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quinta-feira, 29 de maio de 2025

AMOR E TRAGÉDIA EM MINAS

Um personagem onisciente é o narrador do texto bem amarrado que dá título ao livro Raízes & Colheitas - Os Passos dos Guimarães Braga, do poeta e romancista baiano José Maria Alves Nunes.

A história contada no livro se desenvolve em oito capítulos distribuídos em cerca de 160 páginas. É leve, de boa leitura e encaixa-se plenamente na escola do romantismo surgida na França e aqui desembarcada nos últimos anos da década de 40 do século 19. Seu primeiro representante foi Joaquim Manuel de Macedo (A Moreninha, 1844).

O enredo do livro em pauta começa com a chegada de um jovem filho de um abastado comerciante português. 

O viajante, originário das terras do Minho, tem por nome Joaquim Guimarães Braga. O porto de chegada foi o Rio de Janeiro. E com boas pratas no bolso ganhou rumo ao sul de Minas Gerais, onde logo compraria uma fazenda denominada São Miguel. Recém-casado, fazia-se acompanhar da mulher Isabel. 

Em terras brasileiras, essa bem engendrada e trágica história começa no longínquo 1852. 

À época, de acordo com o enredo, o principal produto de exportação do Brasil era o café. O Rio e Minas eram os dois principais Estados produtores do chamado "ouro em grãos".

Não demorou muito e Joaquim, na casa dos 20 anos, prosperava a olhos vistos. Eram seus auxiliares todos mineiros, incluindo as jovens Anastácia e Catarina de 15 e 16 anos, respectivamente. 

A adolescente Catarina era casada com o capaz Fulgêncio. 

Todos, sem exceção, davam-se muito  bem.

Joaquim e Isabel voltaram a Portugal apenas duas vezes, a última em 1862. Nesse ano o jornalista e tudo mais Machado de Assis publicava um de seus contos de pegada fantástica intitulado O País das Quimeras, no periódico O Futuro. Dez anos depois, o mesmo Machado estreava no campo do romance romântico com o livro Ressurreição. Mas essa é outra história...

A trama toda criada por José Maria Alves Nunes abarca várias gerações, desde os pais de Joaquim. 

Joaquim e Isabel fizeram dois filhos: Juvêncio e Miguel.

Juvêncio casou-se co
m Olindina e com ela teve dois filhos: João e Carmem. 

Miguel casou-se com Alzira e com ela também teve dois filhos: Roberto e Rosa Maria.

Juvêncio e Olindina foram tão felizes quanto Joaquim e Isabel, ao contrário de Miguel que findou pagando os pecados do mundo. 

O que acontece com os filhos de Miguel e com os filhos de Juvêncio, hein?

O autor de Raízes & Colheitas está de parabéns e que novos romances ponha na praça. 



sexta-feira, 23 de maio de 2025

EU E MEUS BOTÕES (88)

Pois é, pessoal. Boa tarde. 

(Palmas, palmas, palmas.)

Como se numa voz única, todos dizem: "Boa tarde, boa tarde, boa tarde dona Flor!". 

Assim vocês me deixam sem jeito...

"Permita-me, dona Flor: a senhora como historiadora está a acompanhar as desgraças das guerras no mundo de hoje?", pergunta com alguma solenidade o poeta Zilidoro. 

Seu Zilidoro, não dá pra não deixar de acompanhar a loucura toda que vivemos agora de canto a canto do mundo. Isso me entristece, nos entristece. Mas... 

Antes de concluir o pensamento, lá do canto Barrica pergunta: "Dona Flor, e o seu Assis?".

Bom, eu entro na casa dos botões dizendo o quanto me faz bem essa conversa toda. E digo mais, alto e bom som: Vocês são, realmente, incríveis! Vocês estão entendendo tudo o que aqui acontece...

Zoião: "Seu Assis, pra falar a verdade, dona Flor está nos ensinando e estimulando a saber mais da vida cotidiana que todos nós vivemos. E vou dizer mais. Depois que ela aqui chegou, a nossa vida mudou. Pra melhor".

Vamos parar com isso?

Que devo eu dizer diante de tal manifestação? Eu repito, vocês são incríveis. Aprender não tem tempo. Sempre é e será tempo de aprender. O começo disso, é a leitura, é ler...

Lá no canto, os botões Zé, Mané, Biu quebram o silêncio pra fazer uma pergunta. E a pergunta é pergunta que interessa a todos: Bolsonaro vai ou não vai pra cadeia?

Olha aqui, o mundo tá meio quebrado. Num sei quem, mas tem um cara representante do governo dos EUA ameaçando acabar com o ministro do STF, Alexandre de Moraes. Era só o que faltava...

"Dona Flor, me permita: eu soube que aquele tal Trampi está perdendo a guerra contra os direitos humanos. Agora mesmo, a Corte americana o proibiu de explusar os estrangeiros da Universidade de Harvard...", interrompe Zé ali com Mané. 

Um horror, um horror, não é mesmo?

"Seu Assis, eu li em algum lugar que o senhor conheceu o fotógrafo Sebastião Salgado. É verdade? Ele morreu hoje...", expressa-se o discreto Jão. Eu:

Sim, conheci o Salgado. Figurinha que me marcou pela simplicidade. Foi-se embora hoje com 81 anos. Eu comandava o Departamento de Imprensa do Metrô de São Paulo. E aí um dia, chega a minha frente um mineiro francês grandão, em todos os sentidos, pedindo autorização para fotografar o Metrô. Fiz isso e assinei, dando-lhe autorização. Lembro que ele me disse: "Eu nunca tive tanta facilidade para obter uma autorização de um órgão oficial para fazer o que sei fazer".

quinta-feira, 22 de maio de 2025

O CEGO NA HISTÓRIA (2)


"A intolerância é cega e a cegueira é um elemento do erro. O conselho e a moderação podem corrigir e encaminhar as inteligências, mas a intolerância nada produz que tenha as condições de fecundo e duradouro". (Texto extraído da matéria intitulada Ideal do Crítico, de Machado de Assis, publicado no dia 8 de outubro de 1865, jornal Diário do Rio de Janeiro).


Pois é, o nosso Machado estava na casa dos 20 anos quando escreveu com sobriedade, profundidade e clareza texto que orientava decididamente o caminho dos futuros profissionais da crítica literária. O bambambã da época, José Veríssimo (1857-1916), babou na gola da camisa e virou amigo de infância do jovem escritor que o futuro coroaria como mestre das palavras ditas e escritas em todos os gêneros, da poesia ao teatro, cá no Brasil. 

No dia 5 de abril de 1858, o moçoilo Machado topou desafio de Francisco de Paula Brito (1809-1961). O desafio se transformaria num debate envolvendo a figura do cego. Quem o enfrentou foi um certo Jq. Ambos subiram e desceram polemicamente sem baixar de nível no desenvolvimento do mote proposto por Brito, este: "Qual dos dois cegos mais sente o penoso estado seu: o que cegou por desgraça, o que cego já nasceu?".

Lá pras tantas, diz Machado:

"A resignação e a capacidade de adaptação são fatores que influenciam a forma como cada cego lida com a cegueira".

No correr da vida, Machado de Assis voltaria a abordar a cegueira nos seus textos. Num deles, escreve: "Não se deve falar de luz aos cegos". Está no livro intitulado Contos Fluminenses, de 1870.

Em 1884, o autor de Iaiá Garcia (1878) publicou no jornal Gazeta de Notícias o conto Ex Cathedra. Nesse conto, o personagem central, Fulgêncio, lê como ninguém. É um viciado na leitura. Lê de manhã, de tarde e de noite. Faz isso antes e depois de tomar o café da manhã, antes e depois do almoço e toda hora mais ou menos que lhe dá na veneta. É um ser sereno. Entre os muitos assuntos de sua predileção se acham Matemática, Geografia, Filosofia, Direito... O seu é comportamento automático. Lê sentado, lê andando e até no banheiro. Se voasse, leria voando...

Fulgêncio mora com mucamas e uma sobrinha de nome Caetaninha que o chama de padrinho. Ela cuida da casa e dele. 

Fulgêncio é uma figurinha de anos que já lhe fazem dobrar o corpo. Sabe de tudo ou quase tudo. É viúvo e rico, porém simples. Agora ele se vê nos caminhos do Naturalismo. 

Curioso eterno, o personagem aí chega a fazer estudos sobre os olhos humanos. Depois de muita pesquisa, ele chega a uma conclusão fantástica: os olhos veem. 

Enquanto isso, a menina que vive com o padrinho passa a namorar e pensa em se casar. E mais não digo, a não ser o nome do sujeitinho: Raimundo. 

A cegueira de que foi vítima Joaquim Maria Machado de Assis durou três meses, tempo suficiente para deixá-lo quase doido. Foi a sua companheira, Carolina, a pessoa que lhe segurou as pontas naqueles momentos tão difíceis. A cura, digamos assim, veio dos ares e da paz reinantes em Nova Friburgo, RJ. 

Até hoje são desconhecidas as razões que vitimaram os olhos do bruxo do Cosme Velho. 

O cego passeia em tudo quanto é página e tela do mundo todo. Como diriam os mais antigos: o cego está sempre em tela...

No Brasil, os cegos se movimentam como podem nos romances e poemas dos nossos pequenos e grandes autores. E autoras. Que o diga Machado. 

Bom, e sabem o que eu continuo achando?

Eu acho que a cegueira não é o fim. 

quinta-feira, 15 de maio de 2025

GATO COM FOME ABRAÇA O BRASIL

Uma vez o amigo cantor e compositor Paulinho Nogueira disse-me rindo, quando lhe perguntei o gênero de uma música cujo título agora não lembro. E ele: "quando eu não sei um ritmo ou gênero musical, classifico a composição simplesmente como canção".

Lembrei agora do Paulinho Nogueira ao ouvir a música Pra Manter a Fé, de Cadu Ribeiro e Gregory Andreas. A letra fala de um País que é o nosso, carente de amor e esperança, fundamentalmente.

Pra Manter a Fé tem melodia que nos encanta desde a primeira nota. Acaba de ser gravada pelo inestimável grupo paulistano Gato com Fome, formado por Cadu (percussão), Gregory (cavaquinho) e Renato (violão 7 cordas).

Sobre a música em pauta, que considero uma joia, diz Cadu: "Pois é, depois de algum tempo sem gravar, trazemos ao nosso público Pra Manter a Fé. É uma canção sobre esperança, sobre acreditar em uma vida melhor. É um abraço coletivo no nosso país."

Ah, sim: pois, pois, devo dizer nestas letras finais que não consegui identificar objetivamente o gênero dessa música de Cadu e Gregory. 

Bom meus amigos, minhas amigas, confesso meu respeito e admiração a esse grupo musical que tanto bem e alegria leva às plateias de São Paulo e do Brasil. Clique abaixo para ouvir o que estou dizendo: 

(650) Pra Manter a Fé - Trio Gato com Fome feat. Fabiana Cozza - Videoclipe Oficial - YouTube

segunda-feira, 12 de maio de 2025

O CEGO NA HISTÓRIA (2)

Em 1825, o francês Louis Braille tinha 16 anos. Com essa idade ele surpreendeu muita gente ao apresentar pela primeira vez um método que desenvolveu para ajudar as pessoas cegas, na leitura e na escrita. 

Quer dizer, há 200 anos as pessoas cegas em todo o mundo passariam a ter a esperança de uma vida melhor, até porque essa nova invenção possibilitaria a alfabetização. 

Essa história toda começa em 1812, quando o caçula dentre quatro irmãos sofre um acidente quando brincava na oficina do pai. 

O pai de Louis, Simon-René Braille, era de profissão seleiro muito bem quisto na região onde vivia com mulher e filhos. 

Quando sofreu o acidente, o menino brincava com pedaços de couro. De repente, uma fivela atingiu com violência um dos seus olhos. Foi um deus nos acuda. Tudo o que era possível foi feito para que a infecção não alcançasse o outro olho. Até uma benzedeira de fama foi chamada, mas não adiantou. Dois anos depois, o menino Louis estava completamente cego dos olhos. 

Todo mundo se envolveu na educação do pequeno Louis, que sempre tirava ótimas notas na escola. 

No começo dos anos 40 do século 19, Louis já tinha o seu método bastante conhecido e o seu nome nele agregado. Assim: Braille, método Braille. 

Em 1844, um brasileiro de 10 anos chegava a Paris para ler na cartilha criada por Louis. Esse brasileiro atendia pelo nome de José Álvares de Azevedo. Era de família pujante e nasceu desprovido de brilho nos olhos. 

Seis anos se passaram quando o agora adolescente José voltava à terrinha e aos braços do pai e da mãe. 

Bem articulado, versátil e brincalhão, José passou a dar palestras nas casas e noutros lugares onde era chamado. 

Um dia, o filho de Inácio Manuel Álvares de Azevedo e Maria Luísa Silveira da Motta Azevedo estacou diante do imperador Pedro II e a ele o jovem fez uma bela e detalhada apresentação do método Braille. O objetivo desse encontro era convencer o imperador a instituir uma escola para cegos. 

Louis Braille morreu em 1852, de tuberculose. 

De tuberculose também morreu José Álvares de Azevedo, com 20 anos de idade. 

O encontro de José com D. Pedro rendeu frutos sob o título Imperial Instituto dos Meninos Cegos. 

José morreu seis meses antes da inauguração da instituição.

Do quadro dos professores desse Imperial Instituto fazia parte Benjamin Constant. Matemática era uma das matérias que lecionava. 

Com a morte de Benjamin em 1891, o Imperial Instituto dos Meninos Cegos passou a se chamar Instituto Benjamin Constant. Até hoje. 

A cegueira sempre foi um problema para o seu portador ou portadora. Fora isso, as pessoas cegas na Antiguidade e até praticamente nos dias recentes eram consideradas malditas. Havia quem pensasse que a cegueira era um castigo divino. Noutras palavras: o cego era pecador que não merecia perdão. 

Na Antiguidade grega, os cegos eram tidos como advinhos e por aí vai. 

Tirésias, filho de um pastor, transita por séculos em histórias lendárias como o cara que virou mulher por obra e graça da deusa Hera, que não gostou de vê-lo enxotando um par de cobras em plena cópula. A ira teve um prazo: sete anos. Passado esse tempo, Tirésias voltou a ser o que era antes: um homem. 

Saliente, Tirésias caiu na besteira de flagrar a deusa Atena tomando banho. Aí dançou. Irritada, ela o cegou para sempre. Cego e sábio. Acha-se até nas página da Odisséia de Homero. Curiosidade: Tirésias que perdeu o "s" para o diretor francês Bertrand Bonello, ganhou o telão num enredo envolvendo uma transsexual brasileira que vive na periferia da França com o irmão. O filme é de 2003. Mas, essa é outra história. 

Expressões como "deficiente visual" e "pessoas de baixa visão" foram cunhadas nos primeiros anos do século 20. A partir do século 21, a sociedade passou a respeitar um pouco mais as pessoas portadoras de quaisquer tipos de deficiência física, auditiva, visual etc.

Não são poucos os personagens cegos que se movimentam na literatura brasileira e estrangeira. E há até autores cegos que deixaram obras monumentais, como os argentinos Jorge Luís Borges (1899-1986) e Ernesto Sabato (1911-2011).

Meu amigo, minha amiga, você sabia que o pai da literatura brasileira, Machado de Assis, ficou cego por um tempo logo após o Natal de 1878?

Meu amigo, minha amiga, você sabe o que eu acho da cegueira? 

A cegueira não é o fim. 


sexta-feira, 9 de maio de 2025

EU E MEUS BOTÕES (87)

Oi, pessoal! O que está havendo aqui, vocês endoideceram?

Os botões caíram na risada, em uníssono: "A gente viu o senhor na TV italiana, ao lado de um monte de gente".

Nisso o sistema interno de TV capta imagens de dois homens e uma mulher. Todos se voltam para identificar as pessoas que veem na tela. Zilidoro diz logo: "Dona Flor já reconheci e aquele... aquele ali vem a ser o roteirista amigo do Vira Lata, personagem que a gente está querendo há muito conhecer".

Muito bem. É que vocês não me deram oportunidade de anunciar...

"Boa tarde, pessoal!", diz um tanto à vontade a historiadora Flor Maria, acrescentando: "O Zilidoro acertou quando disse que estávamos chegando aqui, pois temos o Magrão. E temos também o Fausto, que pessoalmente acho que vocês ainda não conheciam.

"O Magrão aí é o pai do Vira Lata?", pergunta entusiasmado Zoião. 

Bom, é com você Magrão. 

"Sim, sou o criador do Vira. É um filho que me dá muita alegria. É de origem simples, humilde e fácil fácil de conquistar amigos e amigas. É um paladino da Justiça. Nasceu pra fazer o bem e ensinar bons caminhos a quem deles precisa. É um verdadeiro irmão do Líbero. Esse aí também é figurinha do maior respeito", diz Magrão que anda ensinando música ao Vira Lata. 

Todos na sala se levantam batendo palmas, menos Lampa. 

Os irmãos Biu e Barrica levantam as mãos pedindo palavra. Ao mesmo tempo, perguntam: "E esse aí é o Fausto?".

"Sim, eu sou Fausto Bergocce. Tenho andado e ando ainda pintando e bordando. Sou desenhista, pintor e cartunista. Já publiquei duas dezenas de livros, apresentados por meu amigo Assis e o meu amigo Paulinho da Viola. Tenho rodado pelo mundo todo. Vou aonde me chamam. Trabalhei em muitos lugares legais como a TV Cultura, Folha, Folhetim, Diário Popular, Pasquim... Bom, se eu for falar mais a respeito do que faço e a respeito de mim, vocês vão acabar dormindo".

Palmas explodem na sala, enquanto Zoião se posiciona atrás de Lampa, que está entretido no que escreve num papel. De repente, Zoião irrompe numa gargalhada beirando o histerismo. Lampa dá um pulo e fica na posição de ataque: "O que foi, seu corno? Nunca viu um macho, não?".

O ambiente fica pesado e o pessoal do "deixa disso" faz a sua parte.

Peraí, peraí, o que está havendo?

Zoião para de rir e diz tirando o sarro de Lampa: "Ele é um burro, um besta que nem sabe escrever".

Lampa dá de mão do punhalzinho e...

Zilidoro: "Seu Assis, não é bom saber o que Lampa estava escrevendo?".

Sim. O que você estava escrevendo que chamou a atenção de Zoião?

Lampa se aproxima mostrando o papel no qual se lia: A bemo papa.

Pois é, Zoião você não vai querer que o Lampa escreva como se fosse um doutor de universidade. Aliás, há uma linguagem de duas falas e de duas escritas em qualquer parte do mundo. Há a fala praticada no campo e há fala praticada na cidade. Ambas estão certas. E Lampa também está certo. Quando eu cheguei aqui, vocês disseram que me viram na televisão. Sim, eu estava na Vaticano e ao meu lado, o Vira Lata. E tenho certeza de que o Lampa estava acompanhando tudo. A prova é que ele tentou se expressar repetindo o que ouviu. Habemus Papam ( Temos um Papa). E chega, né?

"Eu só queria perguntar se o seu Fausto faria um cartum dizendo que o papa é do Peru". provoca Jão, piscando o olho.

Olavim, no seu canto quietinho, pergunta se não é o caso de aproveitarmos a presença da Flor Maria, Fausto e Magrão para um mergulho na história da Igreja. 

Sim, seria uma boa. Mas o tempo urge. Fica pra outro dia.


sexta-feira, 2 de maio de 2025

O CEGO NA HISTÓRIA (1)

Em 1825, o francês Louis Braille tinha 16 anos. Com essa idade ele surpreendeu muita gente ao apresentar pela primeira vez um método que desenvolveu para ajudar as pessoas cegas, na leitura e na escrita. 

Quer dizer, há 200 anos as pessoas cegas em todo o mundo passariam a ter a esperança de uma vida melhor, até porque essa nova invenção possibilitaria a alfabetização. 

Essa história toda começa em 1812, quando o caçula dentre quatro irmãos sofre um acidente quando brincava na oficina do pai. 

O pai de Louis, Simon-René Braille, era de profissão seleiro muito bem quisto na região onde vivia com mulher e filhos. 

Quando sofreu o acidente, o menino brincava com pedaços de couro. De repente, uma fivela atingiu com violência um dos seus olhos. Foi um deus nos acuda. Tudo o era possível fazer foi feito para que a infecção não alcançasse o outro olho. Até uma benzedeira de fama foi chamada, mas não adiantou. Dois anos depois, o menino Louis estava completamente cego dos olhos. 

Todo mundo se envolveu na educação do pequeno Louis, que sempre tirava ótimas notas na escola. 

No começo dos anos 40 do século 19, Louis já tinha o seu método bastante conhecido e o seu nome nele agregado. Assim: Braille, método Braille. 

Em 1844 um brasileiro de 10 anos chegava a Paris para ler na cartilha criada por Louis. Esse brasileiro atendia pelo nome de José Álvares de Azevedo. Era de família pujante e nasceu desprovido de brilho nos olhos. 

Seis anos se passaram quando o agora adolescente José voltava à terrinha e aos braços do pai e da mãe. 

Bem articulado, versátil e brincalhão José passou a dar palestras nas casas e noutros lugares onde era chamado. 

Um dia, o filho de Inácio Manuel Álvares de Azevedo e Maria Luísa Silveira da Motta Azevedo estacou diante do imperador Pedro II e a ele o jovem fez uma bela e detalhada apresentação do método Braille. O objetivo desse encontro era convencer o imperador a instituir uma escola para cegos. 

Louis Braille morreu em 1852, de tuberculose. 

De tuberculose também morreu José Álvares de Azevedo, com 20 anos de idade. 

O encontro de José com D. Pedro rendeu frutos sob o título Imperial Instituto dos Meninos Cegos. 

José morreu seis meses antes da inauguração da instituição.

Do quadro dos professores desse Imperial Instituto fazia parte Benjamin Constant. Matemática era uma das matérias que lecionava. 

Com a morte de Benjamin em 1891, o Imperial Instituto dos Meninos Cegos passou a se chamar Instituto Benjamin Constant. Até hoje. 

A cegueira sempre foi um problema para o seu portador ou portadora. Fora isso, as pessoas cegas na Antiguidade e até praticamente nos dias recentes eram consideradas malditas. Havia quem pensasse que a cegueira era um castigo divino. Noutras palavras: o cego era pecador que não merecia perdão. 

Na Antiguidade grega, os cegos eram tidos como advinhos e por aí vai. 

Tirésias, filho de um pastor, transita por séculos em histórias lendárias como o cara que virou mulher por obra e graça da deusa Hera, que não gostou de vê-lo enxotando um par de cobras em plena cópula. A ira teve um prazo: sete anos. Passado esse tempo, Tirésias voltou a ser o que era antes: um homem. 

Saliente, Tirésias caiu na besteira de flagrar a deusa Atena tomando banho. Aí dançou, irritada, ela o cegou para sempre. Cego e sábio. Acha-se até nas páginas da Odisséia de Homero. Curiosidade: Tirésias, que perdeu o "s" para o diretor francês Bertrand Bonello, ganhou o telão num enredo envolvendo uma transsexual brasileira que vive na periferia da França com o irmão. O filme é de 2003. Mas essa é outra história. 

Expressões como "deficiente visual" e "pessoas de baixa visão" foram cunhadas nos primeiros anos do século 20. A partir do século 21, a sociedade passou a respeitar um pouco mais as pessoas portadoras de quaisquer tipos de deficiência física, auditiva, visual etc.

Não são poucos os personagens cegos que se movimentam na literatura brasileira e estrangeira. E há até autores cegos que deixaram obras monumentais, como os argentinos Jorge Luís Borges (1899-1986) e Ernesto Sabato (1911-2011).

Meu amigo, minha amiga, você sabia que o pai da literatura brasileira Machado de Assis ficou cego por um tempo logo após o Natal de 1878?

Meu amigo, minha amiga, você sabe o que eu acho da cegueira?

A cegueira não é o fim. 

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