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domingo, 8 de dezembro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (154)

Graciliano Ramos

O que posso dizer, e que pouca gente sabe, é que Guimarães Rosa chegou a escrever e a publicar histórias com contexto policial. Mais: também chegou a escrever e a publicar em jornais poemas com rima e tudo mais. Aliás, o compositor Téo Azevedo chegou até a musicar alguns poemas de Rosa espalhados na sua rica bibliografia.

Poderíamos até dizer que a prosa de Rosa é pura poesia, certo?

Bom, não custa lembrar que Audálio foi conterrâneo do escritor Graciliano Ramos e sobre ele publicou dois livros: A Infância de Graciliano Ramos (2011)  e O Chão de Graciliano (2007), feito em parceria com o fotógrafo Tiago Santana.

Graciliano escreveu pouco sobre temas eróticos. Pouco, mas não tão pouco assim.

Os seus três primeiros romances foram Caetés (1933), São Bernardo (1934) e Angústia (1936).

No primeiro, um empregado se apaixona pela mulher do patrão. Termina em sangue. 

No segundo, que também termina em sangue, o protagonista é um menino adotado por uma doceira. Cresce e conhece uma jovem com quem passa a ter relações. Surge na parada um Ricardão que cai nas graças da moçoila. Nervoso, o protagonista comete o primeiro crime e vai parar na cadeia. Ao sair, vira uma espécie de “coroné” prepotente e coisa e tal. Ao casar-se, quer dominar a esposa, mas não consegue. O ciúme o corroi. Ao fim e ao cabo, a mulher se suicida.

No terceiro livro, Angústia, o personagem central Luís da Silva, um pobre diabo, apaixona-se pela vizinha Marina. Chega a noivar, mas aí entra na história um bambambã bonitão e cheio de grana… Luís entra em desespero ao flagrar a sua amada com o rival. Num segundo, agiganta-se e devorado  pelo ciúme dá fim ao adversário. E pronto.


Foto e ilustrações de Flor Maria e Anna da Hora

sábado, 7 de dezembro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (153)

Audálio Dantas
O alagoano de Tanque D’Arca Audálio Dantas (1929-2018), que marcou época na Folha e na extinta revista Realidade, escrevia e fotografava muito bem. Escreveu de tudo ou de um tudo como costumava dizer. Cobriu o lançamento do livro Grande Sertão: Veredas numa livraria do centro da Capital paulista, em 1956. Tentou entrevistar o autor Rosa, mas “ele estava mais interessado em paquerar uma jovem admiradora e não falar com repórter”, lembrou rindo.
Escreveu e publicou vários livros. Também participou de coletâneas como Corpos: Contos Eróticos, 2001. Esse livro se inicia com um conto seu intitulado Sob o Sol da Manhã.
A história trata de um homem e de uma mulher masturbando-se, sem que ela o veja no seu ato de prazer solitário.
Ela uma dondoca, tomando banho numa banheira de seu apartamento e ele, um limpador de vidraças, pendurado num banquinho a muitos metros do chão.
Nesse livro também se acham textos de Fernando Bonassi, Mouzar Benedito, Moacyr Scliar e outros.
O autor de Grande Sertão: Veredas gostava muito de abordar essa temática. Exemplo disso são os personagens Riobaldo e Diadorim e raparigas que alegram os machos do romance.
A identidade feminina de Diadorim só é descoberta quando morre, com o corpo cheio de balas durante um tiroteio entre jagunços.
Bom de se ler e também cheio de erotismo é o livro Corpo de Baile, especialmente o último conto intitulado Buriti.
E quem não leu ainda é tempo de ler Hora e Vez de Augusto Matraga. O protagonista é do tipo pernóstico, prepotente e que judia de todo mundo. Provoca brigas e é chegado a tomar a mulher dos outros. Uma hora cai em desgraça, é quando a porca torce o rabo. A mulher dele vai-se embora com outro e a filha Mimita cai na vida. Virou filme com trilha sonora de Vandré.
Hora e Vez de Augusto Matraga é o último dos nove contos que encerra o livro Sagarana, o primeiro de Rosa publicado em 1946.
O penúltimo conto de Sagarana é Conversa de Bois.
Conversa de Bois foi originalmente escrito em 1937 e incluído num livro de contos apresentado no concurso literário Humberto de Campos, em 1938. Ficou em segundo lugar, perdendo apenas por um voto para Luís Jardim.
O conto Conversa de Bois é uma história do tempo em que bichos falavam.
O carreiro da história, Agenor Soronho, é um cara chato, brabo, metido a besta e amante da mulher de um amigo seu, que morre lascado e cego. O corpo é transportado num carro de boi carregado de rapadura. O guia do carro é um menino, um pedacinho de gente como diz o autor, chamado Tiãozinho. Tinha ali uns 9 ou 10 anos. Estava triste, pois sobre o carregamento de rapadura achava-se o corpo de seu pai, Jenuário.
Os bois à frente do carro, Buscapé e Namorado, captam a tristeza de Tiãozinho que consigo mesmo matuta: se eu fosse grande, eu vingaria meu pai…
Era comum antigamente dar-se nome aos bois. No caso aqui, os bois tocados por Agenor tinham por nome Capitão e Brabagato, Dançador e Brilhante, Realejo e Canindé, além dos dois primeiros já citados.
E desse conto não vou dizer o final. Nem amarrado!

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

AMIGOS É BOM TÊ-LOS...

Novo ano está se aproximando. Faltam poucos dias para 25. 

Bom, este 24 que já está se indo já vai tarde. Não que eu tenha me queimado ou chamuscado pelo fogo do ano, que já já chamaremos de velho.

Pessoas maravilhosas estiveram e estão a minha volta. Só tenho a agradecer. 

Tive uma gripizinha besta neste ano que se vai e coisas outras bem legais. Uma dessas, foi o lançamento pomposo do livro que gerei como adaptação do clássico de Camões, Os Lusíadas. Saiu em duas versões: em braille e em letras impressas.

Antes, ali pelo mês de maio ou junho, andei fazendo palestra sobre Camões e sobre forró e artistas nordestinos, na Biblioteca Mário de Andrade e no IPHAN.

Hoje 6 tive a alegria de receber a visita do amigo Oswaldo Mendes. E conversamos e conversamos... Ele está entusiasmadíssimo para levar de volta ao palco a peça que escreveu sobre Plínio Marcos.

Ontem 5 recebi o fonema do querido Ignácio de Loyola Brandão. Jornalista e escritor de histórias ótimas. 

Foi ali no final dos 70 ou inícios dos 80 que eu o entrevistei em sua casa, na Paulista. A coleguinha Ângela Alves lá estava. O papo rolou bonito. Falamos de tudo e mais um pouco, inclusive sobre a Censura que existia à época. Aliás, o livro Zero de Loyola foi primeiramente publicado na Itália, em italiano. Ao chegar aqui foi impedido pelos militares de chegar às livrarias.

Zero é um marco da obra de Loyola Brandão. 

A entrevista que fiz com o autor de Não Verás País Nenhum será publicada no livro que estou preparando sobre sexo como expressão artística. 

Ia-me esquecendo, pelo fone Loyola todo cheio de graça perguntou se eu sabia da diferença do idoso para o velho. Brincando respondi que ainda não chegara à condição de idoso ou velho. Rindo disse que o idoso tem projeto e o velho tem saudade. E em tom firme, garantiu: "Eu tenho muitos projetos!".

Ah! Sim: a entrevista que fiz lá atrás com Loyola Brandão foi publicada originalmente no extinto suplemento dominical da Folha, Folhetim. Atualíssima. 


segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

O BRASIL GANHA MAIS UM ENFERMEIRO

Seu Claudio e Dona Silvana estão todo anchos com a profissão escolhida pelo filho varão Wallace Silva: enfermagem.
Wallace é um jovem de 27 anos que nasceu com o sentimento de paz e dom de ajudar o próximo. Isso o leva pelos caminhos da medicina, da enfermagem, da solidariedade humana...
Eu conheci Wallace, que virou meu mais novo amigo de infância, há uns dois anos. Por aí. Chegou-me através de pessoas que trabalham com ele, aqui perto num posto da UBS.
Por esse tempo eu já havia perdido o brilho dos meus olhos e andava meio borocoxô. E ainda ando. Fiz até cirurgia de câncer e escapei, como se vê.
A gente dá muita risada, quando ele e a turma dele chegam aqui, em casa.
A turma do Wallace é formada por uma dezena de pessoas que escolheram dar um pouco de si a quem anda por aí sofrendo e tal.
Entre as pessoas do grupo de Wallace estão a doutora Daniele, as enfermeiras Grazi e Alessandra...
Aproveito aqui para mandar meu abraço à psicóloga Sara e ao psiquiatra Claudio.
Ah! Sim: Os pais de Wallace também são pais da menina Joyce.
O mundo, é bom que se diga, comemora o 12 de maio como o Dia Mundial da Enfermagem e do Enfermeiro, em homenagem à norte-americana Florence Nightingale (1820-1910). No Brasil há 2,7 milhões de enfermeiros, de acordo com o Conselho Federal de Enfermagem, Cofen.
E para fechar, recomendo a beleza de conto que é O Enfermeiro, do gigantesco escritor Machado de Assis:

Parece-lhe então que o que se deu comigo em 1860, pode entrar numa página
de livro? Vá que seja, com a condição única de que não há de divulgar nada antes
da minha morte. Não esperará muito, pode ser que oito dias, se não for menos;
estou desenganado.
Olhe, eu podia mesmo contar-lhe a minha vida inteira, em que há outras coisas
interessantes, mas para isso era preciso tempo, ânimo e papel, e eu só tenho papel;
o ânimo é frouxo, e o tempo assemelha-se à lamparina de madrugada. Não tarda o
sol do outro dia, um sol dos diabos, impenetrável como a vida. Adeus, meu caro
senhor, leia isto e queira-me bem; perdoe-me o que lhe parecer mau, e não
maltrate muito a arruda, se lhe não cheira a rosas. Pediu-me um documento
humano, ei-lo aqui. Não me peça também o império do Grão-Mogol, nem a
fotografia dos Macabeus; peça, porém, os meus sapatos de defunto e não os dou a
ninguém mais.
Já sabe que foi em 1860. No ano anterior, ali pelo mês de agosto, tendo eu
quarenta e dois anos, fiz-me teólogo — quero dizer, copiava os estudos de teologia
de um padre de Niterói, antigo companheiro de colégio, que assim me dava,
delicadamente, casa, cama e mesa. Naquele mês de agosto de 1859, recebeu ele
uma carta de um vigário de certa vila do interior, perguntando se conhecia pessoa
entendida, discreta e paciente, que quisesse ir servir de enfermeiro ao coronel
Felisberto, mediante um bom ordenado. O padre falou-me, aceitei com ambas as
mãos, estava já enfarado de copiar citações latinas e fórmulas eclesiásticas. Vim à
corte despedir-me de um irmão, e segui para a vila.
Chegando à vila, tive más notícias do coronel. Era homem insuportável,
estúrdio, exigente, ninguém o aturava, nem os próprios amigos. Gastava mais
enfermeiros que remédios. A dois deles quebrou a cara. Respondi que não tinha
medo de gente sã, menos ainda de doentes; e depois de entender-me com o vigário,
que me confirmou as notícias recebidas, e me recomendou mansidão e caridade,
segui para a residência do coronel.
Achei-o na varanda da casa estirado numa cadeira, bufando muito. Não me
recebeu mal. Começou por não dizer nada; pôs em mim dois olhos de gato que
observa; depois, uma espécie de riso maligno alumiou-lhe as feições, que eram
duras. Afinal, disse-me que nenhum dos enfermeiros que tivera, prestava para
nada, dormiam muito, eram respondões e andavam ao faro das escravas; dois eram
até gatunos!
— Você é gatuno?
— Não, senhor.
Em seguida, perguntou-me pelo nome: disse-lho e ele fez um gesto de espanto.
Colombo? Não, senhor: Procópio José Gomes Valongo. Valongo? achou que não era
nome de gente, e propôs chamar-me tão-somente Procópio, ao que respondi que
estaria pelo que fosse de seu agrado. Conto-lhe esta particularidade, não só porque
me parece pintá-lo bem, como porque a minha resposta deu de mim a melhor ideia
ao coronel. Ele mesmo o declarou ao vigário, acrescentando que eu era o mais
simpático dos enfermeiros que tivera. A verdade é que vivemos uma lua-de-mel de
sete dias.
No oitavo dia, entrei na vida dos meus predecessores, uma vida de cão, não
dormir, não pensar em mais nada, recolher injúrias, e, às vezes, rir delas, com um
ar de resignação e conformidade; reparei que era um modo de lhe fazer corte.
Tudo impertinências de moléstia e do temperamento. A moléstia era um rosário
delas, padecia de aneurisma, de reumatismo e de três ou quatro afecções menores.
Tinha perto de sessenta anos, e desde os cinco toda a gente lhe fazia a vontade. Se
fosse só rabugento, vá; mas ele era também mau, deleitava-se com a dor e a
humilhação dos outros. No fim de três meses estava farto de o aturar; determinei
vir embora; só esperei ocasião.
Não tardou a ocasião. Um dia, como lhe não desse a tempo uma fomentação,
pegou da bengala e atirou-me dois ou três golpes. Não era preciso mais; despedime imediatamente, e fui aprontar a mala. Ele foi ter comigo, ao quarto, pediu-me
que ficasse, que não valia a pena zangar por uma rabugice de velho. Instou tanto
que fiquei.
— Estou na dependura, Procópio, dizia-me ele à noite; não posso viver muito
tempo. Estou aqui, estou na cova. Você há de ir ao meu enterro, Procópio; não o
dispenso por nada. Há de ir, há de rezar ao pé da minha sepultura. Se não for,
acrescentou rindo, eu voltarei de noite para lhe puxar as pernas. Você crê em almas
de outro mundo, Procópio?
— Qual o quê!
— E por que é que não há de crer, seu burro? redarguiu vivamente,
arregalando os olhos.
Eram assim as pazes; imagine a guerra. Coibiu-se das bengaladas; mas as
injúrias ficaram as mesmas, se não piores. Eu, com o tempo, fui calejando, e não
dava mais por nada; era burro, camelo, pedaço d'asno, idiota, moleirão, era tudo.
Nem, ao menos, havia mais gente que recolhesse uma parte desses nomes. Não
tinha parentes; tinha um sobrinho que morreu tísico, em fins de maio ou princípios
de julho, em Minas. Os amigos iam por lá às vezes aprová-lo, aplaudi-lo, e nada
mais; cinco, dez minutos de visita. Restava eu; era eu sozinho para um dicionário
inteiro. Mais de uma vez resolvi sair; mas, instado pelo vigário, ia ficando.
Não só as relações foram-se tornando melindrosas, mas eu estava ansioso por
tornar à corte. Aos quarenta e dois anos não é que havia de acostumar-me à
reclusão constante, ao pé de um doente bravio, no interior. Para avaliar o meu
isolamento, basta saber que eu nem lia os jornais; salvo alguma notícia mais
importante que levavam ao coronel, eu nada sabia do resto do mundo. Entendi,
portanto, voltar para a corte, na primeira ocasião, ainda que tivesse de brigar com
o vigário. Bom é dizer (visto que faço uma confissão geral) que, nada gastando e
tendo guardado integralmente os ordenados, estava ansioso por vir dissipá-los
aqui.
Era provável que a ocasião aparecesse. O coronel estava pior, fez testamento,
descompondo o tabelião, quase tanto como a mim. O trato era mais duro, os breves
lapsos de sossego e brandura faziam-se raros. Já por esse tempo tinha eu perdido a
escassa dose de piedade que me fazia esquecer os excessos do doente; trazia
dentro de mim um fermento de ódio e aversão. No princípio de agosto resolvi
definitivamente sair; o vigário e o médico, aceitando as razões, pediram-me que
ficasse algum tempo mais. Concedi-lhes um mês; no fim de um mês viria embora,
qualquer que fosse o estado do doente. O vigário tratou de procurar-me substituto.
Vai ver o que aconteceu. Na noite de vinte e quatro de agosto, o coronel teve
um acesso de raiva, atropelou-me, disse-me muito nome cru, ameaçou-me de um
tiro, e acabou atirando-me um prato de mingau, que achou frio; o prato foi cair na
parede, onde se fez em pedaços.
— Hás de pagá-lo, ladrão! bradou ele.
Resmungou ainda muito tempo. Às onze horas passou pelo sono. Enquanto ele
dormia, saquei um livro do bolso, um velho romance de d'Arlincourt, traduzido,
que lá achei, e pus-me a lê-lo, no mesmo quarto, a pequena distância da cama; tinha
de acordá-lo à meia-noite para lhe dar o remédio. Ou fosse de cansaço, ou do livro,
antes de chegar ao fim da segunda página adormeci também. Acordei aos gritos do
coronel, e levantei-me estremunhado. Ele, que parecia delirar, continuou nos
mesmos gritos, e acabou por lançar mão da moringa e arremessá-la contra mim.
Não tive tempo de desviar-me; a moringa bateu-me na face esquerda, e tal foi a dor
que não vi mais nada; atirei-me ao doente, pus-lhe as mãos ao pescoço, lutamos, e
esganei-o.
Quando percebi que o doente expirava, recuei aterrado, e dei um grito; mas
ninguém me ouviu. Voltei à cama, agitei-o para chamá-lo à vida, era tarde;
arrebentara o aneurisma, e o coronel morreu. Passei à sala contígua, e durante
duas horas não ousei voltar ao quarto. Não posso mesmo dizer tudo o que passei,
durante esse tempo. Era um atordoamento, um delírio vago e estúpido. Parecia-me
que as paredes tinham vultos; escutava umas vozes surdas. Os gritos da vítima,
antes da luta e durante a luta, continuavam a repercutir dentro de mim, e o ar, para
onde quer que me voltasse, aparecia recortado de convulsões. Não creia que esteja
fazendo imagens nem estilo; digo-lhe que eu ouvia distintamente umas vozes que
me bradavam: assassino! assassino!
Tudo o mais estava calado. O mesmo som do relógio, lento, igual e seco,
sublinhava o silêncio e a solidão. Colava a orelha à porta do quarto na esperança de
ouvir um gemido, uma palavra, uma injúria, qualquer coisa que significasse a vida,
e me restituísse a paz à consciência. Estaria pronto a apanhar das mãos do coronel,
dez, vinte, cem vezes. Mas nada, nada; tudo calado. Voltava a andar à toa, na sala,
sentava-me, punha as mãos na cabeça; arrependia-me de ter vindo. — “Maldita a
hora em que aceitei semelhante coisa!” exclamava. E descompunha o padre de
Niterói, o médico, o vigário, os que me arranjaram um lugar, e os que me pediram
para ficar mais algum tempo. Agarrava-me à cumplicidade dos outros homens.
Como o silêncio acabasse por aterrar-me, abri uma das janelas, para escutar o
som do vento, se ventasse. Não ventava. A noite ia tranquila, as estrelas
fulguravam, com a indiferença de pessoas que tiram o chapéu a um enterro que
passa, e continuam a falar de outra coisa. Encostei-me ali por algum tempo, fitando
a noite, deixando-me ir a uma recapitulação da vida, a ver se descansava da dor
presente. Só então posso dizer que pensei claramente no castigo. Achei-me com um
crime às costas e vi a punição certa. Aqui o temor complicou o remorso. Senti que
os cabelos me ficavam de pé. Minutos depois, vi três ou quatro vultos de pessoas,
no terreiro, espiando, com um ar de emboscada; recuei, os vultos esvaíram-se no
ar; era uma alucinação.
Antes do alvorecer curei a contusão da face. Só então ousei voltar ao quarto.
Recuei duas vezes, mas era preciso e entrei; ainda assim, não cheguei logo à cama.
Tremiam-me as pernas, o coração batia-me; cheguei a pensar na fuga; mas era
confessar o crime, e, ao contrário, urgia fazer desaparecer os vestígios dele. Fui até
a cama; vi o cadáver, com os olhos arregalados e a boca aberta, como deixando
passar a eterna palavra dos séculos: “Caim, que fizeste de teu irmão?” Vi no
pescoço o sinal das minhas unhas, abotoei alto a camisa e cheguei ao queixo a
ponta do lençol. Em seguida, chamei um escravo, disse-lhe que o coronel
amanhecera morto; mandei recado ao vigário e ao médico.
A primeira ideia foi retirar-me logo cedo, a pretexto de ter meu irmão doente,
e, na verdade, recebera carta dele, alguns dias antes, dizendo-me que se sentia mal.
Mas adverti que a retirada imediata poderia fazer despertar suspeitas, e fiquei. Eu
mesmo amortalhei o cadáver com o auxílio de um preto velho e míope. Não saí da
sala mortuária; tinha medo de que descobrissem alguma coisa. Queria ver no rosto
dos outros se desconfiavam; mas não ousava fitar ninguém. Tudo me dava
impaciências: os passos de ladrão com que entravam na sala, os cochichos, as
cerimônias e as rezas do vigário. Vindo a hora, fechei o caixão, com as mãos
trêmulas, tão trêmulas que uma pessoa, que reparou nelas, disse a outra com
piedade:
— Coitado do Procópio! apesar do que padeceu, está muito sentido.
Pareceu-me ironia; estava ansioso por ver tudo acabado. Saímos à rua. A
passagem da meia-escuridão da casa para a claridade da rua deu-me grande abalo;
receei que fosse então impossível ocultar o crime. Meti os olhos no chão, e fui
andando. Quando tudo acabou, respirei. Estava em paz com os homens. Não o
estava com a consciência, e as primeiras noites foram naturalmente de
desassossego e aflição. Não é preciso dizer que vim logo para o Rio de Janeiro, nem
que vivi aqui aterrado, embora longe do crime; não ria, falava pouco, mal comia,
tinha alucinações, pesadelos...
— Deixa lá o outro que morreu, diziam-me. Não é caso para tanta melancolia.
E eu aproveitava a ilusão, fazendo muitos elogios ao morto, chamando-lhe boa
criatura, impertinente, é verdade, mas um coração de ouro. E, elogiando,
convencia-me também, ao menos por alguns instantes. Outro fenômeno
interessante, e que talvez lhe possa aproveitar, é que, não sendo religioso, mandei
dizer uma missa pelo eterno descanso do coronel, na igreja do Sacramento. Não fiz
convites, não disse nada a ninguém; fui ouvi-la, sozinho, e estive de joelhos todo o
tempo, persignando-me a miúdo. Dobrei a espórtula do padre, e distribuí esmolas à
porta, tudo por intenção do finado. Não queria embair os homens; a prova é que fui
só. Para completar este ponto, acrescentarei que nunca aludia ao coronel, que não
dissesse: “Deus lhe fale n'alma!” E contava dele algumas anedotas alegres,
rompantes engraçados...
Sete dias depois de chegar ao Rio de Janeiro, recebi a carta do vigário, que lhe
mostrei, dizendo-me que fora achado o testamento do coronel, e que eu era o
herdeiro universal. Imagine o meu pasmo. Pareceu-me que lia mal, fui a meu irmão,
fui aos amigos; todos leram a mesma coisa. Estava escrito; era eu o herdeiro
universal do coronel. Cheguei a supor que fosse uma cilada; mas adverti logo que
havia outros meios de capturar-me, se o crime estivesse descoberto. Demais, eu
conhecia a probidade do vigário, que não se prestaria a ser instrumento. Reli a
carta, cinco, dez, muitas vezes; lá estava a notícia.
— Quanto tinha ele? perguntava-me meu irmão.
— Não sei, mas era rico.
— Realmente, provou que era teu amigo.
— Era... Era...
Assim, por uma ironia da sorte, os bens do coronel vinham parar às minhas
mãos. Cogitei em recusar a herança. Parecia-me odioso receber um vintém do tal
espólio; era pior do que fazer-me esbirro alugado. Pensei nisso três dias, e
esbarrava sempre na consideração de que a recusa podia fazer desconfiar alguma
coisa. No fim dos três dias, assentei num meio-termo; receberia a herança e dá-laia toda, aos bocados e às escondidas. Não era só escrúpulo; era também o modo de
resgatar o crime por um ato de virtude; pareceu-me que ficava assim de contas
saldas.
Preparei-me e segui para a vila. Em caminho, à proporção que me ia
aproximando, recordava o triste sucesso; as cercanias da vila tinham um aspecto
de tragédia, e a sombra do coronel parecia-me surgir de cada lado. A imaginação ia
reproduzindo as palavras, os gestos, toda a noite horrenda do crime...
Crime ou luta? Realmente, foi uma luta em que eu, atacado, defendi-me, e na
defesa... Foi uma luta desgraçada, uma fatalidade. Fixei-me nessa ideia. E
balanceava os agravos, punha no ativo as pancadas, as injúrias... Não era culpa do
coronel, bem o sabia, era da moléstia, que o tornava assim rabugento e até mau...
Mas eu perdoava tudo, tudo... O pior foi a fatalidade daquela noite... Considerei
também que o coronel não podia viver muito mais; estava por pouco; ele mesmo o
sentia e dizia. Viveria quanto? Duas semanas, ou uma; pode ser até que menos. Já
não era vida, era um molambo de vida, se isto mesmo se podia chamar ao padecer
contínuo do pobre homem... E quem sabe mesmo se a luta e a morte não foram
apenas coincidentes? Podia ser, era até o mais provável; não foi outra coisa. Fixeime também nessa ideia...
Perto da vila apertou-se-me o coração, e quis recuar, mas dominei-me e fui.
Receberam-me com parabéns. O vigário disse-me as disposições do testamento, os
legados pios, e de caminho ia louvando a mansidão cristã e o zelo com que eu
servira ao coronel, que, apesar de áspero e duro, soube ser grato.
— Sem dúvida, dizia eu olhando para outra parte.
Estava atordoado. Toda a gente me elogiava a dedicação e a paciência. As
primeiras necessidades do inventário detiveram-me algum tempo na vila. Constituí
advogado; as coisas correram placidamente. Durante esse tempo, falava muita vez
do coronel. Vinham contar-me coisas dele, mas sem a moderação do padre; eu
defendia-o, apontava algumas virtudes, era austero...
— Qual austero! Já morreu, acabou; mas era o diabo.
E referiam-me casos duros, ações perversas, algumas extraordinárias. Quer
que lhe diga? Eu, a princípio, ia ouvindo cheio de curiosidade; depois, entrou-me
no coração um singular prazer, que eu sinceramente buscava expelir. E defendia o
coronel, explicava-o, atribuía alguma coisa às rivalidades locais; confessava, sim,
que era um pouco violento... Um pouco? Era uma cobra assanhada, interrompia-me
o barbeiro; e todos, o coletor, o boticário, o escrivão, todos diziam a mesma coisa e
vinham outras anedotas, vinha toda a vida do defunto. Os velhos lembravam-se das
crueldades dele, em menino. E o prazer íntimo, calado, insidioso, crescia dentro de
mim, espécie de tênia moral, que por mais que a arrancasse aos pedaços,
recompunha-se logo e ia ficando.
As obrigações do inventário distraíram-me; e por outro lado a opinião da vila
era tão contrária ao coronel, que a vista dos lugares foi perdendo para mim a feição
tenebrosa que a princípio achei neles. Entrando na posse da herança, converti-a
em títulos e dinheiro. Eram então passados muitos meses, e a ideia de distribuí-la
toda em esmolas e donativos pios não me dominou como da primeira vez; achei
mesmo que era afetação. Restringi o plano primitivo; distribuí alguma coisa aos
pobres, dei à matriz da vila uns paramentos novos, fiz uma esmola à Santa Casa da
Misericórdia, etc.: ao todo trinta e dois contos. Mandei também levantar um túmulo
ao coronel, todo de mármore, obra de um napolitano, que aqui esteve até 1866, e
foi morrer, creio eu, no Paraguai.
Os anos foram andando, a memória tomou-se cinzenta e desmaiada. Penso às
vezes no coronel, mas sem os terrores dos primeiros dias. Todos os médicos a
quem contei as moléstias dele, foram acordes em que a morte era certa, e só se
admiravam de ter resistido tanto tempo. Pode ser que eu, involuntariamente,
exagerasse a descrição que então lhes fiz; mas a verdade é que ele devia morrer,
ainda que não fosse aquela fatalidade...
Adeus, meu caro senhor. Se achar que esses apontamentos valem alguma
coisa, pague-me também com um túmulo de mármore, ao qual dará por epitáfio
esta emenda que faço aqui ao divino Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os
que possuem, porque eles serão consolados.

domingo, 1 de dezembro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (152)

Nelson Rodrigues
Como em Vestido de Noiva, O Beijo no Asfalto de 1960, começa com um atropelamento numa das conhecidas praças do Rio de Janeiro. Foi feita a pedido da atriz Fernanda Montenegro, que na primeira versão levada à cena em 1961, interpreta a personagem Selminha. O Beijo no Asfalto, que virou filme em 1980, ao final choca quem a assiste. Não tem como!

História parecida foi engendrada pelo norte-americano Ari Aster. Título: The Strange Thing About the Johnsons, em português algo como A Coisa Estranha sobre os Johnsons.

No texto de Nelson o chefe da família se envolve com o genro. No texto de Aster, é o filho que se envolve com o pai.

Revolução idêntica fez Nelson no campo da crônica para jornal e revista.

Na crônica de 1º de outubro de 1968 o “anjo pornográfico”, como Nelson era chamado por amigos e inimigos, com sua metralhadora giratória por pouco não apagou o cantor e compositor Geraldo Vandré. 

Depois de fazer comparação com um dos personagens do romance Os Maias, de Eça de Queiroz, Nelson detona Vandré por não aceitar a decisão dos jurados do Festival Internacional da Canção: “Ele acabara de saber que era, apenas e miseravelmente, o segundo colocado. Os presentes não puderam sentir o seu patético, mas o telespectador, sim. Para nós, de casa, a cara de Vandré tomou a expressão cruel, vingativa, de certas máscaras cesarianas. Lia-se tudo na jovem cara. Houve um momento em que, instigado pelos seus fiéis, Vandré perguntou, de si para si: — ‘Abro ou não o verbo?’. Seria o comício”.

Mas essa é outra história…

Ah! Sim: Nelson Rodrigues, vejam só, chegou certa vez a dizer que fora influenciado pela poetisa Gilka Machado.

É pra lá de óbvio ululante a revolução que Nelson Rodrigues fez no campo teatral.


Foto e Ilustrações de Flor Maria e Anna da Hora


sábado, 30 de novembro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (151)

Rubem Fonseca
No campo do jornalismo não é incomum identificar profissionais que escreveram bons textos, bons livros, tratando do erotismo e tal.

João do Rio, Nelson Rodrigues, Rubem Fonseca, Rubem Braga e tantos.

A Força Humana, de Fonseca, conta a história do dono de uma academia de ginástica que tem um amigo. Esse amigo conhece um rapaz forte e tal que o leva para treinar.  Os três se dão bem. É quando surge uma jovem de nome Lena. Essa jovem é prostituta. Vibrante. E mais não digo.

Braga (1913-1990), como todo mundo sabe, foi também contista de grande categoria. Entre suas histórias, Um Braço de Mulher. É simples: num avião da ponte aérea Rio-São Paulo, uma passageira, morrendo de medo, agarra-se ao braço de um desconhecido, enquanto o avião treme nas nuvens. Tudo termina bem, ninguém morre. 

Dizem que João, embora assumidamente homossexual, apaixonou-se pela dançarina norte-americana Isadora Duncan (1877-1927) que conheceu numa de suas idas à Paris. A FLIP, Festa Literária Internacional de Paraty, de 2024 foi dedicada a ele.

Nelson, como quase todo mundo sabe, provocou uma revolução no teatro brasileiro com seus textos descomprometidos com a mentira e a hipocrisia. Pôs a nu a sociedade do faz de conta que põe os pecados debaixo do tapete. Todos os seus livros tratam disso. 

Vestido de Noiva pôs os conservadores em pé de guerra. É peça que não perde nem a atualidade e nem o vigor. Estreou em 28 de dezembro de 1943, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, sob a direção do polonês Ziembinski (1908-1978).

A peça conta a história de um casal que se muda com as filhas para um casarão onde outrora fora um bordel. No decorrer da trama uma personagem “rouba” o namorado da outra. Tem acidente de carro, hospital e morte.

Uma das atrizes que interpretaram a noiva da peça, Viviane Pasmanter não teve acanhamento nenhum de afirmar que “ser prostituta é um desejo que toda mulher tem".

Pois, pois.

Não são brinquedos as tramas arquitetadas por Nelson Rodrigues, autor de umas 20 peças. Numa delas, o autor insere um jornalista e um delegado corruptos e tal. O jornalista é do diário Última Hora, criado por Samuel Wainer. 

O jornalista interpretado por Ribeiro Amado existiu.

Samuel Wainer é citado na peça.

EU E MEUS BOTÕES (74)

"Olha, olha, olha...! Ó quem tá chegando!"

Todos ali ligados, de olhos fixos, na telinha da câmara de segurança que registrava a chegada de quem estava chegando. No caso, a pessoa mais esperada no momento. 

"É ela! É ela! É ela!...", dizia assanhado o grupo de botões quando,  de repente, alguém saiu da cozinha com um copo na mão dizendo: "Vocês enlouqueceram? Endoidaram? Que barulho do caralho é esse?".

Era o poetinha Zilidoro surpreso com o comportamento dos coleguinhas botões. 

Surpreendentemente, Barrica esticou os olhos em direção a Zilidoro, ao mesmo tempo que dizia uma locução de baixo calão. Inaudível. 

Enquanto isso, na telinha da câmara de segurança subia a escada passo a passo a esperadíssima Flor Maria. 

A cada segundo, aumentava a expectativa dos "voyeurs" na casa do Zilidoro.

Só que, de repente, aparece na telinha também outra pessoa...

O pa, pa, pa dos sapatos chamou a atenção de quem estava à frente: Flor Maria. 

Maria parou  ao ouvir quem estava chegando atrás dela. 

E aí ele e ela entraram na casa do botão Zilidoro. Palmas efusivas rolaram durante minutos que pareceram horas.

Puxa vida, pessoal, vocês estão impossíveis, disse eu.

A meu lado, Flor Maria não se conteve e disse com toda espontaneidade possível: "Vocês são incríveis!".

Lampa, sempre esquisito cutucando as unhas com o seu punhalzinho inseparável, de cabeça pra baixo olhava pra cima desconfiado...

Lá do fundo da casa, Zoião levanta a mão perguntando se pode falar. Dona Flor diz que sim.

"Eu queria saber o que a senhora acha dessa vida de porra que a gente vive. A gente trabalha, trabalha e ao fim só se fode. Desculpe-me pela expressão. Entra governo, sai governo...".

Antes de mais nada, pessoal, começou Flor Maria: "Somos mais de oito bilhões de pessoas habitando esse nosso mundinho explosivo. Pouco menos de uma centena de privilegiados ditam vida e morte sobre nós. Pobres materialmente que somos, sofremos".

Biu e Barrica, irmãos completos olham-se surpresos. Biu pergunta: "Dona Flor, a senhora está se apresentando a nós como uma pessoa muito especial. A senhora é política?".

"Todos nós somos políticos, políticas. De formação eu sou historiadora. E como tal, o passado é tão importante quanto o presente".

Muito bem, amiga Flor Maria, é isso mesmo. Pra um historiador o passado é importante, porque sem presente não há passado.

Zilidoro, Zilidoro lá do seu cantinho bateu palmas e disse: "A pensar, a pensar...".



sexta-feira, 29 de novembro de 2024

EU E MEUS BOTÕES (73)

O que é que vocês estão fazendo aí assim de pé?

Fiz essa pergunta e logo ouvi alguém discretamente tossir como se fosse pego com a mão na botija. Era Zilidoro um tanto acanhado e cheio de pernas. 

Os olhares de todos se voltaram ao poetinha Zilidoro, que nervoso voltou a tossir. Quis dizer algo, mas da boca palavra nenhuma saiu.

Não sei porque cargas d'água notei, de relance, a mão direita de Lampa alisando o punhalzinho que sempre carrega na cintura. 

O que é isso, voltei a perguntar. Que diabos vocês estão fazendo aqui, assim todos de pé?

Biu cutucou o mano Barrica, como se quisesse adivinhar seu pensamento sobre o que eu perguntara. 

Zoião levantou o braço e foi  desembuchando: "Seu Assis, estamos aqui esperando Dona Flor Maria".

Hummm... Sei, sei....

Zé e Mané olharam-se rapidamente, mas nenhum dos dois disse coisa nenhuma. 

Jão, que estava de braços cruzados, deu uma risada e disse: "Pois é seu Assis, a gente já está gostando e muito da dona Flor".

Ao dizer o que disse, Jão voltou seu olhar irônico a Lampa e insinuando acrescentou: "E sabe seu Assis tem uma certa pessoa aqui que parece estar gostando mais dela do que todos nós".

Numa fração de segundos, Lampa deu um pulo de gato e com o punhal na mão fez menção de atacar seu colega Jão. E teria corrido sangue se a turma do "deixa disso" não entrasse em ação. 

Nisso foi chegando a pivô da história que, sem nada desconfiar, cumprimentou a todos com um largo sorriso: "Boa taaarde pessoal, desculpem-me pelo atraso. E,  infelizmente, não vou poder ficar aqui por muito tempo, pois tenho uma reunião importante".

Rapidamente todos entraram na casa de Zilidoro e a paz voltou a seu lugar. 

Olá, olá, Flor Maria, você está linda!

Ao ouvir o que ouviu, Maria enrubesceu. E feitos crianças ou adolescentes de primeiro momento, todos riram e bateram palmas, entusiasmados. 

Sem provocar vexame e muito à vontade, Zilidoro com graça disse: "Realmente, a senhora está muito bonita e elegante".

Lá no canto, no fundo da casa, ouviu-se Zé cochichar no ouvido de Mané: "Ela está muito chique, de vestido novo, de sapatos novos... E olha os brincos!".

Zé, o que é que você está dizendo aí no ouvido do Mané, perguntei.

Os dois se entreolharam surpresos: "Nada não, chefe", disseram ao mesmo tempo. 

Zoião que estava de olho, caiu na risada e delatou: "Um estava dizendo ao outro que a dona Flor estava de vestido novo, sapatos novos e tal".

Foi a vez de Flor Maria soltar seu bonito sorriso e dizer: "Vocês são muito simpáticos".

Pessoal, vamos dar uma saidinha e almoçar ali no restaurante da esquina? 

Zilidoro e todos gostaram da ideia. E acrescentei: "Pode ser no Virgulino, que tem a melhor comida nordestina do mundo. E uma caninha legal".


quarta-feira, 27 de novembro de 2024

EU E OS MEUS BOTÕES (72)

Oi, pes...

Eu nem acabei de cumprimentar vocês e de repente chega aqui correndo...

Seu Assis! Seu Assis...!

Tá bom. Fala, Zilidoro...

É o seguinte, é o seguinte "Seu Assis tá tudo uma doidera demais, o mundo tá pegando fogo, ninguém se compreende mais. E as histórias vão rolando. Essa história de golpe, de tentativa de golpe pra derrubar o Estado democrático é um horror. Que loucura! Puta que pariu!

Lampa com seus olhos sempre esquisitos, de cabeça baixa, aparentemente demonstra estar alheio a tudo, mas a tudo observa.

Ei, ei, ei pessoal, olha quem está chegando...!

Opa, boa tarde pessoal!

"Dra, Dra, que bom que a senhora está de volta à nossa casinha", é Jam saudando a volta da Dra dona Flor que o bem encantou.

"Ei, ei, ei! Dra a gente falou da senhora o tempo todo, desde ontem. E pra nós o ontem é sempre". 

Olhe, olhe, gostei, estou gostando demais de estar com vocês. Seu Assis é uma pessoa de quem gosto muito. 

Quanto exagero, quanto exagero, dona Flor e vocês são incrivelmente exagerados nas palavras que dizem. 

Lá do seu canto, quase invisível, Barrica levanta a mão pra perguntar: "Seu Assis, o que é a vida?".

Antes de eu abrir a boca pra dizer qualquer coisa, lá da casa do Zé há quem questione: "Eu sempre quis saber o que é a vida, de onde viemos e pra onde vamos".

Bom, essa história é incrível e as respostas nunca foram rigorosamente respondidas por ninguém.

"Seu Assis, seu Assis, que coisa complicada...", é o eternamente discreto Zoião falando. 

É, o tema realmente é complicado. A gente nasce, a gente vive, a gente morre.

Derrepentemente, o Zilidoro diz assim: "Esse papo está muito doido".

Bom pessoal, vocês gostaram de falar com a doutora Flor Maria?

Todo mundo se levantou batendo palmas e perguntando...

Zilidoro, poeta, perguntou representando a turma: "A senhora volta amanhã?".

Lampa, quieto o tempo todo, levantou-se pedindo um abraço. 




terça-feira, 26 de novembro de 2024

EU E MEUS BOTÕES (71)

Boa tarde, pessoal!

Bom, como vocês estão vendo, estou trazendo pra conversar com a gente a doutora cearense Flor Maria. É pessoa especial, sabe de tudo e bem mais. 

Os amigos botões queridos de quem lhe falei, dona Flor, são esses aqui: Zé, Mané, Zoião, Biu, Barrica, Lampa e Zilidoro.

Olá, pessoal! O seu Assis tem dessas coisas, de falar de pessoas de quem gosta...

"E está certo! Está certo! Está certíssimo!"

Quem diz isso aí não é outro senão o tanto acabrunhado Mané. Zé, seu amigo, emenda: "Doutora, seu Assis é assim desse jeito. Ele fala e fala tantas coisas bonitas que a gente gosta. E a gente gosta de saber também que ele gosta da gente".

Doutora, digo eu, a casa é sua...

Bom, o Assis fala muito de vocês e eu sempre quis conhecer vocês e aqui estou.

Quieto, no seu canto, Lampa de cabeça baixa estava a cutucar as unhas com seu infalível punhalzinho.

A minha especialidade é conhecer e entender gente. Fiz um monte de curso tentando desenvolver a ideia de que se não fizermos por nós ninguém o fará...

Nesse momento, Biu e seu mano Barrica levantam a mão pra dizer: "Doutora, sempre achamos que essa conversa é complicada e que é mais fácil viver sem essa complicação de palavras todas".

Eu: hummm...Vocês estão se saindo melhor do que o previsível. Bom, dona Flor, eu vou dar um pulinho ali na cozinha e a casa agora é toda sua. Diga o que quiser, responda o que lhe perguntarem.

E aí, pessoal, o que vocês querem saber sobre o dia a dia de nossa vida, das coisas que vivemos e que poderemos até viver?.

"Doutora, essa coisa é muito complicada. Não dá simplesmente pra gente dizer eu fiz, eu faço, eu posso fazer?", foi dizendo do seu jeito próprio o cabra Jão quieto até então. 

A casa foi sacudida com urros, palmas e gritos. E destabocamente todos concordaram com a fala de Jão. 

No seu canto tranquilo até tal momento, Zilidoro pediu desculpa pela ousadia de seus.pares. Aproveitou pra perguntar que futuro tem a humanidade.

Nesse momento... Opa, opa e aí como foi a dona doutora falando aí com esses meninos? Ela falou coisas, coisas legais?

Antes de Flor Maria responder, todos se levantaram patendo palmas dizendo: "Legal, muito legal!".

Zilidoro, que tudo ouviae observava, perguntou se encontros desse tipo voltariam a acontecer na casa dos botões Zé, Mané, Jão...

Bom, disse eu, por mim Dona Flor estará sempre aqui com a gente. 

Que alegria pessoal, estar aqui com vocês. 

De pé ainda ainda estavam, de pé continuaram os botões a bater palmas.

segunda-feira, 25 de novembro de 2024

EU E MEUS BOTÕES (70)

Bom dia, bom dia, bom dia pessoal!
Chego eu assim dizendo, depois de longa invernada.
Ao saudar meus botões como eu saudei, o entusiasmo tomou conta da casa de Zilidoro. E ele, Zili: "Seu Assis, seu Assis! Por onde andou durante esse tempo todo?".
A mesma pergunta repetiram os demais botões, como se houvesse eles ensaiado.
Todos ali estavam de pé, menos Lampa.
Como sempre, Lampa estava a cutucar as unhas com o seu inseparável punhalzinho. Perguntei-lhe: E aí, Lampa? Você está bem?
Lampa olhou pra mim assim de baixo pra cima, ainda sentado, e nada disse.
Seus olhos pareciam mais enigmáticos do que antes. Insisti: Tudo bem, Lampa? Como você tem andado?
A casa de Zilidoro silenciara. Devagar, bem devagarzinho, Lampa enfiou o punhal nos quartos e levantando-se disse: "Tô bem, tô bem. Mas devo dizer que andei procurando o sinhô e não achei. Onde esteve?".
De repente Zé, Mané, Biu, Zoião, Jão e o irmão do Biu, Barrica, caíram numa risada só. Lampa ficou sério. 
Jão brincou: "Ora pois, o papo se inverteu. Invés de Lampa responder ao seu Assis, foi Lampa que inverteu a pergunta. Ora!".
Lá do seu canto, Zoião a tudo observava e ouvia. Arriscou: "Eu acho que Lampa está envolvido naquela tramóia que por pouco não resultou no assassinato do seu Lula, do seu Alckmin e do seu Xandão. A tal da operação deles não se chamava Punhal Verde Amarelo?".
Calma, calma, não vamos entrar nessa, disse eu. O Lampa é dos nossos, é um pouco esquisito...
Eu nem havia findado de falar, e o Mané destabocado como sempre foi logo dizendo, me cortando: "Lampa é tudo de bom, não fosse a sua esquisitice incompreensível até hoje".
Bom, voltei a falar, andei viajando por aí. Estive na Rússia e também na Ucrânia. Falei com os dois de lá, Putin e Zelensky. Ali tem coisa complicada que pode sobrar pra nós. Também estive em Israel, Faixa de Gaza, Irã e tal. Daquele lado do mundo, a coisa é mais complicada do que se possa pensar, até porque os EUA apoiam com tudo quanto é tipo de arma a Ucrânia e Israel. E por aí vai...
Zé, calado até então, levanta a mão pra dizer que "Não consigo entender porque esse povo de lá vive de se matar um e outro o tempo todo".
Poxa... O Zé tem toda razão quando diz não compreender essa loucura de apoio dos EUA às nações em guerra...
Seu Assis, seu Assis "não podemos esquecer que o velho Nostradamus previu ser no Oriente Médio o palco do fim de tudo", disse lembrando previsões o poeta Zilidoro.
Os manos Biu e Barrica, depois de se entreolharem, um falou: "Os EUA foram sempre um país a  cuidar dos seus próprios interesses e não da paz mundial", disse Biu. Barrica emendou: "É a tal coisa, cada qual por si".
Isso mesmo, isso mesmo Barrica. Você também está certo, Biu. Neste nosso mundinho há quase 200 países, a maioria sofrendo muito, passando fome. Uma loucura! Fui eu dizendo e dizendo mais: o que mostra, de certo modo, uma luz no fim do túnel, é a campanha que Lula está fazendo para acabar com a fome que mata criança, homem e mulher historicamente. O Brasil vende comida para o mundo todo, mas ainda assim e aqui mesmo, muita gente morre de barriga vazia.
Zilidoro, depois de olhar o relógio, disse que tinha reunião com estudantes da periferia de São Paulo. O assunto a ser tocado era educação, saúde e trabalho. Pediu licença pra sair, pois já estava atrasado. Aproveitei a fala de Zili e dei por encerrado o nosso encontro de hoje. 
Antes de encerrado este nosso encontro, Zoião levantou-se pra recomendar aos pares um poema que fiz falando do lunático, imbecil Bolsonaro. Pra minha surpresa, Lampa levantou-se pedindo licença e já declamando:

...

Presidente também morre
De morte matada ou não
Lugar de quem não presta
É lá no fundo da prisão!

A cadeia te espera 
Presidente predador
Hoje quem foge é caça
Amanhã é caçador

Baixa o pano.

domingo, 24 de novembro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (150)

Mário de Andrade, pintura de Tarsila do Amaral
Nascida em 1893, Gilka Machado foi uma mulher pobre e negra. Depois de perder o marido e ficar encubida de manter dois filhos, passou a manter-se como diarista na Central do Brasil. Morreu em 1980. É dela o poema Ânsia Múltipla:

Beija-me Amor,

beija-me sempre e mais e muito mais,

– em minha boca esperam outras bocas

os beijos deliciosos que me dás!


Beija-me ainda,

ainda mais!

Em mim sempre acharás

à tua vinda

ternuras virginais.


Beija-me mais, põe o mais cálido calor

nos beijos que me deres,

pois viva em mim a alma de todas as mulheres

que morreram sem amor!…


Curiosidade: Mário de Andrade nasceu no mesmo ano que nasceu Gilka e morreu em 1945. Na sua obra o erotismo é algo muito presente. Macunaíma, por exemplo, tem no personagem-título um diletante do sexo incurável, insaciável, chegando a possuir até a mulher de um irmão. Era explícito ao contrário do seu criador. 

No decorrer de toda a sua vida, Mário ocultou com toda a discrição possível sua homossexualidade. Porém, em 2015, decisão da Controladoria Geral da União (CGU) quebrou o segredo autorizando a divulgação de uma carta em que o autor confirma o que já se suspeitava:


Mas em que podia ajuntar em grandeza ou milhoria pra nós ambos, pra você, ou pra mim, comentarmos e eu elucidar você sobre a minha tão falada (pelos outros) homossexualidade? Em nada. Valia de alguma coisa eu mostrar o muito de exagero que há nessas contínuas conversas sociais? Não adiantava nada pra você que não é indivíduo de intrigas sociais. Pra você me defender dos outros? Não adiantava nada pra mim porquê em toda vida tem duas vidas, a social e a particular, na particular isso só me interessa a mim e na social você não conseguia evitar a socialisão absolutamente desprezível duma verdade inicial. Quanto a mim pessoalmente, num caso tão decisivo pra minha vida particular como isso é, creio que você está seguro que um indivíduo estudioso e observador como eu, ha-de estar bem inteirado do assunto, ha-de te-lo bem catalogado e especificado, ha-de ter tudo 'normalisado' em si, si é que posso me servir de 'normalisar' neste caso. Tanto mais, Manú, que o ridículo dos socializadores da minha vida particular é enorme. Note as incongruências e contradições em que caem.: O caso da 'Maria' não é típico? Me dão todos os vícios que, por ignorância ou por interesse de intriga, são por eles considerados ridículos e no entanto assim que fiz duma realidade penosa a 'Maria', não teve nenhum que não [palavra não estava riscada no original] caçoasse falando que aquilo era idealização pra desencaminhar os que me acreditavam nem sei o quê, mas todos falaram que era fulana de tal.


Mas si agora toco neste assunto em que me porto com absoluta e elegante discrição social, tão absoluta que sou incapaz de convidar um companheiro daqui, a sair sozinho comigo na rua (veja como eu tenho a minha vida mais regulada que máquina de previsão) e si saio com alguém é porquê se poderia tirar dele um argumento para explicar minhas amizades platônicas, só minhas. Ah, Manú, disso só eu mesmo posso falar, e me deixe que ao menos pra você, com quem apesar das delicadezas da nossa amizade, sou duma sinceridade absoluta, me deixe afirmar que não tenho nenhum sequestro não. Os sequestros num caso como este onde o físico  que é burro e nunca se esconde entra em linha de conta como argumento decisivo, os sequestros são impossíveis.


Eis aí uns pensamentos jogados no papel sem conclusão nem sequência. Faça deles o que quiser


Mário de Andrade foi um dos artífices da Semana de 22, junto com o pintor Di Cavalcanti (1897-1976) e Oswald de Andrade (1890-1954).

Não custa aqui retirar da gaveta a história de um conto intitulado Frederico Paciência, que Mário escreveu e reescreveu no decorrer de 18 anos. Trata da história de dois jovens amigos. Amizade ambígua. Pra Juca, Frederico é o seu homem. 

Di Cavalcanti entrou na história das artes plásticas como “o pintor das mulatas”.

Sobre o erotismo na obra de Mário, foi publicado em 2022 o livro Seleta Erótica de Mário de Andrade, organizado por Eliane Robert Moraes. Tem 8 partes.

Oswald foi casado com a pintora Tarsila do Amaral (1886-1973), que a traiu e dela se separou para juntar-se a Patrícia Rehder Galvão, a Pagu. Mulher politicamente antenada e bem relacionada com artistas da sua época. Polêmica.

Oswald de Andrade era filho de uma irmã de Inglês de Sousa: Inês Henriqueta Inglês de Sousa Andrade.


Foto e Ilustrações de Flor Maria e Anna da Hora


sábado, 23 de novembro de 2024

LICENCIOSIDADE NA CULTURA POPULAR (149)


Mulheres brasileiras na literatura foram poucas, no início.
A primeira delas nem o próprio nome assinou, no seu primeiro livro.
A nossa primeira romancista, já falei lá atrás, foi Maria Firmina dos Reis. O livro que essa pioneira publicou, sob o pseudônimo de “Uma Maranhense”, teve como título Úrsula.
Bom, o tempo passou e continua passando.
Continuamos aqui mergulhados na história da literatura brasileira, mais especialmente na chamada literatura erótica feita por escritores e escritoras.
O livro de Firmina dos Reis já aborda a questão amorosa dividida entre homens e mulheres. Tem até um triângulo amoroso nessa história.
No dia a dia brasileiro do século passado, retrasado, tivemos no Brasil mulheres como Nísia Floresta. E por aí vai…
A luta da mulher pela equidade de gênero data de muito tempo. Mas é agora que essa luta tem apresentado vitórias.
Amor, sexo, adultério, sensualidade, palavrões…
O palavrão é expressão que carregamos desde quando nos conhecemos por gente. É pra lá da antiguidade. Homens e mulheres, crianças e adultos.
Há dicionários de palavrões publicados mundo afora. Não são muitos, mas expressivos e necessários.
Na metade dos anos de 1970, o estudioso da cultura popular Mário Souto Maior publicou Dicionário do Palavrão e Termos Afins. Foi censurado, proibido. O Brasil, à época, vivia momentos terríveis de uma ditadura militar que durou 21 anos.
Esse livro, disse-me um dia o autor, existiu por sugestão do escritor e coisa e tal Gilberto Freyre. Seu amigo.
Palavrão faz parte do dia a dia, na rua e/ou em casa. É da língua.
No dia 16 de novembro de 2024 Rosângela Lula da Silva mandou um sonoro “fuck you” ao cara que mais dinheiro tem no mundo: Elon Musk, pra mim um cabra safado e sem escrúpulos.
Rosângela, 1ª dama do País por todo mundo chamada de Janja, disse o que disse numa palestra sobre fake news.
O “vá se foder!” de Janja repercutiu enormemente. Ora positivamente, ora negativamente.
Eu, por mim, acho que a Janja está coberta de razão.
Em 1979, abril ou maio, eu, o amigo Kotscho e Lula varamos uma madrugada na diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Fumávamos igual caipora. E dá-lhe café. Pernas arribadas na mesa, espontaneamente.
Ali pelo comecinho da manhã um assessor de Lula, então presidente do Sindicato, entrou dizendo que o interventor acabara de chegar.
Foi então que eu disse, cantarolando mal e desafinadamente a canção do Roberto, que diz: “O show já terminou…”. Fui eu dizendo isso e o Lula berrando: “FELA DA PUTA! VÁ SE FODER!”.
Surpreso, eu nem sabia bem o que dizer, mas disse: “Vá você!”.
O Lula repreendeu Janja pela fala que falou ao mandar o todo poderoso Elon Musk se foder.
Eu acho Lula do caralho.
Nenhum presidente do Brasil fez o que faz Lula, ainda hoje.
Luiza Alzira Teixeira Soriano
Ao lado da poetisa Gilka Machado, Leolinda Figueiredo Daltro (1859-1935) fundou o Partido Republicano Feminino (PRF).
Pouco antes da Revolução de 30 o voto feminino foi legalizado no Rio Grande do Norte. Desse Estado saiu a primeira prefeita do Brasil e da América do Sul: Luiza Alzira Teixeira Soriano (1896-1963), eleita no dia 2 de setembro de 1928 com 60% dos votos válidos do município de Lajes.
Meses antes da eleição, mais precisamente no dia 12 de maio 1928, o jornal Folha da Manhã publicou o seguinte: 
O feminismo continua a sua propaganda.
Hoje, a cidade assistiu a um interessante e inedito acontecimento. Distinctas senhoras, que fazem parte proeminente da diretoria da "Federação Brasileira pelo Progresso Feminino", voaram sobre a cidade em aeroplano, distribuindo cartões postaes e manifestos de propaganda do voto feminino.
Foram as sras. Bertha Lutz, sua brilhante presidente, d.Maria Amalia Bastos, primeira secretaria e dra. Carmen Velloso Portinho, thesoureira.
Um dos postaes tinha os seguintes dizeres:
"As mulheres já podem votar em trinta paizes e um Estado brasileiro porque não hão de votar em todo o Brasil?
Paizes nos quaes as mulheres exercem direitos eleitoraes: Allemanha, Argentina (S.Juan), Australia, Austria. Belgica, Birmania, Canadá…”

A bióloga Bertha Lutz (1894-1976) foi uma espécie de Leolinda Daltro. Filha da enfermeira Amy Lower e do cientista Adolfo Lutz. Chegou a ocupar o cargo de deputada constituinte em 1936, como vice na chapa de Cândido Pessoa, que morrera nesse mesmo ano.
A primeira deputada federal eleita pelo voto popular foi Carlota Pereira de Queirós (1892-1982), em 1934.

terça-feira, 19 de novembro de 2024

BANDEIRA QUE TEM HISTÓRIA



Pois é, pessoal. Hoje 19 é o dia da nossa bandeira, que foi criada quatro dias após o golpe militar que levou o marechal Deodoro ao cargo de presidente da República. Isso ocorreu no dia 15 de novembro de 1889.
A bandeira é um dos quatro símbolos nacionais. Os outros são: o hino nacional, as armas e o selo.
A nossa querida Inezita Barroso, cantora que tão bem nos fez, chegou a gravar um LP inteirinho com hinos brasileiros. Nesse disco, lançado em 1967, se acha o Hino à Bandeira.
O amigo querido Paulo Garfunkel, conhecido mundo afora pelo apelido carinhoso de Magrão, fez a sua versão do hino num solo de flauta. Confira aí, clicando:


segunda-feira, 18 de novembro de 2024

JANJA: O PALAVRÃO DA DISCÓRDIA




Eu sempre gostei do Lula, de verdade.

Não direi aqui que conheço o Lula desde sempre. Não, claro que não. Porém recordo que como repórter das Folhas cobri as greves dos metalúrgicos.

Ele não presta, mas é bom.

Em 1979, Lula era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. 

Varamos uma madrugada inteira, eu, Kotscho e ele. Ali pelas 7 horas da manhã, de um dia que não me lembro, chegou anunciado por um assessor de Lula o interventor da entidade.

O interventor era um representante da ditadura que vivíamos, que morríamos. 

O assessor do Lula disse: "o home chegou...".

Pois é, tantas coisas que o passado nos traz de volta ao presente...

E aí, neste presentíssimo que vivemos, ouço no rádio e na TV notícia dando conta de que Lula puxou a orelha da Janja pelo simples fato de mandar, corretamente,  Elon Musk se foder.

Lula, precisamos conversar...

Tomara que Elon Musk vá tomar no janjá!

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