Meu amigo querido José Nêumanne, paraibano lá de Uirauna, acaba de dizer no meu ouvido que o nosso Carlos Aranha morreu.
Doeu-me à alma a notícia.
Aranha, paraibano de João Pessoa que nem eu, foi um cara absolutamente fantástico.
Carlos Aranha e eu fizemos e participamos de muitas histórias.
Lembro que o colega jornalista João Bosco, que deve estar nas redondezas do Céu e do Inferno, era editor chefe do Jornal Correio da Paraíba. Eu era subchefe. E o Aranha era um dos meus repórteres, quer dizer, estava sob as minhas ordens.
Um dia, e outros dias mais, Aranha me pedia aumento de grana no holerite que, na sua opinião, estava completamente defasado. Concordei.
Levei a questão ao chefão Bosco. Riu da minha cara. E rolou o seguinte: Aranha pediu demissão do jornal e com ele eu também fui.
Doidura?
Bom, Carlos Antonio Aranha foi um cara do caralho!
Aranha, além de jornalista, foi poeta e produtor musical.
A história de vida de Carlos Aranha foi uma história fantástica.
Tem até um momento na vida de Aranha que entra o conterrâneo Zé Ramalho.
Aranha escreveu no jornal coisa de que Zé não gostou. No começo da carreira. Zé partiu pra cima de Aranha e no Aranha jogou um monte de bofete.
Aranha chegou a ser presidente da Associação Paraibana de Imprensa, API.
Eu fui um dos primeiros integrantes dessa associação. Cheguei até a proferir palestra lá, junto com o compadre José Nêumanne.
Os jornais diários, semanais, mensais estão gemendo. Muitos na UTI e outros mais já devidamente mortos e sepultos.
Isso tudo deve-se à chegada abrupta da Internet, que espalhou e continua espalhando novidades mil em todas ou quase todas as línguas conhecidas. Para o bem ou para o mal.
A Internet oferece muitas opções: jornais eletrônicos, emails, que substituiu os telegramas antes postados nos Correios e Telégrafos. E tem uma coisa boa, muito boa já correndo com pernas firmes e fortes: os Podcasts.
Há pouco, Poliana Helena e o camarada Julian Cuccarese fizeram comigo um papo que gostei muito. Interessantíssimo. Confiram:
É frágil a vida, frágeis somos todos nós. Mesmo assim, a vida é uma dádiva. Por cá, por essa terrinha de ninguém, pagamos apenas impostos para civilizadamente em tese, vivermos.
Pois é meu amigo, minha amiga. Eu gosto de viver. Pois adoro desafio...
Outro dia, tomei conhecimento de um acidente sofrido por Lula. Ele entrou no banheiro e tá-tá-tá, caiu. O resultado disso é que além de uma boa lição, levou não sei quantos pontos na nuca.
Isso me fez lembrar que há uns 10 anos, talvez um pouquinho mais, eu cá em casa me balançava na rede quando facilitei e caí. Tasquei a cabeça ali quase na nuca na quina de um banco que tinha bem atrás da bendita rede. O resultado disso foi que, no PS daqui de perto, recebi como prêmio dessa desastrada balançada, 13 pontos.
Pois é, 13 é o número do PT...
Hoje, acho que é hoje, faz uma semana que o cantor abaritonado Agnaldo Rayol levantou-se no meio da madruga e foi pipizar no banheiro. Resultado: escorregou e dançou.
Há 30 anos completados há pouco, foi a vez do músico sertanejo de verdade Tonico, da dupla Tonico e Tinoco, falsear e cair em casa. Na casa lá dele. Morreu, pois.
Sem falar do apresentador Gugu Liberato, que inventou de subir em uma escada, pra fazer sabe-se lá o quê, e dançou!
Não morreram na hora vítimas de queda a cantora Inezita Barroso e o cantador repentista Sebastião Marinho. A queda que sofreram, no entanto, o levaram à cama e na cama ficaram até o dia que Deus os chamou.
Há uns 20 dias foi a vez de, mais uma vez, eu sentir na pele as consequências de uma maldita queda. Fraturei pé esquerdo e desse pé tirei o gesso há pouco. Mas ficou o drama, né?
O pior disso tudo, especialmente na última queda por mim sofrida, é que eu estava completamente sóbrio. Quer dizer, sem água no gogó que passarim não bebe. Ai, ai...
Estou sem correr na bicicleta e na esteira desde os últimos 20 dias. Na medida do possível, vou exercitando os músculos do corpo cá no chão. As fotos estão aí em cima, que não me deixam mentir.
Bom, de queda em queda é possível chegar até o céu.
Ei, vocês viram/ouviram a entrevista que o queridíssimo amigo e baita profissional da fotografia Jorge Araújo deu ontem 9 sábado no programa Paiaiá?
E mais não digo, apenas sugiro. Clique aí para acompanhar a belíssima entrevista que o amigo Jorge deu ao radialista Carlos Silvio:
TINÉ
Enquanto dito as palavras aí à querida Anninha, colaboradora aqui há tanto tempo, recebo com alegria a visita do meu queridíssimo amigo pernambucano Flávio Tiné.
Flávio Tiné meus amigos e amigas, é o cara!
Flávio Tiné é pernambucano de Caruaru. Ele falou das coisas loucas que estão acontecendo no nosso Nordeste, no Brasil e no mundo todo.
Tiné lembra que sua avó costumava dizer que "pobre não gosta de pobre, pobre não vota em pobre".
Disse isso pelo fato de o prefeito aqui de Sampa ter sido "reeleito".
Tiné tem 87 anos de idade, mas continua insistindo em ser um grão positivo da democracia brasileira.
E se você não sabe, fique sabendo que Tiné é pai de Paulo professor de música da Unicamp. E que a nora Paola é a violonista do grupo musical As Choronas. Esse grupo existe há uns 30 anos.
Pessoa morreu de morte natural, ao contrário de Quental e Carneiro, que suicidaram-se.
José Régio, negro de grande inspiração poética, marcou época em sua terra e em boa parte da Europa. Dele é o poema Monólogo a Dois:
Sábia talvez inconsciente,
Doseando com volúpia, uma ancestral sofreguidão,
Ali onde o desejo mais me dói, mais exigente,
Me acaricia a tua mão.
De olhos fechados me abandono, ouvindo
Meu coração pulsar, meu sangue discorrer,
E sob a tua mão, na asa do sonho, eis-me subindo
Àquele auge em que todo, em alma e corpo, vou morrer…
Régio, além de poemas, escreveu contos situados no campo do sagrado e do profano. Exemplos são os livros Sorriso Triste e O Vestido Cor de Fogo.
Em 2020, Samara Mariana Cândida da Silva desenvolveu dissertação de mestrado sobre a sua obra apresentada à Universidade Federal de Goiás. Lá pras tantas, destaca:
A sutileza erótica presente nos contos de José Régio permite refletir acerca do paradoxo que engloba corpo, carne, amor e reprodução. Um matrimônio segurado somente pelos filhos e pela convenção social de que devemos construir uma família, não é capaz de completar a existência do ser humano, assim como também não lhe permite preencher tal vazio que o
acompanha.
A plenitude divina não se dá somente pelas orações e templos religiosos, mas acontece no encontrar-se, no compreender-se, no desvendar do significado do corpo que está para além do físico, que se configura no metafísico, que permite ser morada do sagrado e que contemple o desejo erótico sem necessariamente estar cometendo um pecado que lhe acarrete em uma condenação eterna.
E Florbela Espanca, hein?
Ela era altamente depressiva. Sua boca parece que não fora feita pra sorrir. Estava sempre fechada. Mesmo triste escorregando pelos cantos da parede, Florbela escrevia sobre o amor o tempo todo sem, porém, se cansar. Um dos seus poemas, Fanatismo, foi musicado pelo cantor e compositor cearense Raimundo Fagner, em 1981. Fez sucesso.
Dessa autora, que findou-se por iniciativa própria em 1930, é o poema Nervos d'Oiro:
Em 1975, o escritor inglês James Clavell lançou ao mundo Xógum. Tem muitos personagens, destaque para Mariko e Anjin-san.
Anjin-san é personagem nascido de pai inglês e mãe holandesa. Fala várias línguas, incluindo português e latim. É um lobo do mar que por acaso cai nas mãos de japoneses. Sua inteligência desperta atenção de poderosos e logo uma mulher, Mariko, é designada para ser sua intérprete perante Toranaga. Esse é o rei do pedaço, invejado por muitos e com todo poder possível nas mãos. Há movimentos para derrubá-lo.
A personalidade de Mariko é fortíssima. Chega a enfrentar samurais em campo aberto e em ambientes fechados. Ali pelo final da trama Mariko morre.
Além dos literatos portugueses aqui já citados, acrescento ainda Fernando Pessoa (1888-1935), Antero de Quental (1842-1891), Mário de Sá Carneiro (1890-1916), José Régio (1901-1969) e Florbela Espanca (1894-1930).
Pessoa, que criou dezenas e dezenas de heterônimos, tornou-se clássico pela obra publicada. Escreveu muito sobre muitas coisas. De amor e sexo, por exemplo:
Mesmo antes de novembro de 1889, militares golpistas assediavam o marechal Deodoro com o propósito de convencê-lo a comandar tropas para depor o imperador Pedro II.
E como todo mundo sabe, o milicão de pijama topou a parada, mesmo contra a fala da sua mulher, Mariana.
