Numa parte mais para o fim do filme rebobinado para DVD O Bandido da Luz Vermelha, do gaúcho Rogério Sganzerla (1946-2004), ouve-se o rei do baião Luiz Gonzaga cantando a bela toada Asa Branca que fez em parceria com o cearense Humberto Teixeira em fins de 1946, gravada no começo do ano seguinte.
No filme, um premiado policial da safra de 1968, hoje cult considerado o melhor do gênero, aparece também o rei do bolero Roberto Luna (abaixo) interpretando o cantor chileno Lucho Gatica, afilhado e babão do político corrupto J.B. da Silva, vivido por Pagano Sobrinho.
J.B. na pele de Pagano diz uma frase curiosa.
Uma não duas.
A primeira:
- Viva a pobreza!
A segunda:
- Um país sem miséria é um país sem folclore, e um país sem folclore o que podemos mostrar ao turista?
De lascar, não é?
Luz Vermelha foi um bandido que praticou uma onda de crimes de morte, assaltos e estupros na capital de São Paulo. Foi preso no dia 8 de agosto de 1967. Seu nome verdadeiro era João Acácio Pereira da Costa. Condenado a 351 anos, nove meses e três dias de prisão, cumpriu 30 anos e foi solto na noite de 26 de agosto de 1997 e assassinado quatro meses e 20 dias depois, durante briga num bar de Joivile, SC, a terra onde nasceu no ano de 1942.
Eu o entrevistei (foto acima) no Manicômio Judiciário do Estado de São Paulo, o Juqueri, 15 anos antes de ele ser solto.
A entrevista foi publicada na revista Polícia Magazine, Ano I, nº 8.
João Acácio começou falando:
- Vivi a vida enquanto pude, não me arrependo de nada do que fiz ou deixei de fazer. Sou passado, não gosto de falar do passado. O que passou, passou.
A primeira pergunta que lhe fiz foi esta:
- E sobre o Bandido da Luz Vermelha, o que é que diz?
Ele:
- Nada. Ele também passou. O Bandido da Luz Vermelha morreu numa câmara de gás, logo depois que o prenderam lá em Curitiba. Agora eu sou santo, autor da Bíblia Sagrada e defensor da Nação. E ai de quem não acreditar no que digo!
Ao fim da entrevista, ele me deu uma carta escrita à mão pedindo que eu a entregasse ao general-presidente João Baptista Figueiredo.
A toada Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, foi gravada originalmente por Luiz Gonzaga no dia 3 de março de 1947 e, no formato de disco de 78 RPM, lançada ao mercado dois meses depois pelo esquema publicitário da extinta RCA Victor.
Dessa gravação participaram Canhoto, no cavaquinho; Dino, no violão 7 cordas; Carlos Poyares, na flauta; Zequinha, no triângulo e agogô; e Catamilho, na zabumba.
Não confundir o Canhoto a quem me refiro, de batismo Waldiro Frederico Tramontano (1908-87), com o violonista Canhoto da Paraíba (Francisco Soares de Araújo; 1925-2008).
Dino e o próprio Canhoto, chamado de Canhoto do Cavaco, faziam parte do Regional de Benedito Lacerda, criado no começo dos anos de 1930 com o nome de Gente do Morro.
O regional de Benedito acabou e Canhoto o assumiu, levando Dino e Meira, que não participou da gravação de Asa Branca.
Em 1950 e em 1952, Luiz Gonzaga regravou Asa Branca.
Depois ele faria outras quatro ou cinco regravações, um delas no ritmo de forró.
Coube ao Trio Melodia o registro da 2ª gravação de Asa Branca, para a extinta Continental.
Esse trio era formado por Paulo Tapajós, Albertinho Fortuna e Nuno Roland.
A 3ª gravação dessa toada foi feita pelo flautista Altamiro Carrilho, que anos depois viria a gravar em estúdio com o próprio Rei do Baião.
Exatos 60 depois da 1ª gravação, eu e a produtora cultural Andrea Lago reunimos um grupo de artistas na paulistana Praça da Sé para lembrar a data.
Entre os artistas que atenderam ao nosso chamado marcaram presença a rainha do forró Anastácia e a cantora do grupo Bicho de Pé, Janaína Pereira; os poetas Moreira de Acopiara e Marco Haurélio, os brincantes Valdeck de Garanhuns e Costa Senna; o violonista Roberto Di Mello, Cacá Lopes, Nininho de Uauá, Joel Marques, Carlos Randall, a Banda de Pífanos de Caruaru o Trios Sabiá.
Os jornais qualificaram os artistas presentes de “pelotão de choque cultural contra a mesmice e a burrice nacionais” (foto acima, Jornal da Tarde, SP).
Como previsto, na ocasião lancei literalmente à praça o livro Dicionário Gonzagueano, de A a Z (foto abaixo, de Darlan Ferreira).
Foi uma festa e tanto!
Um casal de retirantes, dois filhos e uma cachorra.
São esses os principais personagens da obra-prima Vidas Secas, do alagoano Graciliano Ramos.
Essa obra começou a ser escrita num quarto de pensão no Rio de Janeiro primeiro na forma de conto para o jornal argentino La Prensa, em 1937, de acordo com carta do autor a sua mulher Heloisa de Medeiros Ramos, datada de 13 de maio daquele ano.
Depois, virou romance.
A história é triste, mas muito bem construída.
Porém ao contrário de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, Vidas Secas não encontrou guarida imediata junto à crítica e público ao ser lançado em 1938.
A primeira edição, de 1.000 exemplares, demorou dez anos para se esgotar.
Só depois desse tempo a história, que tem por personagens Fabiano, Sinhá Vitória, os filhos Maior e Menor e a cachorra Baleia, passou a cair na graça dos comuns leitores e dos literatos tarimbados e de renome, tornando-se um clássico inquestionável do romance regionalista, cujo ciclo se iniciou com a publicação de A Bagaceira, de José Américo de Almeida, em 1928.
É vasta a bibliografia que tem por tema a seca.
A obra de José Américo, um político que chegou a ministro da Viação e Obras Públicas de Getúlio Vargas entre 1935 e 1937, senador em 1947 e governador do seu Estado em 1950, tem por base a tragédia da falta de chuvas na região nordestina no período de 1898 e 1915, como, aliás, mais uma vez se repete desde o Rio Grande do Norte à Bahia.
Ah! Sim.
Acho que Baleia tem a ver com mãe.
Lewi o livro e saiba porque digo isso.
MÃE
Conta-se que no seu leito de morte o poeta paraibano Augusto dos Anjos, autor da obra-prima Eu, após abençoar os filhos Glória e Guilherme, ainda encontrou forças para dizer que mandassem as suas lágrimas à mãe, dona Mocinha.
O dia chegou trazendo frio e assobiando forte, como querendo tirar da cama, antes do tempo, a população guardada debaixo dos lençóis.
Mas não é disso que quero hoje falar falar.
Quero falar de um escritor incrível e de um livro fantástico na forma e conteúdo como foi escrito.
Foi num mês outonal como este, maio, em 1952, que esse o romancista e diplomata mineiro de Cordisburgo iniciou viagem que resultaria numa obra-prima.
Essa obra tem por título Grande Sertão: Veredas, cujos principais personagens são Riobaldo e Diadorim.
Riobaldo é sertanejo forte e valente que não aceita desfeita e passa página a página em narrativa com um interlocutor invisível.
Mas ele quer morte, vingar o chefe e amigo Joca Ramiro traído por um certo Hermógenes.
Diadorim, órfão de Ramiro, é companheiro de Riobaldo nessa empreitada.
Nas páginas finais, há um grande duelo.
Após o duelo, sangrento e trágico, um grande segredo é revelado.
Que segredo será esse?
