No século passado
Oswaldinho me disse que ia mais uma vez à França para tocar com cobras criadas
do zydeco, que é um ritmo nascido ali pelos anos 1950, em Louisiana, EUA, que
se mistura de modo bom com o cajun, que é a música do povo acadiano expulso do Canadá, e com o canto creole de
trabalho dos negros escravos americanos e tem na canção Les Haricot Sont Pas
Sales a origem do seu nome.
Clifton Chenier, discípulo de Amédé
Ardoin, primeiro negro sanfoneiro a gravar música creole, em 1929, foi um dos
mais expressivos representantes do gênero.
Chenier morreu em 1987 e
Amédé, em 1934.
Pois bem, e aí eu pedi a
Oswaldinho me trouxesse o catálogo ou folder desse encontro de cobras para os
nossos arquivos.
E ele trouxe, porque
nordestino ou filho de nordestino quando diz que faz, faz.
E Oswaldinho faz e toca de
um jeito que ninguém faz, nem toca.
Oswaldinho, filho do
baiano Pedro Sertanejo, que foi pioneiro na difusão do forró e do baião em São
Paulo, a pedido e orientação do seu amigo Luiz Gonzaga, é uma espécie de
reserva do que há de melhor em termos de música sanfonada no Brasil.
E o Brasil, ó, parece que
nem liga.
Enquanto norte-americanos,
japoneses, franceses, espanhóis, portugueses, holandeses, suíços, alemães,
canadenses, italianos e outras raças e gentes de outras falas e cores o
requisitam e o aplaudem e o cortejam de todas as maneiras, fazendo afagos,
acarinhando e convidando-o para festivais, nós ficamos indiferentes a isso tudo
e, lamentavelmente, dando uma de morto para torturar o coveiro.
Até quando?
O carioca de Duque de
Caxias Oswaldo de Almeida e Silva, o Oswaldinho, filho de seu Pedro e de dona
Noêmia, nasceu no dia 5 de junho de 1954 e cresceu com o Nordeste dentro de
casa, isto é: com os mais importantes artistas nordestinos visitando e tocando
com seu pai. O Rei do Baião, por exemplo, o punha no colo. O mesmo fazia a
filha de baianos e cearenses Carmélia Alves
O pai Pedro lhe deu a
primeira sanfona de oito baixos e depois eletrizou a de 120.
Pronto! Não havia mesmo
jeito de o menino fugir da sina de sanfoneiro.
E como se não bastasse, o
rei Gonzaga também lhe dava sanfona e o incentivava a ir em frente para alegrar
o povo.
E foi assim que Oswaldinho
se apaixonou pelo instrumento.
Mas para que tudo corresse
bem, tinha de estudar.
E estudou, no Brasil e na
Itália.
Aos 13 anos de idade ele
já gravava disco com o pai, que tinha casas de forró e programas de rádio.
E o menino foi crescendo e
ficando famoso e importante.
Tem mais de 30 discos
gravados, entre LPs e CDs.
Tem também centenas de
participação em discos de outros artistas e shows de gente como o
norte-americano All Jarreau e o paraibano Sivuca.
Os moldes das suas mãos
estão expostos no Museu de Reggio Emilia, Itália, “identificados como as mãos
mais ágeis do acordeon”.
É pouco?
No Brasil, nada.
Mas ele vai seguindo a
vida, fundindo sonhos com cores e sons.
No teclado da sua sanfona,
ele vai do baião e do forró gonzaguianos ao blues e a todos os ritmos e gêneros
musicais conhecidos ou não.
E se você não sabia, fique
sabendo que Oswaldinho foi o primeiro artista brasileiro a se divertir com uma
sanfona digital, que nada, nada, tem 140 timbres acústicos.
Nesses anos todos ele tem
atuado também como solista de várias orquestras, entre as quais a Jazz Sinfônica de São Paulo, a
Sinfônica do Paraná, a Sinfônica de Santo André, a Sinfônica de Porto Alegre, a
Sinfônica de Santos, a Infanto-Juvenil de Violões...
E agora, para relaxar,
ouça um baiãozinho que fizemos juntos. CLIQUE:
SARAU
Oswaldinho do Acordeon participará do Sarau Popular do Instituto Memória Brasil que será apresentado no próximo dia 24, às 19h30, no Centro de Convenções Rebouças. O evento faz parte da programação do 16º Congresso Mega Brasil de Comunicação, que este ano se desenvolve sob o tema Planeta Comunicação na Era do Diálogo. Também participarão do sarau que terei o prazer de estar, o jornalista e poeta Fernando Coelho, o multitudo Jorge Mello, o mágico da percussão Papete, as cantoras Fernanda de Paula e Celia e Celma.
PS – A foto em que também se vê Cesar do Acordeon,
registra apresentação nossa no teatro Brincante, de Antônio Nóbrega, quando
comemorávamos a primeira edição do Dia Nacional do Forró - 13 de dezembro - ,
que nasceu no programa São Paulo Capital Nordeste, virou projeto-lei aprovado
pelo Congresso Nacional e em seguida sancionado pelo então presidente da
República, Lula da Silva.