À época o Brasil todo, e não só o Rio, vivia momentos de grandes tensões. Era uma revolta aqui, outra acolá e tudo mais.
Os escravocratas temiam a queda de Pedro II que fazia vistas grossas ao comportamento dos proprietários de pessoas escravizadas.
A Lei do Ventre Livre já fora posta em prática.
Grupos abolicionistas se multiplicavam, à frente Joaquim Nabuco e José Carlos do Patrocínio (1854-1905).
Patrocínio, farmacêutico, jornalista e escritor, era um admirável orador. Seus discursos tinham o poder de mobilizar multidões. Além do mais, os textos de Patrocínio publicados nos jornais eram muito bons, muito bem escritos.
Começou a publicar artigos nos jornais em 1870, quando tinha apenas 17 anos de idade.
Foi dono de dois jornais: Gazeta da Tarde e A Cidade do Rio.
Foi no jornal do Rio que o João do Rio iniciou prestigiosa carreira de jornalista.
Em 1877, uma seca dos infernos assolou o Ceará e parte dos demais Estados nordestinos.
Sensível às dores humanas, Patrocínio esteve na capital e em outras cidades cearenses registrando as misérias que via.
Além de publicar sua opinião nos jornais do seu tempo, em 1879 José do Patrocínio publicou um livro meio romanceado contando as agruras do povo cearense. Título: Os Retirantes.
Humanista e dono de boas ideias, não demorou muito José do Patrocínio candidatou-se e ganhou cadeira na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Pois é, a pergunta que não cala: quem proclamou a República?
Meu amigo, minha amiga, se você disser que o proclamador da nossa República foi o marechal Deodoro.... Erra re-don-da-men-te!
Pois bem, se não sabe, saiba: foi naquele 15 de novembro de 89 que o vereador aí citado foi a plenário e mandou ver com uma moção proclamando a República que dura até os dias de hoje. Esse gesto levou o povo às ruas.
José Carlos do Patrocínio, o Tigre da Abolição, deixou inacabado um romance e a tradução de Guerra e Paz de Tolstói.
"Esse menino vai longe", disse uma vez o professor Antonio Gentil. E disse mais: "Em apenas 15 dias, ele aprendeu análise gramatical, a distinguir orações e a conjugar os verbos regulares".
O referido professor prognosticava bom futuro ao menino Rui que tinha então só cinco anos de idade.
Tal prognóstico foi feito no distante ano de 1854.
O Rui aí é o Rui Barbosa de Oliveira, baiano de Salvador que entrou para a história como "Águia de Haia", depois de chamar a atenção do mundo pelas palestras e intervenções intelectuais que fez em Conferência da Paz, realizada na Holanda entre junho e outubro de 1907.
O epíteto Águia de Haia veio a coroar de sucesso e admiração a carreira de intelectual que já tão bem desfrutava.
Rui foi deputado três vezes e senador cinco. Foi também o primeiro ministro da Fazenda e da Justiça no começo da República (1889).
Coube ainda a Rui a responsabilidade de escrever praticamente sozinho a Constituição de 1891.
Além dessas práticas importantíssimas, constam do currículo do admirável baiano a disputa pela presidência da República em 1910 e 1919, que perdeu para o marechal Hermes da Fonseca e Epitácio Pessoa, respectivamente.
Incansável, Rui deixou excepcionais discursos e livros de conteúdo jurídico. Aliás, foi o inspirador da criação do Supremo Tribunal Federal.
Como se não bastasse, Rui Barbosa é o patrono do Senado.
Ah! Sim: Ao mesmo tempo que exercia a profissão de advogado, Rui exercia o cargo de chefe de redação do jornal Diário da Bahia.
Começa amanhã 7 vai até sábado 9 a 9ª Festa Literária de Cidade Tiradentes, a FLICT. Dessa festa participarão autores da região.
Segundo o poeta cordelista Pedro Monteiro "neste ano a FLICT homenageia Milton José Assumpção, poeta, palhaço e dramaturgo que viveu em Cidade Tiradentes e escreveu sobre as histórias do nosso povo".
Da programação da 9ª FLICT constam, ainda segundo Pedro, "saraus, slam, batalha de rima, circo, teatro, música e conversa com escritores".
A Festa Literária de Cidade Tiradentes ocorrerá nas dependências do Centro Cultural Arte em Construção, localizado à Av. dos Metalúrgicos, 2100, Bairro Cidade Tiradentes.
Filho de um Francisco português e de uma Francisca brasileira, Evaristo Ferreira da Veiga e Barros nasceu em 1799, no Rio de Janeiro.
Ainda muito novo de idade, Evaristo devorava tudo quanto era livro que o pai trazia de Portugal.
O gosto pela literatura levou o jovem Evaristo a escrever poemas que encheram suas gavetas.
No campo da poesia ele começou a escrever já ali pelos 14 anos de idade, mas não teve coragem de torná-las públicas em livro. Isso só ocorreria em 1915.
Não demorou e mesmo de letras ilustrado, abriu uma livraria junto com o irmão Pedro e lá passou a vender livros e a fazer amigos.
Entre um momento e outro, o intectual livreiro escrevia letras para hinos. Entre essas letras destaque para o Hino da Independência, cuja melodia foi feita pelo imperador Pedro I.
O imperador apreciava os seus escritos.
Evaristo Ferreira da Veiga e Barros tinha 30 anos de idade quando foi escolhido deputado. Àquela altura, ele já havia contraído matrimônio. Teve três filhas.
Antes de virar deputado e o cargo exercer até a morte em 1837, Evaristo passou a colaborar modestamente com os pasquins da cidade onde nasceu. Acabou comprando um deles, Aurora Fluminense (1827-1835). Tinha quatro páginas e depois seis. Saía às ruas três vezes por semana.
Seus artigos no jornal provocaram irritação em figuras de destaque do seu tempo.
Politicamente identificado como moderado, Evaristo acabou sendo alvo de um atentado, em 1832.
Até hoje não se sabe quem mandou ou quem pessoalmente atentou contra a sua vida.
Depois, bem depois, por iniciativa de Rui Barbosa, Evaristo virou patrono da cadeira 10 da Academia Brasileira de Letras, ABL.
Gregório de Matos e Guerra estudou em Coimbra, de onde saiu com diploma de advogado. Em Recife, esquecido e agora e naquela hora da sua morte fechou os olhos acreditando em Deus. Amém. Mas é bom dizer que antes de Aretino, bem antes de Aretino, houve outro poeta veneziano de pena ferina e completamente desbocado. Seu nome: Caio Valério Catulo (84 a.C - 54 a.C). Caio escrevia coisas assim:
Meu pau no cu, na boca, eu vou meter-vos,
Aurélio bicha e Fúrio chupador,
que por meus versos breves, delicados,
me julgastes não ter nenhum pudor.
A um poeta pio convém ser casto
ele mesmo, aos seus versos não há lei.
Estes só tem sabor e graça quando
são delicados, sem nenhum pudor,
e quando incitam o que excite não
digo os meninos, mas esses peludos
que jogo de cintura já não tem
E vós, que muitos beijos (aos milhares!)
já lestes, me julgais não ser viril?
Meu pau no cu, na boca, eu vou meter-vos.
Entre nós, brasileiros, o poeta é praticamente desconhecido. Aqui e acolá, porém, um intelectual se diverte com suas coisas.
Em 1996, a Edusp lançou à praça O Livro de Catulo. Nesse livro, do professor-doutor João Ângelo Oliva Neto, lê-se com destaque:
Um poeta, quanto mais sofisticado e diverso for, mais sujeito a controvérsia: ou não se atinge a complexidade própria de sua sofisticação ou rejeitam-se, por escrúpulos de toda ordem, temas integrantes de sua diversidade. Catulo foi um desses. A julgar pela opinião de T. S. Eliot (1888-1965), era um rufião, e pela de Baudelaire, ele e seu bando eram poetas grosseiros e puramente epidérmicos, sem misticismo algum. Cícero, contemporâneo do grupo de Catulo, mais de uma vez referiu-se a eles com desdém: chamava-os pelo termo grego neóteroi, "juvenis", com que implicava aversão não só à novidade dos poemas, mas também compreensível num louvador dos costumes dos ancestrais à juventude, supostamente temerária, daqueles poetas. Mais tarde, tachou-os de poetae noui, "poetas modernos", e, acusando-os por não apreciar Enio, antigo poeta latino, diz serem cantores Euphorionis, expressão cujo sentido deletério é "repetidores de Euforião", poeta grego do período helenístico.
Catulo, embora italiano de origem, gostava como todos os intelectuais do seu tempo de escrever em latim. Seus poemas são quase todos nessa língua, hoje morta.
Brasil teve e tem poetas e poetisas de grande talento.
O Brasil já deu um poeta com as características de Aretino: Gregório de Matos e Guerra.
É muito improvável que esse Guerra nunca tenha tido conhecimento da existência do italiano Aretino. Falavam o que falavam com palavrão e tudo o mais. Eram destabocados.
Aretino tinha intimidade com religiosos da Igreja Católica e o baiano Guerra também, que chegou a ser até padre na terra onde nasceu, embora não acreditasse em Deus.