O que acontece com Riobaldo, encerra a carreira de vingador frustrado?
Um livrão, enfim, é o que Grande Sertão:Veredas.
Leiam-no ou releiam-no, valerá a pena o tempo a isso dedicado.
O autor é João Guimarães Rosa, primeiro de vários filhos da dona de casa Chiquitinha e do comerciante e caçador de onça dos sertões das Gerais, seu Fulô.
Grande Sertão: Veredas, dedicado à dona Aracy, mulher do autor, foi lançado à praça, com sucesso entrondoso, em 1956.
Dona Aracy faleceu no dia 3 de março de 2011, com pouco mais de 100 anos.
Antes de morrer, porém, ela foi reconhecida como heroína da guerra contra o nazismo, por salvar centenas de judeus na Alemanha, em cujo território viveu por uns tempos - antes e durante a eclosão da 2ª Grande Guerra - ao lado do marido, que era vice-cônsul do Brasil no país-berço de Hitler.
Clique abaixo para ouvir uma narração que fiz nos estúdios da Rádio Globo, em São Paulo.
Nova tragédia humana e social está abalando a vida nordestina.
Até o Maranhão, que estava fora do chamado Polígono das Secas, agora está sendo atingido.
Dos 1.794 municípios da região, quase o total dos 1.989 do semiárido, está sem chuvas.
Só no sertão da Bahia, não chove há um ano e tanto.
A previsão de água das nuvens no solo ardente de lá é setembro.
Tragédia das brabas, meu senhor e senhora; catástrofe real silenciada pela maioria dos meios de comunicação.
São curtas e de minutos as notícias que saem aqui e ali, pois feiura - dizem especialistas - não vende jornal e nem dá audiência.
Enquanto isso, o povo sofre os males na terra provocados pela falta d´água.
A primeira notícia de seca no território nordestino data de 1583 e durou cerca de dois anos, obrigando índios a deixarem o sul da Bahia em busca de abrigo, água e comida junto aos fazendeiros.
Entre 1692 e 1693, a seca levou a peste à Capitania de Pernambuco.
Muitos mortos, índios principalmente.
Em 1709 e nos dois anos seguintes foi a vez de o Maranhão sentir na pele os horrores da seca.
O Ceará e o Rio Grande do Norte foram atingidos violentamente pela falta d´água em 1720 e 1721.
Em 1932, enquanto São Paulo lutava por uma nova Constituição, o Estado do Ceará era praticamente dizimado pela seca. Nesse ano, o poeta popular Patativa do Assaré compôs A Morte de Nanã, um poema capaz de arrepiar o mais insensível dos seres.
Entre 1951 e 1953, o sol sem chuva queimou quase tudo que se bulia no sertão do Nordeste.
Porém, talvez a mais grave e prolongada de todas as secas na região tenha ocorrido entre 1979 e 1984, quando morreram 3,5 milhões de pessoas, a maioria crianças.
À época havia 62% de crianças de 0 a 5 anos sofrendo de desnutrição aguda no Nordeste, segundo a Unesco.
Mas a seca é cíclica, por isso previsível.
E se é previsível dá pra acabar com ela, não dá?
Enquanto isso, os escândalos políticos-financeiros se sucedem...
O novo caso - e isso ainda dá Ibope - tem como estrela o anapolino Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, que começou a ser mirado pelos holofotes do horário nobre em 2004.
É chuá demais, não é?
Som de Letras é um dos melhores programas de rádio do Brasil.
Apresentado pelo compositor, instrumentista e maestro paulistano Lívio Tragtenberg, o programa vai ao ar uma vez por semana pela Rádio MEC FM, 98,9 Mhz.
Vale a pena ouvi-lo.
No último dia 19, Lívio, artisticamente um dos mais nervosos criadores de boa música de São Paulo e do País, abordou uma de nossas produções concretizada na forma de CD (reprodução da capa, acima): Inéditos de Capitão furtado e Téo Azevedo, levada à praça em 2008.
Sem dúvida esse é um disco bonito e histórico, que contou com a participação de artistas importantíssimos da vida musical do Brasil, como Inezita Barroso e Tinoco.
Aliás, aquela foi a última vez que Tinoco, da dupla Tonico e Tinoco, participou da gravação de um disco.
Vamos conferir Som de Letras, com a abordagem de Lívio Tragtenberg sobre música caipira e preservação da memória?
Clique:
Conheci o professor Flávio Vespasiano di Giorgi de um aperto de mão, ao ser apresentado por minha companheira Andrea Lago, sua ex-aluna no Colégio Santa Cruz.
Faz uns três anos, talvez quatro, que isso ocorreu numa rua do Alto Pinheiros, zona oeste da capital paulista.
Ele não me pareceu ter a idade que tinha e meia dúzia de palavras selou nosso encontro, o suficiente, porém, para saber que eu estava diante de um grande homem, culto, poliglota, de muitas histórias e amado pelos alunos.
Falava e lia em 17 línguas.
Chegou a ser preso, cassado e processado em 1964, por causa de suas ideias contrárias ao sistema político vigente.
Agora nesta tarde fria de Outono leio na Folha, à página C5, notícia sobre o seu desaparecimento.
O título diz tudo: "Popular professsor de cultura geral".
Ele parte aos 79 anos, vítima de falência de órgãos.
Com isso o Brasil, intelectualmente, está ficando mais pobre.
SOCIALISMO
O socialismo volta ao poder após 17 anos, na França. E agora? Embolou o campo. François Hollande tem mais afinidades com nossa Dilma do que com a Angela dos alemães, especialmente no tocante a questões da zona do Euro. A Grécia não fez governo nas últimas eleições. Obama que se cuide. E por aí vai correndo água rio abaixo.
Pois é, deu no que deu: tiros, prisões e morte na Virada Cultural 2012.
Eu disse no texto anterior que cultura não é porre e nem overdose.
A morte registrada nessa Virada foi de uma adolescente, provocada por uma overdose de cocaína, segundo as primeiras informações.
Ela estava sem documentos e com coca no bolso.
Bom, sem comentários.
Mas o fato é que tudo demais é muito, não é?
Também no item referente à cultura, claro.
Imagino que a verba aplicada na programação se não é astronômica, beira perto.
No correr do ano todo, os artistas – e nem falo dos artistas de rua – comem no dia seguinte o feijão com arroz que ao menos deveriam comer na véspera.
Por que 24 horas de artes, se dá pra mostrar arte de maneira natural todos os dias, hein?
É certo que todos não vêm tudo da programação das Viradas.
Não está na hora de rever isso?
Deu gosto ver o Santos jogar hoje contra o Guarani no Pacaembu, horas e pouco atrás.
Verdade que no primeiro tempo, sobrou pisadas de bola.
E meio lento foi o jogo, no 1º tempo.
Neymar faminto pela redonda, corria e corria pelo campo feito doido.
Um gênio é esse menino da pelota, profissional.
E a redonda o evitando.
Houve momentos que esperei mais do Ganso, um de seus companheiros.
Mas Ganso não deslanchava.
Até que nos últimos minutos do 1º tempo, aconteceu.
Pimba!
Ele, Ganso, 1 x 0 na rede.
Iniciado o 2º tempo, alegria para os santistas e não santistas que gostam de bons jogos; jogos que nos levam a estar de bem com a vida, esportivamente falando.
E aí Neymar fez o que sabe fazer: gols.
Fez a rede adversária tremer duas vezes.
As arquibandas endoidaram, urras mil.
Ao fim, 3 x 0 para o Santos.
Uma coisa: Neymar tem o que só os grandes têm: o hábito de trabalhar com afinco e honestamente, pois o talento em si não basta.
E ele Neymar, me dizem, treina até quando recebe autorização do técnico para ir a baladas.
Mas o seu divertimento é brincar com a bola; aprender com ela, seu principal instrumento de êxito.
Lição: na vida, é preciso treinar sempre para melhor viver.
Pois, pois.
E o caso Luiz Gonzaga na Virada Cultural, hein?
Ontem à noite tirei pra bater pernas por aí, pra ver a tal da Virada.
Encontrei o seresteiro Roberto Luna, o rei do bolero.
Grande artista.
O texto do Nêumanne sobre Gonzaga, na Pan, e no Caderno 2+Música do Estadão, replicado aqui, levou pessoas a dizer que eu sei tudo de Luiz Gonzaga etc. e tal.
Não nego, imodestamente.
Sei muito a seu respeito.
E do Brasil, da nossa cultura popular.
Tem sido a vida inteira aprendendo, com a pretenção de ensinar.
Luis da Câmara Cascudo foi meu mestre.
Frequentei a sua casa e bebi da sua fonte, com gosto.
O Almanaque do jornal Folha de S.Paulo guardou isso, inclusive uma entrevista que fiz com ele, no final dos 70.
É só acessar o site da Folha.
Meu novo livro (Luiz Gonzaga, o Divisor de Águas da Música Brasileira), em dois volumes, e ainda sem editor, pretende mostrar toda a grandeza de Gonzaga na história da nossa música.
Mas aí na tal Virada o esqueceram.
Por que, hein?
E este 2012 é o ano do seu centenário de nascimento!
Repito o que disse ontem: isso precisa de esclarcimento público, da parte dos organizadores do evento.
Será que há mal intensão, discriminação em não levarem a obra de Luiz Gonzaga ao público paulistano nessa tal Virada Cultural?
No último dia 30 fiz palestra sobre ele, o Rei do Baião, em Corumbá, Mato Grosso do Sul (clique, acima).
Ora, ora, e a primeira vez que Luiz Gonzaga foi chamado de rei do baião foi aqui, em São Paulo.
Numa boa?
Não gostei da Virada Cultural 2012.
Cultura é coisa séria.
Não é porre, não é overdose de milhões de coisas identificadas ou assim chamadas de cultura.
Cultura é outra coisa.
Sobre isso, lembro: há uns anos fui convidado a encerrar um seminário no Congresso Nacional.
Aproveitei para dizer da necessidade de a nossa cultura musical votar às escolas.
Projeto a respeito foi apresentado por Roseana Sarney e aprovado.
Agora, me dizem: falta professor nas escolas para ensinar música, folclore...
Há uns anos tambpém conseguimos aprovar no Congresso Nacional, através da deputada Luiza Erundina, o Dia Nacional do Forró.
Levei pau.
Nova pergunta: por que os organizadores da tal Virada não mostra a cultura real do Nordeste?
O Nordeste em São Pualo é representado por mais de 4 milhões de pessoas.
Luna, um nordestino de Serraria, PB, ficou famoso como o Rei do Bolero.
Interessante, não é?
O Nordeste deu grandes presidentes na nossa República.
O primeiro, inclusive.
Depois outros e outros.
E Roberto Luna não sabia da exposição Roteiro Musical da Cidade de São Paulo, no Sesc Santana desde o dia 25 de janeiro.
Ok. Nenhum jornal publicou reportagem sobre isso.
Ele ficou sabendo indo comigo lá.
Peter Alouche, egipcio naturalizado, engenheiro, professor, poliglota, autor da toada São Paulo de Todos Nós, com o cantador Téo Azevedo, chegou de repente e juntos fomos passear pela exposição, chamada de instalação por ser multimídia etc. e tal..
O registro de nós três é este, feito por Andrea Lago:
...Peço licença ao truliso
Dos olbos das periférias
Dos chuás das pontilíneas
Dos chomotós das matérias
Das grotas dos veluais
Das mimosas deletérias.
Viva o poeta paraibano Zé Limeira!
E o grande Luiz Gonzaga!
Os versos acima, de uma sextilha, são de Zé Limeira, chamado de surrealista por seu biógrafo, Orlando Tejo.
Lembro Limeira, lembro o Rei do Baião (foto acima, tomando cerveja comigo num ano dos 70).
Certa vez perguntei a Luiz Gonzaga se conhecera ou ouvira falar de Zé Limeira.
Disse que não, nem uma coisa nem outra.
Então aproveitei para lhe falar do mote limeiriano No Dia Q´eu me Zangar/Mato Você de Carinho.
Ele adorou e disse:
- Dá baião.
Não deu, mas deu um gostoso arrasta-pé feito por ele e por seu parceiro mais frequente, João Silva.
Além de música o mote deu título a seu último LP, lançado em 1989.
Bem, eu mesmo não ia dizer nada hoje sobre Luiz Gonzaga.
Já falei e escrevi tanto a seu respeito.
Enfim, eu estava quieto, quietinho no meu canto, só uburuservando a vida, quando chegou email com mais um texto brilhante e inteligente do mais observador e ferino escrevinhador do Brasil: José Nêumanne Pinto, dizendo ora, ora, por que cargas d´águas o Rei do Baião não foi lembrado na Virada Cultural que se inicia logo mais na hora do Angelus, isto é, às 18?
Nêumanne mostrou num desabafo a sua profunda decepção e irritação.
Impossível não aplaudir Nêumanne.
Aliás, faço minhas as palavras dele (leia abaixo; texto, publicado originalmente à página D7 do Caderno 2+Música do jornal O Estado de S.Paulo, edição de hoje).
Intrigado, também me pergunto:
- Por que esqueceram de programar algo para lembrar o Rei do Baião na Virada Cultural, hein?
Essa incrível falta de sensibilidade e respeito por um dos gênios da música brasileira merece uma explicação pública da parte dos organizadores da Virada.
Será que o caso tem a ver com discriminação?
Uma vez, pelo fato de ser negro e nordestino, Gonzaga foi barrado à entrada da rádio Gazeta.
Mas a sua obra e importância do conhecimento de todo mundo.
Já andei batendo pernas mundo a fora em busca de músicas do Rei do Baião noutras línguas.
E achei em França, Portugal, Argentina...
Gravaram músicas suas a portuguesinha Carmen Miranda, em Hollywood; Peeg Lee, Dizzy Gislepie - criador do bebop, junto com Charles Parker - e outros e outros na Itália, Alemanha e e até na Ilha de Páscoa na língua lá deles, o rapa nui.
Nos anos 50 foi aprovada uma lei no Congresso argentino para impedir o baião por lá.
Motivo?
Os argentinos só queriam ouvir baião.
Agora querem nos impedir de ouvir a sua obra.
É danado isso, não é?
O texto-desabafo de José Nêumanne foi publicado hoje no Caderno 2+Música do jornal O Estado de S.Paulo.
Nêumanne também aproveitou os microfones da rádio Jovem Pan para protestar contra a insensibilidade dos programadores da Virada Cultural.
Leiam seu texto, este:l
"Os organizadores da Virada Cultural deram a maior bola fora da história da promoção ao se esquecerem da efeméride de música brasileira mais importante do ano: o centenário de Luiz Gonzaga, seu Lua, o Rei do Baião, nascido em Exu, no sertão do Araripe, Pernambuco.
Gonzagão não era apenas o compositor de clássicos do cancioneiro popular, como Asa Branca, só para citar o exemplo do maior de todos. Nem somente o intérprete singular que transportou o sertão nordestino para a programação do rádio e da televisão no Sudeste Maravilha. Sua relevância transcende a essas constatações por dois motivos.
O primeiro deles é que fundou a música regional nordestina. No dia em que resolveu o problema prático do transporte de seus acompanhantes no próprio automóvel para economizar o aluguel de um ônibus reduzindo o instrumental à sanfona que ele tocava, ao zabumba que dava o ritmo e à ajuda de um triângulo, criou um gênero, uma modalidade. E agendou no calendário nacional de festas populares a tradição de festejar as noites de São João e São Pedro com ritmos dos ermos sertanejos, tais como o xaxado dos cangaceiros de Lampião, o forró dançado nos terreiros de terra batida, o rojão do duplo sentido e o baião, que ele inventou com a cumplicidade de Humberto Teixeira, outro gênio esquecido. Se o filho do sanfoneiro Januário e de dona Santana não tivesse descoberto que o triângulo de metal percutido por uma vareta usado pelos vendedores de cavaco chinês na rua complementava a pegada do zabumba, Campina Grande, Caruaru e hoje praticamente o Nordeste inteiro não teriam adicionado a suas fontes de renda os festejos juninos.
Sem ele, sanfoneiros e cantores que se apresentam em arraiais juninos não ganhariam a vida com o suor de sua arte. Os sanfoneiros Dominguinhos e Flávio José, os intérpretes Jackson do Pandeiro, Genival Lacerda, Marinês, Elba Ramalho, Santana Cantador e Alcimar Monteiro e compositores como Antônio Barros e Cecéu, Maciel Filho, Onildo Almeida e Patativa do Assaré são filhos profissionais de Gonzagão.
A importância de Gonzaga no show business brasileiro só se compara com a da geração de sambistas da Época de Ouro dos anos 30 do século passado – Noel Rosa, Assis Valente, Ary Barroso, Cartola e Sinhô, entre tantos outros – inventaram o maior espetáculo do mundo, o samba carioca. E, um decênio depois, o sucesso do baião transportou os ecos da caatinga para os estúdios de emissoras de rádio e televisão e gravadoras.
Este sucesso lhe deu majestade e o tornou o grande símbolo da diáspora nordestina. Todas as gerações de autores e intérpretes originários do Nordeste – Manezinho Araújo, Zé Ramalho, Fagner, Alceu Valença, Geraldinho Azevedo, Caetano Veloso e Gilberto Gil, só para citar os exemplos mais óbvios – beberam na obra dele para produzirem a deles.
É, pois, signo de burrice e insensibilidade privar São Paulo, a maior cidade nordestina do mundo, de lembrar a voz que trouxe os aboios das quebradas para as esquinas de concreto. Uma virada sem Gonzaga não é paulistana de verdade".
Os paulistas descendentes de espanhóis Tonico e Tinoco, de batismo João e José Perez, o primeiro da safra de 1917 e o segundo de 1920, morreram.
Tonico, no dia 13 de agosto de 1994; e Tinoco hoje de madrugada, vítima de parada cardíaca.
Tonico e Tinoco formaram uma das mais preciosas duplas sertanejas do Brasil, no sentido mais completo do termo.
Eram autênticos no compor, no falar e no cantar.
Deixaram quase 170 discos de 78 RPM e 90 LPs gravados, além de compactos simples e duplos às dezenas.
O primeiro disco de 78 RPM que eles gravaram, para a Continental, trouxe o cateretê Em Vez de me Agradecer, de Ariowaldo Pires, Jaime Martins e Aimoré, do lado A; do lado B, a moda Salada Internacional, do referido Pires, mais Palmeira e Piraci.
Essas duas músicas foram gravadas no dia 8 de abril de 1944 e lançadas em julho do ano seguinte.
Curiosidade: na gravação da primeira música, a voz possante de Tinoco arrebentou o microfone. Por causa disso, faltou pouco para os dois serem mandados embora por começarem a dar “prejuízo”, segundo alguém da direção da gravadora.
O primeiro LP da dupla a ir à praça intitulou-se Tonico e Tinoco com Suas Modas Sertanejas, em 1958, pela já referida e extinta Continental.
Tonico e Tinoco foram descobertos pelo compositor tieteense Ariowaldo Pires, chamado de Capitão Furtado.
A maioria das músicas gravadas pela famosa dupla ganhou o formato de CD.
Conheci Tonico e Tinoco na segunda parte dos anos de 1970, quando os procurei para uma entrevista que
ocupou três páginas do suplemento dominical Folhetim, do paulistano Folha de S.Paulo.
Depois, publiquei muitos outros textos sobre ambos.
E até três discos deles nos formatos de LP e CD incluímos na coleção Som da Terra, da Warner/Continental em 1994, cujos textos de apresentação levaram a minha assinatura.
A última vez que encontrei Tinoco (no clique de Andrea Lago, acima) foi em 2008, num estúdio onde gravamos o CD Assis Ângelo Apresenta Inéditos de Capitão Furtado e Téo Azevedo, com sua participação e participação de Inezita Barroso, Moacir Franco, Muybo Cury, que também já partiu; Mococa & Paraiso e Rodrigo Mattos & Praiano, entre outros artistas.
A última homenagem a Tinoco - e seu irmão, Tonico - se acha na exposição Roteiro Musical da Cidade de São Paulo, instalada na Área de Convivência do Sesc Santana.
CORISCO
Quem também já se acha noutro plano de vida desde o último feriado é Waldemar Marchetti, no meio musical conehcido por Corisco. Seu principal instrumento era o pandeiro. Gravou poucos discos, como Outro Show de Bossa, com Os Sambaloucos (Philips, na reprodução da capa abaixo), e integrou grupos dos maestros Silvio Mazzuca, Totó, Pocho e Léo Peracchi, ex-professor de Tom Jobim. Preferiu a carreira de empresário da música. Para isso, fundou a editora musical Arlequim. Fazem parte da sua história Chico Buarque, Hermeto Pascoal, Paulo Vanzolini, Paulinho Nogueira, Paulinho da Viola, Zé Kétti, Tom Zé, Tim Maia, Milton Nascimento, Jorge Bem, Caetano, Belchior, Toquinho, Vinicius e Garoto, entre outros. Uma vez eu lhe disse que estava às voltas com uma pesquisa sobre músicas de autores brasileiros gravadas noutras línguas. De pronto ele chamou um de seus sócios, Juvenal Fernandes, já desaparecido, e autorizou que fizesse uma busca nos arquivos da editora. Dias depois recebi em casa alguns compactos com músicas de brasileiros vertidas para outros idiomas. Mas ele era um personagem polêmico. A missa de 7º Dia em sua memória será celebrada amanhã, às 15h30, na Igreja Nossa Senhora de Fátima, à Rua Barão da Passagem, 971, Vila Leopoldina.
Aconteceu. É pra valer: a presidente Dilma Rousseff acaba de xamegar assinatura em documento reconhecendo a importância do padre Landell de Moura como inventor do rádio, no Brasil.
Nacionalmente reconhecido, agora falta ser internacionalmente reconhecido como o primeiro inventor a obter êxito na até então incrível façanha de transmitir a voz humana através de radioemissão e telefonia por rádio, sem fio.
O caminho que o trouxe até aqui foi longo e tortuoso e muita gente boa se envolveu nesse processo de reconhecimento. A primeira pessoa a apostar anessa história foi o ex-senador Sérgio Zambiasi. Depois outras, como o criador do newsletter Jornalistas&Cia, Eduardo Ribeiro; e o biógrafo Hamilton Almeida.
O que importa é que Landell de Moura foi reconhecido como herói e o seu nome agora se acha no Panteão dos Heróis da Pátria.
Mas uma nova escalada começa.
Segundo Eduardo Ribeiro o desafio é levar o nome do padre aos livros didáticos, para que as novas gerações possam saber quem ele foi.
O brasileiro Roberto Landell de Moura nasceu no dia 21 de janeiro de 1861 e morreu de forma natural na mesma cidade em que nasceu, Porto Alegre, no dia 30 de junho de 1928.
Suas experiências bem-sucedidas em torno da invenção do rádio ocorreram na capital paulista, entre a Aenida Paulista e a Rua Voluntários da Pátria, numa área livre da Capela de Santa Cruz, no Alto de Santana, no ano de 1900.
Detalhe: no dia 16 de julho de 1899, o jornal A Provincia de São Paulo, hoje O Estado de S.Paulo, anunciava em letras graúdas a notícia de um teste de telefonia sem fio (facsimile acima) do inventor gaúcho.
Fica o registro.
SERRA DO RAMALHO
A população da pequena Serra do Ramalho, à oeste da Bahia, foi surpreendida hoje, mais uma vez, por um grupo de assaltantes que invadiu a agência do Banco do Brasil. Por causa desse assalto, a cidade pode perder a agência. Quem deve estar mujito triste com isso é o meu amigo cordelista Marco Haurélio, a mais importante personalidade da região.
PINTURA MAIS CARA
A obra O Grito, do pintor norueguês Edvard Munch (1863-1944), se tornou hoje a mais cara do mundo, em todos os tempos. Foi arrematada hoje em leilão da Sotheby´s em Nova Iorque por cerca de R$ 230 milhões. Detalhe: a obra leiloada é a 4ª versão do mesmo quadro. Sei não, mas eu começo a pensar que não deveria ter deixada para trás a minha acanhada carreira de pintor, hein Miguel dos Santos? Hahahaha. Viva a arte!
Dia 1º está chegando, do Trabalho.
O Sesc Belenzinho anuncia Vandré e Taiguara.
Vandré tá por cá, Taiguara tá por lá.
Que coisa!
De um jeito, dá pra pensar que ambos estarão juntos.
Não, impossível.
Marketing.
Importante é anunciar, o resto é resto.
Parece que o Sesc assumiu isso.
Isso por isso.
Ingressos esgotados.
Importa.
Eu agora, em horas poucas, estarei indo a Corumbá, MS.
Vou falar de Vandré e Taiguara; mas, principalmente, de Luiz Gonzaga, rei do baião.
Gonzaga é raiz, é marco.
Há 100 anos ele nasceu.
Mas dele 1000 anos se falará.
Viva o Brasil!
Vi reportagem ontem no Globo Repórter sobre lixões.
Antes, acessei capítulos da novela Avenida Brasil.
Uma coisa a ver com outra, não?
No começo dos 70 - vejam -, fiz reportagem sobre esse assunto publicada no jornal pessoense O Norte (ao lado, chamada de 1ª página), hoje desativado.
O assunto é tão ontem como cantar de galo.
A Globo tinha, por isso mesmo, que dizer e mostrar mais.
História.
E nem falou da Carolina tão importante que mestre Audálio Dantas descobriu catando a vida no lixo coisas jogadas fora no Canindé de tempos idos.
Tão importante foi ela - e ele- que mereceu reportagens em grandes páginas de boa parte do mundo, incluindo a Time.
Alguém pode, porém, perguntar: mas ela não era lixão, do lixão.
Ok.
Ela, Carolina Maria de Jesus, catava a vida como catam todos que catam coisas jogadas fora para viver.
Audálio orientou.
Carolina fez livro (Quarto de Despejo) e ele fez publicar.
O poeta Manuel Bandeira elogiou, emocionado.
E tantos Brasil e mundo a fora.
Por que, então, a Plim, Plim não falou ontem de Carolina Maria de Jesus e Audálio Dantas, hein?
Não seria demais, é certo, porque, aliás, em 1983, a mesma Plim Plim fez um Caso Verdade inesquecível, enfocando a vida e consequências de Carolina Maria de Jesus.
A atriz Ruth de Souza interpetou Carolina, com uma verdade tanta como se fosse Carolina.
Repetir nem sempre é redundâcia.
Memória quando se quer é lembrança.
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A semana foi movimentada, com a seca torrando o Nordeste e Cachoeira fazendo torrentes de sacanagens Brasil a fora. Se brincar, o senador Demóstenes sairá dessa historia como vítima e pedindo indenização por perdas e danos ou sei lá o quê.
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Patético: o governador Marconi Perillo pedindo investigação contra si própio.
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E o senador Aécio Neves, hein, defendendo em texto na Folha a necessidade de o Brasil privatizar o Brasil. O que dizer ou comentar? Arrisco:
- Para nós, Kafka; para os tucanos, óbvio.
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Essa idea da reforma do Código Florestal sempre me deixou com uma orelha de pé.
Não, as duas orelhas.
Do jeito que foi aprovado, vai sobrar, mesmo, pra os pequenos das ribeirinhas.
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Claro, Cacareco e as eleições de primeiro turno na França têm tudo a ver.
Ou vocês acham que devem ser levados a sério os votos para a extrema direita de lá?
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Esta semana que finda li um dos melhores textos sobre respeito, cidadania e direito, assinado por Ives Gandra da Silva Martins, na Folha. Entendo cada vez mais a necessidade de ler Ives.
Um mestre.
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Não tenho como deixar de lembrar o incrível Paulo Francis, com quem trabalhei nos tempos da Folha.
Uma tarde, junto com o cartunista Fortuna e outros amigos, almoçamos num boteco (vejam: para os mortais comuns, uma coisa incomum se tratando de Francis).
Lendo hoje a Folha, umas das porradas de Francis foi anuncianda como chamaraiz do livro lançado com coisas que escreveu. Uma:
- Vejo que o pivete José Guilherme Merquior está avancando corajosamente de cara contra meu punho...
Paulo Francis é inteligência que está faltando no jornalismo, hoje.
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Tô indo palestrar amanhã sobre brasilidade em Corumbá.
O multiartista plástico pernambucano Miguel dos Santos, inquieto a toda hora, continua a mil. Isto é: aprontando arte de maneira incansável e provocando o mundo com seus seres e mitos fantásticos saídos de sua fertilíssima e privilegiada imaginação.
Seu espaço de criação é a oficina que mantém viva e em movimento constante num bairro da capital paraibana, onde mora desde 1960.
Eu o conheci nos tempos que ele ainda assinava seus quadros com o pseudônimo Maiko.
Chegamos a estudar juntos, na Divisão de Extensão Artística da Universidade Federal da Paraíba.
Bons tempos.
Tínhamos como professores, entre outros, o pintor João Câmara Filho e o xilogravador Samico.
Não aprendi nada, embora me sobrasse dedicação.
As bobagens que pintei levavam o pseudônimo de Di Angelus.
Depois adotei outros, uns 15.
Alguns Di Angelus ficaram perdidos n´algum lugar da memória e nas páginas dos jornais da terrinha.
Certa vez, por acaso, reconheci alguns deles pendurados à toa nas paredes do extinto diário O Norte.
Eu desconhecia em mim qualquer talento no campo das artes plásticas, por isso segui outro rumo e me firmei no ramo profissional do Jornalismo.
Como jornalista, cheguei a assinar artigos, reportagens e críticas de literatura e artes com esse pseudônimo.
Abaixo, na edição de 18 de novembro de 1973 do jornal Correio da Paraíba, uma amostra.
Miguel continuou desenvolvendo sua arte.
Uma arte estupenda, de personalidade própria, forte, inquieta, provocadora e bela.
É único no que faz, no Brasil ou fora do Brasil.
Para melhor se entender, Miguel fez diversos experimentos, transitando por expressões que ignorava.
Fez música; aprendeu a tocar piano, por exemplo.
E a fazer poesia, tanto que chegou a lançar um livro com um punhado delas.
Ainda insatisfeito, ele caminhou por mais veredas desconhecidas.
O resultado foi o acúmulo de experiência, saber e fôlego como ceramista e escultor.
