Ele era doce e dócil, inquieto, nervoso, sereno,
contraditório, autossuficiente, prepotente e amável. Ele era a mistura de tudo
e mais alguma coisa. Era amigo dos amigos. Era solidário. Ele era isso e muito
mais. Era jornalista, compositor, arranjador, cordelista, ator, radialista. Ele
era isso tudo e muito mais. Tinha amigos e inimigos. Entre seus amigos, Jackson
do Pandeiro, Luiz Gonzaga e Raimundo Asfora (1930/1987), poeta, advogado e deputado pela
Paraíba, que fez bem a muita gente.
Estou me referindo ao pernambucano Rosil Cavalcanti (1915/1968),
com “i”, pois, na Paraíba e redondezas, quem não é Cavalcanti é “cavalgado”...
Fiquei sabendo disso tudo após história contada no
livro Pra Dançar e Xaxar na Paraíba: andanças de Rosil Cavalcanti, de Rômulo C.
Nóbrega e José Batista Alves, lançado em fins do ano passado e já praticamente
impossível de ser encontrado nas livrarias do Nordeste e, no Sudeste, então...
A obra de Nóbrega e Alves é excepcional sob todos
os aspectos.
A história do multitudo Rosil Cavalcanti, dividida
em nove capítulos no livro de mais 400 páginas, começa em 1950, numa reunião
comandada por Hilton Mota para a escolha do primeiro jornalístico da Rádio
Borborema, da rede Associada do paraibano, de Umbuzeiro, Francisco de Assis
Chateaubriand Bandeira de Mello (1892 - São Paulo,1968), que nesse mesmo ano presentearia o Brasil com
a televisão, que hoje é o que vemos. Hilton Mota, figura impoluta com quem
trabalhei na Rádio Correio da Paraíba, no começo dos anos de 1970, era o
bam-bam-bam da Borborema, na época de Rosil.
É uma história incrível essa contada no livro Pra
Dançar e Xaxar na Paraíba. Os autores Rômulo Nóbrega e José Batista Alves, passaram
mais de duas décadas para concluir a tarefa que se propuseram a fazer. O
resultado pode ser medido pelo volume enorme de matérias publicadas pela
imprensa nacional.
Antes desse livro, confesso que desconhecia a
trajetória do biografado e a importância real que ele significa para a música popular
brasileira, especialmente no tocante aos ritmos nordestinos ou regionais que
ele tão bem desenvolveu.
O primeiro intérprete a registar em disco as composições
de Rosil Cavalcanti foi o paraibano, de Alagoa Grande, Jackson do Pandeiro.
Aliás, Jackson estreou em disco com uma música de Rosil: Sebastiana. Isso foi em 1953.
Depois de Jackson, vieram Luiz Gonzaga e inúmeros
outros intérpretes.
O livro de Nóbrega e Alves é de um conteúdo
riquíssimo, que vai ao extremo das minúcias. Os autores falam de Macaparana, o
berço de Rosil. Falam da sua trajetória por boa parte do Nordeste, incluindo
Alagoas e Sergipe. E falam, naturalmente de Campina Grande, a cidade que
recebeu de braços abertos o autor de Sebastiana e Faz Força, Zé, essa última, lançada em disco pelo Rei do Baião.
Rosil Cavalcanti compôs pouco mais de 80 músicas,
24 delas lançadas por Jackson do Pandeiro.
Entre os clássicos populares deixados por Rosil,
destaque para Tropeiros da Borborema. Essa música, uma toada, foi feita em parceria
com Raimundo Asfora.
Todos os capítulos Pra Dançar e Xaxar na Paraíba,
enriquem no seu conjunto, a obra e a trajetória do biografado. Detalhe: o nono
capítulo, o final, traz curiosidades impagáveis sobre Luiz Gonzaga. E chega.
Deixo pra vocês leitores ou futuros leitores que descubram essas curiosidades.
Pra Dançar e Xaxar na Paraíba, é
um livro deliciosíssimo que traz à tona, com fidelidade, a beleza da cantiga
nordestina.
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