Depois de longa sessão de júri, no Rio, os assassinos confessos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes foram condenados unanimemente pelo corpo de jurados. Ronnie Lessa e Élcio Queiroz foram condenados respectivamente a 78 e 59 anos de cadeia. Isso foi ontem 31. Outros três envolvidos no duplo assassinato deverão ser julgados pelo STF, até o primeiro trimestre de 2025.
O pianista carioca Arthur Moreira Lima nos deixou ontem 30 à noite, aos 84 anos, três meses e quatro dias (1940-2024).
Arthur, que conheci de perto deixou uma obra monumental. Cerca de 60 discos formam a sua discografia. Era o erudito mais popular do Brasil, na minha modesta apreciação.
Arthur Moreira Lima afeiçou-se ao piano ainda nos seus tempos de infância. Tinha, apenas, uns 6 anos quando começou a domar as teclas. Cresceu e correu mundo: Moscou, Viena, Paris, Roma...
Gravou discos com Elomar Figueira Mello, Heraldo do Monte, Nelson Gonçalves... Antes disso, em 1975, gravou um LP duplo com joias de Ernesto Nazareth e tal.
Na extinta TV Manchete Arthur apresentou um programa que juntava artistas populares como Moreira da Silva, João Nogueira, Milton Nascimento e tantos mais.
Claro que o encantamento de Arthur nos deixa cheios de tristeza.
A última vez em que ele e eu nos encontramos foi num teatro que existia ou existe ainda na frente do Teatro Bandeirantes, ali na Brigadeiro cá em Sampa. Juntos estávamos com Luiz Vieira e Carmen Costa. Lembro disso como se fosse hoje.
Luís da Câmara Cascudo exerceu em vida um monte de profissões. Foi jornalista, crítico literário, estudioso da cultura popular, poeta, advogado, professor...
Fora isso, dominava pelo menos meia dúzia de idiomas: francês, inglês, espanhol...
Entre um livro e outro, Cascudo nos legou cerca de 150 títulos. O primeiro desses títulos, Alma Patrícia foi publicado em 1921.
Em 1930 disputou cargo político na terra onde nasceu, Natal, RN e acabou por eleger-se deputado.
A carreira de deputado de Câmara Cascudo durou apenas três dias.
Melhor sorte teve o escritor cearense Gustavo Barroso (1888-1959), que exerceu o cargo de deputado federal entre 1915 e 1917.
A história conta que Gustavo Barroso defendeu como pôde, na Câmara, os flagelados da seca de 15. Essa seca seria temática do primeiro livro da escritora Rachel de Queiroz.
Consta também que nos Anais da história que Barroso assumiu e defendeu a luta dos indígenas por seus direitos.
Pois é.
Em 1922, o presidente paraibano Epitácio Pessoa criou o Museu Histórico Nacional e nomeou o cearense como seu primeiro diretor. No cargo ficou até 1930, quando Vargas o demitiu.
Um dos principais livros de Câmara Cascudo é o Dicionário do Folclore Brasileiro, em dois volumes, impresso e lançado pela gráfica do Senado em 1952.
O fato de Cascudo ter exercido por apenas três dias o cargo de ddeputado deveu-se à decisão de Vargas em fechar as Assembleias Legislativas de todo o Brasil. Não teve tempo pra fazer nada. Segundo ele, "Não pude salvar o Brasil, mas também não me perdi".
Os assassinos confessos da socióloga e vereadora carioca Marielle Franco, Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, estão sendo julgados no Rio de Janeiro desde as 9h da manhã de hoje 30.
O caso provocou polêmica no Brasil e em vários outros países.
Marielle era uma pedra no sapato dos irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, que deverão ser julgados paralelamente no Supremo Tribunal Federal, STF.
O julgamento dos mandantes é previsto para ainda este ano de 2024.
Eu tinha um amigo chamado José Ramos Tinhorão (1928-2021). Esse Zé, de uma inteligência analítica fora do comum, via na vida brasileira o fazer da arte popular.
Esse Zé era jornalista e cheio de onda. Provocava.
Eram poucas as pessoas que ele admirava trocando ideias.
Esse Zé levava porrada de tudo quanto era artista da música popular.
Uma vez eu disse pra ele, Zé, que na nossa música popular há e sempre haverá grandes e anônimos artistas perdidos nas esquinas da vida.
E aí eu disse que gostava muito de um cabra chamado Nelson Cavaquinho.
Foi de repente, que vi pela primeira vez uma pessoa arregalando os olhos pra mim. Surpresa.
Pois é, essa surpresa era Zé: José Ramos Tinhorão.
Tinhorão era um cara completamente apaixonado por Nelson Cavaquinho.
Eu disse com-ple-ta-men-te...
Por que estou falando disso agora?
É que Magrão, um queridíssimo amigo telefonou perguntando se eu gostava do Nelson Cavaquinho.