Logo chamou a atenção de nomes consagrados para a sua arte, como Clarival do Prado Valadares, Walmir Ayala, Ariano Suassuna e Pietro Maria Bardi.
Bardi, aliás, o convidou em fins dos 70 para expor no Masp.
Convite aceito.
Os aplausos da critica coroaram a exposição.
E também não custou para seus quadros serem vistos no horário nobre por milhões de noveleiros da Globo.
Eles ilustravam ambientes das novelas.
Hoje sua obra é disputada por marchands e colecionadores do mundo todo, tanto que cada vez mais lhe tem sido missão impossível juntar quantidade suficiente de quadros, cerâmicas e esculturas para uma individual em galerias de São Paulo, Rio de Janeiro ou de qualquer outro lugar do País e do Exterior.
Agora ele está mergulhado na produção de painéis com relevo (acima), é o que me informam.
Ah! Sim, sei: elogiar a obra de Miguel dos Santos é lugar comum, redundância das brabas.
Hino é a reza de um povo, de um município, de um estado, de um país. E de uma agremiação esportiva também, como o Palmeiras, o Corinthians, o Flamengo ou o Treze Futebol Clune, de Campina Grande, PB.
Mas nem todos os municípios e até estados brasileiros têm um hino próprio, oficial.
O Estado de Minas Gerais, por exemplo, não tem; embora muitos considerem oficial a valsa Oh! Minas Gerais, cuja melodia foi extraída da canção napolitana Vieni Sul Mar, adaptada pelo mineiro De Morais e pelo pernambucano Manezinho Araújo, imortalizado como Rei da Embolada.
Minas, porém, é o Estado que maior número de municípios tem no seu mapa: 853.
Em 2º lugar vem o Estado de São Paulo, com 645, seguidos do Rio Grande do Sul, com 496 e a Bahia, com 417.
Roraima, cuja capital é Boa Vista, ao norte do País, tem no seu território o menor número de municípios dentre todas as demais unidades da Federação: 15.
Itirapina, cidade a 214 quilômetros da capital paulista, com 564,2 km² e pouco mais de 14 mil habitantes, acaba de ganhar o seu símbolo musical oficial composto pelo itirapinense Antonio Marques Jr. e pelo capitão músico José Leitão Sobrinho.
Antonio Marques Jr., filho de Antonio Augusto Marques e Beatriz de Jesus Marques, era músico profissional e autor de choros, polcas, baiões, valsas e marchas. Nasceu no dia 16 de fevereiro de 1916, de acordo com alguns documentos; e de acordo com outros, no dia 5 de novembro de 1912. Nos anos de 1930, ele integrou com seu violino o Grupo dos Caipiras ao lado de Antonio Ribeiro (cavaquinho) e José Laurindo (violão) e o Trio Seresta, junto com Ramires (cavaquinho) e Laurindo (violão).
Marques Jr., desaparecido no dia 5 de março de 1999, foi, sem dúvida, o artista que mais cantou Itirapina.
É dele, por exemplo, Luar de Itirapina, Recordações de Itirapina, Dobrado Itirapinense e Saudades de Itirapina.
Até para Itaquiri, único distrito de Itirapina, Marques Jr. compôs: Serenata em Itaquiri.
O Hino de de Itirapina (partitura acima) agora vai ganhar gravação em CD, para distribuição nas escolas e entidades culturais do Estado. Na foto abaixo, o Trio Seresta.
Nem Lionel Messi, nem Cristiano Ronaldo.
O Baça caiu ontem, diante do Chelsea.
O Real Madrid caiu hoje, diante do Bayern.
Nos pênaltis.
Mas foi um jogaço, com direito a muitas emoções!
Os merengues caíram diante dos bávaros, na batida dos pênaltis.
Agora, a final pela Liga dos Campeões será na Alemanha, no próximo dia 19, como desejava o Bayern.
A vitória do Chelsea contra o Barça de Messi, ontem, deveu-se ao gol de bomba, golaço, do brasileiro Ramires que o técnico da seleção Mano Menezes ignora, sabe-se lá – e cá – por quê!
A vitória do Bayern contra o Real Madrid deveu-se à falha do brasileiro Kaká, que perdeu um gol ao se sair mal na batida de pênalti.
Esperemos a final, contra os ingleses.
A vida continua.
Enquanto isso, o Corinthians continua sua escalada pela Libertadores.
Agora está na 27ª posição, atrás do seu rival nas Oitavas, o Sport Emelec.
O Coringão também está atrás do Cruzeiro, Palmeiras e Grêmio.
Mas isso não o impede de perder mais um campeonato, diz maliciosa a torcida contrária.
Eu, hein!
LIBERTADORES
- Hoje à noite a TV transmite Bolivar x Santos, ao vivo, pela Libertadores, naturalmente. Depois de Messi e Cristiano Ronaldo, tem Neymar? Veremos no decorrer do jogo. Mas se Neymar não brilhar na partida, voltemos os olhos e inteligência aos times de várzea, que técnico nenhum tem dado bola, sem trocadilho...
Pois é, se até o Corinthians perdeu para a Ponte, por que o Barça não poderia perder como perdeu, hoje, para o Chelsea, hein?
Elementar, meus caros.
E se sabemos que a terra é redonda e gira ela em torno do sol, por que nós, tolos humanos, nos espantamos tanto com cosas tan pequeñas?
Somos, enfim, o quê?
Passageiros, turistas da vida?
Não queremos problemas, mas eles vêm.
Não queremos dores, mas elas vêm.
Não queremos tantas coisas que não nos interessa, mas elas vêm.
O desafio é sair inteiro dos problemas, das dores, de tantas coisas que nos machucam.
Há dúvidas que os torcedores do Corinthians sofreram com a eliminação do Timão, no Paulistão?
Há dúvidas que os torcedores do Barcelona estão sofrendo com a eliminação do seu time da Liga dos Campeões?
Mas tudo na vida passa, disse um dia o filósofo dos corações machucados, Nélson Ned:
"... E nada fica, nada ficará
Só se encontra a felicidade
Quando se entrega o coração...".
Os tempos de ontem, hoje, são outros.
Isto é, o presente é passado...
E tudo passa muito rapidamente, numa fração de segundos.
Assim, num piscar d´olhos...
Viu?
Acalmemo-nos, pois.
Estamos no Outono, hahaha; e a Lua é Nova até domingo, quando farei palestra sobre o Lua em Corumbá, Mato Grosso do Sul.
Novos campeonatos recomeçarão amanhã.
E a razão da vida é: vivê-la.
Então...
Sob qualquer aspecto, de argumento, roteiro ou traço, é uma obra-prima a história em quadrinhos Av. Paulista (ao lado, reprodução da capa) do craque do ramo Luiz Gê, que acaba de chegar à praça em brochura de 88 páginas coloridas, impressa pela Geográfica em couché reflex da Suzano, no formato 21x27 e chancelada pela editora especializada, a Quadrinhos na Cia.
A obra abre com um texto assinado pelo autor sobre suas lembranças dos tempos de menino na capital de São Paulo, onde nasceu e se profissionalizou primeiro como arquiteto formado pela USP.
O cenário de suas memórias expressas na obra, para melhor compreensão do leitor, é a Paulista velha de guerra há muito símbolo e cartão postal da Paulicéia de que falava o poeta, romancista e estudioso da nossa cultura Mário de Andrade.
Gê recorda passagens interessantes nas suas idas e vindas à escola, depois à faculdade.
Conta do início de sua carreira como estudante e quadrinista, das dificuldades de publicar suas primeiras histórias, das revistas que ajudou a criar, como a Balão; da sua passagem pela Folha como cartunista e de outros momentos valiosos que sua memória guardou ora como coadjuvante, ora como personagem de destaque na vida paulistana.
A São Paulo tão cantada e decantada é relíquia que há muito ele registra em quadrinhos.
Outros contaram de formas diversas, até pela via da música, a história da cidade e também da avenida, cuja extensão é de quase três quilômetros, em linha reta.
Só com seu nome como título, há uma dezena.
E outras com variações, como Canção da Avenida Paulista, de Mário Albanese e Geraldo Vidigal, gravada por Inezita Barroso e Agnaldo Rayol em 1991.
Por fim, Gê conta como se deu a iniciativa de roteirizar e desenhar Av. Paulista que há duas décadas ganhou as páginas de uma edição especial da Revista Goodyear, hoje sem dúvida raro exemplar de colecionador.
Gê remete o leitor desde pouco antes de a famosa avenida ser inagurada no dia 5 de dezembro de 1891, quando ainda era servida por uma linha de bonde e sua iluminação era mais do que precária.
Para contar essa história, o artista mergulhou fundo em pesquisas históricas e iconográficas.
Teve acesso a documentos importantes e visitou ambientes de acesso restrito ao público, além de entrevistar síndicos da região e outras pessoas.
E assim surgiu a Av. Paulista, uma mistura do real com a ficção.
A própria vida é uma mistura disso.
Só que o olhar e o talento de Luiz Gê captam isso tudo de maneira perfeita e muito rapidamente.
Os textos muito bem escritos que entremeiam a história são detalhes preciosos à parte.
Gê traz às páginas o que o olho comum aparentemente não ver.
Mas mais do que falar dele é ler as suas histórias, a começar por Av. Paulista.
Boa leitura a todos.
Viva Gê!
A propósito, o amigo aí já foi ver a exposição Roteiro Musical da Cidade de São Paulo, instalada no Sesc Santana. Então, vá. Valerá a apena, garanto. Uma amostra, num clique:
Um mês depois da entrada oficial do outono, só agora, pra valer, essa estação começa a dar a cara.
Primeiro, foi ontem.
Clima ameno, tranquilo, de vento frio e garoa.
Repetido hoje.
Nesse tempo, a gente fica com cara de bobo.
Imangens esquecidas nos tornam à mente.
Lembramos de coisas, de histórias.
Parece que ouço, lá longe, o Alceu cantando o belíssimo poema do seu conterrâneo pernambucano, Pena Filho.
Aquele que fala de chopp, de mesa em bar.
Lá vem o refrão que não saiu da memória, este:
São trinta copos de chopp,
São trinta homens sentados,
Trezentos desejos presos,
Trinta mil sonhos frustrados...
Olhei para o teto, para os lados, desliguei da vitrola Gonzaga cantando Asa Branca, enfiei a roupa no corpo e decidi bater pernas em direção a um shopping.
Eu estava com fome e o lugar estava entupido de gente de todo tipo e idade.
Não gosto de shopping, mas fui.
Antes, a avenida que me levou ao tal, a Angélica, era uma confusão só: totalmente engarrafada, uma chuvinha persistente caindo, o frio pegando e buzinas enlouquecedoras dos automóveis não paravam.
Ensurdecedor.
Começo da tarde.
O taxista me diz o óbvio: é assim mesmo, daqui a pouco não haverá espaço nas ruas pra ninguém; nem para pessoas, nem para carros.
Já não há nem nos fins de semana, retruquei.
Bati num restaurante de nome Japengo ou algo parecido.
A pedida era um rodízio de sabores japoneses.
Imaginem! Um rodízio de comida japonesa.
Onde vamos parar?
O ambiente era pequeno; metido a chic, de uns 100 m², se tanto.
E três televisores pregados na parede, ligados.
Uma tortura.
Os garçons devagar, pra lá e pra cá sem trajes próprios da profissão.
No balcão, os responsáveis pelo preparo das iguarias trabalhando sem luvas...
Agora, pela janela do meu apartamento, veja a noite chegar.
O jornal anuncia Corinthians x Ponte Preta.
Vou assistir e depois findar de ler a história em quadrinhos de mestre Luiz Gê, Av. Paulista.
Ao contrário do sertanejo Elomar, eternamente recluso nas barrancas do Rio Gavião, na Bahia, e que detesta a Internet, o cantor, compositor, arranjador e maestro Jorge Mello, também cordelista e repentista autodefinido como trovador eletrônico, do Piauí, começa, aos poucos, a se mostrar com categoria no Youtube, postando entrevistas que ao longo do tempo concedeu a diversos apresentadores de TV, entre os quais Rolando Boldrin, Jô Soares, Ney Galvão, Inezita Barroso e até Jair Rodrigues, o mais que perfeito intérprete da moda de viola Disparada, da dupla Théo-Vandré.
A entrevista que ele deu a Jô, eu lembro bem.
Até uma fita VHS com ela, eu tenho guardada.
Ele quem me deu, à época.
Ainda não havia Internet e nem as facilidades e encantos de um toca DVD, pois também não havia DVD.
Quase todas as perguntas do apresentador, Jorge respondeu em versos, como, aliás, também o faria anos depois o poeta cearense Patativa do Assaré.
No caso de Patativa, pra fazer bonito Jô decorou uma estrofe em sextilhas, acho, e daí não saiu.
Foi ótima a performance de Patativa, toda de improviso, como ótima foi a performance de Jorge Mello, ao Jô.
Jorge deu uma aula de conhecimentos, mostrando o que sabia a respeito do repentismo que herdamos dos portugueses, que herdaram dos mouros...
Vale a pena ver. É só clicar:
Aos olhos do mundo o Brasil vai bem, obrigado.
Nossa economia de mercado livre e exportador ocupa hoje o 6º lugar no ranking entre os melhores países, segundo o FMI; ou o 7º, segundo o Banco Mundial.
Nosso PIB nominal é da ordem de US$ 2,48 trilhões ou R$ 4,14 trilhões.
Não é pouca coisa.
O diacho se acha no campo da educação e da cultura.
No item educação, estamos muito longe de alcançarmos os primeiros lugares no ranking que a mede.
No item cultura, estamos ainda no ponto em ponto morto, ao Deus-dará.
A cultura, pelos chamados caminhos do incentivo, ainda recebe migalhas.
Lamentável, se pensamos que a cultura é o que melhor identifica uma nação.
No item condições de vida, então...
Um em cada grupo de dez pessoas no Brasil vive em péssimas condições, na pobreza máxima.
No total, mais de 16 milhões de brasileiros come no dia a dia o pão que o diabo amassou.
E o que se vê na TV aberta ou a cabo?
Bobagens, bobagens mil.
E ainda vem o cidadão Ratinho falando como falou no seu programa do SBT, noite dessa, que é preciso investir na educação.
Falou o óbvio; e como e onde ele falou isso, soou mais do que falso.
Ratinho, Faustão, Gugu e outros televisivos contribuem enormemente para o emburrecimento do País, ou não?
Por outro lado, a rede pública de televisão da Fundação Padre Anchieta, que deveria primar pela programação que leva ao ar, está, como se vê, em franco processo de sucateamento.
Socorro!
A rádio USP, também pública, ainda apresenta aos ouvintes alguma coisa que presta, embora a sua grade de apresentação sofra a falta de apresentadores.
No fundo, a rádio USP é um grande “vitrolão”, ou seja: grosso modo, toca música sem apresentadores.
Parodiando Lobato, eu diria: Uma nação se forma com educação, cultura e respeito.
E pensar que até a Colômbia já superou o Brasil no propósito de implantar pelo menos uma biblioteca em cada município...
A defasagem brasileira nesse campo é grande, pois nos faltam bibliotecas em pelo menos 400 cidades, das 5.565.
Um governo que não prioriza o seu povo está fadado à globalização, no sentido mais triste do termo, é ou não é?
SESC
Danilo Miranda, diretor regional do SESC, à Folha de S.Paulo quinta passada:
“O Sesc se firmou por ter um foco muito objetivo, de oferecer cultura para todos. E cultura não é só arte, espetáculo e patrimônio. Tem a ver com valores, ética e estética, com a construção de uma sociedade ancorada na educação contínua e permanente”. Aliás, vocês já foram ver a exposição Roteiro Musical da Cidade de São Paulo, instalada no Sesc, sob minha curadoria? Acho que vale a pena. E leve os amigos, parentes e aderentes. Nesse caso os vizinhos, namorados e namoradas, também. Estudantes de idades diversas em caravanas; universitários, doutores, jornalistas, poetas, escritores e artistas têm ido. Vá e depois me conte o que achou.
ECAD
CPI formada pelo Senado para investigar o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição de direitos autorais no campo musical deve apresentar obviedades, como formação de cartel, apropriação indébita e sonegação fiscal. E com os infratores, o que deverá ocorrer?
CPI
O Congresso anuncia a formação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar a lambança do bicheiro Cachoeira, que a Globo chama de empresário. Tapem as narinas, porque a catinga pode se espalhar ainda mais do que já se espalhou. Um chuá de porcarias se avizinha.
LUIZ GONZAGA
Pipocam em todo o País homenagens a Luiz Gonzaga, em nome do seu centenário de nascimento. Muito justo, mas aguardo novidades em torno da obra do criador do baião.
BRASIL
Claro, continuo acreditando piamente que o Brasil viverá bons tempos comigo ainda por cá.
Eu vou revelar uma coisa.
Uma coisa que, de certo modo, passou em branco a mim.
Eu sou displicente.
Uma coisa simples quero dizer, bonita, como são as coisas simples.
Um dia, eu quis gravar algo do Guimarães Rosa, um mestre reinventor da nossa língua como o cantador repentista Zé Limeira.
A primeira página do Grande Sertão: Veredas, eu queria gravar.
Gravei.
De uma tomada só, sem repetição.
Ou eu estava inspirado, que é uma bobagem isso, ou eu estava tomado do Rosa, que para as sensibilidades não é e nunca será novidade.
E aí saiu.
Acho até que ficou bonito o texto que interpretei da primeira página de Grande Sertão.
Uma das minhas filhas, Clarissa, caçula, linda, disse que adorou o que gravei; tanto que prometeu fazer, digamos, uma ilustração para o áudio que ouviu.
Surpresa pra mim: incrível!
E só hoje, imperdoável, eu vi/ouvi o que ela fez.
Confiram clicando abaixo o texto A Seca Volta a Arder no Nordeste.
Uma leitura expressa por João Duarte, filho, em O Sertão e o Centro, de 1939 (Livraria José Olympio
Editora), começa assim:
“O sertão era o Nordeste. Sertão brasileiro que só se entremostrava, antigamente, nas eternas lamentações contra as secas, contra o êxodo eterno dos homens magros, das mulheres esqueléticas, dos meninos famintos, de todas aquelas populações desgraçadas, fazendo fila nas estradas poeirentas, como se fossem uma centopeia humana; o sertão era o Nordeste que somente aparecia no resto do Brasil para fornecer homens para a guerra, para encher efetivos policiais estaduais e de batalhões de marinha, para pedir auxílios que não se davam e que morriam, como o sertanejo, nos exercícios findos dos orçamentos. O sertão era o sol e a falta d´água...”
O Nordeste tem muito mais a dar, mas o rádio e a televisão, os jornais e as revistas de hoje não falam disso.
Por que, hein?
Ficamos por cá.
Só agora notei que o texto que acabo de postar, abaixo, é o de nº 500.
500!
Dizem que jornalista é o cidadão que acha que sabe de tudo, mas na verdade não sabe de nada.
Isso, aliás, já dizia o anteniense Sócrates, na velha Grécia:
- Sei que nada sei.
Pois bem, mesmo nada sabendo, no correr dos dias tenho postado textos nos quais informo e opino.
Do mal da omissão não morrerei.
O primeiro texto que publiquei neste blog, no dia 1º de abril de 2009, foi sobre Vanja Orico, atriz e cantora de renome internacional, nascida no Rio de Janeiro, onde mora até hoje.
Com ela me apresentei no Sesc Consolação, para uma plateia seleta e atenta.
Depois e depois falei sobre a música de São Paulo, de Paulo Vanzolini, Luiz Gonzaga, Inezita Barroso, Altamiro Carrilho, Oliveira de Panelas, Rolando Boldrin, Vital Farias, Xangai, Elomar, Costa Senna, Celia & Celma, José Antônio Severo, Patativa do Assaré, Roniwalter Jatobá, Lula, Osvaldinho da Cuíca, Lampião, Miguel dos Santos; do choro, do samba etc.
Escrevi comentários sobre artes plásticas, cinema, política, futebol, televisão, romance e romancistas, poesia e poetas, jornalistas e teatrólogos.
De tudo um pouco eu tenho falado.
Do bem e do mau.
Elogiei quando tive de elogiar um livro, um disco, um filme.
E vamos que vamos!
Você já foi visitar a exposição Roteiro Musical da Cidade de São Paulo, no Sesc Santana?
Então, vá.
A seca d´água continua vitimando gente e bicho em parte do Nordeste.
Centenas de municípios do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas estão hoje com estados de emergência decretados.
A Bahia é a região mais atingida, junto com o Piauí.
Mais de 4 milhões de pessoas estão sofrendo com essa seca, já vista como uma das maiores do século.
A seca tem provocado também centenas de focos de incêndio Nordeste afora.
Para amenizar o problema, o governo federal tem liberado alguns recursos.
Por que não extinguir o problema?
Só não há solução para a morte...
Do século 19, a maior estiagem ocorreu em 1877.
O Ceará foi o Estado mais atingido.
Pelo menos 500 mil pessoas morreram, na ocasião.
O imperador Dom Pedro chorou pitangas e foi pessoalmente à área da tragédia. Depois do que viu, prometeu vender até “a última joia da Coroa”.
Promessa não cumprida.
E as tragédias se sucederam.
As maiores do século 20 se localizaram também no Nordeste, entre 1934 e 1936; e 1979, que se prolongou até 1981.
Antes, em 1932, houve uma grandona no Ceará que dizimou muita gente.
Essa inspirou o poeta Patativa do Assaré a compor a canção A Morte de Nanã.
Patativa também se inspiraria em 1981, quando compôs Seca D´água, com melodia de Chico Buarque e outros artistas que engrossaram um coral de quase 140 vozes num disco posto no mercado via Caixa Econômica Federal, cuja renda foi toda revertida às vítimas.
Mas o problema continua.
Até quando?
Em abril de 1962, o governo brasileiro conseguiu dos Estados Unidos um empréstimo de US$ 131 milhões para ajudar no combate à seca do Nordeste.
O dinheiro acabou e a seca continua.
Em 1953, Luiz Gonzaga e Zé Dantas compuseram Vozes da Seca, que Gonzaga gravou. A letra diz:
Seu doutô os nordestinos
Têm muita gratidão
Pelo auxílio dos sulistas
Nessa seca do sertão
Mas doutô uma esmola
A um homem qui é são
Ou lhe mata de vergonha
Ou vicia o cidadão...
O tema seca está na música, nas artes plásticas, no cinema, na TV, no teatro, na literatura, em todo canto e lugar.
Zé Lins e Guimarães Rosa deixaram obras-primas.
Clique para ouvir um trecho da obra-prima Grande Sertão: Veredas, que gravei nos estúdios da Rádio Globo, há alguns anos: