Seguir o blog

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

VIVA O GRANDE HENRICÃO!

Rubens Campos e Carmen Costa
Meu amigo, minha amiga: você sabe quem foi Henricão, cantor, compositor...?
Minha amiga, meu amigo: você sabe quem foi Rubens Campos, cantor compositor...?
Bom, Henricão e Rubens Campos foram uma só pessoa, um só artista.
Eu conheci de perto Henricão. Eu conheci de perto Rubens Campos.
Essas duas pessoas numa só foram de grande importância para a música brasileira. Nasceram no dia 16 de agosto de 1912, no Rio. Mas Henricão, que ganhou mais notoriedade do que Rubens Campos, chegou a ser Rei Momo de São Paulo.
Henricão, pseudônimo profissional de Rubens Campos, compôs e gravou belas músicas. E fez também versão de Cielito Lindo, uma música de origem mexicana, que marcou a história do Carnaval brasileiro a partir do começo da década de 40, 1940. Título: Está Chegando a Hora.
Henricão foi casado com a cantora Carmen Costa (1920-2007). Pessoa que também conheci de perto e a quem entrevistei, ao vivo, no programa São Paulo Capital Nordeste, programa que eu apresentava na Rádio Capital 1.040 AM.
Uma vez, lembro, Henricão levou-me à casa onde morava. No Bom Retiro, cá em Sampa. Era uma quartinho estreito, modesto demais. Teve uma hora que ele mexeu num amontoado de coisas dizendo que ali havia originais de Noel Rosa. "Coisas que nunca ninguém gravou", disse. Perguntei: Por quê, "Faltou oportunidade...".
Pois é, quanta história!
Porque a nossa memória é tão curta, hein?
Nascemos, vivemos, morremos.
Certamente é bom morrer de bem com a vida.
Ah! Sim: Henricão/Rubens Campos morreu no dia 3 de novembro de 1985. Na extinta revista paulistana Visão, há uma entrevista que fiz com ele num ano qualquer. Ali pelos finais dos 70...

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

E FREUD, HEIN?

Eu não tenho certeza, mas quando eu era moleque nas terras da minha Paraí-bê-a bá ouvia dizer aqui e acolá de casos de amores fantásticos, de alguém apaixonado por alguém. Geralmente, esse alguém era um rapaz ou homem feito. Pelos 15 ou 30 anos.

A essa história dizia-se: fulano roubou fulana.

Luiz Gonzaga, rei do baião, chegou a gravar música falando disso. Aliás, ele não foi o primeiro. 

Essa história de um homem raptar uma mulher com a finalidade de com ela se casar, vem do tempo antigo.

Dentro dessa história de amor há coisas absurdas. Coisas essas que perduram desde todos os tempos antigos. Além do homo sapiens e da mulher...

Mas tem uma coisa que não consigo entender: por que um homem casado e com uma amante, numa "oportunidade" se atira pra cima de outra  mulher...?

Tara, safadeza, loucura, doença...

De certo modo, contando isso a uma amiga querida, rindo ela disse: "O cara aí não tem nada de doença. É simplesmente um escroto e perigoso. É gente que não é gente e faz mal à gente".

Com um sorriso irônico e demolidor, a minha amiga pergunta: "Você já leu Freud, sabe quem foi Freud?".

Pois é amigos e amigas, se ainda insisto em viver é porque ainda acredito que viver e aprender  a viver é preciso. 

Não é mesmo, Flor Maria?


domingo, 11 de agosto de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (122)

Thérèse Raquin, de Émile Zola, é considerado o primeiro livro “naturalista”. Foi lançado em 1867.

Em 1890, Zola publicou o romance A Besta Humana. É um livro que faz doer página após página. O protagonista, o maquinista de trem Jacques Lantier, parece psicologicamente torturado por um passado inexplicável. Seus ímpetos são fora do comum. Ele está sempre pronto pra matar. Resiste. Desconfia da mulher e sobra pra ela.

Naturalista também foi o jornalista Figueiredo Pimentel (1859-1914), atuante no jornal Gazeta de Notícias, RJ. Nesse jornal assinava uma coluna intitulada Binóculo, que tratava da vida mundana da cidade. Certamente foi o primeiro colunista social do Brasil.

No jornal Província do Rio, sob o pseudônimo Albino Peixoto, Pimentel publicou na forma de folhetim o romance O Aborto com outro título: O Artigo 200 (referência à lei que já proibia o aborto, no Império). Provocou muita polêmica.

Corria o ano de 1889.

O Aborto no formato de livro foi publicado em 1893. Na história a personagem Maroca vive sem amarras, sem dar satisfação a macho nenhum. Tinha 17 anos de idade quando se apaixonou pelo primo Mário que a engravida. No fundo, no fundo, ela diz que gostaria de ser uma “prostituta de luxo”. E aqui, calo-me.

Pimentel é também autor dos romances Um Canalha e O Terror dos Maridos, publicados respectivamente em 1895 e 1896. O tempo passou e Pimentel caiu no esquecimento.


Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 10 de agosto de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (121)

José do Patrocínio teve presença marcante na formação do escritor Coelho Neto, que começou a sua carreira num jornal dirigido pelo abolicionista.
Coelho Neto (1846-1934) deixou mais uns 100 livros publicados e pelo menos 600 contos abordando os mais diversos temas. Foi considerado um dos maiores autores de histórias “pornográficas” e o primeiro e mais profícuo autor naturalista do Brasil.
A história d’A Rainha Ginga me faz lembrar a história da mineira Francisca da Silva de Oliveira, Xica da Silva (1732-1796), que no correr da vida fez de uma mulher branca a sua escrava. Além disso, teve 14 ou 15 filhos.
Casada com um homem muito rico, o português João Fernandes, Xica findou seus dias com muito poder e grana.
Conta a história que uma das filhas de Chica da Silva amasiou-se com um padre.
A presença de padres na vida real e na ficção é antiga.
No correr da Revolução Francesa, que explodiu em 1789, padres foram mortos e outros postos pra correr. Freiras também foram mortas e perseguidas pelos revolucionários de então.
O romance A Relíquia, de Eça de Queiróz, mostra boa movimentação de religiosos.
O menino Teodorico Raposo, quando já adulto chamado de Raposão, fica órfão de pai e mãe e é adotado por uma tia, Patrocínio das Neves.
Das Neves é uma mulher que dedica todo seu tempo, sua vida, a Deus e aos santos católicos. É uma carola. Riquíssima e sem herdeiros.
O Raposão faz tudo e mais um pouco para ganhar a estima da tia e, de tabela, a sua herança.
Raposão é um mentiroso, um vigarista, um aloprado “durango” que está o tempo todo envolvido com todo o tipo de mulher. Um dia apaixona-se completamente por uma certa Adélia. Ela o trai. O final desse romance? Não digo!
Portugal e França deram grandes escritores ao mundo.
A França, durante muito tempo chamada de A Cidade Luz, espalhou para o mundo obras de Voltaire, Sade, Victor Hugo, Flaubert, Rousseau, Sartre, Proust, Dumas (pai e filho), Balzac, Rimbaud, Baudelaire, Gide, Beauvoir e Zola.
Émile Zola fez muita coisa bonita.
Zola deixou duas dezenas de livros, um melhor do que o outro. O conteúdo da sua obra é extraordinário. Tem amor, adultério e tudo o mais que há no cotidiano humano. Foi ele o primeiro escritor a chamar a atenção para a realidade nua e crua do povo desamparado.
Foi Zola o criador  do Naturalismo como escola literária. 
O que difere o Naturalismo do Romantismo é a valorização da Ciência.

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

FICÇÃO REAL

Ditaduras não prestam, sejam de direita ou de esquerda.
Ditaduras perseguem, prendem, torturam e matam pessoas...
Atualmente há muitas guerras mundo afora.
Atualmente grassam ditaduras aparentemente civis e militares.
Os ditadores, do alto da sua arrogância e perversidade, incentivam de todos os modos as pessoas a denunciarem outras.
O ditador Maduro, da Venezuela, tem feito isso. Ou seja, incentivado os venezuelanos a dedurarem venezuelanos. Vizinhos inclusive.
Isso é real, lamentavelmente real e criminoso.
No livro 1984 o autor George Orwell (1903-1950) "cria" vizinhos denunciando vizinhos, filhos denunciando pais. À página 54, lê-se:

Quase todas as crianças de hoje em dia eram horríveis. O pior de tudo era que por meio de organizações como os Espiões eles eram sistematicamente transformados em pequenos selvagens ingovernáveis, e nem mesmo isso produzia neles alguma tendência a se rebelar contra a disciplina do Partido. Pelo contrário, eles adoravam o Partido e tudo o que estava ligado a ele. As canções, as procissões, as bandeiras, as caminhadas, os exercícios com armas de mentirinha, a repetição dos slogans em gritos, o culto ao Grande Irmão – tudo isso era uma espécie de jogo glorioso para eles. Toda a ferocidade deles era voltada para fora, contra os inimigos do Estado, contra os estrangeiros, traidores, sabotadores, criminosos do pensamento. Era quase normal que as pessoas com mais de trinta anos tivessem medo de seus próprios filhos. E com razão, já que não passava uma semana sem que o jornal The Times publicasse um parágrafo descrevendo como um bisbilhoteiro – a frase que normalmente se usava era “herói mirim” – tinha ouvido alguma observação comprometedora e denunciado seus pais à Polícia do Pensamento...

À página 100, segue o autor escrevendo:

Aos três anos de idade, o camarada Ogilvy havia recusado todos os brinquedos, exceto um tambor, uma submetralhadora e um modelo de helicóptero. Aos seis anos – um ano antes, por conta de relaxamento especial das regras – ele havia se juntado aos espiões, aos nove anos ele havia sido líder de uma tropa. Aos onze anos, ele havia denunciado seu tio à Polícia do Pensamento após ter ouvido uma conversa que lhe pareceu ter tendências criminosas...

O ditador Maduro, de ação e pensamentos podres, deseja como seus iguais perpetuar-se no poder. Seja de que modo for, para tanto não mede esforços.
Praticamente todos os países dessa região cá do Equador, e de além mar, não tem reconhecido a eleição que o ditador diz ter sufragado há poucos dias.
Está ou não está na hora do nosso Lula mandar o Maduro se catar?



PODCAST DIRETO AO ASSUNTO

Bom papo esse aí com Nêumanne, Miguel de Almeida e Renato Teixeira. Confira:

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

EU VEJO COM TEUS OLHOS...


É tudo muito estranho, como diria o meu querido amigo maranhense Fortuna (1931-1994).
Tudo é Muito Estranho é título de um livro que Fortuna fez dedicado a mim. Meu Deus!
Vivíamos um tempo que as pessoas estavam mais próximas, uma perto da outra, torcendo pelo bem. Um tempo de solidariedade, um com o outro. Ou outra. E todos e todas.
O mundo está uma desgraça!
Não é esse mundo que nós pacifistas cidadãos queremos, desejamos.
É tudo muito estranho...
O meu país, Brasil, ganhou dos portugueses a língua. Língua essa praticamente definida por um cara chamado Luís Vaz de Camões (1524-1580).
Camões, imagino, foi um cara natural na sua especialidade da vida. Viveu. 
Fazia poesia de improviso, cantava, bebia. Um jovem como outro qualquer. Não durou, de vida, nem 60 anos.
Meus amigos, minhas amigas, acabei de lançar "oficialmente" no Memorial da América Latina o livro A Fabulosa Viagem de Vasco da Gama. Um épico. Esse livro, desenvolvido em sextilhas, é resultante da leitura que fiz de Os Lusíadas, o mais bonito livro de poesia de Portugal. Foi publicado em maio de 1572. Conta a história da grandeza heroica dos portugueses navegantes em busca de um mundo novo, de coisas novas.
Foi ontem ou anteontem que o querido maestro paulistano Julio Medaglia disse a mim, comentando, que já não há apreciações críticas da arte da vida nos jornais e revistas.
Já não se criticam, não se observam com clareza, as artes da música, do teatro, da literatura, da dança, do cinema, das artes plásticas... Das artes. Todas!
Concordo, concordei, de A a B. Ou de A a Z...
Estamos ficando pobres, no Brasil e no mundo todo. É só briga, é só guerra... Ninguém mais se entende. Estamos na Torre de Babel?
Meus amigos, minhas amigas, eu não consigo parar de viver. Pensar e exercitar o pensamento é fundamental.
É uma alegria ter Julio Medaglia como amigo meu, como foi amigo meu Eleazar de Carvalho. Gente essa que sabe tudo de arte, de vida.
Eu perdi os olhos, mas eu não perdi a vida nem as cores da alma.


quarta-feira, 7 de agosto de 2024

AINDA VASCO DA GAMA...

Há 500 anos nascia em Portugal o poeta Luís Vaz de Camões. Isso todo mundo sabe, o que todo mundo não sabe é que o maestro e violinista paulistano Júlio Medaglia pôs seu belo nome no texto de apresentação do livro resultante da releitura que fiz de Os Lusíadas ao qual dei o título de A Fabulosa Viagem de Vasco da Gama. Essa viagem foi iniciada pelo grande navegador em 1597 em direção à Índia e finda dez meses e dez dias depois. Uma aventura e tanto.
Eis o texto do nosso querido erudito Medaglia:




CAMÕES NA PONTA DOS DEDOS

No período imediatamente posterior à Idade Média, às vezes chamado de “Noite de dez séculos”, ocorreu uma grande revolução na cultura ocidental com o nascimento dos três maiores gênios da literatura latina de todos os tempos: Dante, Cervantes e Camões. 
Curiosamente, nesse mesmo período, chamado de “Renascentista” e já entrando no estilo “Barroco”, ocorreu também a maior revolução histórica na área música. Se até então fazia-se primordialmente música vocal, a partir desse momento o ser humano resolveu fazer música fora do corpo. Começou a inventar instrumentos de cordas, sopros e teclados que inauguraram gigantescos recursos sonoros, presentes na música universal até os dias de hoje. Mas como era possível fazer essas novas “máquinas” artificiais produzirem a beleza artística? Tangendo-se as cordas do violino com a ponta dos dedos, as teclas dos cravos e logo em seguida do piano, com a ponta dos dedos e abrindo e fechando os furinhos dos tubos dos instrumentos de sopro, com a ponta dos dedos. 
Levaria, porém, 500 anos para que os seres humanos desprovidos da faculdade da visão, pudessem ler a mais importante obra de Camões, Os Lusíadas. E foi neste século XXI que um dos maiores jornalistas, pesquisadores, escritores e compositores deste país, o paraibano Assis Ângelo, encontrou a solução para esse drama. Depois de desenvolver uma das mais brilhantes e multifacetadas carreiras de intelectual, por um grave problema de saúde, ele ficou cego. Como profundo conhecedor da obra de Camões, e mais inquieto que nunca, Assis Ângelo resolveu permitir que outros seres humanos que sofreram do mesmo infortúnio, o da perda da visão, pudessem ler a obra do grande escritor português. E como? Com a ponta dos dedos. 
Foi assim que, para celebrar neste ano de 2024 os 500 anos do nascimento do grande escritor português, Assis Ângelo “traduziu” para o idioma Braile sua obra imortal numa criativa adaptação livre para canto e cordel. Se os olhos dos cegos se situam na ponta dos dedos, Os Lusíadas, em sua nova transcodificação realizada pelo brilhante paraibano, ganha novo impulso de vida – a obra em si e o prazer do cultivo da literatura daqueles que perderam a visão.

 

LEIA MAIS: IL GUARANY POR JÚLIO MEDAGLIA • JÚLIO MEDAGLIA, DO POPULAR AO ERUDITO

terça-feira, 6 de agosto de 2024

A MORTE CONTINUA MATANDO...

A cada dia perco amigos.
Foram-se ontem brincar na Eternidade os amigos Sinval de Itacarambi Leão, aos 81; e o músico Caçulinha, de batismo Rubens Antônio da Silva, aos 84.
Sinval, jornalista fundador e editor da revista Imprensa, passou como profissional por vários órgãos da imprensa como TV Globo, Folha e tal. Foi briguento em todos os sentidos. Gostava do que era bom: Whisky, por exemplo. Chegou a ser preso duas vezes pelos brutamontes da ditadura militar (1964-1985). Na terceira vez, alertado por companheiros, deu no pé pra lugar desconhecido não sabido.
Caçulinha começou a carreira abraçando a sanfona, instrumento que nunca largou. Seu primeiro disco gravado era de 78 rpm. Trazia de um lado a polca Corochere (Francisco dos Santos e Caçulinha) e do outro lado a guarânia Triste Juriti (Mário Vieira e Armando Castro).
O segundo disco de Caçulinha trazia o choro Pelé (Amasílio Pasquin e Caçulinha) e a valsa Noiva do Sargento.
Durante alguns anos Caçulinha trabalhou como músico arranjador no extinto programa Domingão do Faustão, na TV Globo.
A última vez que Sinval e eu molhamos o bico foi cá em casa, há pouco mais de um ano.
A última vez que me encontrei com Caçulinha foi no estúdio da Rádio Capital. No tempo que apresentei o programa São Paulo Capital Nordeste.
Sinval e Caçulinha eram paulistas. O primeiro dos arrabaldes de Araçatuba e o segundo, Caçulinha, de Piracicaba. 
O 6 de agosto de 1910 marca a data de nascimento de outro paulista: Adoniran Barbosa, de Valinhos. Deixou-nos muitas músicas bonitas, engraçadas, irônicas e de amor como Iracema de que tanto gostava o também amigo Paulo Vanzolini, autor dos clássicos Ronda e Volta por Cima.
Pois é, o mundo está ficando menor e mais irracional.

segunda-feira, 5 de agosto de 2024

MINAS FICA MAIS POBRE SEM O JORNALISTA SINVAL

Eu tenho uma amiga muito querida que diz amar banana passa.

Achei meio esquisito o que ela me disse. Tem explicação: eu sou um cara que desconhece origens de muitas coisas. 

Ao dizer o que ora acabo de dizer, ela disse numa gargalhada retumbante que eu não sou de nada e de nada conheço. 

Confesso: essa amiga é provocadora... E, diante de tal provocação retruquei perguntando: "Você sabe o que é uva passa?".

Bom, ela me mandou pra ponte que caiu e não fui...

Quanta besteira...

Hoje 5, há pouco, fez a última viagem o amigo e coleguinha de jornalismo Sinval de Itacarambi Leão, 81 anos. Raízes mineiras.

Esse Sinval vem a ser o fundador da revista Imprensa junto com Paulo Markun, Dante Maiussi e Manuel Canabarro.

Quando dava eu lá estava a publicar uma ou outra coisinha.

Quando eu à toa assobiando às aves e ao vento, lá na revista saía algum texto falando dos movimentos meus nesta cidade paulistana, incluindo personagens como Paulo Vanzolini. 

A última vez que Sinval e eu nos vimos foi em abril ou maio de 2023, quando ele batendo à porta da minha casa com Whisky debaixo do braço disse que já estava na hora de a gente voltar a falar de poesia.

Falamos.

E falando como falamos,  falamos do Geraldo Vandré... A ver com o presídio Tiradentes... 

Tantas conversas, tantas coisas, tantas brincadeiras e um profissional invulgar...


AINDA CAMÕES NO MEMORIAL



Não sou túmido, tampouco narcisista ou pernóstico. 
Também não sou presunçoso nem prepotente. Longe disso! Talvez um besta...
Porém, uma coisa: falar de si próprio é bom, mas não é bom.
Melhor: falar de si próprio e bem, naturalmente, é coisinha danada de perigosa. Né, não?
Pois, pois...
O fim da tarde e início da noite de sexta 2, no Memorial da América Latina, foi supimpa. Isso porque reunimos pessoas incríveis para lembrarmos da fantástica viagem do navegador português de Sines Vasco da Gama. O lugar onde nasceu Vasco, fundado em 1362, dista da Capital portuguesa cerca de 160km. É logo ali.
Vasco da Gama, filho bastardo de um certo Estevão, não era de muitas posses. A família também não. No entanto, muito cedo, o jovem Vasco interessou-se pelos mistérios do mar tornando-se assim um craque das ondas salgadas. Quando encetou a viagem marítima rumo às Índias, em busca de fama e riqueza, tinha apenas 28 anos de idade. Conseguiu tudo que quis e acabou morrendo no mesmo ano que nasceu o poeta Luís Vaz de Camões (1524-1580).
Foi Vasco da Gama quem pegou a trilha deixada por Bartholomeu Dias e chegou ao destino programado dez meses e dez dias depois da sua partida de Portugal.
O evento ocorrido no Memorial da América Latina deveu-se ao lançamento formal do livro que fiz recontando a façanha de Vasco da Gama. Título do livro: A Fabulosa Viagem de Vasco da Gama, em braille.
Este ano completam-se cinco séculos do nascimento do poeta português Camões e dois séculos da criação do sistema braille de leitura para cegos, inventado pelo francês Louis Braille (1809-1852).
Neste ano de 24 completam-se também 500 anos da morte de Vasco da Gama.E quero dizer mais o seguinte: fiquei feliz que nem um passarim diante de um saco de alpiste ao reencontrar amigos como o jornalista e dramaturgo Osvaldo Mendes, Marcelo Cunha, Maurício Pereira, o maestroJúlio Medaglia, Fausto Bergocce, Paulo Garfunkel (Magrão), Cacá Lopes, Luiz Wilson, a cantora Fatel, Helena e seu companheiro argentino Julio, Nireuda, Cris Alves, Cilene Soares, o cantor Raimundo José... Meu abraço especial para Luciano Martins e sua companheira Taís, Jarbas Mariz, Luís Voutolini, Carlos Silva, Darlan Zurc  e Fernando Coelho pelos belos textos escritos a mim dirigidos. Sabe? Teve hora que me senti um cabra importante...
No sábado 3 estive presente no programa Paiaiá na Conectados, apresentado pelo bom baiano Carlos Silvio. Clique:



domingo, 4 de agosto de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (120)

A África é um celeiro de crenças incríveis.
Paulina Chiziane é a primeira escritora moçambicana a ganhar o prêmio Camões, como o seu conterrâneo Mia Couto. É autora de um movimentadíssimo romance intitulado Niketche (2001). Nesse livro, o personagem central é um cara pra lá de machista, grosso, que mora com quatro mulheres e tem caso aqui e acolá. Na trama nasce um movimento de fortalecimento do viver feminino.

Dentro dessa mesma temática e também enaltecendo a mulher é o romance histórico A Rainha Ginga, do angolano José Eduardo Agualusa. Esse livro foi lançado em 2014  e conta a história de uma mulher e do seu povo que lutam contra os invasores. A ver com portugueses e holandeses. Há personagens brasileiros. A líder guerreira Ginga mostra que não nasceu pra brincadeira. Pra se divertir, chegou a formar um harém com homens vestidos de mulher. 

Harém por harém é bom que se diga que suas origens datam da Antiguidade. Está na Bíblia.

No Livro Sagrado aparece Salomão reinando absoluto com 700 mulheres com quem se casou e outras 300 com quem não se casou. Uma festa!

Que não nos esqueçamos: o pai de Salomão era o rei Davi.

Outra história dá conta de que foram sultões do Império Otomano que criaram esse pagode todo chamado harém. O auge foi no século 13 e o declínio começou ali pelo século 17. O fim ocorreu na primeira parte do século 20.

Isto também se deu com as gueixas, no Japão, que deram sinal de vida na segunda metade do século 17.

Os padres sempre estiveram em terras virgens.

José de Alencar, não custa lembrar, era filho de um padre: José Martiniano Pereira de Alencar. Filho de padre também foi o abolicionista José do Patrocínio (1853-1905), seu pai era João Carlos Monteiro, vigário da paróquia de São Salvador. Era político e muito influente na região. Tinha 54 anos de idade quando levou para seu convívio uma garotinha de 13 anos, Justina Maria do Espírito Santo, que daria a luz ao famoso Patrocínio.


Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 3 de agosto de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (119)

Amor, sangue e sexo também se acham no romance Maria Bonita, de Afrânio Peixoto, publicado em 1914. Em resumo: A Maria Bonita de Peixoto é uma personagem simplesmente fantástica. Ela é filha de Isabel e André. Tem um irmão, Lucas. Com seis anos de idade já despertava a atenção dos marmanjos. Com uns 13 anos apegou-se a Luís, um moleque da sua idade. Esse moleque era filho de uma fazendeira muito rigorosa. Seu nome: Mariana.

Luís tinha um irmão que tentou estuprar Maria. E a partir daí o romance cresce, ganha contornos inimagináveis. Encurtando: Lucas defende a irmã com unhas e dentes e tiros. O que também faz o pai, que é preso e a mãe morre de desgosto. A essa altura, Maria é posta pra fora da terra onde morava com a família.

Maria casa-se com o canoeiro João, que mata Luís por assédio à Maria. Maria fica só com o filho de 4 anos.

Essa é a história. 

O incrível nisso tudo é o preconceito exalado pelo autor Peixoto. Ele foi um dos primeiros escritores a criticar ferozmente o livro de estreia de Gilka Machado, Cristais Partidos (1915), chamando-a de “matrona imoral”, e “mulatinha escura”.

Gilka subiu paredes com essas críticas, reconhecendo porém: “Aquela primeira crítica (por que negar?) surpreendeu-me, machucou-me e manchou o meu destino. Em compensação, imunizou-me contra a malícia dos adjetivos”.

Ao contrário de Gilka, a mineira Ana Maria Gonçalves tem colhido muitos elogios da crítica sobre a sua obra.

Ana Maria embrenhou-se no campo da pesquisa para inteirar-se sobre a história da escravidão no Brasil. O pretexto era conhecer suas origens. O resultado foi o livro Um Defeito de Cor, com cerca de 1.000 páginas. Sensacional. 

A autora dá de mão de uma personagem real, histórica, de nome Luiza Mahin e com ela vai até o fim procurando o filho que o pai vendera quando tinha dez anos de idade. O filho era o poeta abolicionista Luiz Gama. Daí pra frente é tudo basicamente ficção. Luiza morre surda e cega, vangloriando-se modestamente por ter convencido o romancista Joaquim Manuel de Macedo a dar nome de Carolina a uma das suas personagens do livro A Moreninha, lançado em 1844.

Carolina é amiga branca de Luiza.

No livro de Maria Gonçalves tem violência de todo tipo, inclusive estupros. Tem também padre transando com seminarista, mulher morando com padres e muito mais sob os olhares de Xangô, Oxum e outros santos da crença africana.

sexta-feira, 2 de agosto de 2024

É HOJE! É HOJE! VAMOS LÁ?


Bom, pessoal, é o seguinte: tomara que ninguém se esqueça de dar um pulinho, dois ou três pulinhos ao Memorial da América Latina logo mais às 17 horas. Já estou treinando a língua pra falar em bom português.
A partir da hora aí já dita, no Memorial permanecerei até às 21 horas.
Além de bom português, estarei lançando em braille a adaptação que fiz de Os Lusíadas. A versão que fiz ganhou o título de A Fabulosa Viagem de Vasco da Gama. 
Nas imagens aí é possível ver que não estou a dizer besteira. Além de treinar a língua, também treino o corpo todo. E a alma. E será assim, livre e lépido, que estarei dando as boas vindas com apertos de mãos e abraços aos amigos e aos amigos dos amigos.


quinta-feira, 1 de agosto de 2024

PROCISSÃO PARA O REI DO BAIÃO



Atenção! Atenção!
Amanhã 2 completam-se 35 anos da partida do Rei do Baião para a Eternidade.
Foi no dia 2 de agosto de 1989 que o pernambucano Luiz Gonzaga entrou no hospital Santa Joana, de Recife, e de lá não mais saiu com vida. Seu falecimento deveu-se a um maldito câncer de próstata e outros problemas como osteoporose. Está sepultado na sua cidade berço, Exu.
Pouco antes de ser internado no Santa Joana, Gonzaga não se fez de rogado e atendeu a um telefonema meu. Ele estava saindo de casa para fazer promessa no Canindé, CE. À época, eu trabalhava na Rádio Jovem Pan. A entrevista foi ao ar no mesmo dia. Não lembro o dia.
Há alguns anos, o professor Wilson Seraine criou o que ele chama de "Procissão das Sanfonas". Uma beleza! Reúne dezenas e dezenas de sanfoneiros e sanfoneiras rua a fora.
O evento, que já se acha na 16ª edição, tem lugar amanhã 2 na Capital piauiense, mais precisamente da Igreja Catedral de Nossa Senhora das Dores até o Museu do Piauí. Na foto acima, registros de bate-papos de Seraine com amigos, incluindo o neto de Gonzagão Daniel Gonzaga e sua produtora musical, também produtora da rainha do forró Anastácia, Carol.
Confira abaixo bate-papos de Wilson Seraine sobre o Rei do Baião e o acervo que criou.


Confira aí como foi a última Procissão:

AMANHÃ 2 TEM CAMÕES NO MEMORIAL

Já tem gente contando as horas, ouvi dizer. Acredito, pois eu também tô que tô.
Não se esqueçam: é amanhã sexta 2, na biblioteca do Memorial da América Latina. Nesse dia 2 estaremos aguardando vocês pra um abraço e bom papo. Aliás haverá, além do lançamento do livro em braille A Fabulosa Viagem de Vasco da Gama, mesa de debates com bam-bam-bans da USP. Além disso haverá declamação em braille e leitura para videntes.
O jornalista Eduardo Rascov, editor da revista Memorial da América Latina, estará proseando comigo numa mesa. Falaremos sobre a Língua Portuguesa e um de seus dos artífices: Camõe, cujo nascimento foi há 500 anos.
O Newsletter Jornalistas & Cia registra hoje o que vamos fazer amanhã, no Memorial da América Latina. Confira:

Clique para melhor visualização


Para adquirir o livro físico clique: https://loja.uiclap.com/titulo/ua61443/

quarta-feira, 31 de julho de 2024

O DIA 2 ESTÁ CHEGANDO...

Não só brasileiros, mas também portugueses e pessoas outras que gostam da boa literatura estão convidadas para o evento multimídia que ocorrerá entre as 17h e 21h na próxima sexta 2 na biblioteca do Memorial da América Latina. Que evento é esse?
Bom, o presidente da Associação Portugal Brasil 200 anos (APBRA), José Manuel Diogo, abre o link abaixo:


O poeta Luís Vaz de Camões nasceu em Coimbra, ali no século 16. Tinha 55 ou 56 anos. Seu encantamento ocorreu no ano de 1580. Antes, em 1572, teve publicada a sua obra prima: Os Lusíadas.
Bom pessoal, aguardamos vocês lá no Memorial. No cardápio vai ter comes e bebes.

terça-feira, 30 de julho de 2024

VAMOS AO MEMORIAL DA AMÉRICA LATINA!

Hoje é terça, depois de terça é quarta e pra chegarmos à sexta, precisamos passar pela quinta. Portanto: quarta, quinta, sexta 2...
Pois é pessoal, a 1ª sexta-feira de agosto de 2024 está chegando. Nesse dia, entre 17h e 21h, estarei proseando sobre o poeta português Camões e ao mesmo tempo tornando público o livro resultante de uma adaptação especial que fiz de Os Lusíadas.
Os Lusíadas é uma obra mágica que conta a história de bravura do povo português, especialmente no campo oceânico, dos mares.
O original camoniano foi publicado em maio de 1572.
O original angeliano será lançado no próximo dia 2. Pois, pois!
Bom, espero vocês todos lá no Memorial da América Latina.
Ah! Sim: haverá debate sobre as origens da língua portuguesa. À respeito, fiz:

O mar inventou o Brasil
E os portugueses, o mar
Tal façanha só foi feita
Pra que se pudesse contar
Que o poeta rei Dinis
Chegou longe sem nadar

Nadar mesmo não sabia
Mas sabia inventar
Foi ele quem inventou
De por seu povo no mar
Balançando sobre as ondas
Foi o mundo conquistar

Tinha já uns trinta anos
Era bom e coisa e tal
Não gostava do latim
Tao falado em Portugal
Depressa ele pensou
Numa língua mais legal

Essa "língua mais legal"
Era a língua portuguesa
Cultivada com esmero
Como flor da realeza
Portugal lhe deu a forma
O tom, graça e beleza

No mundo há muita gente
Falando em japonês
Falando grego e russo
Alemão, turco e chinês 
Mas na vida coisa boa
É falar em português

domingo, 28 de julho de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (118)

O romance da grande escritora cearense lembra um pouco o romance As Meninas da paulistana Lygia Fagundes Telles. As personagens de Lygia não são irmãs, mas amigas. Ana Clara cursa Psicologia, Lorena cursa Direito e Lia, Ciências Sociais.

Lembra também a história de Raquel o romance Toda a Luz que Não Podemos Ver do norte-americano Anthony Doerr.

A história traçada por Doerr se passa no decorrer da Segunda Grande Guerra: uma garotinha órfã de mãe, Marie, perde a visão aos seis anos de idade e é até os 13, 14 anos criada pelo pai, chaveiro do museu nacional de história natural (França) que é preso pelos nazistas e tal. Emociona. É fantástico este livro. Tem muito palavrão e prostitutas pegando clientes a pau nas ruas alemãs. Tem também estupros praticados por soldados russos. Ganhou o Prêmio Pulitzer em 2015.

Tão grande quanto a brasileira Júlia Lopes de Almeida foi a inglesa Barbara Cartland (1901-2000), autora de mais de 700 livros. Entre esses livros, o romance O Duque e a Filha do Reverendo.

O duque no livro de Barbara é um cara bem apessoado e rico, muito rico, mas sem herdeiros. É solteiro e depois de descobrir que a mãe traía o pai, jurou a si próprio jamais se casar. É quando entra na história uma jovem de 19 anos chamada Bianca.

Em 2019, o mineiro Itamar Vieira Junior estreou na literatura publicando o livro Torto Arado. Excelente a partir do título. É uma história já conhecida, mas aqui contada de maneira excepcional. Envolve pessoas pobres, negras, em luta pela sobrevivência no interior baiano. Tem amor e muito sexo. A trama começa assim:


Quando retirei a faca da mala de roupas, embrulhada em um pedaço de tecido antigo e encardido, com nódoas escuras e um nó no meio, tinha pouco mais de sete anos.

Minha irmã, Belonísia, que estava comigo, era mais nova um ano. Pouco antes daquele evento estávamos no terreiro da casa antiga, brincando com bonecas feitas de espigas de milho colhidas na semana anterior. Aproveitávamos as palhas que já amarelavam para vestir feito roupas nos sabugos. Falávamos que as bonecas eram nossas filhas, filhas de Bibiana e Belonísia…


Foto e reproduções de Flor Maria e Anna da Hora

 

sábado, 27 de julho de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (117)

Entre as freiras do colégio Maria Augusta, a Guta, faz amizade com Maria Gloria e Maria José.Ao completar 18 anos, as três Marias deixam o colégio para ganhar vida própria. Glória casa-se cedo. José não se casa, transformando-se numa pessoa muito quieta e solitária. Augusta envolve-se com um artista plástico bem mais velho do que ela e casado. Ela sofre. Depois conhece um certo Isaac que finda por matar-se.
Raquel de Queiroz
A ficção de Júlia Lopes de Almeida flerta o tempo todo com a realidade. Ela era participativa e arguta observadora da sociedade em que viveu. De lá pra cá, ou seja, do século 19 pra cá, aparentemente nada mudou.

No livro Correio da Roça (1913), a autora conta os perrepes vividos por suas personagens: Maria, mãe de quatro filhas, perde o marido e praticamente toda a fortuna que tinha. Sobra-lhe uma fazenda fincada no fim do mundo. É lá que vai viver com as filhotas. Enfim, essa é mais uma bela história enredada por Júlia Lopes de Almeida.

O século 20 nos deu algumas autoras também muito importantes como a cearense Raquel de Queiroz, que estreou como romancista em 1928 com O Quinze. Obra-prima.

Em 1939, Raquel brindou aos leitores o romance As Três Marias.

As Três Marias são Augusta, Glória e José.

Maria Augusta é posta pelo pai num colégio de freiras depois que a mãe morre. Tinha 12 anos de idade. No começo enfrenta dificuldades para se adaptar ao novo ambiente.

O romance de Raquel de Queiroz conta, além da vida dessas Marias, a vida rápida de outras jovens.

Jandira e Violeta são duas amigas de Maria Augusta. A primeira casa-se com um sujeito desqualificado, sem profissão, e com ele tem um filho, que nasce cego.

Quanto à Violeta, Augusta fica sabendo que virara puta. Ela lembra:

…Agora estava perdida, com a porta aberta para todos os homens. E eu tentava imaginar o horror daquela vida: chega um homem gordo, bigodudo, hálito de cerveja, tem o direito de entrar, de deitar com ela na cama, de exigir o que quiser. E parecia-me ver o homem, a camisa suada fedendo, os beiços babosos, a carne mole. Ou então outro qualquer, magro, ossudo, velho, com cruzes de esparadrapo no pescoço, ou cheirando a cigarro apagado...

sexta-feira, 26 de julho de 2024

DRAUZIO VARELLA E NÓS...


Esta semana o médico Drauzio Varella esteve por cá. Tivemos uma ótima conversa. Tudo gravado para em breve ser mostrado num podcast semanal.
O podcast, ainda sem título, tem como integrantes os craques Alex, Abreu, Magrão, Cilene e eu.
O papo com o Drauzio começou com lembranças à memória do biólogo e compositor paulistano Paulo Vanzolini (1924-2013) e seguiu por aí afora.
Drauzio contou um pouco da sua história e do tempo em que Vanzolini foi seu professor na Faculdade de Medicina na USP. Contou também do tempo em que atendia presidiários na velha casa de detenção, que também frequentei como repórter da Folha. E também como repórter frequentei a Penitenciária Feminina do complexo Carandiru. Mas essa é outra história...
Durante certo período, Drauzio distribuiu na penitenciária uma revista em quadrinhos intitulada Viralata. Essa revista, com roteiro assinado por Paulo Garfunkel (Magrão) e quadrinhos por Libero Malavoglia, foi de especial importância para conscientizar os presidiários aidéticos no período mortal da doença.

A CULTURA ESTÁ DE LUTO



Hoje, poucas horas antes da cerimônia de abertura da Olimpíada de Paris, morreu o olímpico xilogravurista pernambucano J. Borges.
Borges, 88 anos, partiu para a eternidade de modo natural.
Celebrado no Brasil e no exterior, o artista do traço e da palavra foi pai 24 vezes: 18 biológicos e os outros adotados. Vários seguiram a profissão do pai.
Como o poeta popular Patativa do Assaré, J. Borges frequentou os bancos escolares por pouco tempo. Cerca de um ano; Patativa uns três meses apenas.
A partida inesperada do grande xilogravurista pernambucano deixa o mundo da cultura popular de luto.
Ah! Sim: J. Borges, além de deixar milhares e milhares de xilos, deixou também folhetos de cordel que ele mesmo ilustrava.

quinta-feira, 25 de julho de 2024

INEZITA BARROSO, CAPIBA E ISMÁLIA


Capiba e Assis
Até hoje é grande o número de pessoas que abreviam por meios próprios a própria vida.
Cleópatra matou-se, deixando-se espontaneamente ser picada por cobras.
Duas filhas do filósofo Karl Marx tiveram destino idêntico ao destino de Cleópatra.
No mundo todo muita gente continua se matando.
No Brasil, 30 ou 40 pessoas matam-se diariamente. No dia 15 de julho de 1921 o poeta mineiro de Ouro Preto Alphonsus de Guimaraens pendurou-se numa corda e partiu, pouco antes de completar 51 anos de idade.
Guimaraens teve uma grande paixão na adolescência: a prima Constança, que morreu aos 17 anos de idade.
Depois da partida de Constança, Alphonsus de Guimaraens casou-se e teve 14 filhos, incluindo a caçula Constança, que ganhou esse nome em memória da amada do grande poeta. No dia 21 de novembro de 1910, Guimaraens publicou pela primeira vez no jornal A Gazeta o poema que todo mundo conhece: Ismália. O detalhe é que esse poema foi publicado originalmente com o título de Ofélia.
Ofélia é uma personagem shakespareana que aparece no 4º Ato do final da cena 7 do clássico Hamlet. Confira: 
O REI: ...Então, meiga rainha?
A RAINHA: Tanto as desgraças correm, que se enleiam no encalço umas das outras. Vossa irmã afogou-se, Laertes.
LAERTES: Afogou-se? Onde? Como?
A RAINHA: Um salgueiro reflete na ribeira cristalina sua copa acinzentada. Para aí foi Ofélia sobraçando grinaldas esquisitas de rainúnculas, margaridas, urtigas e de flores de púrpura, alongadas, a que os nossos campônios chamam nome bem grosseiro, e as nossas jovens "dedos de defunto". Ao tentar pendurar suas coroas nos galhos inclinados, um dos ramos invejosos quebrou, lançando na água chorosa seus troféus de erva e a ela própria. Seus vestidos se abriram, sustentando-a por algum tempo, qual a uma sereia, enquanto ela cantava antigos trechos, sem revelar consciência da desgraça, como criatura ali nascida e feita para aquele elemento. Muito tempo, porém, não demorou, sem que os vestidos se tornassem pesados de tanta água e que de seus cantares arrancassem a infeliz para a morte lamacenta.
LAERTES: Afogou-se, dissestes?
A RAINHA: Afogou-se.
LAERTES: Querida irmã, já tens água de sobra; não te darei mais lágrimas. Contudo, somos assim, que a
natureza o obriga, sem que importe a vergonha; uma vez fora, deixou de ser mulher. Adeus, senhor. Com
as palavras, só chamas me sairiam, se não fosse apagá-las a tolice.
(Sai.)
O REI: Sigamo-lo, Gertrudes. Que trabalho me custou para a cólera acalmar-lhe! Receio que de novo a
explodir venha. Sigamo-lo, portanto.
(Saem.)
Ismália ganhou esse título por volta de 1919, foi interpretado por muita gente boa, incluindo Fernanda Montenegro, Larissa Luz e o rapper Emicida.
Em 1958, Ismália foi melodiado pelo compositor pernambucano Capiba e gravado, com orquestra, pela cantora paulistana Inezita Barroso. Ouça:



POSTAGENS MAIS VISTAS