Pois é, eu conheci de perto Nelson Cavaquinho. Bebemos juntos um conhaquinho e um uisquinho. De lado, ao nosso lado, meu querido Fernando Coelho.
O resto é história.
Nelson nasceu no dia 29 de outubro de 1911.
Um dos grandes amigos do Nelson foi Cartola, que nasceu no dia 11 de outubro de 1908.
Em 1908 partiu para a eternidade o grande Machado de Assis.
É à boca larga que se sabe da importância do cidadão alagoano Graciliano Ramos, tanto como cidadão ou profissional da literatura e da política.
O bom alagoano, antes de se dedicar completamente à literatura, topou ser uma espécie de secretário da Educação do município de Palmeira dos Índios. Daí foi um passo para assumir o cargo de prefeito daquele município. Foi candidato único.
Já como prefeito em 1928, Graciliano escreveu em relatório oficial que a Prefeitura estava, financeiramente, quebrada. E lá pras tantas disse que peso grande tinha o município com a empresa fornecedora de energia elétrica. Embora importante a claridade fornecida pela empresa, "o contrato foi feito às escuras".
Claro que ele se referia às safadezas cometidas pelos empresários contra o bem público. Isso tem até hoje como claramente se sabe. Não é à toa que esse tipo de safadeza continua perene...
São Paulo e parte do Brasil continuam, aqui e acolá, às escuras...
Graciliano Ramos era sucinto em tudo que falava ou escrevia. E cheio de graça, pois.
Depois de o escritor José de Alencar assumir cargos politicamente eletivos no Império, foi a vez de o maranhense Viriato Correia também virar deputado.
Viriato nasceu em 1884 e morreu em 1967. Foi poeta, romancista, contista e autor de pelo menos uma trintena de peças teatrais.
O primeiro livro de Viriato foi um livro de contos lançado em 1903. Título: Minaretes.
Minarete é palavra originária do mundo árabe que tem a ver com farol.
Há muito o que dizer sobre escritores brasileiros que viraram políticos.
Meu amigo, minha amiga, você já ouviu falar do potiguar Luís da Câmara Cascudo?
Pois é, o nosso Guilherme Boulos, PSOL, teve menos votos ontem 27 do que o vice de Bruno que virou prefeito e como tal concorreu à última eleição tendo uns dezoito por cento a mais do que o seu concorrente.
Que fique claro: quem votou no Boulos não perdeu, ganhou.
Boulos mostrou firmeza, clareza e dignidade ao apresentar aos eleitores de Sampa o seu programa de governo.
Ganhamos, Boulos e a democracia.
Nada melhor do que um dia atrás do outro...
Ontem domingo 27 marcou o 140° aniversário de nascimento do escritor e ex-prefeito do município alagoano de Palmeira dos Índios Graciliano Ramos (1884-1953).
Graciliano, que prefeiturou Palmeira dos Índios entre 1928-1930, deixou saudade.
E como escritor, aquele ex-prefeito legou à literatura brasileira uma obra muito bonita, muito forte, entremeada de lirismo, sonho e realidade.
Graciliano Ramos foi eleito no dia 7 de outubro de 1927.
Pois, pois. Não são muitos, mas também não são poucos os escritores brasileiros que viraram políticos. Com cargos eletivos, inclusive.
O primeiro escritor brasileiro que virou político com cargo eletivo foi o cearense José de Alencar (1829-1877).
Alencar foi deputado várias vezes e só não virou senador porque o imperador Pedro II não deixou. Ele o detestava.
O primeiro livro de José de Alencar foi Cinco Minutos.
Pois bem, o segundo escritor brasileiro que virou político foi o fluminense Joaquim Manuel de Macedo, autor do romance A Moreninha (1844).
A Moreninha é considerado por muita gente como o primeiro romance brasileiro.
O Filho do Pescador de Teixeira e Souza, embora tenha sido publicado um ano antes de A Moreninha, é considerado por uns e outros como o primeiro ou segundo romance tupiniquim.
Os críticos de Souza consideravam ou ainda consideram um livro cujo enredo não pode ser classificado de romance.
Bom, eu li os dois e pra mim os dois são romances. E bons.
Por enquanto chega, né?
O ex-prefeito de Palmeira dos Índios renunciou ao cargo no dia 10 de abril de 1930. E sabe por que?
Graciliano pegou a prefeitura de Palmeira dos Índios endividada até onde não dava mais. Foi contra amigos, conhecidos e poderosos. E como começou a escrever em 1925, trocou o cargo político pela carreira de escritor admirável que se tornou.
O primeiro livro do alagoano de Quebrangulo Graciliano Ramos, Caetés, foi publicado em 1933.
Logo cedo tomei banho, tomei café, troquei de roupa, nos pés coloquei sapatos novos e saí todo ancho em direção à zona eleitoral onde estou inscrito. Fica perto de onde moro, cá no Campos Elísios.
Claro que saí todo perfumado, pois enfim este 27 de outubro é especialíssimo.
Bom fui, votei e voltei para o meu doce lar feliz feito um pássaro singrando o céu de brigadeiro.
Claro que votei pela mudança, por melhores dias, pelo melhor candidato da prefeitura de Sampa: Guilherme Boulos 50.
Não tenho dúvidas de que o programa de Boulos é o melhor para o município de São Paulo.
Boulos está escudado por Martha Suplicy e uma equipe de grandes profissionais em todas as áreas.
No comportamento homem/mulher somos todos desiguais.
Essa história de desigualdade se acha no real e na fantasia, desde todos os tempos.
E as histórias como essa se multiplicam em línguas as mais diversas. Até porque o coração é igual em qualquer peito.
Tudo indica que nascemos para não nos salvar.
No conto O Burguês e o Crime, o seu autor Heitor Cony, conta a história de um sujeito que trama praticar um crime perfeito. Mata a mulher e o amante e do amante da mulher ele herda empresas. Fica rico, sem problemas aparentes. As vítimas do burguês sucumbem envenenadas.
Fantasia ou real?
Pois é, assim simples: alguém flagra alguém…
O adultério entre homens e mulheres é uma realidade em todo o canto.
Lygia Fagundes Telles no conto O Moço do Saxofone fala de um saxofonista que mora numa pensão em quarto separado da mulher. Ela o trai o tempo todo com homens de todo tipo. Lá pras tantas aparece um caminhoneiro…
Grande Lygia!
Essa história de adultério é tão nova quanto o pensar de ontem.
E tudo é tão simples: um homem gosta de uma mulher e uma mulher gosta de um homem.
Pelo sinal da cruz, representando a Igreja Católica, o homem e a mulher viverão para sempre… Até que a morte…
Porém, sempre há um porém: o homem, em determinado momento, cansa da mulher e a ela nada diz. O mesmo pode acontecer com ela. E aí temos o adultério de um lado e outro.
Essa coisa de submissão vem de longe, de muito longe. Não foram poucos os poetas e romancistas que tomaram isso como tema para suas histórias.
Lá atrás, bem atrás, Dostoiévski também não resistiu a pegar e desenvolver essa temática.
O personagem que o grande escritor russo desenvolve no conto ou sei lá o quê A Submissa, de 1876, é jovem, loira, magrinha. Idade: 16 anos. E ele, o personagem masculino: 41. Não demora, a menina e o homem tornam-se praticamente um só.
Um dia, o fulano chega em casa e depara-se com uma atabalhoada e chocante cena: sua amada suicidara-se.
A história segue com o narrador, em 1ª pessoa, procurando entender o comportamento feminino. Ele: “...Eu sabia que uma mulher, ainda por cima de dezesseis anos, não podia evitar tornar-se absolutamente submissa ao homem. Nas mulheres não há originalidade, é um axioma, mesmo hoje, para mim, isto é um axioma! O que importa que esteja agora na sala, em cima da mesa?...”.
Submissão, mais das vezes, pode ser classificada como masoquismo. Assim, simplesmente.
Como se vê, nem Dostoiévski deixou de criar personagens machistas, preconceituosos.
Outro dia ouvi um livro sobre mulher e homem.
Esse livro a que me refiro tem como título O Profano Feminino, de um cara intelectualmente inclassificável chamado Nessahan Alita. É doido, completamente fora da cidadania.
No livro O Profano Feminino, Alita chega ao ponto de escrever o seguinte: “... Escondem que as deliciosas fêmeas desenvolveram sofisticadas artimanhas para nos burlarem e não nos entregarem seus tesouros (o sexo, o carinho e o amor). Na verdade, o que se passa é exatamente o oposto do que pregam esse(a)s idiotas: as fêmeas é que são indiferentes e não gostam muito de homens enquanto nós, os machos, as desejamos, queremos e amamos desesperadamente…”.
Inacreditável, não é mesmo?
No livro O Homem Domado, no original alemão Der Dressierte Mann, de Esther Villar, lê-se muita coisa curiosa a respeito do homem. Esse livro, lançado em 1971, tem como conteúdo narrativo uma história diferente da história contada pelo inescrupuloso Alita.
Lamentável tudo que se lê de pessoas masculinas que detestam as figuras femininas, mulheres…
Esther diz, lá pras tantas: “Os homens foram treinados e condicionados pelas mulheres, assim como Pavlov condicionou seus cães, para se transformarem em seus escravos. Como compensação por seus trabalhos, podem usar periodicamente suas vaginas”.
Esther Villar é o pseudônimo da argentina Esther Margareta Katzen.
