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terça-feira, 7 de setembro de 2021

O 7 NA VIDA DA GENTE

Pra tudo há uma explicação. O número 7, por exemplo.
Na numerologia, o 7 representa perfeição. Representa também espiritualidade, tranquilidade, desafio e tudo mais. Quem tem esse número, quem gosta desse número, tem meio caminho andado nessa vida. Isso diz o popular.
No Folclore, o 7 dá conta de quem mente. E para os supersticiosos, o 7 é atraso de vida. Pra tanto, basta passar debaixo de uma escada ou quebrar um espelho.
O 7 está em todos cantos até nas cantigas infantis:

Sete e sete são quatorze
Com mais sete vinte e um 
Tenho sete namorados 
Mas não gosto de nenhum...

A vida brasileira é cheia de 7.
Dom Pedro I abdicou num 7 de abril, dividiu lençóis com a marquesa de Santos durante 7 anos e num 7 de setembro assinou a Declaração da Independência nas beiradas do riacho Ipiranga, em Sampa.
O Brasil era uma terra tranquila até o seu achamento, em 1500.
Em 1532, os problemas começam a aparecer com a fundação da Vila de São Vicente, SP. Esses problemas aumentam, quando Dom João VI desembarca na Costa baiana e lá cria a primeira capital do País. Isso, em 1808, quando cria o Banco do Brasil.
Entre problemas e soluções, o Brasil vai achando o caminho.
Em 1821, Dom João VI volta a Portugal. Logo depois chama o filho, que não vai.
A essa altura, já estamos em 1822.
Subindo a ladeira num burro desde Santos, SP, saído da casa da amante, Pedro I assina a tal declaração que Pedro Américo retrata totalmente diferente.
Essa Declaração foi redigida por Maria Leopoldina, sua mulher, e ele teve de assiná-la, sem grito.
No mesmo dia que assinou a declaração, a história conta que Dom Pedro compôs o Hino da Independência, que o barítono Vicente Celestino (1894-1968) gravaria, com letra de Evaristo Veiga (1799-1837), em 1922.
O resto é história. 
No dia 9 de setembro de 1856, o romancista Machado de Assis (1839-1908) publicaria no jornal Correio Mercantil o poema O Grito do Ipiranga, baseado no feito de Dom Pedro I. Esse poema, que consta em nenhum livro do escritor, foi descoberto recentemente. Fica o registro.

Liberdade!... Pharol divinisado! —
Sob o teu brilho a humanidade e os seculos
Caminhão ao porvir. Roma as algemas
Quebrou dos filhos que a oppressão lançára
Dentre a sombra de purpura dos Cesares,
Que envolvia Tarquinio em fogo e sangue,
Cheia de tua luz e estimulada
Por teu nome divino — essa palavra
Immensa como as vozes do Oceano,
Sublime como a idéa do infinito!
Tal como Roma a terra americana,
Um dia alevantando ao sol dos tropicos
A fronte que domina os estandartes,
Saudou teu nome magestoso e bello —
E o brado immenso — Independencia ou morte —
Soltado lá das margens do Ypiranga,
Foi nos campos soar da eternidade.

Desenrola nas turbas populares
Dos livres a bandeira o heróe tão nobre,
Digno dos louros festivais que outrora
Roma dava aos heróes entre os applausos

Do povo que os levava ao Capitolio!
Elle foi como o Cesar de Marengo;
Sua voz como a lava do Vesuvio
Levada pela voz da immensidade
Foi do Téjo soar nas margens, onde
Estremeceu de susto o lusitano!

Ypiranga!... Ypiranga!... A voz das brisas
Este nome repete nas florestas!
Caminhante! Eis ali onde primeiro
Sôou o brado — Independencia ou morte! —
O homem secular levando as aguias
Por entre os turbilhões de pó, de fumo,
Ostentando nos livres estandartes
O lucido pharol de um seculo ovante,
Mais sublime não foi nem mais valente
Que Pedro o heróe da América travando
Do pharol da sagrada liberdade,
E acordando o Brasil, escravisado,
Sob ferreos grilhões adormecido.

Somos livres! — Nas paginas da historia
Nosso nome fulgura — alli traçado
Foi por Deus, que do heróe guiando o braço,
Nas—folhas o escreveu do eterno livro.
Somos livres! — No peito brasileiro
A idéa da oppressão não se acalenta!
Somos já livres como a voz do oceano,
Somos grandes tambem como o infinito,
Como o nome de Pedro e dos Andradas!

Seja bemdito o dia em que Colombo
Cesar dos mares, affrontando as ondas,
Á Europa revelou um Novo Mundo;
Elle nos trouxe o sceptro das conquistas
Nas mãos de Pedro — o fundador do Imperio!

O heróe calcando os pedestaes da historia,
Ergue soberbo aos seculos vindouros
A fronte magestosa! Immenso vulto!
É elle o sol da terra brasileira!
Neste dia de esplendidas lembranças
No peito brasileiro se reflecte
O nome delle — como um sol ardente
Brilha dourado no crystal dos prismas!

Tomando o sabre, dominou dous mundos
O heróe libertador, valente e ousado!
Elle, o tronco da nossa liberdade,
Foi como o cedro secular do Libano,
Que resiste ao tufão e ás tempestades!

Ypiranga! Inda o vento das florestas
Que as noites tropicaes respirão frescas
Parecem murmurar nos seus soluços
O brado immenso — Independencia ou morte!
Qual o trovão nos écos do infinito!

Disse ao guerreiro o Deus da Liberdade:
Liberta o teu Brasil num brado augusto,
E o heróe valente o libertou n′um grito!

7 de setembro de 1856.

Para ilustrar essa história, nada melhor do que o cartunista Fausto inspirando-se no pintor norueguês Edvard Munch (1853-1944).
 
 
Pra relaxar, ouça: MATA SETESETE MENINASBICHO DE 7 CABEÇAS

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

LIBERDADE DE EXPRESSÃO, UM DIREITO DE TODOS

A máxima o dito "liberdade de expressão" está em moda.
Todo mundo fala hoje de liberdade de expressão.
É liberdade de expressão pra cá, é liberdade de expressão pra lá, e a zebra a postos.
Liberdade de expressão é liberdade de expressão, sem ameaça individual ou coletiva.
Liberdade de expressão, já dizia o filósofo popular Millôr Fernandes: "Pensar é só pensar".
Viver em paz e ao lado de quem pensa diferente é fundamental. Exemplo: há pouco perguntei ao conterrâneo Geraldo Vandré se ele já havia chorado em algum momento da vida. Respondeu afirmativamente, que sim. Muitas vezes. E perguntei mais. Perguntei o que achou do desempenho dos atletas portadores de deficiência física, intelectual etc, nas Paralimpíadas de Tóquio. Resposta, dura e crua: "Um desfile de horror, de aleijados...".
Chocou-me, claro. Mas essa é apenas uma opinião, uma discordância entre partes. No caso, eu e ele.
Geraldo também acha que jornalista gosta de barulho, de confusão, de bagunça. Discordo.
Exprimir opinião é um direito natural de todos que vivem numa Democracia. 
O Brasil já passou por momentos de grandes perrengues, desde a invasão dos estrangeiros  no século 16. E foi, e foi, e foi... E cá estamos de novo em nova encruzilhada.
O 7 de setembro é uma data para ser lembrada. Foi nesse dia, em 1822, que Dom Pedro I declarou a nossa independência de Portugal. Esse dia, porém, só foi transformada em feriado nacional em dezembro de 1949. O governo era o do Marechal Dutra.
É isso.
E viva o Brasil!
Ah, sim: hoje é véspera de amanhã 7. Ouço no rádio e televisão que o governo Bolsonaro, e o próprio Bolsonaro, está convocando o "povo" pra grandes aglomerações em "comemoração" ao 7 de setembro. O radicalismo do presidente atrai como ímã o radicalismo de quem o segue como cegos loucos. Zebra à vista, mas o governador João Dória está armando o maior esquema de segurança jamais visto em São Paulo.
Em casa estou, em casa estarei amanhã 7.
 
LEIA MAIS: 

VIVA O ALFAIATE!

No dia 6 de setembro de 1945, na semana do fim da 2ª Guerra Mundial, o sanfoneiro e cantor Luiz Gonzaga lançava à praça mais um disco de 78 RPM. Nesse disco se achava a gravação da cantiga Cortando o Pano, de Miguel Lima e J. Portela. Essa música registra o cotidiano de um alfaiate.

Errei no corte, seu Zé Mariano
Peço desculpas pelo meu engano
Sou alfaiate do primeiro ano
Pego na tesoura e vou cortando o pano
 
Quando ele erra, estraga o pano todo
Quando ele acerta, a roupa não convém
 
Quando ele erra, estraga o pano todo
Quando ele acerta, a roupa não convém
 
Eu fiz um terno pro José, meu mano
Ficou curtinho, porque houve engano
Sou alfaiate de primeiro ano
Pego na tesoura e vou cortando o pano
 
Quando ele erra, estraga o pano todo
Quando ele acerta, a roupa não convém
 
Quando ele erra, estraga o pano todo
Quando ele acerta, a roupa não convém
 
Se chegar Seu Mano (vou cortando o pano)
Vai cortando o pano (vou cortando o pano)
E se estragar o pano (vou cortando o pano)
Vai cortando o pano (vou cortando o pano)
 
Se furar o pano (vou cortando o pano)
Vai cortando o pano (vou cortando o pano)
E se queimar o pano (vou cortando o pano)
Vai cortando o pano (vou cortando o pano)
 
Se chegar o Germano (vou cortando o pano)
Se chegar o Fulano (vou cortando o pano)
E se chegar o Sicrano (vou cortando o pano)
Mas vai cortando o pano (vou cortando o pano)
Mas vai cortando o pano (vou cortando o pano)
 
Sai daqui, baiano
Tá me perturbando, peste
Eu sou valentão
 
Sou alfaiate do primeiro ano
Mas faço roupa pra qualquer fulano
Só não acerto quando há engano
Se Deus ajuda, o terno sai bacano
 
Pelo sistema norte-americano
Não faço roupa pra qualquer fulano
Também não corto pra você, baiano
Eu sou valente, sou pernambucano
 
Quando eu me zango, bato a mão no cano
Aperto o dedo, sai logo o tutano
Sou alfaiate do primeiro ano
Pego na tesoura e vou cortando o pano
 
E se não tiver pano (vou cortando o pano)
E se chegar Seu Mano (vou cortando o pano)
Mas vai cortando o pano (vou cortando o pano)
 
E se não tiver pano (vou cortando o pano)
Mas vai cortando o pano (vou cortando o pano)
Vai cortando o pano (vou cortando o pano)
 
Se chegar o Germano (vou cortando o pano)
Se chegar o Fulano (vou cortando o pano)
E se chegar o Sicrano (vou cortando o pano)
Mas vai cortando o pano (vou cortando o pano)
 
E se queimar o pano...
 
Hoje 6 é o dia de todos os alfaiates brasileiros. Ouça: 

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

TEMPOS NERVOSOS

No momento, o que mais tem no Brasil é zebra. Quer dizer: problemas, problemas, problemas.
O Brasil tem um presidente que só pensa naquilo: reeleição.
Ouço no rádio notícia dando conta de que quadruplicaram as brigas, desacertos, desamores e tudo mais entre as pessoas de todos os sexos, neste País múltiplo.
Cá em casa, o telefone toca e toca e chego a tempo de atender o seu triiiiiimm. É Fausto, o bom Fausto dizendo que gostou do texto que acabo de publicar no newsletter Jornalistas&Cia. Escrevi sobre o número sete na nossa vida. E conversa vai, conversa vem, Fausto diz que está difícil entender as pessoas. "O Bolsonaro tá mexendo com a cabeça de muita gente, loucamente", diz lembrando que alguns amigos parecem ouvi-lo em grego: "Está todo mundo nervoso, irritado, sem paciência sequer para atender os amigos. Até onde vai isso?", pergunta.
Logo depois do Fausto, liga a querida cantora Celma (da dupla Célia e Celma). "E aí moço, por onde andas que não atendes? Já ligamos várias vezes e nada", diz acrescentando: "Estamos com saudade. Célia manda um abraço e o Severo, também".
Nessa mesma linha, o cantor e compositor Jorge Mello telefona perguntando: "E aí macho, não está mais atendendo o telefone?".
É claro que atendo a todos com todo carinho, com toda beleza, com todo respeito e agradecimento.
É bom falar, é muito bom falar.
Essa maldita pandemia que ainda continua provocando mortes em todos os continentes é, certamente, um dos motivos que tem levado as pessoas a se comportarem de modo, digamos, incivilizado.

Nada ou quase nada pode justificar uma grosseria pessoal ou por telefone. 
Um filho meu telefona de João Pessoa. Diz um monte de coisas. Palavras truncadas. E não nos entendemos.

Outro dia, achei de ligar a uma amiga em Pernambuco. Pessoa ótima. E com saudade, disse: Estou com saudade. Já liguei várias vezes, mas o triiim foi em vão. Para a minha surpresa, ouvi: "Não gosto de cobrança!".
Eu também não gosto de cobrança, portanto procuro não fazer dívidas.
Essa coisa de cobrança é coisa do Capitalismo.
O Capitalismo é um horror, mas sabemos: é o que há, pois o socialismo, o comunismo, nas suas origens, não deu certo. Tanto que Marx (1818-1883) morreu pobre de dar pena.
Aliás, essa história de Marx me lembrou de uma coisa: Marx teve com sua mulher, Jenny, 7 filhos. Quando um deles morreu, Marx não tinha dinheiro nem pra comprar o caixão.
Mas voltemos, saudade é coisa boa.
Essa história de matar saudade eu sou contra. Ouçamos:

domingo, 29 de agosto de 2021

LOUCURAS DO MUNDO

Todo mundo sabe quem foi Walt Disney(1901-1966). Quem não sabe, fique sabendo: foi o pai de Pateta, Mickey e Minnie.
Todo mundo também sabe quem foi Ary Barroso (1903-1964). Quem não sabe, fique sabendo: dentre tantas músicas, tantos clássicos, foi o autor de Aquarela do Brasil e na Baixa do Sapateiro.
Um dia o Walt ofereceu uma montanha de dinheiro pra Ary. mas para que a grana fosse para o bolso do compositor era precisa que o compositor de Ubá, MG, trocasse o Brasil pelo EUA. Ary perguntou: lá tem Flamengo?
O amigo Carlos Sílvio está tarde entusiasmado. Motivo: o argentino Messi vai se apresentar daqui a pouco em público, pelo seu novo clube; PSG.
Bom, tem uma doida brasileira chamada Luana que ofereceu 3,2 milhões e reais pelo lenço que Messi que usou para enxugar as lágrimas que desceu na entrevista de despedida do clube(Barcelona) que lhe deu guarida por mais de 20 anos.
O mundo está morrendo de fome, de COVID-19 e outros males, sem falar do que ora ocorre no Afeganistão e países em volta.
O IBGE informa que há pelo menos 19 milhões de brasileiros com a barriga na costas, por falta de comida. A grana da Luana não mataria a fome de todo mundo, mas serviria pra encher a barriga de muita gente.
E não custa lembrar: nos últimos 20 anos, os EUA enfiaram 27 trilhões de reais na ocupação ao Afeganistão. E nada resolveram. 
Quanto a Ary Barroso..
Ary não topou a grana que Walt lhe daria. Motivo? 
Na terra do Tio San não tem Flamengo.

sábado, 28 de agosto de 2021

EU E OS MEUS BOTÕES (11)

"Estou encantado, encantadíssimo, com o desempenho dos brasileiros nos Jogos Paralímpicos", disse com os olhos brilhando num sorriso de canto a canto o jovem Barrica. "O mano tem razão. É tudo muito bonito de se ver", acrescentou Biu.

De fato, os nossos representantes em Tóquio têm nos dados muita alegria e exemplos de vida. Eu disse em voz alta, sem querer. Automaticamente. Batendo palmas, Lampa concordou: "o que a Thalita fez foi brincadeira! Adorei vê-la disputando os 400 metros rasos, ao lado do treinador, confesso que fiquei sem palavras. Fiquei sem ação. Na verdade, chorei foi muito", desabafou Lampa voltando a cutucar as unhas com o seu punhal de estimação.

"E ela é cega, não vê nada. Que menina!", foi a hora de Mané falar.

Zé, por sua vez, pegando carona na fala de Mané disse: "e vocês viram também o desempenho da pernambuquinha Ana Carolina nos 100 metros borboleta e do Wendell Belarmino?".

Claro que todos vimos o belo desempenho desses  nossos atletas.

Quieto até então, Zoião, informou: "Até agora, em quatro dias já faturamos 23 medalhas. Seis das quais, de ouro".

"Eu acho que a gente vai faturar umas 50 medalhas. Ou mais", arriscou Jão entusiasmado. "Até o próximo dia 5 muita coisa boa vai acontecer com o pessoal lá em Tóquio", acrescentou.

Claro que tudo isso é muito bom, tudo isso é bom demais, mas o mais importante é estarmos lá. É muita experiência, muita beleza, categoria, força e fé em jogo que os atletas portadores de deficiência estão nos dando.

Abaixo, três dos nossos campeões.

Carolina, Thalita e Wendell:

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

O BRASIL NÃO PRECISA DE SANGUE NAS RUAS

O Brasil já nasceu de cabeça pra baixo, é só ver o mapa. O Sul está lá embaixo, o Norte lá em cima com seu copázio.
O Brasil é belo, belíssimo. 
O Brasil é grande, como a esperança dos brasileiros.
Há muita coisa errada no Brasil, incluindo o atual presidente.
Bolsonaro provoca os brasileiros, quer guerra entre nós. Quer que vivamos uns com raiva dos outros, como inimigos.
Somos todos iguais, como está escrito na Constituição de 88.
Por que esse arrodeio?
Figuras incríveis da cultura nacional têm atuado alinhadamente com o presidente e contra nós, que somos contra a violência.
Dentre as figuras de destaque da nossa cultura popular se acham Sérgio Reis. Sérgio quer tacar fogo no País. Quer por pra fora, na marra, os ministros do STF e tal.
Por que Sérgio, ou Sergião como chamam seus amigos, tem tanta raiva e desapreço por nossas instituições democráticas?
Uma parcela robusta da população quer sangue, com estimulo do presidente Bolsonaro. Pena.
Conheci e conheço muitos artistas de todas as áreas da cultura nacional, da literatura à música...
Muita gente telefona por que não tenho falado sobre Sérgio Reis e a declaração que fez a favor do quebra-quebra Brasil. 
Antes de mais nada, sou um cidadão que respeita e segue as leis com rigor.
Faço da vida, poesia. Sempre foi assim. E fui.
Não sou amigo do Sérgio Reis e de tantos e tantos cantores que admiro e respeito.
Quem procurar, achará: há várias entrevistas minhas com o Sérgio Reis. Uma das primeiras publicada no extinto suplemento cultural Folhetim, da Folha de S.Paulo. E tem essa entrevista aí, abaixo, em que falo da importância da nossa cultura musical etc. Clique:
 

ENQUANTO ISSO...

O ministro Paulo Guedes, da Economia, diz que "Qual é o problema de a energia ficar um pouco mais cara?". Mais: o presidente Bolsonaro pede pra desligarmos um ponto de luz em casa. Pergunto: e quem gosta de fazer amor com a luz acesa, hein?
Vivemos crises sequenciadas: energética, política, econômica, social, sanitária... E como se não bastasse, ainda tem trogloditas se organizando para incendiar o Brasil no próximo 7 de setembro.

EU E OS MEUS BOTÕES (10)

Mané, eufórico: "O Brasil já ganhou 17 medalhas e está ocupando o 6º lugar, na Paralímpica de Tóquio!".
Biu, também eufórico: "Incrível! Incrível! E estamos apenas no 3º dia dos jogos".
"Seu Assis, seu Assis, viramos a madrugada na casa do Zilidoro", contou Mané.
Zilidoro: "Está sendo muito legal acompanhar os jogos pela televisão. Já ganhamos 6 medalhas de ouro. Uma delas coube ao paraibano Petrúcio Ferreira, no atletismo".
Cutucando as unhas com um punhal, Lampa entrou na conversa dizendo que Petrúcio nasceu nos sertão de São José do Brejo do Cruz, "Mesmo lugar onde nasceram os primos cantores Zé e Elba Ramalho". E Zoião quis saber: "Lampa, esse Ferreira aí tem algo a ver com o seu parente Lampião?". Lampa: "Claro, claro, né?".
Até aqui acompanhei em silêncio a conversa entusiástica e curiosa  desenvolvida entre os meus pacatos e inteligentes botões. Estranhei apenas o silêncio de Zé, Jão e Barrica. Perguntei, então, qual a razão do silêncio dos três. Barrica foi o primeiro a se justificar: "Quando essa gente boa aí fala, eu calo", no que foi seguido por Zé e Jão: "Tá tudo muito bom, isso aqui tá bom demais...", lembraram cantarolando um velho sucesso do rei do baião, Luiz Gonzaga.
Zé levantou-se, pegou a quartinha e encheu o copo d'água. Tomou tudo em dois goles e disse: "Essa moçada dos Paralímpicos nos dá lições fantásticas!".
Levantando a mão, Lampa perguntou: "Patrão, por que o sinhô num tá participando do danado desses jogos?", respondi: porque o meu professor de ginásticas, o Anderson, disse que eu estou fora de forma e pra não fazer feio, não fui.
"Esses jogos vão acabar no próximo dia 5 de setembro", informou Zilidoro. Até o dia 5, muita coisa boa vai rolar em Tóquio.

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

EU E MEUS BOTÕES (9)

Biu: "Seu Assis, é verdade que o sinhô é cego?", sou sim. "E desde pequeno?", não. "Quando o sinhô ficou cego?", a pouco tempo. Nisso, ouço Barrica censurar o irmão, baixinho: "Para com isso!".
"Estou gostando desse assunto", diz Zilidoro. "Hoje é o 2º dia dos jogos Paralímpicos, em Tóquio", acrescenta. "Esses jogos começaram em 1960, só não sei se o Brasil participou deles", disse em dúvida o mesmo Zilidoro. Socorri-o: "A primeira vez que o Brasil participou dos jogos Paralímpicos foi em 1972. Não ganhamos nada".
Para minha surpresa, Mané pediu a palavra pra informar sobre a rapidez como os brasileiros têm se destacado nesses jogos. "Somos pentacampeões na modalidade Futebol de Cinco". E explicou: "O time é formado por 4 jogadores de linha, de um lado. E mais 4, do outro...". Jão emendou: "O goleiro dos dois times veem normalmente, mas os jogadores de linha são cegos de dá pena! Além do mais, ainda lhe expõem vendas na cara".
Ao ouvirem a fala de Jão, sempre quieto na sua casa, todos bateram palmas. E em uníssono: "O Jão é o cara!".
Pra terminar esse papo, eu disse que a representação brasileira em Tóquio já está com 8 medalhas: 1 de ouro, 3 de prata e 4 de bronze. "Duas dessas 4 medalhas de bronze foram faturadas pelo campineiro Daniel Dias", disse Zoião. E Zé: "O cabra é bom nadador, rápido que nem um peixe".
Poxa, vocês estão afinados! "E tem mais, seu Assis: esse Daniel nadador nasceu na mesma cidade em que nasceu o grande compositor operístico Carlos Gomes, seu ídolo". Encerrou Zilidoro.

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

POETA COSTA LEITE É AGORA ESTRELA NO CÉU

 
O poeta e xilogravador José Costa Leite fechou os olhos e partiu para uma viagem sem volta, ontem 24.
Costa Leite nasceu no dia 27 de julho de 1927 em Sapé, município paraibano conhecido pela qualidade da produção de abacaxis.
Muito cedo, com cerca de 11 anos de idade, Costa Leite deixou Sapé junto com a família para morar no município de Condado, localizado na zona da mata pernambucana, foi lá que cresceu e iniciou a carreira vendendo folhetos nas feiras livres.
Tinha uns 20 e poucos anos quando compôs seu primeiro folheto de cordel. Gostou e seguiu em frente, transformando-se num dos mais expressivos poetas populares do Nordeste.
Autor de centenas de folhetos, Costa Leite chegou a gravar 2 LPs, um em 1977 e outro, em 1983.
Um dos poemas mais conhecidos desse cordelista é A Véia Debaixo da Cama e a Perna Cabeluda.
José Costa Leite deixou marca profunda na poesia de gracejo, na poesia de debate/desafio e tudo mais. Leia mais: JOSÉ DA COSTA LEITE, 93 ANOS
 
 

JÂNIO, RENÚNCIA: 60 ANOS

Em setembro de 1987, eu chefiava a Editoria de Política do jornal O Estado de S.Paulo.
No dia 22 daquele mês e ano, eu deixava bem cedo a minha casa para um encontro com o prefeito Jânio Quadros (1917-1992), como combinado.
O combinado naquele dia era que eu chegasse a seu gabinete, no Ibirapuera, pontualmente às 7 horas. Cheguei.
A porta estava aberta, nem a secretária havia ainda chegado. E o prefeito de braços abertos, de pé, disse ao me ver: “Parabéns”.
Numa longa e até engraçada entrevista, Jânio relembrou a sua história e o motivo que o levou a disputar a cadeira de prefeito do Município de São Paulo, o mais rico e populoso do Brasil. E falou e falou. Disse ser a favor do presidencialismo como sistema ideal de governo do País e que o parlamentarismo é uma josta. Disse também que a esquerda, como a direita, poderia decretar golpe político a qualquer momento. Mas ressaltou: “Ao Supremo Tribunal Federal cabe exercer ação fiscalizadora sobre os outros poderes, mantendo ou cassando leis, mas sempre respeitando a Constituição”. LEIA: ESQUERDA DOMINA O CONGRESSO
Jânio Quadros disputou e assumiu todos os mandatos políticos, antes de chegar à presidência da República.
Antes de Jânio, nenhum presidente recebeu tantos votos nas urnas. Mas a isso ele não deu muita bola e tentou o inimaginável: um golpe, depois de ganhar a Presidência. Até parece, pela forma dita, o que ora ocorre no Brasil: um presidente eleito pelas urnas, querendo se perpetuar pela violência e bala.
Bolsonaro, o atual presidente do Brasil, detona as instituições democráticas no propósito de perpetuar-se no poder.
Jânio tentou perpetuar-se no poder com uma carta de “renúncia”.
A vontade de Jânio era “voltar” nos braços do povo.
Mas Jânio não pensava em pôr as forças nas ruas, incluindo o Exército.
Sobre sua renúncia, no dia 25 de agosto de 1961, leia: A RENÚNCIA DE JÂNIO
O detalhe é o seguinte: Jânio foi um grande marqueteiro e duas músicas o marcaram profundamente: Varre, Varre Vassourinha e O Jeito É Jânio. Ele sabia se “vender”. Leia: A POLÍTICA EM JINGLES
Jânio seguiu passo a passo todos os passos até chegar à presidência da República.
Jânio entendeu tudo, na vida política. Chegou ao ponto de homenagear, com medalha valoroza, o guerrilheiro Che Guevara (1928-1967).
Bolsonaro jamais faria isso, jamais reconheceria o valor da oposição.
Chamar Bolsonaro de idiota é burrice, pois os idiotas são puros. Que o diga Dostoiévski (1821-1881).
De direita, Jânio foi um patriota. Conhecia leis e gostava do povo.

terça-feira, 24 de agosto de 2021

EU E MEUS BOTÕES (8)

 O que é que vocês estão fazendo aqui reunidos?, pergunto aos meus botões. "É que hoje é um dia especial e a gente resolveu lhe fazer algumas perguntas", começou Lampa, lambendo o punhal. Antes de mais nada, quero saber o seguinte: por que o Lampa não para de lamber o diabo desse punhal?

Após estridente gargalhada, Lampa respondeu: "É que tô doidin pra pegar o cabra que matou Getúlio".

Aaaah! Então é isso, vocês querem que eu fale sobre Getúlio Vargas? "Sim! Sim!", disse rápido o paraibano Mané. E começou: "É verdade que João Pessoa foi candidato a vice presidente na chapa de Getúlio?". Sim, sim. Pessoa foi candidato à vice presidente na chapa de Getúlio.

O assunto vai despertando curiosidade, mais e mais.

O alagoano Zé quer saber por que João Pessoa não virou vice presidente, já que Getúlio virou presidente. E respondo: João Pessoa foi assassinado e Getúlio, embora perdendo nas urnas, virou presidente da República depois de botar pra correr o paulista Júlio Prestes. Isso, em 1930.

"E aquela história de que a Revolução de 30 começou na Paraíba, é verdade?", adiantou-se Barrica. Sim, sim, a Revolução de 30 começou na cidade paraibana de Princesa. Foi lá onde primeiro o pau cantou. O chefe da revolta foi o rico fazendeiro Pereira Lima. "Esse Lima é o mesmo Lima de quem fala Luiz Gonzaga no baião Paraíba?", quis saber Biu. Sim, respondi. E em uníssono, todos fizeram "Óóóóóóh!".

Até então calado, só escutando, o misto de poeta e filósofo popular Zilidoro perguntou: "Getúlio Vargas matou-se ou foi matado?". A história é longa e conhecida. Getúlio matou-se e o seu corpo foi localizado na manhã do dia 24 de agosto de 1954, uma terça-feira. Mais de um milhão de brasileiros foram às ruas chorar por ele. "Como ele morreu?", quis saber Zoião. Com um tiro no peito. E Jão: "O cara era corajoso". Que corajoso nada, Jão! Foi o momento que o fez suicida.

Zilidoro cosca o pescoço e diz: "Nos meus tempos de estudante, descobri que grandes personagens da história mundial se suicidaram, inclusive Cleópatra". É verdade, eu digo.

Curioso, Lampa confessa: "Eu pensei que esse tal de Getúlio havia sido assassinado". Houve instantes em que muita gente pensou isso. E a respeito saiu notícias nos jornais, na imprensa, dando conta de que ele fora morto por um pistoleiro. Mas isso não é verdade. Definitivamente, não é verdade. Ele matou-se por não resistir às denúncias do seu arqui-inimigo Carlos Lacerda. Querem saber mais? Leiam:

O Brasil caiu em prantos e se vestiu de luto na manhã do dia 24 de agosto de 1954, ao tomar conhecimento do suicídio do gaúcho Getúlio Dorneles Vargas, baixinho que formara chapa à Presidência no ano de 30 com o paraibano João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, morto a tiros numa confeitaria da capital pernambucana, Recife.
Na hora como a de agora, naquele agosto de 54, muita gente desmaiava no Rio de Janeiro, sofrendo tipos diversos de dores e sentimentos no velório do político que ficou conhecido de norte a sul do País como o “pai dos pobres”.
O Catete, em Copacabana, virou muro de lamentações.
Primeiro, foi a Rádio Nacional que divulgou a tragédia na voz do ministro Oswaldo Aranha, da Fazenda.
Depois, todas as emissoras de rádios do País emitiam seguidamente a íntegra e partes mais fortes da carta-testamento do presidente morto.
Essa carta logo teria interpretação registrada num disco (selo Monumento) de dez polegadas na voz do paulista Silvino Netto, cantor, compositor, radialista:
“Ao ódio respondo com o perdão. E aos que pensam que me derrotaram, respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate”.
A carta dramática, com imagens shakespearianas, findava assim:
“Eu vos dei a minha vida. Agora ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na história”.
Getúlio começou a morrer na Rua Tonelero pelos tiros de uma Smith & Wesson 45 disparados pelo pistoleiro de aluguel Alcino João que atingiram o major Vaz, e no Catete quando acionou o gatilho de um Colt 38 com cabo de madrepérola no próprio peito. Mas seu fim fora anunciado bem antes, pela boca de seu arqui-inimigo Carlos Lacerda que o chamava nas páginas do seu jornal, Tribuna da Imprensa, de “protetor de ladrões”.
A história polêmica é conhecida por muita gente.
Um dia antes do suicídio, o jornal Última Hora estampou em manchete uma frase histórica: “Só morto sairei do Catete”.
Nunca, nenhum presidente do Brasil foi tão espontaneamente cantado em verso e prosa como Getúlio Vargas.
Dezenas e dezenas de músicas foram compostas e gravadas em sua memória. E até clássicos perduram no nosso cancioneiro, como o rojão Ele Disse, de Edgar Ferreira, gravado, entre outros, por Jackson do Pandeiro e Zé Ramalho. Diz o refrão:

“Ele disse muito bem
O povo de quem fui escravo
Não será escravo de ninguém...”


Nunca também nenhum presidente do Brasil fez o que Getúlio fez. E não por falta de bala ou revólver...

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

EU E MEUS BOTÕES (7)

"Confesso que estou ficando bastante preocupado com o que tenho ouvido por aí", diz com o semblante franzido o nosso papa-jerimum Biu, que lá na terrinha é chamado de Severino. "Esse cabra aí é frouxo, patrão!", interrompe o desabrido Lampa, acrescentando: "Se fosse lá no Pernambuco, no mínimo esse cabra levaria uma pisa até virar homem!". "O Lampa tem razão, o Biu é um frouxo!", provocou Zé. "Sou macho, sou das terras das Alagoas. Lá na minha terra, macaco avoa e minhoca fácil, fácil vira cobra". Vamos parar com isso, pessoal.

"O Biu tem razão, patrão. O clima tá ficando esquisito. Sinto cheiro de pólvora no ar", disse enigmaticamente o cearense Jão. "Na terra onde eu nasci, a gente já nasce preparado pra tudo", emendou Zé, recebendo palmas do discreto Mané. "Que ninguém se esqueça, foi lá em Princesa que começou a guerra de 30", lembra o paraibano. Vocês hoje estão demais, observo.

Enquanto meus botões mostram preocupação com o que pode acontecer já, já no Brasil, o telefone toca. Era o juiz Onaldo Queiroga dizendo que tem uma pessoa querendo falar comigo. E passa o telefone. Ouço: "Boa tarde Assis. Estudamos artes plásticas com o João Câmara, Celene Sitônio e Raul Córdola, Lembra?". Zoião quis saber com quem eu estava falando. Respondi que estava a papear com um conterrâneo dos fins dos anos de 1960, o João Batista. "E ele era pintor, era?". Respondi que sim, e dos bons. E tipógrafo, responsável pela primeira revista editada a cores na Paraíba. "E como se chamava essa revista?", quis saber o curioso. Esqueci, respondi.

O tempo segue, infalível. 

Mas eu quis saber qual o motivo que estava deixando Biu preocupado. E ele: "A direitona, essa que vive pra judiar os pobres, está se armando. É só ver e ouvir a convocação do Bolsonaro para o 7 de setembro". O Zé concordou, rapidamente: "A fala do cantor Sérgio Reis é também muito expressiva". Cutucando as unhas com um punhal e depois dando uma cuspida de lado, Lampa disse: "Pela Democracia, lutarei até o fim". E aí as palmas foram gerais.

Lá do seu canto, Zilidoro deu o ar da graça: "A política tá pegando fogo e as florestas também. Agora mesmo, o parque do Juquery, com seus 2 mil hectares, está sendo engolido por labaredas insaciáveis". Gostei desse "labaredas insaciáveis". É bom falar com um poeta, não é mesmo Barrica? E Zilidoro: "O patrão nunca falou, mas eu conheço uma música dele e do Téo Azevedo que fala sobre incêndios provocados por balões". Incrédulo, Biu disse: "Bom, vamos deixar a política de lado e ouvir a música do patrão?".

domingo, 22 de agosto de 2021

SÉRGIO REIS, UM CANTOR SEM NOÇÃO?

A primeira vez que entrevistei Sérgio Reis foi em 1978. Bom papo, boas histórias. Ex-estrela da Jovem Guarda. Um dos seus maiores sucessos, foi Coração de Papel.
Com o fim da Jovem Guarda, movimento musical comandado por Roberto Carlos, Sérgio Reis foi levado pelas mãos de Tony Campello à ceara sertaneja.
Serjão, assim chamado pelos mais próximos, gravou centenas de músicas. 
Inesperadamente há pouco dias, o artista abriu a boca em apoio total ao presidente Bolsonaro. Foi além, no apoio. Chegou a ameaçar o presidente do Senado e os ministros do STF. 
As ameaças de Serjão deixaram chocados seus amigos artistas, como Guarabyra(da dupla Sá e Guarabyra), Guilherme Arantes, Maria Rita e até Zé Ramalho, entre outros.  Zé foi mais longe, impedindo-o de usar a gravação de Admirável Gado Novo que fizera para integrar o novo disco do intérprete de Menino da Porteira.
A fala de Sérgio Reis foi um suicídio. Musical, mais suicídio.
Jorge Ribbas e eu andamos compondo uma modinha para Bolsonaro:



EU E MEUS BOTÕES (6)

Vocês estão abafando. Todo mundo está falando de vocês. Até o Richard Muniz, um cartunista paraibano. Trabalhei com nos anos de 1970, no extinto jornal O Norte."Poxa, você é vivido hein patrão", disse com toda simplicidade Mané. "O patrão não é brinquedo, não", emendou Zé. "Vocês são uns bobos, o seu Assis já conheço de longa data", amostrou-se Jão. Vamos parar com isso, propus.

O cantor e compositor Cacá Lopes tem dito que gosta de todos os meus botões, especialmente Lampa. "O que?", espantou-se o desabrido Lampa. E no seu estágio normal, passou a cutucar as unhas com o punhal.

Zoião disse que tem ouvido e lido alguns comentários sobre si próprio e companheiros. "Que eu sou dos bons sou", afirmou sem nenhuma modéstia.

Lado a lado os irmãos Biu e Barrica apenas comentaram, em uníssono: "É isso aí, gente!".

Atento, mas até aqui em silêncio, Zilidoro comentou ironicamente: "esse Biu e esses Barrica são uns convencidos, patrão"! E emendou: "eu não quero dizer mais nada. Quero apenas que o patrão, que sabe tudo, conte-nos a história do folclore. Até porque hoje 22 de agosto é o dia dos folclore".

Confesso que fui pego de surpreso, de calças curtas. Mas, enfim, lá vai:


O POVO É SÁBIO

Quem já não ouviu falar que “agosto é mês de desgosto”?
Pois é, esta é só uma das milhares e milhares de frases carimbadas pela boca do povo.
E esta aqui: “quem cochicha, o rabo espicha”.
Claro, esta serve para todos nós peregrinos do céu e da terra: “quem tem boca vai à Roma”.
Tem outra que diz: “quem fala muito, dá bom dia a cavalo”. Aliás, outro dia uma amiga me contou que certa vez inventou de bater boca com uma senhora que o tempo parece ter esquecido de levar e boca vem e boca vai, as duas findaram por se desentenderem completamente. A amiga então lhe dirigiu essa velha frase do folclore. Resposta:
-Você tá pensando que eu sou o que, uma cavala?
A minha amiga riu muito e apaziguadora apenas disse:
-Eu estou lhe provocando só porque eu gosto de ouvir a senhora falar, e como fala!
Hoje é o Dia Internacional do Folclore, que os países civilizados certamente comemoram.   
A palavra folclore é uma palavra que ainda não tem nem duzentos anos. Ela surgiu da curiosidade de um arqueólogo inglês chamado William John Thoms (1803–1885).
Um dia, Thoms enviou uma longa carta à redação da revista de Atheneu, de Londres. Nessa carta ele demonstrava toda a curiosidade que nutria em torno das coisas que o povo fala e faz. Coisas que têm a ver com anedotas, histórias infantis, cantigas, rezas mágicas, pragas e tudo mais que tem a marca anônima e indelével do povo.
Pois bem, o conjunto de todas essas coisas vindas, surgidas, criadas, por obra e graça do popular, têm a ver com folk-lore, de origem anglo-saxônica. Em tradução livre e espontânea: folclore vem a ser nada mais nada menos do que ciência do povo.
O meu querido Luiz da Câmara Cascudo detestava a expressão folk-lore.
Cascudo –que bela palavra como sobrenome para um ser tão importante para o Brasil- foi um dos nossos mais importantes e o mais prolífico estudiosos do saber popular. Deixou cerca de 150 títulos publicados, dos quais cerca de 10 ou 15 podem se achar por aí.
Aprendi muito com o mestre Cascudo. O folclore é de fato uma ciência de suma importância para a compreensão da vida. Toda inteligência passa pelo saber do povo.
Há uns cinco séculos, outro cidadão inglês e também de nome William, no caso, Shakespeare, inventou de passar todo seu tempo a escrever histórias; histórias. Do povo para o povo.
Pois bem, grosso modo, podemos afirmar que toda obra de Shakespeare é baseada no tesouro em que se encerra a sabedoria popular. E o que fez Shakespeare, antes e depois, fizeram outros grandes nomes da literatura e música que não morrem. Bach, também fez isso, por exemplo.
O folclore é tão importante que até faz parte do imaginário de mestres da música erudita como o húngaro Béla Bartok (1865-1945).
Em 1923, Bartok decidiu compor uma obra em homenagem às cidades que deram o nome de Budapeste. E de sua mente privilegiada saiu a Suíte das Danças. Nessa música o autor expõe, a partir do imaginário, o que seria na sua visão, folclore.
Entre nós, brasileiros, Tom Jobim, Zé Dantas, Luiz Gonzaga e tantos e tantos, foram céleres beber na fonte imorredoura da sabedoria do povo.
Asa Branca e Assum Preto são boas amostras disso, cá entre nós.
Viva o folclore brasileiro!

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