Vital Farias, da terra de Ariano (Taperoá).
Vital Farias é uma das nossas reservas musicais, intelectuais e humanistas.
Vital detesta o PT.
Um dia, um amigo me perguntou se eu sabia que Hitler começou sua carreira no Partido dos Trabalhadores Alemão. Década de 20. Eu disse que sabia. E eu disse que sabia, também, de um monte de histórias. Da Carochinha, inclusive.
E esse mesmo amigo, um provocador de mesa de bar chamado Rodrigo, também me perguntou sobre o que eu achava ou acho do que está rolando neste Brasil brasileiro de pobres e ricos, muita desigualdade. Somos campeões nesse item.
Aristóteles dizia que o equilíbrio é fundamental para o bem de uma sociedade.
Pensar é fundamental, mas é complicado.

O HOMEM DA COBRA
A fala de Lula tornada pública pelo juiz Sérgio Moro é de arrepiar.  É de arrepiar pela vulgaridade expressa. É chula, agressiva, irônica, prepotente.  O palavreado exibido pelo ex presidente da República chega a ser vergonhoso por sua baixeza e agressividade contra mulheres e pobres e até contra o poder Judiciário, o que acarretou imediata resposta do decano do STF, Celso de Melo.  Fiquei triste.  Antes deste quiprocuo, o antecessor da Dilma disse em tom de desafio aos seus adversários que se quisessem matá-lo teriam que lhe atingir a cabeça e não o rabo com se faz com uma cascavel.  Ele disse isso e logo me lembrei da minha avó Alcina.  Ela falava de um tal “homem da cobra”, que é simplesmente o camelô das ruas anuciando seus produtos milagrosos ao público ignorante.  Em resumo:  é o homem de boa fala, que fala muito e enrola todo mundo.

INEZITA BARROSO

No último dia 8, dia internacional da mulher, completou-se um ano do encantamento da minha querida Inezita Barroso.  Eu tive a alegria de vê-la feliz lendo o livro que escrevi a seu respeito. (Cortêz Editora - 2011).  Um dia após o seu desaparecimento, eu e o Zuza Homem de Melo falamos a seu respeito no programa JC Debate, da TV Cultura.

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