Impressionante o papo interrogativo que teve PM com Guilherme Boulos, agora há pouco nas tais redes.
Tudo começou com alta civilidade.
Pergunta, pergunta, pergunta... O entrevistador PM perguntando sem rodeios coisas sobre o seu entrevistado: Guilherme Boulos 50.
E a coisa foi, foi e foi seguindo de forma aparentemente de modo impressionante.
O entrevistador PM surpreendeu pela naturalidade como conduziu a conversa com seu adversário político.
PM perguntou sobre tudo e mais alguma coisa.
Perguntou PM a Boulos sobre o que achava a respeito de Bolsonaro, Collor, Cristo...
A todas as perguntas feitas por PM a Boulos houve resposta.
O que aconteceu hoje no papo entre Boulos e PM é histórico, não tenho dúvida.
E aí, cá comigo, fico pensando se Bolsonaro tivesse dez ou quinze por cento da massa encefálica de Marçal. Hummm... Estaríamos a essa altura totalmente afunhenhados.
Bolsonaro é fascista de primeira hora e seus seguidores, canalhas e politicamente alienados.
Pois é, é preciso que os contrários se entendam.
Pessoalmente, achei muito importante a direita conversar com a esquerda.
Conversar é sempre necessário em todas as situações.
Um ponto para PM.
Viva a civilidade!
Logo mais às 22h tem debate na TV Globo. Lá estarão talvez um tal de Nunes e com certeza o futuro prefeito de São Paulo Guilherme Boulos.
CABO ELEITORAL
O papo hoje entre PM e Boulos foi muito curioso. Absolutamente curioso. Por fim e tudo mais PM virou com naturalidade cabo eleitoral de Boulos. Nesse ponto, aqui dizendo, foi incrível.
PM ficou falando durante 15, 20 minutos, sobre as qualidades de Boulos. Disse que Boulos está totalmente preparado para assumir a Prefeitura. Hummm...
PM, com seus 36 de idade, está se revelando um grande estrategista. E previu que nos próximos 30 anos ele e Boulos serão os grandes nomes da política nacional.
É agora já, nesse entrante das horas em pino, que o sagaz e destemido Guilherme Boulos encara cara a cara o sujeito dos infernos cujo nome nem sei direito pronunciar. Sei que começa com P de polícia e segue com M de militar. Acho que foi isso que alguém me disse.
Ouço por aí, em tudo quanto é rádio e TV, que Boulos fez mal negócio ao aceitar convite para "entrevista de emprego" com PM.
O que acho disso?
Riobaldo, de Guimarães Rosa, diz pra cá e pra lá entre páginas tantas, que "a vida é muito perigosa".
A frase aí é dita com variações.
E se a vida é difícil é difícil porque é. E assim por ser como é, bem fez Boulos candidato já quase prefeito ao aceitar o convite movediço feito pelo tal PM.
A vida por si só é um desafio, né não?
Nas páginas de Grande Sertão, Riobaldo devaneia ou filosofa lá pras tantas dizendo mais ou menos: " estar em vida é estar em curso, como um rio...".
Pois, pois: eu faria o mesmo, pois covarde nunca fui. E nem serei.
Quando eu era meninote lá nas bandas da minha Paraíba eu ouvia gente grande, valente, dizer que não tinha medo de cara feia. E de cara feia não tenho medo!
Uma variante de frase, que lá atrás eu ouvia, tinha o prumo e a graça de se dizer assim: "se eu tivesse medo de cara feia eu não ia na feira de bode".
E né não, tem coisa mais feia do que cara de bode?
Aliás, até pode ter: a cara do Bute.
Bom, pessoal, vamos localizar por aí nas tais redes a categoria como Guilherme Boulos vai desancar esse Coiso PM.
Neste 2024 completam-se 100 anos da chamada Guerra de 24, ou Revolução de 24.
Foi no dia 5 de julho de 1924 que estourou em São Paulo um movimento revoltoso de militares, à frente o general Isidoro Dias Lopes (1865-1949). Foi uma desgraceira. O governo central mandou bala, literalmente. Houve bombardeios, mortos e tal, e feridos às pampas.
Os revoltosos dançaram miudinho e tiveram que fugir. Quem pode, pode.
A fuga dos derrotados pelas forças governistas deu-se em trens. Chegaram no Paraná e foram e foram...
Enquanto isso ocorria, no município gaúcho de Santo Ângelo o tenente Luís Carlos Prestes (1898-1990) organizava o movimento que ficou conhecido como Coluna Prestes. Esse movimento nasceu no dia 27 de dezembro de 1924. O resto é história.
A Guerra de 24 rendeu várias músicas, uma delas gravada pela turma caipira de Cornélio Pires (1884-1958). Ouça: