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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

PAULO VANZOLINI E TEMPOS DE CABO

O renomado biólogo paulistano especializado em herpetologia, ex-cabo e compositor bissexto Paulo Emílio Vanzolini dará o ar da sua graça amanhã e depois, 14 e 15, às 21 e 19 horas, respectivamente, no teatro da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, Fecap, à Avenida Liberdade, 532.
O pretexto de tão boa notícia é a edição fac-similar do livro Tempos de Cabo, viabilizada pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. O livro é recheado de belíssimas ilustrações assinadas pelo craque cearense Aldemir Martins, ao contrário da edição original, que, aliás, é bem anterior a essa composta em março de 1981 pela Palavra e Imagem Editora Ltda., que tinha endereço ali na Rua Augusta, de tantas histórias.
Paulo é um dos mais importantes e práticos seres humanos nascidos em solo brasileiro que já conheci, e com quem tenho tido, ao longo dos anos desde os 80, o prazer de molhar o bico com cerva da boa, geladinha, seja na sua casa, seja no boteco da esquina mais próxima.
A trajetória do cientista Paulo Emílio Vanzolini é orgulho para todos que sabem o que é cidadania e ser cidadão, e que gostam deste País acima dos outros países.
Como compositor Paulo é um clássico, o contraponto poético perfeito do seu amigo Adoniran Barbosa, com quem também muitas vezes molhei a palavra no velho Mutamba de guerra, que existia no térreo de um prédio ao lado da sede do extinto Diário Popular, na Major Quedinho.
Adoniran é o popular clássico.
O primeiro, autor do samba-canção Ronda.
O segundo, do samba Trem das Onze.
Tanto um quanto o outro, ótimo motivo para boas discussões em torno da música paulista.
Paulo é o clássico popular como Bach e Beethoven, se me entendem.
Fantástico!
Há uns dois ou três anos, eu o convidei a subir comigo no palco de uma das unidades do Centro Educacional Unificado (CEU), na periferia de São Paulo.
Ele foi e nos proporcionou uma noite memorável, pois difícil esquecê-lo contando histórias suas e nos desafiando a encontrar na sua obra a palavra “malandro”.
Na obra de Paulo não há espaço para dúbio sentido e nem vez para personagens “espertos”, que passam a perna nos outros.
Sua obra é seu espelho, espelho cristalino.
A sua obra, formada por 52 músicas distribuídas em quatro CDs de 13 faixas cada um, acondicionados numa caixa (Acerto de Contas), é seu legado para o porvir. Além, claro, dos estudos que fez no campo da pesquisa científica.
Paulo Emílio Vanzolini é um homem de moral, como acertadamente foi escolhido o título do filme que trata um pouco da sua vida e obra, dirigido com sensibilidade e talento pelo paulistano, e também biólogo, Ricardo Dias.
Uma amostra do conteúdo poético de Tempos de Cabo a ser relançado amanhã e depois, na Fecap:

Quem me viu e quem me vê
Há de dizer certamente
Que hoje me vê deferente
Se essa vida é mesmo um circo,
Paiaço dela sô eu.
Destino se riu de mim,
Me deu muler que eu não quero,
Muler que eu quero num deu.

Uma, coitada, me adora.
Seu eu passo e num ligo, chora.
Sempre eu passo, nunca ligo.
A otra, veja você,
Destino brinco comigo,
Nem finge que não me vê,
Si ri pra mim tudo dia,
Não sorriso de bondade,
Nem de amor nem de amizade,
De mardade e de ironia.

Quem me viu e quem me vê
Hoje me vê deferente.
Onde eu to tem tempo quente,
Tem tiro, tem punhalada,
Tem sangue, tem entrevero.
Diz que eu não sô bom de gênio,
Dissesse que é desespero.

Quem conhece um pouco a vida
Vê meu destino traçado:
Vô acabá de madruga
Espichado numa carçada,
Morrendo de morte matada.

E nesse dia de sangue
Essa muler que eu não gosto,
Me vendo morto se mata.
E essa que gosto, essa ingrata,
Não há de chorar por mim,
Só há de dizer assim,
Com seu jeito de princesa:
– Era nego muito salafra,
Morrendo até foi limpeza.

Paulo Vanzolini não estará só amanhã e depois – e nem nunca – no teatro da Fecap. Acompanhando-o estarão Ana Bernardo, cantora e companheira; Ítalo Peron (violão), Jayme Saraiva, o Pratinha (flauta) e Adriano Busko (percussão). Ana interpretará clássicos vanzolianos, como Chorava no Meio da Rua, Falta de Mim, Bandeira de Guerra, Cara Limpa e Praça Clóvis. Antes, Paulo contará histórias curiosas sobre a sua vida e obra, o que fez magnificamente noutra ocasião quando estivemos juntos com seu parceiro Eduardo Gudin, seu ex-aluno de medicina Dráuzio Varela e o produtor musical Fernando Faro, no palco do SESC Vila Mariana.
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DOMINGUINHOS
O sanfoneiro Dominguinhos se apresenta hoje 13 de sorte no Remelexo Brasil, ali na Rua Paes Leme, 208. Mais detalhes com Fabíola Lima, pelo telefone 11.9579-8222 ou através do e-mail fabíola@duolfcomunic.com.br

RAPAZIADA DO BRAZ
De Braz Baccarin, responsável pelo lançamento à praça do clássico Trem das Onze na primeira metade dos anos de 1960, recebo por e-mail:
Prezado amigo Assis Ângelo, boa tarde
Gostei da história da música Rapaziada do Braz, porém, faltou um detalhe sobre essa famosa obra. Antes da letra de Alberto Marino Júnior, ela teve letra de Álvaro Rodrigues e foi editada em 1923 por Vicente Giordano Editor e somente em 1954 foi transferida para Irmãos Vitale. Não é história de pescador: tenho a partitura.
Um abraço.

BLOG
De Álvaro Alves de Queiroz, recebo também por e-mail:
Prezado conterrâneo Assis Ângelo
Não sei se você se lembra de mim, eu lhe conheci no SESC de São José dos Campos/SP, quando você fez palestra sobre O Nordestino em São Paulo. Fiquei com o seu e-mail e até já mandei alguns artigos que escrevo para os amigos internautas sobre a Olimpíada no Brasil - o Rio de Ontem e de Hoje, e outro sobre as invasões do MST. Agora, venho lhe cumprimentar pelo seu blog, que é excelente e onde você expõe um repertório de contactos muito bom, e faz considerações muito boas e procedentes sobre diferentes assuntos, como as da minissaia da aluna da Uniban, Geisy Arruda. Como sou um velho muito enrolado no computador e na Internet, não estou conseguindo me manifestar em seu blog, para lhe cumprimentar sobre a excelência de seu espaço; por isso, aqui vão os meus cumprimentos.
Saudações nordestinas.

CORDEL
A respeito do episódio envolvendo a cliente da Uniban, Geyse Arruda, recebo de Peter Alouche um cordel assinado por Miguezim de Princesa. Posto depois, para deleite dos leitores.

4 comentários:

  1. Epa! Você diz:"...muitas vezes molhei a palavra no velho Mutamba de guerra, que existia no térreo de um prédio ao lado da sede do extinto Diário Popular, na Major Quedinho".
    Esse verbo no pretérito imperfeito quer dizer exatamente o que estou pensando, que o Mutamba não existe mais? Aconteceu o mesmo que aconteceu com o Miranda (ou bar do Juvenal, ou do Mané, ou do Luiz) lá na Barão de Limeira, que se transformou em estacionamento?
    Querem acabar com nossa memória etílica?

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  2. Pois é, Marco, já era. Lá nasceu muita história e música também, como Torresmo à Milanesa, rabiscada em meia por Carlinhos Vergueiro e Adoniran Barbosa, sabia? O Celsinho - por onde anda o Celsinho, hein? - foi meu parceiro lá de muitos copos. E você também. AH! O tempo.

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  3. A última notícia que tive do Paçoquinha foi no e-mail dele (que não sei se continua funcionando): savio.celso@ig.com.br ou saviocelso@ig.com.br.

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  4. Não pude ir ao show de Paulo Vanzolini no Fecap. Sabe como é, tô ficando véio (72) e a coluna anda pregando umas peças. Amanhã, aliás, vou ao Instituto de Ortopedia de Sampa ajeitar cirurgicamente meu esqueleto.
    Mas lendo seu comentário, parece que não perdi nada. Tá tudo lá. E ainda tenho aqui em casa o Pascalingundum! pra ler de vez em quando. Tô de olho!
    Um abraço, grande Assis Ângelo.

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