Intimado a produzir uma ilustração para este blog em dois minutos, Fausto atendeu o desafio e fez a ilustração em menos de dois minutos. |
É
bom ter amigos. Quem tem amigos, tem alegria. Amizades são uma boa razão para
viver. Para viver bem. Quem não tem amigos, toma muito remédio de farmácia.
Eu
não me lembro da última vez que entrei numa farmácia. E querem saber de uma
coisa? Depois que fiquei cego, passei a ver melhor. A ver melhor as pessoas que
me cercam. E vendo assim, cada vez mais não preciso ir à farmácia.
Hoje,
a minha casa, templo onde moro, recebeu Fausto e Vitor.
Fausto
é o cartunista que boa parte deste país tão judiado politicamente conhece,
amigo de todos nós. Sensível, de alma encantadora e talento absurdo. Vitor é o
Nuzzi, jornalista, autor do livro mais completo que trata sobre a vida e obra
do conterrâneo Geraldo Vandré: Uma Canção
Interrompida (editora Kuarup).
Fausto
é paulista de Reginópolis. E Vitor, paulistano da Liberdade.
E
conversa vai, conversa vem, lembramos de muitos amigos. Amigos que nunca foram
à farmácia; e se foram, foram poucas vezes.
Anna de Hollanda e Fernando Faro com Assis Ângelo no programa de rádio "São Paulo, Capital Nordeste" |
Lembramos
do Fortuna, Fausto, Goethe, Angeli, Baltazar - o “Cabecinha de Ouro”, herói do
Timão em 1954 –, Quarentinha, Sócrates, Garrincha, Tinhorão, Vandré, Inezita, Vinícius, Alcy, Gê,
Ziraldo, Jaguar, Chico, Lula, Temer, Dilma, Fernando Pessoa, Brian de Palma, Rolling
Stones, Téo Azevedo, Marcos Zanfra, José Cortez, Anna de Hollanda, Osvaldinho da Cuíca, Izilda Alves, Edu
Lobo, Lucy Alves, Erico Verissimo, Luís Dantas, Joel dos Santos, Carla Maio, João Henrique, Cecília Thompson.
E também as três ceguinhas da Paraíba: Maroca, Pondoca e Indaiá.
Conversa
que vai e vem é conversa que quase nem termina, de tão gostosa que é. Ah! Inda
lembramos de alguns personagens que também viveram sem farmácia e que partiram
este ano, como o teatrólogo Naum Alves de Souza, o jornalista Sandro Vaia, os
atores Umberto Magnani e Flávio Guarnieri e o multi-tudo sergipano Fernando
Faro...
A
última vez que estive com Faro faz uns dois anos. Estávamos com Vandré, Peter
Alouche, Paulo Benitez e outros amigos, comendo uma saborosíssima paella. Lembro-me que, ao sairmos, no
carro ele contou, sem eu perguntar, sobre um show musical que produziu para o
PT em fins dos anos 1970, no Juventus. O partido estava em formação. O
resultado desse espetáculo, segundo ele, foi lamentável. Ele passou a detestar
Lula desde então. Grana na parada, desviada.
Quanta
história a contar.
Poucas
horas antes de o Brasil tomar conhecimento do passamento de Faro, por esses
inexplicáveis da vida, o Vandré telefonou para saber como estou. E, como
sempre, conversa vai, conversa vem, falamos de muita coisa. Ele gargalhando do
outro lado, e eu deste também. Ele acha que tenho de dar aulas, que tenho de
voltar ao rádio.
Uma
coisa puxa a outra, e não há como eu não tecer os versos que se seguem:
Fernando
Faro partiu.
Foi
pra eternidade.
Foi
brincar com as estrelas.
E
foi brincar de verdade!
Fernando
“Baixo” partiu.
Deixando
muita saudade.
Só
que saudade tanta assim
Não
é certo alguém querer.
É
saudade demasiada
Que
vai muito além do ser.
É
saudade que machuca
E
essa ninguém quer ter.
...
A
tarde de quem não precisa de farmácia é sempre uma boa tarde, e a de hoje foi
uma boa tarde. Falamos, eu, Fausto e Vitor, sobre tudo; até sobre a formação do
mundo. Falamos até de Copérnico, Isaac Newton, Albert Einstein, pés de maçã, de
jaca. Só não falamos de pé de minhoca. Depois disso, fomos comer um baião de
dois, que ninguém é de ferro. E lá encontramos Regina, Nilson e outras pessoas
queridas. De lambuja, eu trouxe pra casa uma garrafa de manteiga de garrafa.
Para
lembrar: