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domingo, 9 de agosto de 2015

TEM PAI QUE É MÃE



Há pais que são mães
E mães que são pais
Registra a história
Desde os tempos coloniais

Na Babilônia um menino
Na argila desenhou
A imagem do seu pai
A figura que mais amou

O simbolismo do menino
Entre nós permanece
Multiplicando a esperança
No amor que fortalece

Neste 2º domingo de agosto, países como a Argentina, Itália e Rússia, além do Brasil, comemoram o dia de todo pai, inclusive eu.
A referência à Babilônia dos versos que teci acima, tem razão de ser. Mas foi há uns dois mil anos depois que, na América do Norte, um cara ficou viúvo e com a incumbência de criar seus seis pimpolhos, entre os quais uma donzela que ao virar adulta reconheceu a dura tarefa de criar filhos. A garota confeccionou algo como um cartão e nele escreveu palavras de elogio ao pai, lembrando que ele ao cria-la e aos seus irmãos desenvolveu também a função da mãe.
A ideia dessa jovem levou outros filhos a parabenizar o pai num dia do mês de junho.
Isso, ali pela 1ª década do século passado.
Em 1972, o Presidente norte-americano Richard Nixon oficializou a data e o mercado de consumo aplaudiu.
Pelo menos nisso, ficamos à frente dos gringos do Norte.
No Brasil, o Dia dos Pais está fazendo 60 anos.
O meu pai se chamava Severino e a minha mãe, Maria. 

O meu pai e a minha mãe
Me criaram com carinho
Ensinando a respeitar
Quem cruzasse o meu caminho   












sexta-feira, 7 de agosto de 2015

PAUTAS E BOMBAS DO CAPETA

Agosto chegou faz uma semana trazendo no bojo alegria, lembranças de tristezas, como o dia da morte da portuguesinha-brasileira Carmem Miranda; as bombas que destruíram Hiroshima e Nagasaki matando cerca de 200  mil pessoas e provocando o fim da guerra mais sangrenta da história, que foi deflagrada em 1939 e finda há  70 anos e da qual também participou o Brasil.
Essa guerra encontrou no Brasil o ditador gaúcho Getúlio Vargas. Dessa guerra, além da memória, sobrou a Canção do Expedicionário, do poeta Guilherme de Almeida e do maestro Spartaco Rossi.
Vargas suicidou-se com um tiro no peito na madrugada de 24 de agosto de 1954. Sete anos depois, no dia 25 de agosto, o mato-grossense Jânio Quadros, depois de um porre, cometeu outro tresloucado gesto: renunciou à Presidência da República, deixando órfãos mais de seis milhões de almas que nele acreditavam.
A República Velha, a República Nova e essa que eu não sei se é Velha, Nova ou Novíssima, tem nos trazido, desde 1889, surpresas às mais diversas.
O que poderá vir por aí, hein?
Ontem, o vice-presidente Michel Temer, com a voz engasgada e um tanto trêmula, pediu apoio e compreensão dos seus colegas de legenda (PMDB), Eduardo Cunha e Renan Calheiros, presidentes respectivamente da Câmara e do Senado.
Na ocasião, disse que “é preciso que alguém tenha capacidade de reunificar a todos, de reunir a todos...”.
Quem será esse “alguém”, o próprio Temer?
Pois é, é bomba pra todo lado: em Hiroshima, Nagasaki; nos anos de 1970 cartas-bomba, e hoje pautas-bomba na Câmara, com gatilhos acionados para explodir a qualquer momento.
Sim, é grave o momento!
O PT abandonou seu Dirceu e os partidos de base do governo estão também dando no pé ou abandonando o barco como fazem os ratos.
Eu conheço essa história.
Não é hora de dona Dilma debruçar-se na leitura da história e da história tirar ensinamentos?
Getúlio suicidou-se, Janio renunciou... 


quinta-feira, 6 de agosto de 2015

HOJE TEM PAPO DE VIOLA NA VILA

Eu convido vocês para uma conversa sobre cultura popular em que a viola é o destaque. Estarei lá, logo mais às 20 horas, no auditório da Livraria da Vila, para o lançamento do livro Conversa de Violeiro, do violeiro Chico Lobo e do escritor Fábio Sombra, e do CD Cantigas de Violeiro, de Chico Lobo.

Segue o prefácio do livro Conversa de Violeiro


Livraria da Vila
Rua Fradique Coutinho, 915
Pinheiros, São Paulo
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UM PASSEIO PELO MUNDO DA VIOLA
Assis Ângelo

Como o forró, a moda de viola pode ser definida como um bisaco de cego, no qual se acham os mais diferentes badulaques. No caso, ritmos e gêneros musicais.
Em 1949, o rei do baião Luiz Gonzaga encontrou no seu conterrâneo José Dantas o parceiro que o ajudaria a dar forma musical ao forró.
Num ano que se perde na história, algo parecido aconteceu com a moda de viola.
O ritmo/gênero moda de viola passou a ser conhecido pelo público fora do campo, da roça, no começo do século passado, quando o brincante tieteense Cornélio Pires, com a ajuda de seu sobrinho Ariovaldo Pires, o Capitão Furtado, procurou o representante do extinto selo musical Columbia, no Brasil, Alberto Byington Jr..
A conversa entre Cornélio e o velho Byington foi, digamos, nada estimulante no primeiro momento para Cornélio.
A todo custo Cornélio tentava convencer o empresário a lançar discos com modas de viola. Num certo momento Cornélio perguntou quanto custava fazer um disco e levá-lo ao mercado. Era muito caro etc.. Para encurtar a história: Cornélio arrumou uma montanha de dinheiro e com ela convenceu Byington a lhe abrir as portas da gravadora.
E foi assim que, entre 1929 e comecinho de 1931, Cornélio Pires levou à praça a série de 52 discos de 78 voltas com seu próprio nome.
Pois bem, além de se transformar no primeiro produtor musical do Brasil, Cornélio Pires abriu veredas para os violeiros anônimos que com seus sons originais encantavam os ouvidos do povo nas tardes compridas dos fins de semana. Assim, desbravado o caminho, a moda de viola, incluindo toadas, cateretês etc., passou a ser apreciada por um público novo e ilustrado até então acostumado a ouvir Bahiano, Cadete, Eduardo das Neves e outros nomes cujas vozes que rodavam nos pesados gramofones, uma grande novidade da época.
Estamos falando dos primeiros anos do Século XX.
Em novembro de 1944, o Capitão Furtado entrava no estúdio da recém-criada Gravadora Continental – hoje extinta- para produzir o primeiro de uma longa série de discos da dupla Tonico e Tinoco, que ele acabara de descobrir e que se tornaria lendária entre nós.
Claro que anos antes muitos discos com modas de viola já haviam sido lançados ao comércio com grande sucesso e muitos autores e intérpretes viveram financeiramente bem com o que faziam.
Não dá para esquecer de Raul Torres, Florêncio, Serrinha, Rielinho, Carreirinho e tantos mais que em 1994 ganharam uma série própria: Som da Terra (Warner/Continental).
Muitas histórias permeiam o mundo da viola e dos violeiros.
No exterior, até hoje, todo instrumento que se parece com violão é comumente chamado de violão ou guitarra.
Das matas do Ceará, um dia, saíram os irmãos Mussaperê e Herundy.
Num ano qualquer os irmãos, ainda meninos, acharam um violão ou viola e com ela passaram a se entender musicalmente, e com este instrumento gravaram bem depois, em setembro de 1953, na velha Continental, o primeiro de muitos discos com o baião Tambor Índio e o galope Acara Cary, de autoria deles.
Mussaperê e Herundy, dois dos trinta filhos de um cacique, ficariam mundialmente famosos pelo nome de Índios Tabajaras.
Neste livro, o mineiro Chico Lobo e o carioca Fábio Sombra deixaram por instante as violas no canto da parede e mergulharam no universo caipira e de lá nos trazem informações valiosas de todo tipo sobre a viola e violeiros. Já no primeiro capítulo, Viola Caipira - Duas pequenas histórias, Lobo e Sombra falam de folclore e origens do instrumento. No último capítulo, Retirada, os autores se despedem do leitor com muita graça e alguma fantasia.
E tome história!
Constituído por 11 partes, o livro Conversa de Violeiro – Viola Caipira: tradição, mistérios e crenças de um instrumento com alma brasileira, escrito de forma bem natural conquista o leitor muito rapidamente, desde os primeiros parágrafos. É como se estivéssemos ouvindo a prosa e o ponteio dos autores. Saborosos são os causos e o modo como Sombra e Lobo nos apresentam as crenças, as simpatias, as curiosidades e tudo o mais que consta do rico, belo e agradável universo da cantoria dos violeiros do Brasil que ainda, e felizmente, se espalham por aí a fora.
No Rio Grande do Sul temos o trovador, equivalente ao cantador nordestino, que por sua vez tem também muito a ver com o cururueiro de São Paulo e o calangueiro de Minas Gerais.
O mundo do caipira ou do matuto, como se diz no nordeste é, sem dúvida, de grande riqueza. Nesse mundo cabe tudo, até o que não deveria caber: a mistura das cantigas de viola feitas de modo natural com a contaminação provocada por instrumentos eletrônicos, iniciada nos fins dos anos de 1960 por duplas como Léo Canhoto e Robertinho. Exemplos? Basta ligar o rádio.
A boa viola e o bom violeiro existem desde os tempos de antanho.
Ali pela virada do século XIX para o XX, em Canudos, BA, soldados matavam de dia os seguidores de Conselheiro e à noite, sob as insuspeitas estrelas do céu se transvestiam de violeiros, e pungentemente cantavam e tocavam em roda para afogar as mágoas, antes de virarem bicho com a cara cheia de cana.
A música, seja ela de que tipo for, existe em qualquer lugar; a partir, mesmo, do vento, do mar e até do coração humano, que bate em compasso binário.
A palavra “caipira” vem do tupi ka'apir ou kaa - pira, língua que o português Marquês de Pombal decidiu acabar, mas o que não acaba é a moda de viola representada por muitos ritmos e gêneros vindos da viola, que com sua magia inspira o tocador a expor suas alegrias e saudades.
Depois de Cornélio Pires e do musicólogo paulistano Mário de Andrade autor da obra-prima Viola Quebrada, a moda de viola como tal concebida nos primeiros registros fonográficos continua sendo apreciada cada vez mais por um público que se multiplica. Isso, não custa dizer, que se deve a iniciativas de artistas que marcaram presença entre nós: Tião Carreiro & Pardinho, Bambico (o Dourado da dupla Dourado & Douradinho), Zé do Rancho, Renato Andrade, Cacique & Pajé, Almir Sater, Ivan Vilela, Roberto Corrêa, Fernando Deghi, Tião do Carro, Téo Azevedo, Rodrigo Mattos, Helena Meirelles, Juliana Andrade e Inezita Barroso, por exemplo.
Inezita, que não tinha na viola o seu principal instrumento e sim o violão, deixou um legado muito importante.
Através do seu programa Viola Minha Viola (TV Cultura), que ficou no ar durante 35 anos ininterruptos, ela descobriu e incentivou nomes que o tempo confirmaria de real importância, como a dupla de mineiros Pena Branca & Xavantinho - e Bruna da Viola, sua última descoberta.
Antes de Inezita Barroso, não havia orquestras de violeiros como a de Mauá, Osasco, Campinas, etc.
O livro Conversa de Violeiro - Viola Caipira: tradição, mistérios e crenças de um instrumento com a alma do Brasil, é para ser lido num fôlego só, de preferência com um disco de Chico Lobo e Fábio Sombra tocando na sala.
E tenho dito!

Ah! Dizem as más línguas que violeiro é que aquele sujeito que passa metade do tempo cuidadosamente afinando sua viola e a outra metade tocando desafinado.


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quarta-feira, 5 de agosto de 2015

SEREMOS UM PAÍS SEM FUTURO?



Um País que não dá bola à educação e à cultura para no tempo, quando não volta ao tempo mais atrasado da Idade Média. Infelizmente, é o que se vê hoje no Brasil.
Particularmente, eu gostaria de saber qual o pensamento dos garotos e garotas nascidos nos últimos 13 anos, e dos jovens em geral. Se a programação do rádio e da televisão forem amostras disso estaremos perdidos.
Que futuro teremos, se o futuro for amanhã?
Há poucos dias, o editor potiguar José Cortêz voltou de um giro pelo nordeste. Contou-me de algumas surpresas que teve.
Em Acari, cidadezinha localizada a 201 quilômetros de Natal, ele contou que palestrara para estudantes. A surpresa que teve em Acari foi quando lhe disseram que a prefeitura local estava desenvolvendo um projeto pra lá de curioso: toda criança que nasce na cidade tem como padrinhos pessoas achegadas à leitura. Essas pessoas assumem o compromisso de presentear seus afilhados a cada aniversário, com livros, com boas leituras.
Interessante, não?
Tomara que esse projeto pegue.
Noutra cidade da região, São Tomé, a 101 quilômetros de Natal, Cortêz constatou um dos inúmeros absurdos do nosso “Brasil brasileiro”, como diria o compositor mineiro Ary Barroso.
Em São Tomé, Cortêz constatou que havia duas pontes construídas dentro do mato, com dinheiro público. Uma ligando à outra e outra ligando a canto nenhum, ou seja,  a-b-a-n-d-o-n-a-d-a-s.
Ainda no seu giro pelo Rio Grande do Norte, o editor proferiu palestra noutra cidade (São Miguel do Gostoso), incluindo um matador de aluguel e um traficante, presos e condenados, mas cumprindo pena em regime aberto. Os dois o ouviram por alguns minutos, viraram as costas e foram embora sem nada dizer.
E assim é o nosso País, e é assim que sucede nos grotões do nosso País.
A educação, não custa dizer, é a salvação da lavoura humana.
Sem educação e cultura nós, filhos do Brasil, estaremos todos perdidos; é o que se vê, aliás, no dia a dia do nosso Brasil brasileiro.
Meu Deus, até quando continuaremos cegos, perdidos no universo das crises e da falta de respeito ao próximo?
Não à toa, o cantor e compositor paraibano Geraldo Vandré, autor da pérola Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores (acima), continua de luto, recusando-se a cantar em público. Quer dizer, além de luto, ele permanece em greve por um País melhor. 

Assis Ângelo e Geraldo Vandré

terça-feira, 4 de agosto de 2015

DE CRISE, FADO E PORTUGAL

O Brasil anda em crise há mais de 500 anos. A primeira ocorreu com a invasão dos portugueses a partir da Costa da Bahia. Naturalmente, e como não poderia deixar de ser, as primeiras vítimas foram os primeiros habitantes do nosso País. E outras crises se seguiram, com a invasão dos holandeses, franceses, ingleses, espanhóis, norte-americanos... Os americanos do Norte aprontaram e aprontaram e continuam aprontando. 
Atualmente, nesta década e meia do terceiro milênio, as crises continuam a infernizar a vida de nós pobres mortais, “sem dinheiro no banco, sem parentes importantes...”. (Belchior)
Mas uma coisa curiosa: mesmo sufocados por crises seculares e contínuas, continuamos vivendo, abraçados à esperança...
E assim, temos motivos inúmeros para rirmos e choramos ao mesmo tempo.
Inegavelmente, somos um País rico de todas as formas: em dor, miséria, tristeza e tudo mais.
O poeta baiano Castro Alves dizia que a praça é do povo. Ele era, seguramente, um otimista imbatível em prosa e verso, um poeta incrível; enfim, um poeta da Paz e da Liberdade. Ele era um pouco de nós...
O Brasil é rico também na forma ou formas de criar, de fazer arte.
No comecinho dos anos de 1950, o rei do baião Luiz Gonzaga (1912/1989) e seu parceiro Humberto Teixeira (1915/1979), depois de gerarem duas dezenas de grande sucesso, como os baiões ‘Paraíba’ e ‘Asa Branca’, geraram também o fado-toada ‘Ai, Ai Portugal’, originalmente lançado à praça pela portuguesinha Estér de Abreu (1921/1997). E por falar em Luiz Gonzaga, não custa lembrar que domingo (2) fez 26 anos do seu desaparecimento entre nós. Nesse dia fui levado ao bairro paulistano do Caxingui , na zona Sul, para falar umas palavras a seu respeito e a respeito da cantora mineira Fatel Barbosa, que aniversariava nesse mesmo dia. E lá encontrei amigos como Luiz Wilson, Anastácia, Tio Joca, do Trio Sabiá, entre outros.
Pois bem, hoje é o Dia do Fado.

Os portugueses são uma parada, são ou não são?


sábado, 1 de agosto de 2015

O TREM MATOU E REMATOU O PEDRO DO CHICO

No texto poético-musical de Chico Buarque de Holanda, o personagem Pedro, operário da construção civil, é atropelado por um carro na contramão e morto. Quem dirigiu o carro que o atropelou, ninguém sabe. Esse detalhe não consta do texto poético-musical do Chico, mas é fato que a ficção e o fato caminham juntos no mundo inteiro e em todas as línguas.
 A ficção é tão forte quanto a realidade, no mundo todo e em todas as línguas.
O Pedro do Chico, que era pedreiro, morreu na contramão.
Morrer na contramão muitos Pedros morrem todos os dias, em todas as cidades e em todos os cantos.
Morrer na contramão é fato comum.
E morrer na linha do trem?
No texto poético-musical do Chico, o Pedro Pedreiro morreu atropelado por um carro, na urbe.
Nesses dias, na urbe carioca, como na urbe do Pedro, outro operário, Adílio, foi atravessar a linha do trem e por um trem foi atropelado e morto. E depois de morto, foi novamente morto pelo trem que vinha atrás do trem que o matou pela primeira vez.
Diante da ficção e da realidade pode-se concluir que não valemos nada;  sejamos nós corpos ficcionais ou reais.
O trem matou e “rematou” um cidadão e o Primeiro Ministro da Inglaterra, David Cameron, dizia que os imigrantes são um “enxame”.
Enxame é inseto.
Somos, enfim,  corpos que não valem nada para o Capitalismo.
O trem matou, e matou de novo, o trabalhador que atravessou a linha, que não vale nada. Não valemos nada. É isso?




sexta-feira, 31 de julho de 2015

CAIXA PRETA NO PETROLÃO

Tem um cara da nossa literatura, que eu gosto muito: Machado de Assis
A obra de Machado, especialmente seus contos, parece ser toda baseada na vida brasileira de seus personagens. De hoje, inclusive.
Baseado em supostos manuscritos beneditinos, o diabo certa vez, segundo lê-se num conto de Machado – A Igreja do Diabo –, decidiu disputar com Deus as atenções de todos os católicos e não-católicos, criando ele mesmo, o diabo, a sua igreja. Com essa decisão, o diabo mudaria seu modo de governar desde as trevas.
Assim, as virtudes teriam todas o seu teor invertido: a preguiça, a gula, a ira etc.; seriam transformadas em coisas que não prestam. O diabo também faria valer na sua igreja o fim de todos os direitos; o humanismo não teria sentido, o amor ao próximo seria totalmente destruído, o homem teria como positividade o “direito” de vender-se, incluindo o voto, a fé e a alma.
Aliás, vender a alma, é algo que os filhos do cão têm feito desde sempre.
Ouvindo a advogada Beatriz Catta Pretta, que em nome do medo e de seus filhos afirma ter renunciado ao exercício da própria profissão, fiquei de “queixo caído”.
Queixo caído é uma expressão que faz parte do rico tesouro da cultura popular.
Ao ouvi-la, lembrei-me também da desculpa esfarrapada do engraçado e perigoso Jânio Quadros que, ao renunciar a presidência da República, num 24 de agosto, atribuiu a sua decisão “às forças ocultas”.
Pois é, como nos contos do carioca Machado de Assis, há muita realidade dolorosa expressa na fala dos personagens que dilapidam o patrimônio nacional e pululam por aí no campo do real e do irreal, deixando-nos de pelos arrepiados. Enfim, “no céu e na terra há muitas coisas e mistérios além do que pensa a vã filosofia”.
A advogada Catta Pretta seria “caixa preta” do enésimo escândalo que rouba o sonho e a esperança de nós, pobres mortais brasileiros?

Esperemos, pois nada melhor do que um dia atrás do outro.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

QUEM SÃO OS BOBOS DA CORTE?

Atualmente, o astral do brasileiro está tão baixo quanto a popularidade da senhora presidente Dilma Rousseff que, aliás, se reunirá daqui a pouco com todos ou quase todos os governadores do País. A pauta é meio doida: trata de governabilidade e ajuste fiscal.
Vai sobrar de novo para nós, que ficamos sempre com a parte podre do poder.
Tudo no Brasil está pra baixo atualmente, inclusive a esperança que, dizem, é a última que morre; mas que, pelo trotar dos cavalinhos chucros, já está com a corda no pescoço e pedindo pelo amor de Deus que a salvem.
Sei não, mas cá com meus botões começo a pensar que dessa reunião não vai sair coelho e, se sair, será indigesto para nós pobres mortais comuns.
O que essa reunião de governadores vai dar mesmo é manchete de jornal, fotos e imagens em movimento para o noticiário de daqui a pouco, para amanhã e para os horários políticos para ilustrar as promessas da próxima campanha política que se avizinha.
O que tudo isso tem a ver com a cultura popular? Nada, a não ser que,  mais uma vez, precisa-se por os pingos nos is.
“Pingos nos is” é uma expressão que habita há séculos o imaginário popular, certo?
Só mais uma coisinha: o sistema que rege a República Federativa do Brasil é cruel por ser totalmente centralizador; daí o presidente – ou presidenta – estalar os dedos e, como num passe de mágica, ter a seu dispor, com os pires nas mãos, os principais administradores das unidades da Federação.

Em última instância, fico a pensar: serão os governadores bobos da corte? 

terça-feira, 28 de julho de 2015

O HOMEM DO CAMPO E MINHOCAS

Todo dia deveria ser o dia da terra, do homem e da agricultura.
Hoje é o dia da Agricultura, constante  do nosso calendário de datas comemorativas.
Da terra vem tudo de bom que nos alimenta, incluindo a fé e a esperança, pois sem esperança na vida não há fé no homem.
Todo dia deveria ser dia da lua , do sol, da terra e do homem.
Os antigos se baseavam na lua para tudo que fizessem na terra, desde a data certa para plantar e a data certa para colher.
A música tem a ver com o homem, a terra, a lua, o sol e tudo o mais que conhecemos e até desconhecemos. Por que não ?
Música é som, como o bater binário do nosso coração e certamente como o bater do  coração de todos os outros  animais.
O som esta no vento, que balança as árvores; na chuva que cai no chão, no relâmpago que anuncia o trovão, na garganta de divas como Dalva de Oliveira, Elis Regina, Carmélia Alves,  Inezita Barroso, Gal Costa, Elza Soares...
Na viola do cantador o bom som também se acha.
Como esquecer Renato Andrade, por exemplo.




Hoje é o dia do agricultar.
O homem do campo é tão importante desde sempre, que até o nosso Cornélio Pires não deixou de ver nele o braço encantado da natureza que cuida com sua sabedoria de plantar e colher.
O sal da terra é o calor do sol; e também o estrume e minhocas.
No Brasil há pelo menos duas mil espécies de minhoca, das quais apenas 350  devidamente catalogadas.
Pois é, minhoca é muito importante para dar vida a mãe terra.
Viva o homem do campo!




segunda-feira, 27 de julho de 2015

NO POÇO FUNDO...

Um dos mais importantes diários que tratam da economia do mundo, o Financial Times, publicou na semana passada um artigo intitulado Recessão e Corrupção: a Podridão Crescente no Brasil, que por si só diz tudo do que não gostaríamos que dissesse. Mas o diário da  terra da Rainha vai fundo no poço em que, no momento, o nosso país se afoga. É poço pior e mais profundo do que um mortal comum, como nós, possa imaginar. A água que se acha lá, bem no fundo, é lama como a que transformou a vida do gaúcho Getúlio Vargas que, acuado, acabou por dar um tiro no próprio peito na madrugada de 24 de agosto de 1954.
O mês do cachorro louco esta se aproximando
O que poderá ocorrer ainda de tão ruim para a vida brasileira?
Será que é ainda atual o Samba do Crioulo Doido, do gaiato  Stanislaw?







Sabemos que o Brasil é muito especial pical, um país abençoado por Deus e até cantado  por Jorge Bem.

sexta-feira, 24 de julho de 2015

THE ECONOMIST, VITAL E ARIANO


Do repertório dos violeiros Tião Carreiro & Pardinho consta uma bela composição que diz “a coisa tá feia... / a coisa da preta...” que, em parte, traduz o momento que nós – simples brasileiros – vivemos hoje.

A nova edição da revista britânica The Economist que está chegando às bancas traz reportagem em destaque que trata da corte planaltina. Diz a revista, em matéria assinada por seu correspondente no Brasil, que põe o vice-presidente Michel Temer, como “primeiro-ministro”.
Primeiro-ministro é figura principal do sistema parlamentarista. Não é o caso, mas a revista o coloca nessa posição por estar ele desenvolvendo, aparentemente, as funções que cabem à dona Dilma como “presidenta” da nossa capenga e judiada República Federativa do Brasil, criada pelos militares que ocuparam o poder após o movimento de botinas que resultou em 21 anos de tristeza, pancada e escuridão (1964-1985).  O título da reportagem, em tradução livre: “o poder por trás do trono”.
Vamos ver até onde isso vai dar, não é mesmo?
Na noite de segunda-feira passada, no palco da Sala São Paulo, o menestrel Vital Farias teceu algumas palavras elogiosas à minha pessoa. Que bom. Aliás, foi ele muitíssimo aplaudido ao interpretar, de sua autoria, a pérola musical A Saga da Amazônia, que está completando 36 anos de existência.
Vital é paraibano de Taperoá, do mesmo modo que foi o erudito brincante Ariano Suassuna.
Ariano, figura ímpar e inesquecível da vida cultural brasileira, nasceu no dia 16 de junho de 1927.
A ausência de Ariano entre nós dá uma saudade danada. Ele partiu rumo às estrelas no dia 23 de julho do ano passado. Ou seja: faz um ano e um dia, mas a impressão que se tem é que ele nos deixou há mais tempo, não é mesmo?
No Planalto, terra onde se planta nasce sempre um político safado, há um chafurdo danado. Lá ninguém se entende, tá tudo quebrado.
Certa vez, Ariano disse, entre sério e brincando, que morreria sim, mas os personagens que criou, não.
Tem muito João Grilo aprontando por aí, não tem mesmo?

Em Vital Farias e em Ariano Suassuna a esperança morou e fez festa. Não à toa, continua atualizadíssima a bela guarânia “Pra não dizer que não falei de flores”, de outro grande menestrel paraibano Geraldo Vandré. Ouçam: 



quinta-feira, 23 de julho de 2015

DE DILMA E AMÉLIAS

Crise política, crise econômica, crise institucional, crise de tudo. O Brasil tá frito, e de tabela nós todos, brasileiros.
Você sabe o que é superávit primário?
Superávit primário é uma espécie de caderneta de poupança, de reserva técnica, de caixa, de grana, enfim, para ser utilizada nos momentos necessários, difíceis, complicados, como o que estamos todos vivendo. Mas a irresponsabilidade dos dirigentes por nós escolhidos para por o cabresto nos problemas de ordem geral não o puseram, e o resultado é o que se vê: arrocho geral, pois, como sempre, nós contribuintes somos arrolados para tapar os rombos que se multiplicam e se alastram Brasil afora.
As contas do Governo estão mais furadas do que tábua de pirulito.
Gastou-se o que não se tinha, e quando se gasta o que não se tem o resultado é o que se vê: desgraceira geral no bolso de todos nós.
Isso, aliás, me lembra o personagem Honório da história A Carteira, dos contos fantásticos do fantástico Machado de Assis, que todos deveriam ler.
Nesse conto trata Machado de um advogado de 30 e poucos anos, que gasta o que não tem para satisfazer a mulher Amélia nas suas necessidades de integrante da classe média. Ele pede dinheiro emprestado a Deus e ao diabo para atender as vontades de sua amada e assim entra no buraco sem fundo das dívidas que se acumulam, até que acha uma carteira e aí cai noutro buraco, que é o da dúvida. Quase pira, e não vou contar mais porque é uma história que lembra a história dos gastos extraordinários feitos pela gerente da República Federativa do Brasil.
Há, sim! A Amélia de Machado, como a Dilma do Planalto, está muito longe da Amélia do samba de Ataulfo e Mário Lago.

Que pena? 


quarta-feira, 22 de julho de 2015

HADDAD, PETER E PETER



Amanhã, 23, completam-se dois anos da transferência do sanfoneiro Dominguinhos, da terra para o infinito. Pernambucano de Garanhuns, o primeiro e principal discípulo de Luiz Gonzaga, o rei do baião, foi uma pessoa de grande compreensão entre os homens. Era sensível, discreto e tinha gosto de ajudar quem o procurava. Mais ou menos como Gonzaga, com quem aprendeu todos os segredos e mistérios da sanfona. Ele levava muito a sério a máxima franciscana que diz “é dando que se recebe”. Gonzaga o ajudou em tudo. E numa situação mais difícil, Fagner também. E assim foi até que Deus o levou.
Dia desses, aqui em casa, seu colega de muitos baixos, Oswaldinho do Acordeon me disse que ele sofreu muito nos meses que antecederam sua morte. “Dominguinhos, com voz muito cansada, contou-me da sua tristeza de ter sido esquecido ainda em vida porque poucos foram os amigos que o visitaram. Ele me disse isso com profunda tristeza”.
Eu conheço essa história, a história do esquecimento em vida; o luto em vida.
Pois é, eu conheço essa história.
Mas não era de Dominguinhos que eu ia falar. Eu ia falar do presente de grego que o prefeito paulistano Fernando Haddad inventou de dar ao Papa Francisco, no Vaticano: o disco "Sobrevivendo no Inferno", dos Racionais MC's. Podia ter dado um CD de Dominguinhos ou de Gonzaga ou de Katya Teixeira ou de Renato Teixeira ou de Consuelo de Paula ou de Celia e Celma (acima), que, aliás, cantaram para ele na primeira vez que nos visitou, em Aparecida do Norte; ou, ainda, uma coletânea de músicas dos quatro cantos do Brasil e por que não o disco A paixão segundo Cristino, de autoria do paraibano Geraldo Vandré que conta a história da vida difícil do trabalhador brasileiro? Podia também ter dado o folheto de cordel Encontro no Metrô, de Pedro Nordestino/Peter Alouche (abaixo). Nesse folheto, o autor conta uma história muito bonita que tem Cristo como personagem. Mas, não, o prefeito paulistano decidiu dar de presente ao papa Francisco, um CD de rap, recheado de cabeludos palavrões etc.
Tomara que vocês que me leem não entendam que esteja eu, com estas palavras, mostrando qualquer tipo de discriminação musical, social, racial, religiosa, até porque já fui alvo desse tipo de coisa. E eu sei, dói. Portanto, longe de mim qualquer tipo de discriminação. Acho apenas que presente a um papa tem que ser de altíssimo nível, que mostre pelo menos parte da nossa tão rica e abrangente cultura. Particularmente, eu gosto dos Racionais.
Aliás, não é de hoje que o papa recebe presentes esquisitos e até grotescos, como o que o Presidente da Bolívia, Evo Morales lhe deu há poucos dias: um crucifixo com foice e martelo, o símbolo do Comunismo.
Eu li Marx e sabe o que eu acho dessa história da foice do martelo para o papa? O Marx do Capital não iria gostar desse chafurdo.

Você já imaginou o papa dançando rap?


terça-feira, 21 de julho de 2015

DE AMOR, CARINHO E TATI

"Eu sonhei que estava na minha terra, Taperoá, cantando para um público de 500 pessoas. O teatro estava lotado. Eu estava feliz. Cantando para 500 pessoas. Não de repente, uma pessoa saiu, outra pessoa saiu e outra pessoa saiu também. No total, umas dez pessoas saíram. E eu ainda estava a cantar. E não de repente continuei a cantar baixando a voz. As pessoas que saíram, saíram. As outras continuaram sentadas me ouvindo. De repente, notei que elas estavam dormindo. Foi quando entendi que cheguei ao auge como artista. Fiz 490 pessoas dormirem. E aí, quando notei isso, saí de fininho, pé ante pé para não acorda-las."

Foi mais ou menos isso que ouvi do meu amigo Vital Farias, quando me telefonou horas antes de subir ao palco da Sala São Paulo.
Ontem o dia me deu uma noite incrível.
Foi incrível porque reencontrei pessoas incríveis: Maria da Paz, Joceline, Avelima, Neumanne, Audálio, e tantos amigos. E o Guerrero ao meu lado, sempre atento, me levando ao coração dos meus amigos.
E aí foi tudo muto bonito. O Secretário da cultura, Marco Mendonça, dizendo o que tinha que dizer a respeito da cultura. Disse que foi quase tão difícil construir a Sala São Paulo, como convencer o Boldrin a fazer o programa Sr. Brasil.
Coisa de político.
O fato é que a noite foi super agradável, incrível.
E aí subiu ao palco o Brasil, que começou com Vital Farias e terminou com Geraldo Vandré.
Eu já disse que foi uma noite linda, marcante, para a história.
Foi uma noite incrível, a noite do dia 20 de julho na Sala São Paulo, que é uma jóia, da música de concerto do mundo.

Viva o Brasil! Viva a música popular brasileira no ambiente erudito!

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PARQUE DA ÁGUA BRANCA

Está claro, no sorriso da Tati que a vida é alegria.
Esse parque é um parque dos mais importantes da Cidade de São Paulo. Por todas as razões, incluindo a variedade de árvores e pássaros. Por esse parque, passaram pessoas incríveis da história, como Mário de Andrade e Inezita Barrozo. Esse parque tem história, história que é preservada e carinhosamente cuidada por uma pessoa incrível: Tati Fraga.
Tati Fraga nasceu com coração e asas de passarinho. Pois é, a gente vê a Tati e pensa que ela é mulher, simplesmente mulher, humana, maravilhosa. Poxa, a Tati é tudo isso e mais do que isso: é uma administradora pé no chão, voa com o pé no chão. Ela faz o que um peixe gostaria de fazer: viver fora d'água.

Pois é meus amigos, minhas amigas, domingo que vem, 26, eu convido vocês a irem bater palmas para Tati por uma razão simples: faz 5 anos que ela está à frente de um projeto incrível, que é mostrar a importância e beleza do Parque da Água Branca, num projeto muito especial: O Espaço de Leitura.

Foi nesse parque, foi nesse projeto, que a Tati Fraga apresentou Inezita Barrozo, frequentadora desse espaço a muito tempo.




segunda-feira, 20 de julho de 2015

FRIGIDEIRA, LEITURA E CALANGO

Certo dia, o Diabo resolveu fundar uma igreja.
Essa história, do carioca Machado Assis, me fez lembrar, não sei por quê, o nordestino Luiz Lulalá.
Na história, o Capeta se diz insatisfeito com tudo e vai até Deus falar de um projeto de fundação de uma igreja. De uma igreja dele, do Capeta.
Não sei por quê, continuo lembrando do Lulalá.
A Igreja do Diabo, este um dos títulos da série de Contos Fantásticos do genial Machado, trata da mudança que o Capiroto quis fazer na vida nossa cotidiana, que tem como símbolos ou regras os ditames do bom caminho. De cara, ele, o Fela, resolveu mudar as virtudes que tanto honramos para valores totalmente condenáveis, como a gula, a injúria, a luxúria, a preguiça, a inveja, a ira, etc.
A ira, por exemplo, o Sete Peles, como cita o Bahiano Riachão na música “Vai morar com o Diabo”, foi o que levou Homero a escrever Iliade, em que se destaca o furor de Ulysses, obra-prima traduzida para o português pelo meu querido Houaiss.
E não sei por quê, continuo achando que a Igreja do Diabo tem a ver com o Lulalá.
O Diabo fundou sua igreja que não levou a nada, está no conto do Machado.
No comecinho dos anos de 1930, o assassino suicida Adolf Hitler investiu-se de salvador da pátria a partir de um movimento de trabalhadores na velha Alemanha.
Eu digo sempre: ler é fundamental, nossos autores são incríveis.
Quem ler mais, sabe mais. E o Lobato já dizia: “Um país se faz com homens e livros”. E no século XVI, o inglês Francis Bacon já dizia que a leitura torna o homem um ser completo.
Pensando assim e lembrando de fatos e gentes, chego à conclusão que os luminares da nossa judiada república estão numa peinha e merecidamente, pulando miudinho feito calango na frigideira.
Janelas se abrirão em dias próximos, para o bem do Brasil.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

SEMPRE É TEMPO PRA LER E APRENDER...

Ler é sempre bom, mesmo!

As leituras substanciosas, com conteúdo, marcam para sempre.
O Lobato –quem não lembra?- dizia que “um país se faz com homens e livros”.
A leitura forma, informa, esclarece, acrescenta, muda e marca um tempo, uma sociedade.
Quem ler mais, sabe mais.
Francis Bacon dizia lá pelo século 16 que “a leitura faz do homem um ser completo”. E dizia também algo como a conversa nos prepara para a vida, para o descobrimento. Naturalmente, a conversa é um diálogo. Um fala, outro escuta, fala. E é por aí que tanto um quanto outro interlocutor se enriquece e enriquece as pessoas do entorno.
A conversa gera conhecimento.
Bacon também dizia que a escrita mostra o saber, a sabedoria de quem escreve.
Escrever é fácil ou difícil?
Eu sempre gostei de ler e muitas leituras, pelo menos parte delas, ficaram retidas na minha memória. Aliás, tudo é memória. A memória não retém o tempo, mas registra a história.
O amanhã é hoje, que vira ontem, passado, história; história que guarda tudo, tudo o que é memória, até o escárnio da escória.
Guardo comigo autores que me fizeram e me fazem o ser que sou, antenado, compreensivo, ciente da presença enriquecedora do outro.
Os clássicos, da música inclusive, estão aí, mais presentes do que nunca.
O livro, Grandes Sertões: Veredas, do Rosa, traz uma passagem que me remete à minha infância. É aquela em que Riobaldo antes da fase adulta é encaminhado por seu padrinho Selorico Mendes, a estudar no lugar chamado Curralinho porque não tinha queda para trabalhar no pesado. Uma hora ele conta que Mestre Lucas, seu professor, era rígido, grosso, e que dava de palmatória na molecada; nele, inclusive.
Eu também apanhei muito de palmatória. Mais: eu fui posto de joelhos em cima de caroços de milho. E com os braços abertos, diante da classe...
Sobrevivi.
Lembro essa historiazinha em homenagem ao 1º ano –completado esta semana- da lei federal que proíbe os pais, professores ou quem for a dar palmada nos seus pequenos, pupilos.   
Grande Sertão: Veredas está para completar 70 anos do seu lançamento.

Sem dúvida, ler é bom demais: informa e forma.


quarta-feira, 15 de julho de 2015

O MUNDO PEGANDO FOGO

Certa vez, o sanfoneiro Sivuca me contou que fizera parte de um trio musical chamado O Mundo Pegando Fogo. Desse grupo participavam, além dele, Hermeto Pascoal e seu irmão Zé Neto.
Hermeto é sanfoneiro e multitudo musical, como todo mundo sabe.
Zé Neto é pianista.
Por que lembro disso?
Simples: o mundo hoje, mais do que nunca, está pegando fogo. A Grécia, por exemplo, está numa enrascada de fazer dó. Dó de dor, não musical.
No Brasil vê-se o que se vê: o legislativo brigando com o judiciário e, no meio dessa briga, o governo impotente da dona Dilma, que, aliás, outro dia andou saudando a modo muito próprio, a nossa mandioca de sempre.
Por falar em mandioca, lembro que no belo livro Iracema, do cearense José de Alencar, há uma passagem em que a mandioca é citada.
Falei Iracema?
Pois bem, esse livro clássico, lançado a público em 1865, começa assim: “Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba. Verdes mares que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros. Serenai, verdes mares, alisai com doçura a vaga impetuosa para que o barco aventureiro, manso, resvale a flor das águas”.
É uma história muito bonita, de conteúdo indigenista, que trata, mesmo ficcionalmente, de um pouco da história dos primeiros habitantes desta terra. Pelas páginas deste livro se movimentam o guerreiro branco Martim e a “virgem dos lábios de mel” Iracema, ora de olhos verdes, azuis e negros como “as asas da graúna”.
É uma história que tem muito a ver com o Brasil. Inclusive no tocante à nossa cultura popular.
Você sabia que é de autoria do mesmo José de Alencar o romance também indigenista O Guarani, que virou tema da primeira ópera do paulista Antônio Carlos Gomes, estreada no Ala Scalla, de Milão, em 1870?
Ler é sempre bom.

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