Neste
2º domingo de agosto, países como a Argentina, Itália e Rússia, além do Brasil,
comemoram o dia de todo pai, inclusive eu.
A
referência à Babilônia dos versos que teci acima, tem razão de ser. Mas foi há
uns dois mil anos depois que, na América do Norte, um cara ficou viúvo e com a incumbência
de criar seus seis pimpolhos, entre os quais uma donzela que ao virar adulta reconheceu
a dura tarefa de criar filhos. A garota confeccionou algo como um cartão e nele
escreveu palavras de elogio ao pai, lembrando que ele ao cria-la e aos seus
irmãos desenvolveu também a função da mãe.
A
ideia dessa jovem levou outros filhos a parabenizar o pai num dia do mês de
junho.
Isso,
ali pela 1ª década do século passado.
Em
1972, o Presidente norte-americano Richard Nixon oficializou a data e o mercado
de consumo aplaudiu.
Pelo
menos nisso, ficamos à frente dos gringos do Norte.
No
Brasil, o Dia dos Pais está fazendo 60 anos.
O
meu pai se chamava Severino e a minha mãe, Maria.
Agosto chegou faz uma semana trazendo
no bojo alegria, lembranças de tristezas, como o dia da morte da
portuguesinha-brasileira Carmem Miranda; as bombas que destruíram Hiroshima e
Nagasaki matando cerca de 200 mil pessoas
e provocando o fim da guerra mais sangrenta da história, que foi deflagrada em
1939 e finda há 70 anos e da qual também
participou o Brasil.
Essa guerra encontrou no Brasil o
ditador gaúcho Getúlio Vargas. Dessa guerra, além da memória, sobrou a Canção do Expedicionário, do poeta
Guilherme de Almeida e do maestro Spartaco Rossi.
Vargas suicidou-se com um tiro no
peito na madrugada de 24 de agosto de 1954. Sete anos depois, no dia 25 de
agosto, o mato-grossense Jânio Quadros, depois de um porre, cometeu outro
tresloucado gesto: renunciou à Presidência da República, deixando órfãos mais
de seis milhões de almas que nele acreditavam.
A República Velha, a República Nova e
essa que eu não sei se é Velha, Nova ou Novíssima, tem nos trazido, desde 1889,
surpresas às mais diversas.
O que poderá vir por aí, hein?
Ontem, o vice-presidente Michel Temer,
com a voz engasgada e um tanto trêmula, pediu apoio e compreensão dos seus
colegas de legenda (PMDB), Eduardo Cunha e Renan Calheiros, presidentes
respectivamente da Câmara e do Senado.
Na ocasião, disse que “é
preciso que alguém tenha capacidade de reunificar a todos, de reunir a
todos...”.
Quem será esse “alguém”, o próprio
Temer?
Pois é, é bomba pra todo lado: em
Hiroshima, Nagasaki; nos anos de 1970 cartas-bomba, e hoje pautas-bomba na
Câmara, com gatilhos acionados para explodir a qualquer momento.
Sim, é grave o momento!
O PT abandonou seu Dirceu e os partidos
de base do governo estão também dando no pé ou abandonando o barco como fazem
os ratos.
Eu conheço essa história.
Não é hora de dona Dilma debruçar-se na
leitura da história e da história tirar ensinamentos?
Eu
convido vocês para uma conversa sobre cultura popular em que a viola é o
destaque. Estarei lá, logo mais às 20 horas, no auditório da Livraria da Vila,
para o lançamento do livro Conversa de
Violeiro, do violeiro Chico Lobo e do escritor Fábio Sombra, e do CD Cantigas de Violeiro, de Chico Lobo.
Segue
o prefácio do livroConversa de Violeiro
Livraria da Vila Rua Fradique Coutinho, 915 Pinheiros, São Paulo.
UM PASSEIO PELO MUNDO DA VIOLA
Assis Ângelo
Como o forró, a moda de viola pode ser
definida como um bisaco de cego, no qual se acham os mais diferentes
badulaques. No caso, ritmos e gêneros musicais.
Em 1949, o rei do baião Luiz Gonzaga
encontrou no seu conterrâneo José Dantas o parceiro que o ajudaria a dar forma
musical ao forró.
Num ano que se perde na história, algo
parecido aconteceu com a moda de viola.
O ritmo/gênero moda de viola passou a
ser conhecido pelo público fora do campo, da roça, no começo do século passado,
quando o brincante tieteense Cornélio Pires, com a ajuda de seu sobrinho
Ariovaldo Pires, o Capitão Furtado, procurou o representante do extinto selo
musical Columbia, no Brasil, Alberto Byington Jr..
A conversa entre Cornélio e o velho
Byington foi, digamos, nada estimulante no primeiro momento para Cornélio.
A todo custo Cornélio tentava
convencer o empresário a lançar discos com modas de viola. Num certo momento
Cornélio perguntou quanto custava fazer um disco e levá-lo ao mercado. Era
muito caro etc.. Para encurtar a história: Cornélio arrumou uma montanha de
dinheiro e com ela convenceu Byington a lhe abrir as portas da gravadora.
E foi assim que, entre 1929 e
comecinho de 1931, Cornélio Pires levou à praça a série de 52 discos de 78
voltas com seu próprio nome.
Pois bem, além de se transformar no
primeiro produtor musical do Brasil, Cornélio Pires abriu veredas para os violeiros
anônimos que com seus sons originais encantavam os ouvidos do povo nas tardes
compridas dos fins de semana. Assim, desbravado o caminho, a moda de viola,
incluindo toadas, cateretês etc., passou a ser apreciada por um público novo e
ilustrado até então acostumado a ouvir Bahiano, Cadete, Eduardo das Neves e
outros nomes cujas vozes que rodavam nos pesados gramofones, uma grande
novidade da época.
Estamos falando dos primeiros anos do
Século XX.
Em novembro de 1944, o Capitão Furtado
entrava no estúdio da recém-criada Gravadora Continental – hoje extinta- para
produzir o primeiro de uma longa série de discos da dupla Tonico e Tinoco, que
ele acabara de descobrir e que se tornaria lendária entre nós.
Claro que anos antes muitos discos com
modas de viola já haviam sido lançados ao comércio com grande sucesso e muitos
autores e intérpretes viveram financeiramente bem com o que faziam.
Não dá para esquecer de Raul Torres,
Florêncio, Serrinha, Rielinho, Carreirinho e tantos mais que em 1994 ganharam
uma série própria: Som da Terra (Warner/Continental).
Muitas histórias permeiam o mundo da
viola e dos violeiros.
No exterior, até hoje, todo
instrumento que se parece com violão é comumente chamado de violão ou guitarra.
Das matas do Ceará, um dia, saíram os
irmãos Mussaperê e Herundy.
Num ano qualquer os irmãos, ainda
meninos, acharam um violão ou viola e com ela passaram a se entender
musicalmente, e com este instrumento gravaram bem depois, em setembro de 1953,
na velha Continental, o primeiro de muitos discos com o baião Tambor Índio e o
galope Acara Cary, de autoria deles.
Mussaperê e Herundy, dois dos trinta
filhos de um cacique, ficariam mundialmente famosos pelo nome de Índios
Tabajaras.
Neste livro, o mineiro Chico Lobo e o
carioca Fábio Sombra deixaram por instante as violas no canto da parede e
mergulharam no universo caipira e de lá nos trazem informações valiosas de todo
tipo sobre a viola e violeiros. Já no primeiro capítulo, Viola Caipira - Duas pequenas
histórias, Lobo e Sombra falam de folclore e origens do instrumento. No último
capítulo, Retirada, os autores se despedem do leitor com muita graça e alguma
fantasia.
E tome história!
Constituído por 11 partes, o livro Conversa
de Violeiro – Viola Caipira: tradição, mistérios e crenças de um instrumento
com alma brasileira, escrito de forma bem natural conquista o leitor muito
rapidamente, desde os primeiros parágrafos. É como se estivéssemos ouvindo a
prosa e o ponteio dos autores. Saborosos são os causos e o modo como Sombra e
Lobo nos apresentam as crenças, as simpatias, as curiosidades e tudo o mais que
consta do rico, belo e agradável universo da cantoria dos violeiros do Brasil
que ainda, e felizmente, se espalham por aí a fora.
No Rio Grande do Sul temos o trovador,
equivalente ao cantador nordestino, que por sua vez tem também muito a ver com
o cururueiro de São Paulo e o calangueiro de Minas Gerais.
O mundo do caipira ou do matuto, como
se diz no nordeste é, sem dúvida, de grande riqueza. Nesse mundo cabe tudo, até
o que não deveria caber: a mistura das cantigas de viola feitas de modo natural
com a contaminação provocada por instrumentos eletrônicos, iniciada nos fins
dos anos de 1960 por duplas como Léo Canhoto e Robertinho. Exemplos? Basta
ligar o rádio.
A boa viola e o bom violeiro existem
desde os tempos de antanho.
Ali pela virada do século XIX para o
XX, em Canudos, BA, soldados matavam de dia os seguidores de Conselheiro e à
noite, sob as insuspeitas estrelas do céu se transvestiam de violeiros, e
pungentemente cantavam e tocavam em roda para afogar as mágoas, antes de
virarem bicho com a cara cheia de cana.
A música, seja ela de que tipo for,
existe em qualquer lugar; a partir, mesmo, do vento, do mar e até do coração
humano, que bate em compasso binário.
A palavra “caipira” vem do tupi ka'apir ou kaa - pira, língua que o português
Marquês de Pombal decidiu acabar, mas o que não acaba é a moda de viola
representada por muitos ritmos e gêneros vindos da viola, que com sua magia
inspira o tocador a expor suas alegrias e saudades.
Depois de Cornélio Pires e do
musicólogo paulistano Mário de Andrade autor da obra-prima Viola Quebrada, a
moda de viola como tal concebida nos primeiros registros fonográficos continua
sendo apreciada cada vez mais por um público que se multiplica. Isso, não custa
dizer, que se deve a iniciativas de artistas que marcaram presença entre nós:
Tião Carreiro & Pardinho, Bambico (o Dourado da dupla Dourado &
Douradinho), Zé do Rancho, Renato Andrade, Cacique & Pajé, Almir Sater,
Ivan Vilela, Roberto Corrêa, Fernando Deghi, Tião do Carro, Téo Azevedo,
Rodrigo Mattos, Helena Meirelles, Juliana Andrade e Inezita Barroso, por
exemplo.
Inezita, que não tinha na viola o seu
principal instrumento e sim o violão, deixou um legado
muito importante.
Através do seu programa Viola Minha
Viola (TV Cultura), que ficou no ar durante 35 anos ininterruptos, ela
descobriu e incentivou nomes que o tempo confirmaria de real importância, como
a dupla de mineiros Pena Branca & Xavantinho - e Bruna da Viola, sua última
descoberta.
Antes de Inezita Barroso, não havia
orquestras de violeiros como a de Mauá, Osasco, Campinas, etc.
O livro Conversa de Violeiro - Viola
Caipira: tradição, mistérios e crenças de um instrumento com a alma do Brasil,
é para ser lido num fôlego só, de preferência com um disco de Chico Lobo e
Fábio Sombra tocando na sala.
E tenho dito!
Ah! Dizem as más línguas que violeiro
é que aquele sujeito que passa metade do tempo cuidadosamente afinando sua
viola e a outra metade tocando desafinado.
Um País que não dá bola à educação e à
cultura para no tempo, quando não volta ao tempo mais atrasado da Idade Média.
Infelizmente, é o que se vê hoje no Brasil.
Particularmente, eu gostaria de saber
qual o pensamento dos garotos e garotas nascidos nos últimos 13 anos, e dos
jovens em geral. Se a programação do rádio e da televisão forem amostras disso
estaremos perdidos.
Que futuro teremos, se o futuro for
amanhã?
Há poucos dias, o editor potiguar José
Cortêz voltou de um giro pelo nordeste. Contou-me de algumas surpresas que
teve.
Em Acari, cidadezinha localizada a 201
quilômetros de Natal, ele contou que palestrara para estudantes. A surpresa que
teve em Acari foi quando lhe disseram que a prefeitura local estava
desenvolvendo um projeto pra lá de curioso: toda criança que nasce na cidade
tem como padrinhos pessoas achegadas à leitura. Essas pessoas assumem o
compromisso de presentear seus afilhados a cada aniversário, com livros, com
boas leituras.
Interessante, não?
Tomara que esse projeto pegue.
Noutra cidade da região, São Tomé, a
101 quilômetros de Natal, Cortêz constatou um dos inúmeros absurdos do nosso
“Brasil brasileiro”, como diria o compositor mineiro Ary Barroso.
Em São Tomé, Cortêz constatou que
havia duas pontes construídas dentro do mato, com dinheiro público. Uma ligando
à outra e outra ligando a canto nenhum, ou seja, a-b-a-n-d-o-n-a-d-a-s.
Ainda no seu giro pelo Rio Grande do
Norte, o editor proferiu palestra noutra cidade (São Miguel do Gostoso),
incluindo um matador de aluguel e um traficante, presos e condenados, mas
cumprindo pena em regime aberto. Os dois o ouviram por alguns minutos, viraram
as costas e foram embora sem nada dizer.
E assim é o nosso País, e é assim que
sucede nos grotões do nosso País.
A educação, não custa dizer, é a
salvação da lavoura humana.
Sem educação e cultura nós, filhos do
Brasil, estaremos todos perdidos; é o que se vê, aliás, no dia a dia do nosso
Brasil brasileiro.
Meu Deus, até quando continuaremos
cegos, perdidos no universo das crises e da falta de respeito ao próximo?
Não à toa, o cantor e compositor
paraibano Geraldo Vandré, autor da pérola Pra Não Dizer Que Não Falei de Flores
(acima), continua de luto, recusando-se a cantar em público. Quer dizer, além
de luto, ele permanece em greve por um País melhor.
O Brasil anda em
crise há mais de 500 anos. A primeira ocorreu com a invasão dos portugueses a
partir da Costa da Bahia. Naturalmente, e como não poderia deixar de ser, as
primeiras vítimas foram os primeiros habitantes do nosso País. E outras crises
se seguiram, com a invasão dos holandeses, franceses, ingleses, espanhóis,
norte-americanos... Os americanos do Norte aprontaram e aprontaram e continuam
aprontando.
Atualmente, nesta
década e meia do terceiro milênio, as crises continuam a infernizar a vida de
nós pobres mortais, “sem dinheiro no banco, sem parentes importantes...”.
(Belchior)
Mas uma coisa
curiosa: mesmo sufocados por crises seculares e contínuas, continuamos vivendo,
abraçados à esperança...
E assim, temos
motivos inúmeros para rirmos e choramos ao mesmo tempo.
Inegavelmente, somos
um País rico de todas as formas: em dor, miséria, tristeza e tudo mais.
O poeta baiano Castro
Alves dizia que a praça é do povo. Ele era, seguramente, um otimista imbatível
em prosa e verso, um poeta incrível; enfim, um poeta da Paz e da Liberdade. Ele
era um pouco de nós...
O Brasil é rico
também na forma ou formas de criar, de fazer arte.
No comecinho dos anos
de 1950, o rei do baião Luiz Gonzaga (1912/1989) e seu parceiro Humberto
Teixeira (1915/1979), depois de gerarem duas dezenas de grande sucesso, como os
baiões ‘Paraíba’ e ‘Asa Branca’, geraram também o fado-toada ‘Ai, Ai Portugal’,
originalmente lançado à praça pela portuguesinha Estér de Abreu (1921/1997). E
por falar em Luiz Gonzaga, não custa lembrar que domingo (2) fez 26 anos do seu
desaparecimento entre nós. Nesse dia fui levado ao bairro paulistano do Caxingui
, na zona Sul, para falar umas palavras a seu respeito e a respeito da cantora
mineira Fatel Barbosa, que aniversariava nesse mesmo dia. E lá encontrei amigos
como Luiz Wilson, Anastácia, Tio Joca, do Trio Sabiá, entre outros.
No
texto poético-musical de Chico Buarque de Holanda, o personagem Pedro, operário
da construção civil, é atropelado por um carro na contramão e morto. Quem
dirigiu o carro que o atropelou, ninguém sabe. Esse detalhe não consta do texto
poético-musical do Chico, mas é fato que a ficção e o fato caminham juntos no
mundo inteiro e em todas as línguas.
A ficção é tão forte quanto a realidade, no
mundo todo e em todas as línguas.
O
Pedro do Chico, que era pedreiro, morreu na contramão.
Morrer
na contramão muitos Pedros morrem todos os dias, em todas as cidades e em todos
os cantos.
Morrer
na contramão é fato comum.
E
morrer na linha do trem?
No
texto poético-musical do Chico, o Pedro Pedreiro morreu atropelado por um carro,
na urbe.
Nesses
dias, na urbe carioca, como na urbe do Pedro, outro operário, Adílio, foi
atravessar a linha do trem e por um trem foi atropelado e morto. E depois de
morto, foi novamente morto pelo trem que vinha atrás do trem que o matou pela
primeira vez.
Diante
da ficção e da realidade pode-se concluir que não valemos nada; sejamos nós corpos ficcionais ou reais.
O
trem matou e “rematou” um cidadão e o Primeiro Ministro da Inglaterra, David
Cameron, dizia que os imigrantes são um “enxame”.
Enxame
é inseto.
Somos,
enfim, corpos que não valem nada para o
Capitalismo.
O
trem matou, e matou de novo, o trabalhador que atravessou a linha, que não vale
nada. Não valemos nada. É isso?
Tem um cara da nossa literatura, que
eu gosto muito: Machado de Assis
A obra de Machado, especialmente seus
contos, parece ser toda baseada na vida brasileira de seus personagens. De hoje,
inclusive.
Baseado em supostos manuscritos
beneditinos, o diabo certa vez, segundo lê-se num conto de Machado – A Igreja
do Diabo –, decidiu disputar com Deus as atenções de todos os católicos e não-católicos,
criando ele mesmo, o diabo, a sua igreja.Com essa decisão, o diabo
mudaria seu modo de governar desde as trevas.
Assim, as virtudes teriam todas o seu
teor invertido: a preguiça, a gula, a ira etc.; seriam transformadas em coisas
que não prestam. O diabo também faria valer na sua igreja o fim de todos os
direitos; o humanismo não teria sentido, o amor ao próximo seria totalmente
destruído, o homem teria como positividade o “direito” de vender-se, incluindo
o voto, a fé e a alma.
Aliás, vender a alma, é algo que os
filhos do cão têm feito desde sempre.
Ouvindo a advogada Beatriz Catta Pretta,
que em nome do medo e de seus filhos afirma ter renunciado ao exercício da
própria profissão, fiquei de “queixo caído”.
Queixo caído é uma expressão que faz
parte do rico tesouro da cultura popular.
Ao ouvi-la, lembrei-me também da
desculpa esfarrapada do engraçado e perigoso Jânio Quadros que, ao renunciar a
presidência da República, num 24 de agosto, atribuiu a sua decisão “às forças
ocultas”.
Pois é, como nos contos do carioca
Machado de Assis, há muita realidade dolorosa expressa na fala dos personagens
que dilapidam o patrimônio nacional e pululam por aí no campo do real e do
irreal, deixando-nos de pelos arrepiados. Enfim, “no céu e na terra há muitas
coisas e mistérios além do que pensa a vã filosofia”.
A advogada Catta Pretta seria “caixa
preta” do enésimo escândalo que rouba o sonho e a esperança de nós, pobres
mortais brasileiros?
Esperemos, pois nada melhor do que um
dia atrás do outro.
Atualmente, o astral
do brasileiro está tão baixo quanto a popularidade da senhora presidente Dilma
Rousseff que, aliás, se reunirá daqui a pouco com todos ou quase todos os
governadores do País. A pauta é meio doida: trata de governabilidade e ajuste
fiscal.
Vai sobrar de novo
para nós, que ficamos sempre com a parte podre do poder.
Tudo no Brasil está
pra baixo atualmente, inclusive a esperança que, dizem, é a última que morre;
mas que, pelo trotar dos cavalinhos chucros, já está com a corda no pescoço e
pedindo pelo amor de Deus que a salvem.
Sei não, mas cá com
meus botões começo a pensar que dessa reunião não vai sair coelho e, se sair,
será indigesto para nós pobres mortais comuns.
O que essa reunião de
governadores vai dar mesmo é manchete de jornal, fotos e imagens em movimento
para o noticiário de daqui a pouco, para amanhã e para os horários políticos
para ilustrar as promessas da próxima campanha política que se avizinha.
O que tudo isso tem a
ver com a cultura popular? Nada, a não ser que,
mais uma vez, precisa-se por os pingos nos is.
“Pingos nos is” é uma
expressão que habita há séculos o imaginário popular, certo?
Só mais uma coisinha:
o sistema que rege a República Federativa do Brasil é cruel por ser totalmente
centralizador; daí o presidente – ou presidenta – estalar os dedos e, como num
passe de mágica, ter a seu dispor, com os pires nas mãos, os principais
administradores das unidades da Federação.
Em última instância,
fico a pensar: serão os governadores bobos da corte?
Todo
dia deveria ser o dia da terra, do homem e da agricultura.
Hoje
é o dia da Agricultura, constante do
nosso calendário de datas comemorativas.
Da
terra vem tudo de bom que nos alimenta, incluindo a fé e a esperança, pois sem
esperança na vida não há fé no homem.
Todo
dia deveria ser dia da lua , do sol, da terra e do homem.
Os
antigos se baseavam na lua para tudo que fizessem na terra, desde a data certa
para plantar e a data certa para colher.
A
música tem a ver com o homem, a terra, a lua, o sol e tudo o mais que
conhecemos e até desconhecemos. Por que não ?
Música
é som, como o bater binário do nosso coração e certamente como o bater do coração de todos os outros animais.
O
som esta no vento, que balança as árvores; na chuva que cai no chão, no relâmpago
que anuncia o trovão, na garganta de divas como Dalva de Oliveira, Elis Regina,
Carmélia Alves, Inezita Barroso, Gal
Costa, Elza Soares...
Na
viola do cantador o bom som também se acha.
Como
esquecer Renato Andrade, por exemplo.
Hoje
é o dia do agricultar.
O
homem do campo é tão importante desde sempre, que até o nosso Cornélio Pires
não deixou de ver nele o braço encantado da natureza que cuida com sua
sabedoria de plantar e colher.
O
sal da terra é o calor do sol; e também o estrume e minhocas.
No
Brasil há pelo menos duas mil espécies de minhoca, das quais apenas 350 devidamente catalogadas.
Pois
é, minhoca é muito importante para dar vida a mãe terra.
Um dos mais importantes diários que tratam da economia do mundo, o
Financial Times, publicou na semana passada um artigo intitulado Recessão e Corrupção:
a Podridão Crescente no Brasil, que por si só diz tudo do que não
gostaríamos que dissesse. Mas o diário da terra da Rainha vai fundo no poço em que, no
momento, o nosso país se afoga. É poço pior e mais profundo do que um mortal
comum, como nós, possa imaginar. A água que se acha lá, bem no fundo, é lama
como a que transformou a vida do gaúcho Getúlio Vargas que, acuado, acabou por
dar um tiro no próprio peito na madrugada de 24 de agosto de 1954.
O mês do cachorro louco esta se aproximando
O que poderá ocorrer ainda de tão ruim para a vida brasileira?
Será que é ainda atual o Samba do Crioulo Doido, do gaiato Stanislaw?
Sabemos que o Brasil é muito especial pical, um país abençoado por Deus e até cantado por Jorge Bem.
Do
repertório dos violeiros Tião Carreiro & Pardinho consta uma bela
composição que diz “a coisa tá feia... / a coisa da preta...” que, em parte,
traduz o momento que nós – simples brasileiros – vivemos hoje.
A
nova edição da revista britânica The Economist que está chegando às bancas traz
reportagem em destaque que trata da corte planaltina. Diz a revista, em matéria
assinada por seu correspondente no Brasil, que põe o vice-presidente Michel
Temer, como “primeiro-ministro”.
Primeiro-ministro
é figura principal do sistema parlamentarista. Não é o caso, mas a revista o
coloca nessa posição por estar ele desenvolvendo, aparentemente, as funções que
cabem à dona Dilma como “presidenta” da nossa capenga e judiada República
Federativa do Brasil, criada pelos militares que ocuparam o poder após o
movimento de botinas que resultou em 21 anos de tristeza, pancada e escuridão
(1964-1985). O título da reportagem, em
tradução livre: “o poder por trás do trono”.
Vamos
ver até onde isso vai dar, não é mesmo?
Na
noite de segunda-feira passada, no palco da Sala São Paulo, o menestrel Vital
Farias teceu algumas palavras elogiosas à minha pessoa. Que bom. Aliás, foi ele
muitíssimo aplaudido ao interpretar, de sua autoria, a pérola musical A Saga da
Amazônia, que está completando 36 anos de existência.
Vital
é paraibano de Taperoá, do mesmo modo que foi o erudito brincante Ariano
Suassuna.
Ariano,
figura ímpar e inesquecível da vida cultural brasileira, nasceu no dia 16 de
junho de 1927.
A
ausência de Ariano entre nós dá uma saudade danada. Ele partiu rumo às estrelas
no dia 23 de julho do ano passado. Ou seja: faz um ano e um dia, mas a
impressão que se tem é que ele nos deixou há mais tempo, não é mesmo?
No
Planalto, terra onde se planta nasce sempre um político safado, há um chafurdo
danado. Lá ninguém se entende, tá tudo quebrado.
Certa
vez, Ariano disse, entre sério e brincando, que morreria sim, mas os
personagens que criou, não.
Tem
muito João Grilo aprontando por aí, não tem mesmo?
Em
Vital Farias e em Ariano Suassuna a esperança morou e fez festa. Não à toa,
continua atualizadíssima a bela guarânia “Pra não dizer que não falei de flores”,
de outro grande menestrel paraibano Geraldo Vandré. Ouçam:
Crise política, crise econômica, crise
institucional, crise de tudo. O Brasil tá frito, e de tabela nós todos,
brasileiros.
Você sabe o que é superávit primário?
Superávit primário é uma espécie de
caderneta de poupança, de reserva técnica, de caixa, de grana, enfim, para ser
utilizada nos momentos necessários, difíceis, complicados, como o que estamos
todos vivendo. Mas a irresponsabilidade dos dirigentes por nós escolhidos para
por o cabresto nos problemas de ordem geral não o puseram, e o resultado é o
que se vê: arrocho geral, pois, como sempre, nós contribuintes somos arrolados
para tapar os rombos que se multiplicam e se alastram Brasil afora.
As contas do Governo estão mais
furadas do que tábua de pirulito.
Gastou-se o que não se tinha, e quando
se gasta o que não se tem o resultado é o que se vê: desgraceira geral no bolso
de todos nós.
Isso, aliás, me lembra o personagem
Honório da história A Carteira, dos contos fantásticos do fantástico Machado de
Assis, que todos deveriam ler.
Nesse conto trata Machado de um
advogado de 30 e poucos anos, que gasta o que não tem para satisfazer a mulher
Amélia nas suas necessidades de integrante da classe média. Ele pede dinheiro emprestado
a Deus e ao diabo para atender as vontades de sua amada e assim entra no buraco
sem fundo das dívidas que se acumulam, até que acha uma carteira e aí cai
noutro buraco, que é o da dúvida. Quase pira, e não vou contar mais porque é
uma história que lembra a história dos gastos extraordinários feitos pela
gerente da República Federativa do Brasil.
Há, sim! A Amélia de Machado, como a
Dilma do Planalto, está muito longe da Amélia do samba de Ataulfo e Mário Lago.
Amanhã, 23, completam-se dois anos da transferência
do sanfoneiro Dominguinhos, da terra para o infinito. Pernambucano de Garanhuns,
o primeiro e principal discípulo de Luiz Gonzaga, o rei do baião, foi uma
pessoa de grande compreensão entre os homens. Era sensível, discreto e tinha
gosto de ajudar quem o procurava. Mais ou menos como Gonzaga, com quem aprendeu
todos os segredos e mistérios da sanfona. Ele levava muito a sério a máxima
franciscana que diz “é dando que se recebe”. Gonzaga o ajudou em tudo. E numa
situação mais difícil, Fagner também. E assim foi até que Deus o levou.
Dia desses, aqui em casa, seu colega de muitos baixos,
Oswaldinho do Acordeon me disse que ele sofreu muito nos meses que antecederam
sua morte. “Dominguinhos, com voz muito cansada, contou-me da sua tristeza de
ter sido esquecido ainda em vida porque poucos foram os amigos que o visitaram.
Ele me disse isso com profunda tristeza”.
Eu conheço essa história, a história do
esquecimento em vida; o luto em vida.
Pois é, eu conheço essa história.
Mas não era de Dominguinhos que eu ia falar. Eu ia
falar do presente de grego que o prefeito paulistano Fernando Haddad inventou
de dar ao Papa Francisco, no Vaticano: o disco "Sobrevivendo no
Inferno", dos Racionais MC's. Podia ter dado um CD de Dominguinhos ou de
Gonzaga ou de Katya Teixeira ou de Renato Teixeira ou de Consuelo de Paula ou de
Celia e Celma (acima), que, aliás, cantaram para ele na primeira vez que nos
visitou, em Aparecida do Norte; ou, ainda, uma coletânea de músicas dos quatro
cantos do Brasil e por que não o disco A paixão segundo Cristino, de autoria do
paraibano Geraldo Vandré que conta a história da vida difícil do trabalhador
brasileiro? Podia também ter dado o folheto de cordel Encontro no Metrô, de
Pedro Nordestino/Peter Alouche (abaixo). Nesse folheto, o autor conta uma história muito
bonita que tem Cristo como personagem. Mas, não, o prefeito paulistano decidiu
dar de presente ao papa Francisco, um CD de rap, recheado de cabeludos
palavrões etc.
Tomara que vocês que me leem não entendam que
esteja eu, com estas palavras, mostrando qualquer tipo de discriminação
musical, social, racial, religiosa, até porque já fui alvo desse tipo de coisa.
E eu sei, dói. Portanto, longe de mim qualquer tipo de discriminação. Acho
apenas que presente a um papa tem que ser de altíssimo nível, que mostre pelo
menos parte da nossa tão rica e abrangente cultura. Particularmente, eu gosto
dos Racionais.
Aliás, não é de hoje que o papa recebe presentes
esquisitos e até grotescos, como o que o Presidente da Bolívia, Evo Morales lhe
deu há poucos dias: um crucifixo com foice e martelo, o símbolo do Comunismo.
Eu li Marx e sabe o que eu acho dessa história da
foice do martelo para o papa? O Marx do Capital não iria gostar desse chafurdo.
"Eu sonhei que estava na minha terra, Taperoá, cantando para um público de 500 pessoas. O teatro estava lotado. Eu estava feliz. Cantando para 500 pessoas. Não de repente, uma pessoa saiu, outra pessoa saiu e outra pessoa saiu também. No total, umas dez pessoas saíram. E eu ainda estava a cantar. E não de repente continuei a cantar baixando a voz. As pessoas que saíram, saíram. As outras continuaram sentadas me ouvindo. De repente, notei que elas estavam dormindo. Foi quando entendi que cheguei ao auge como artista. Fiz 490 pessoas dormirem. E aí, quando notei isso, saí de fininho, pé ante pé para não acorda-las."
Foi mais ou menos isso que ouvi do meu amigo Vital Farias, quando me telefonou horas antes de subir ao palco da Sala São Paulo.
Ontem o dia me deu uma noite incrível.
Foi incrível porque reencontrei pessoas incríveis: Maria da Paz, Joceline, Avelima, Neumanne, Audálio, e tantos amigos. E o Guerrero ao meu lado, sempre atento, me levando ao coração dos meus amigos.
E aí foi tudo muto bonito. O Secretário da cultura, Marco Mendonça, dizendo o que tinha que dizer a respeito da cultura. Disse que foi quase tão difícil construir a Sala São Paulo, como convencer o Boldrin a fazer o programa Sr. Brasil.
Coisa de político.
O fato é que a noite foi super agradável, incrível.
E aí subiu ao palco o Brasil, que começou com Vital Farias e terminou com Geraldo Vandré.
Eu já disse que foi uma noite linda, marcante, para a história.
Foi uma noite incrível, a noite do dia 20 de julho na Sala São Paulo, que é uma jóia, da música de concerto do mundo.
Viva o Brasil! Viva a música popular brasileira no ambiente erudito!
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PARQUE DA ÁGUA BRANCA
Está claro, no sorriso da Tati que a vida é alegria.
Esse parque é um parque dos mais importantes da Cidade de São Paulo. Por todas as razões, incluindo a variedade de árvores e pássaros. Por esse parque, passaram pessoas incríveis da história, como Mário de Andrade e Inezita Barrozo. Esse parque tem história, história que é preservada e carinhosamente cuidada por uma pessoa incrível: Tati Fraga.
Tati Fraga nasceu com coração e asas de passarinho. Pois é, a gente vê a Tati e pensa que ela é mulher, simplesmente mulher, humana, maravilhosa. Poxa, a Tati é tudo isso e mais do que isso: é uma administradora pé no chão, voa com o pé no chão. Ela faz o que um peixe gostaria de fazer: viver fora d'água.
Pois é meus amigos, minhas amigas, domingo que vem, 26, eu convido vocês a irem bater palmas para Tati por uma razão simples: faz 5 anos que ela está à frente de um projeto incrível, que é mostrar a importância e beleza do Parque da Água Branca, num projeto muito especial: O Espaço de Leitura.
Foi nesse parque, foi nesse projeto, que a Tati Fraga apresentou Inezita Barrozo, frequentadora desse espaço a muito tempo.
Essa
história, do carioca Machado Assis, me fez lembrar, não sei por quê, o
nordestino Luiz Lulalá.
Na
história, o Capeta se diz insatisfeito com tudo e vai até Deus falar de um
projeto de fundação de uma igreja. De uma igreja dele, do Capeta.
Não
sei por quê, continuo lembrando do Lulalá.
A
Igreja do Diabo, este um dos títulos da série de Contos Fantásticos do genial Machado,
trata da mudança que o Capiroto quis fazer na vida nossa cotidiana, que tem
como símbolos ou regras os ditames do bom caminho. De cara, ele, o Fela,
resolveu mudar as virtudes que tanto honramos para valores totalmente
condenáveis, como a gula, a injúria, a luxúria, a preguiça, a inveja, a ira,
etc.
A
ira, por exemplo, o Sete Peles, como cita o Bahiano Riachão na música “Vai morar
com o Diabo”, foi o que levou Homero a escrever Iliade, em que se destaca o
furor de Ulysses, obra-prima traduzida para o português pelo meu querido
Houaiss.
E
não sei por quê, continuo achando que a Igreja do Diabo tem a ver com o Lulalá.
O
Diabo fundou sua igreja que não levou a nada, está no conto do Machado.
No
comecinho dos anos de 1930, o assassino suicida Adolf Hitler investiu-se de
salvador da pátria a partir de um movimento de trabalhadores na velha Alemanha.
Eu
digo sempre: ler é fundamental, nossos autores são incríveis.
Quem
ler mais, sabe mais. E o Lobato já dizia: “Um país se faz com homens e livros”.
E no século XVI, o inglês Francis Bacon já dizia que a leitura torna o homem um
ser completo.
Pensando
assim e lembrando de fatos e gentes, chego à conclusão que os luminares da
nossa judiada república estão numa peinha e merecidamente, pulando miudinho feito calango na
frigideira.
Janelas
se abrirão em dias próximos, para o bem do Brasil.
As
leituras substanciosas, com conteúdo, marcam para sempre.
O
Lobato –quem não lembra?- dizia que “um país se faz com homens e livros”.
A
leitura forma, informa, esclarece, acrescenta, muda e marca um tempo, uma
sociedade.
Quem
ler mais, sabe mais.
Francis
Bacon dizia lá pelo século 16 que “a leitura faz do homem um ser completo”. E
dizia também algo como a conversa nos prepara para a vida, para o descobrimento.
Naturalmente, a conversa é um diálogo. Um fala, outro escuta, fala. E é por aí
que tanto um quanto outro interlocutor se enriquece e enriquece as pessoas do
entorno.
A
conversa gera conhecimento.
Bacon
também dizia que a escrita mostra o saber, a sabedoria de quem escreve.
Escrever
é fácil ou difícil?
Eu
sempre gostei de ler e muitas leituras, pelo menos parte delas, ficaram retidas
na minha memória. Aliás, tudo é memória. A memória não retém o tempo, mas
registra a história.
O
amanhã é hoje, que vira ontem, passado, história; história que guarda tudo,
tudo o que é memória, até o escárnio da escória.
Guardo
comigo autores que me fizeram e me fazem o ser que sou, antenado, compreensivo,
ciente da presença enriquecedora do outro.
Os
clássicos, da música inclusive, estão aí, mais presentes do que nunca.
O
livro, Grandes Sertões: Veredas, do Rosa, traz uma passagem que me remete à
minha infância. É aquela em que Riobaldo antes da fase adulta é encaminhado por
seu padrinho Selorico Mendes,a estudar no lugar
chamado Curralinho porque não tinha queda para trabalhar no pesado. Uma hora
ele conta que Mestre Lucas, seu professor, era rígido, grosso, e que dava de
palmatória na molecada; nele, inclusive.
Eu
também apanhei muito de palmatória. Mais: eu fui posto de joelhos em cima de
caroços de milho. E com os braços abertos, diante da classe...
Sobrevivi.
Lembro
essa historiazinha em homenagem ao 1º ano –completado esta semana- da lei
federal que proíbe os pais, professores ou quem for a dar palmada nos seus pequenos,
pupilos.
Grande
Sertão: Veredas está para completar 70 anos do seu lançamento.
Certa vez, o sanfoneiro Sivuca me
contou que fizera parte de um trio musical chamado O Mundo Pegando Fogo. Desse
grupo participavam, além dele, Hermeto Pascoal e seu irmão Zé Neto.
Hermeto é sanfoneiro e multitudo
musical, como todo mundo sabe.
Zé Neto é pianista.
Por que lembro disso?
Simples: o mundo hoje, mais do que
nunca, está pegando fogo. A Grécia, por exemplo, está numa enrascada de fazer
dó. Dó de dor, não musical.
No Brasil vê-se o que se vê: o
legislativo brigando com o judiciário e, no meio dessa briga, o governo
impotente da dona Dilma, que, aliás, outro dia andou saudando a modo muito
próprio, a nossa mandioca de sempre.
Por falar em mandioca, lembro que no
belo livro Iracema, do cearense José de Alencar, há uma passagem em que a
mandioca é citada.
Falei Iracema?
Pois bem, esse livro clássico, lançado
a público em 1865, começa assim: “Verdes mares bravios de minha terra natal,
onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba. Verdes mares que brilhais como líquida
esmeralda aos raios do sol nascente perlongando as alvas praias ensombradas de
coqueiros. Serenai, verdes mares, alisai com doçura a vaga impetuosa para que o
barco aventureiro, manso, resvale a flor das águas”.
É uma história muito bonita, de
conteúdo indigenista, que trata, mesmo ficcionalmente, de um pouco da história
dos primeiros habitantes desta terra. Pelas páginas deste livro se movimentam o
guerreiro branco Martim e a “virgem dos lábios de mel” Iracema, ora de olhos
verdes, azuis e negros como “as asas da graúna”.
É uma história que tem muito a ver com
o Brasil. Inclusive no tocante à nossa cultura popular.
Você sabia que é de autoria do mesmo
José de Alencar o romance também indigenista O Guarani, que virou tema da
primeira ópera do paulista Antônio Carlos Gomes, estreada no Ala Scalla, de
Milão, em 1870?