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quarta-feira, 3 de março de 2021

O BRASIL É BARCO PERDIDO NO MAR

O Brasí é um barquim
Deslizano pelo má
Levano, trazeno gente
Daqui pralí, dali pracá

Nesse eterno vai-vem
Muita gente cai no má
Muita gente vai pro céu
Sem saber que trem tem lá

Desse jeito o Brasí vai
Se balançano no má
Pareceno u’a donzela
Convidano pra dançá

Hoje3, bem no começo da tarde, ouvi na TV Cultura uma assessora do governador dizer, emocionada, que sua avó deixou Sergipe num pau de arara com 16 filhos rumo a São Paulo.
Faz tempo, ela disse.
Acho que há algum exagero nessa frase.
São Paulo, a cidade, é habitada por milhões de nordestinos e descendentes. Sou descendente. Tenho filhos paulistanos.
A assessora, Patrícia não-sei-o-quê, faz parte do Centro de Contingência do Coronavírus, ela disse um monte de coisa bonita. Tomara que esteja certa, ela e o governador.
Antes da assessora, o governador falou e falou. Meteu a ripa no lombo do Bolsonaro. Merecidamente.
Bolsonaro é nada à esquerda do nada. Um negacionista completo. Tranqueira. Está onde jamais pensou estar.
O PT pisou na bola e Bolsonaro ganhou.
Trinta milhões de radicais por si só não elegem ninguém.
Decepcionados com o PT, brasileiros encontraram no protesto um caminho. E deu no que deu.
Mas Bolsonaro não é nada. E nada será. A lata do lixo da história o espera. Porém, cuidemo-nos: ele está preparando canalhice, que nem o capeta faz nas horas do Trump.
O discurso do governador de São Paulo foi perfeito. Disse o que tinha que dizer.
Dória defendeu São Paulo com garra, como deveria defender.
Meu amigo, minha amiga, você sabe qual é o lema de São Paulo? O lema é este: "Non Ducor, Duco". Expressão latina. Ou seja "não sou conduzido, conduzo".
Esse lema se acha cravado na bandeira do município de São Paulo. Também há nessa bandeira uma coroa, que representa o Império; folhas de café e braço de bandeirante...
Essa é a bandeira do município de São Paulo.
São Paulo é a locomotiva do Brasil, dizia-se há pouco tempo.
O discurso do governador Dória, no começo da tarde de hoje, abarcou o lema da Capital paulista. Mas tem sido frouxo ao tomar decisão paliativa para a tragédia que vivemos. Talvez por pressões.
O Brasil carece de um fechamento geral, já que está sem rumo. Pelos crimes que o presidente está cometendo, providências a Justiça deve tomar. Imediatamente.
O Estado de São Paulo tem 645 municípios.
Está difícil conter o novo Coronavírus. Sabemos os lúcidos.
O Brasil está perdido, que nem um barquinho no mar. De papel.

VACINA SIM, JÁ, IMEDIATAMENTE! (2)

Pele diz estar feliz com a vacina 
Os brasileiros estão à mingua, sempre estiveram. Principalmente os mais pobres.
Os pobres deste país penam na unha do negacionista Bolsonaro, cujo governo, um horror. Pra lá disso. 
Está faltando vacina e o presidente manda uma delegação oficial para trazer de Israel um tal de "spray nasal". Para aplicar na venta de quem pegou a covid-19. Ai, ai. 
Ele mesmo diz que não conhece bem esse spray, "mas acho que é milagroso". 
Sobre o tal spray nasal não há nada que indique ter alguma utilidade. Matar mosca, talvez.
Se esse spray tivesse alguma serventia, o próprio governo de Israel já o teria utilizado a favor da sua população. 
O que Bolsonaro tem na cabeça, hein?
Não, não responda. 
Enquanto isso os brasileiro mais velhos vão aos poucos sendo vacinados. 
Vacinados já foram os sambistas Nelson Sargento e Martinho da Vila. Ontem foi a vez de Pelé, que disse: “Hoje [terça] foi um dia inesquecível. Eu recebi a vacina! A pandemia ainda não acabou. Nós precisamos manter a disciplina para preservar vidas enquanto muitas pessoas ainda não foram imunizadas. Por favor, lavem bem as mãos e continuem em casa, se possível. Quando você sair, não esqueça de usar máscara e de manter o distanciamento social. Isso vai passar se conseguirmos pensar no próximo e ajudar uns aos outros.”

terça-feira, 2 de março de 2021

VIVA TONICO. E TINOCO!

Tonico, da dupla Tonico e Tinoco, foi um poeta do sertão paulista. Nasceu no dia 2 de março de 1917, em São Manoel.
Eu conheci Tonico e seu irmão, Tinoco.
Tinoco chegou a participar da gravação de um disco meu. Talvez tenha sido sua última gravação em disco. Confira: 

Sinto saudade desses dois irmãos, músicos do mundo caipira que engrandeceram a nossa música.

Leia Mais: MORRERAM CORISCO E TINOCO BOB DYLAN E TONICO E TINOCO  

E ouça: LUAR DO SERTÃO, TONICO E TINOCO

VACINA SIM, JÁ, IMEDIATAMENTE! (1)

Bolsonaro e o seu vice são farinhas do mesmo saco. Da pior qualidade, não se enganem. Tanto um quanto o outro são negacionistas. Para eles, o Coronavírus é nada. Andam sem máscaras por aí...
O ministro titular da Saúde é outro negacionista.
O governo brasileiro está sem rumo.
Todos os integrantes do governo federal dizem sim a morte.
O titular da Saúde diz que até junho a metade da população brasileira estará vacinada, o restante até dezembro.
Ver pra crer, eu heim!
Você meu amigo, minha amiga, acredita no que dizem os negacionistas desse governo?
Os cidadãos de bem, de pés no chão, continuam na expectativa de receber no braço a vacina que os imunizará do novo Coronavírus.
Ney Matogrosso e outras estrelas da nossa música popular, incluindo Roberto Carlos, acabam de dar o braço à vacina. Disse Roberto: “Todo mundo tem que vacinar, deve vacinar, é importante. VACINA SIM!”

GRIPEZINHA DO BOLSONARO FAZ UM ANO

Diante da pandemia
O Presidente debochou
Dizendo ser gripezinha
Sim, foi isso o que falou
Que diachos há com ele
Perdeu a cela, endoidou?

A Covid-19
No mundo é pandemia
No Brasil é quase nada
É somente gritaria
Segundo Bolsonaro
É conversa, fantasia

Os mortos se multiplicam
No colo do Capitão
Que o tempo todo só fez
Engendrar complicação
Deixando o povo tonto
Sem luz, na escuridão

(Trecho do cordel, Serpente Quer Por Ovo no Coração do Brasil, de Assis Ângelo)


Louco ou oportunista, ou ambas as coisas, o presidente Bolsonaro continua ignorando completamente os estragos provocados pelo novo coronavírus.
Todos os dias, desde março de 2020, Bolsonaro leva o Brasil ao caos.
Bolsonaro precisa do caos para viver.
Nessa luta contra a ordem e o bem comum, Bolsonaro vai se enterrando buraco abaixo.
A cruzada do presidente da República a favor do caos e do coronavírus começou, com frases bombásticas, em março de 2020.
No dia 20 de março, Dia da Felicidade, Bolsonaro disse: “Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar, tá ok?” (20/3).
E ele, o doido ou oportunista, continuou no dia 24: "Pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria ou seria acometido, quando muito, de uma gripezinha ou resfriadinho, como bem disse aquele conhecido médico, daquela conhecida televisão" (24/03).
Não são poucas as frases horrendas a favor da morte pronunciadas por Bolsonaro, O Impiedoso.
Impiedoso?
Meu amigo, minha amiga, você já ouviu falar da Rainha Louca.
Maria I, de batismo, Maria Francisca Isabel Josefa Antónia Gertrudes Rita Joana de Bragança, nasceu em 1734 e morreu em 1816.
Essa Maria, que governou o Brasil por pouco tempo, morreu no Rio de Janeiro. Era Mãe de D. João VI, e louca, segundo a história. Porém, do bem.
Ao contrário do tirano Bolsonaro, Maria I também ficou conhecida como, A Piedosa.
O desastroso comportamento de Bolsonaro tem levado o Brasil, repito, ao caos. 
Que nem um barquinho de papel em alto mar, o Brasil está desgovernado. 
O Judiciário já percebeu isso. 
Atacando tudo e a todos em benefício do desmazelo no Brasil, Bolsonaro está usando armas pesadas contra governadores e prefeitos. Quem não concordar com ele, leva bala. É isso que está acontecendo.
Atenção, a pensar, Bolsonaro está armando suas milícias para tornar-se o pior dos ditadores eleitos pelo voto democrático. 
Cuidemo-nos, pois o Brasil pode virar uma Venezuela da direita radical. 
As forças do bem precisam se juntar contra as forças do mal. Óbvio, não?
A primeira morte provocada pelo vírus defendido por Bolsonaro ocorreu no dia 16 de março de 2020.
Escrevi Cordéis a respeito (ao lado). 
Não sou Bidu, mas muitas coisas que se acham naqueles folhetos, confirmam-se agora. Infelizmente. 
Até agora, quase 260 mil brasileiros foram a óbito pela Covid-19. E mais de 10,5 milhões de brasileiros foram contaminados pelo coronavírus.
Confira frases cretinas pronunciadas por Bolsonaro em março de 2020: 



“Muito do que falam é fantasia, isso não é crise” (10/3)
“Eu não vou viver preso no Palácio da Alvorada com problemas grandes para serem resolvidos no Brasil” (16/3)
"O que está errado é a histeria, como se fosse o fim do mundo. Uma nação como o Brasil só estará livre quando certo número de pessoas for infectado e criar anticorpos” (17/3)
“Não se surpreenda se você me ver (sic) no metrô lotado em São Paulo, numa barcaça no Rio. É um risco que um chefe de Estado deve correr. Tenho muito orgulho disso” (18/3)
“Sabe quando esse remédio (hidroxicloroquina) começou a ser produzido no Brasil? Ele começou a ser usado no Brasil quando eu nasci, em 1955. Medicado corretamente, não tem efeito colateral” (26/3)
“O povo foi enganado esse tempo todo sobre o vírus” (26/3)
“O brasileiro tem de ser estudado, não pega nada. O cara pula em esgoto, sai, mergulha e não acontece nada.” (26/3)
“Alguns vão morrer? Vão, ué, lamento. É a vida. Você não pode parar uma fábrica de automóveis porque há mortes nas estradas todos os anos”. (27/3)
“O vírus tá aí, vamos ter de enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, pô, não como moleque” (29/3)
“Se o vírus pegar em mim, não vou sentir quase nada. Fui atleta e levei facada” (30/3)

Ah, sim! Ia-me esquecendo: Maria I, A Piedosa ou Louca, foi a primeira rainha de Portugal. Quer dizer, a primeira mulher a subir ao trono. 


segunda-feira, 1 de março de 2021

BOLSONARO É LOUCO OU NÃO É?

Você já olhou diretamente na cara do presidente?
O bicho é doido, mau, carente de uma boa camisa de força, depois de uma pisa, claro. 
E foi não foi, diz que é macho, atleta e tal. Imbrochável. 
A impressão que tenho é que Bolsonaro assumiu a cadeira de presidente para implodir o Brasil. Está conseguindo.
Negacionista de primeira hora que é, dá de ombros e diz que o vírus que tem matado milhões não passa de uma bobagem. Por isso, os Brasileiros são maricas. 
O bicho é louco ou não é?
Não que no Brasil nunca houvesse um louco na presidência. O mineiro Delfim Moreira (1868-1920) era louco de pedra. Clinicamente falando. 
Em 1918, Moreira assumiu a vaga do presidente Rodrigues Alves, que morreu de Gripe Espanhola. 
Jânio Quadros (1917 -1992) presidiu o governo por apenas sete meses. Renunciou no mês do cachorro louco, agosto. 
À propósito, nesse mesmo mês, o gaúcho Getúlio Vargas, enfiou uma bala no peito. Não, ele não era considerado louco. 
Outro cara que assumiu a presidência foi o alagoano Fernando Collor. Cheira aqui, rouba ali e pimba: renunciou à cadeira para não ser "impichado". 
Diziam que Collor era um doido, por ultrapassar a barreira do som numa geringonça do nosso brioso Exército. 
Se Bolsonaro for fazer uma consulta com um médico qualquer, estagiário, inclusive, será diagnosticado como louco, sem dúvida.
Tudo que Bolsonaro faz é obra de louco, de alguém sem juízo, que não bate bem da bola, e é do mal, não nos esqueçamos. 
Delfim Moreira não fazia mal a ninguém. Era um louco vaidoso, digamos assim. Adorava amedalhar-se, que é o ato espontâneo de encher o próprio peito de medalhas. E costumava fazer isso no seu próprio gabinete. 
Conta-se que uma vez o baiano Rui Barbosa foi visitá-lo. E depois a amigos comentou: "No Brasil elege-se até doido, vai ver que foi por isso que não me elegeram". 
Nada não, mas eu queria era ver se Bolsonaro teria peito pra fazer o que Vargas fez. 
Eu hein!
Em sua homenagem, Jorge Ribbas e eu compusemos uma modinha:
 

sábado, 27 de fevereiro de 2021

UM MAR DE GENTE MORTA

O Novo Coronavírus, que num passe de mágica transforma-se em COVID-19, está pegando todo mundo. Todo o mundo.

O número de mortes provocado pela Covid-19 já matou pra lá de 2 milhões. Só nos EUA, mais de 500 mil. No Brasil, mais da metade de 500 mil.

É muita gente morrendo sufocada, não é mesmo? Triste, muito triste.

Indiferente a essa desgraça, esse pandemônio, o presidente Bolsonaro fecha os olhos e dá de ombros como se nada tivesse ocorrendo no nosso solo pátrio.

Bolsonaro, ao contrário do que deveria fazer joga absurdamente contra a população brasileira. Ele só pensa naquilo, isto é: reeleição.

Como se vê, o Brasil é um barquinho de papel flutuando sem rumo num mar em tempestade.

Até quando o presidente da República continuará à solta, cometendo crimes contra nós, hein?

Quando o número de mortes provocada pela Covid-19 chegou a 100 mil, escrevi um poema.

Quando o número de mortes chegou a 200 mil, escrevi um poema.

Quando o número de mortes chegou a 250 mil, escrevi um poema.

Confira abaixo os poemas que fiz para marcar a tragédia que é a Covid-19:

https://www.youtube.com/watch?v=pCXFuSpcvoE&feature=emb_title 

https://www.youtube.com/watch?v=_Zblbw5AGF0&t=41s




ZÉ DANTAS E NOSSA HISTÓRIA (1)

Quem foi que disse que música não tem a ver com política?
Tudo é política, já dizia o dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956).
A música popular é riquíssima, no Brasil e no mundo inteiro.
A música popular registra tudo que se passa com o popular, quer dizer: com o povo, com a vida do povo.
Em 1952/53 o Nordeste vivia mais uma seca terrível.
Naquele tempo, o Brasil tinha 22 Estados. Mas o governo não dava bola ao Nordeste, como hoje.
Não era brinquedo o que o Nordeste vivia naquele tempo, com o sol torrando a terra nada sobrevivia. A não ser a esperança, que não morre à toa.
O abandono era total. Cada um por si. Mas os nordestinos sobreviviam, como costumam sobreviver a todas as intempéries. Políticas, inclusive.
O gaúcho Getúlio Vargas, caudilho, tomou o poder em 1930.
Em 1937, ele deu mais um golpe: Estado Novo.
Em 1939, Hitler assustou o mundo invadindo países e matando gente. Getúlio virou seu aliado.
No ano de 39, um pernambucano preto e semi-analfabeto deixava as fileiras do Exército para se aventurar nos puteiros do Rio de Janeiro. Era sanfoneiro: Luiz Gonzaga.
Em 1945, Getúlio foi obrigado a renunciar à presidência.
O governo que substituiu Getúlio, Gaspar Dutra, foi breve. Durou quatro anos. Em seguida, Getúlio voltou pela força dos Diários Associados do magnata da Imprensa Assis Chateaubriand (1892-1968).
Até então, na nossa música, ninguém ousara expor as mazelas do País. A não ser, timidamente, o embolador Manezinho Araújo (1910-1993).
Manezinho estreou no mercado fonográfico em 1933, com Se Eu Fosse Interventô e Minha “Pranta Forma”. LEIA MAIS: MANEZINHO ARAÚJO E O HINO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
Em 1953 o Nordeste comia o pão que o Diabo amassava. Destemido, o pernambucano de Carnaíba, José Dantas, filho de outro José e Josefina, centrava-se nas amarguras do seu povo e compunha Vozes da Seca.

Vozes da Seca, um baião, foi a primeira música constante da discografia brasileira que denunciava aos ouvidos do grande público as mazelas vividas pelo povo nordestino. No Congresso, um Deputado levantou-se para dizer que essa música tinha a força de qualquer discursos contra fome, a seca, a dor e todas as demais mazelas sofridas por um povo abandonado pelo poder público.

Logo depois de Dantas, veio outro pernambucano chamado Luiz Vieira. No poema, Se Eu Pudesse Falar, denuncia também o sofrimento do povo pobre.

Getúlio matou-se com um tiro no peito em 1954. Cinco anos depois Gonzaga gravaria uma música de engrandecimento às riquezas do País: Marcha da Petrobrás.
Zé Dantas foi um dos mais conscientes cidadãos pernambucanos. Intelectual de boa cepa. Foi médico, mas encontrou no viver da simplicidade a grandeza de um povo que retratou em mais de 40 composições gravadas por Luiz Gonzaga.
Os dois se conheceram em 1947, em Recife, mesmo ano em que conheceu sua primeira e única mulher, Iolanda Simões, com quem teve três filhos. Detalhe: a primeira música de Zé Dantas foi feita em homenagem à sua mulher, à época namorada. Título: Flor Ingrata, que foi gravada muitos anos após a morte do autor... LEIA: NO CÉU MAIS UMA ESTRELA, IOLANDA DANTAS ZÉ DANTAS, REFERÊNCIA GONZAGUEANA
Em 1949, Gonzaga gravava a primeira música de Zé Dantas: Vem Morena, cujo o título original era Resfolego da Sanfona.
Nome completo desse cidadão nascido de Carnaíba: José de Souza Dantas Filho, nascido no dia 27 de fevereiro de 1921.


 

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

COVID MATA MAIS DO QUE GUERRAS

A Guerra do Paraguai começou em 1864 e terminou em 1870, envolvendo além do Paraguai, Argentina, Uruguai e Brasil.
A Guerra de Canudos começou em novembro de 1896 e terminou em outubro do ano seguinte, envolvendo grandes levas de nordestinos que não tinham o que comer nem onde morar.
A primeira vítima fatal da Covid-19 no Brasil ocorreu em março de 2020.
Pois bem, na Guerra do Paraguai morreram cerca de 50 mil brasileiros.
No decorrer da Guerra de Canudos, no interior da Bahia, morreram 25 mil pessoas.
No decorrer de 11 meses a contar de março de 2020, morreram 251.661 pessoas sufocadas pela Covid-19 no Brasil.
Nos seis anos que durou a Guerra do Paraguai, houve grandes perdas de todos os lados. O confronto mais sangrento dessa guerra ocorreu na região pantanosa de Tuiuti, no dia 24 de março de 1866, quando morreram 737 brasileiros.
O número de mortos pela Covid ontem 25 foi de 1582, ou seja: mais do que o dobro de mortes ocorridas na terrível batalha de Tuiuti.
Não dá pra esquecer: a Covid-19 já matou 5 vezes mais do que a Guerra do Paraguai.
Não dá pra esquecer: a Covid-19 já matou 10 vezes mais do que a Guerra em Canudos, quando sobraram pouquíssimas pessoas para contar aquela história.
Enquanto isso, o presidente da República dá de ombros à tragédia que vivemos. Chegou a dizer ontem 25 que as máscaras provocam efeitos colaterais nos usuários. É o capeta. LEIA MAIS: O CRIMINOSO BOLSONARO

PAÍS DE AMADORES

O Tom Jobim tinha razão quando dizia que o Brasil não é para amador.
E não é mesmo. 
O Brasil parece ser um país fora de qualquer contexto. 
No Brasil não tem terremoto, tsunami, vulcões em atividade, mas tem uns políticos que deus nos acuda. 
O que Bolsonaro faz com o povo é triste, lamentável. Ele faz o que ninguém faz: humilha-nos a todo tempo.
Jornalista, pra ele, não é gente. 
Desde sempre ele ataca jornais e jornalistas de todas as formas. 
A mais recente agressão ocorreu ontem 25 no Acre. 
Durante entrevista coletiva, um repórter quis saber o que achava da decisão do STJ em suspender os sigilos bancário e fiscal do seu filho senador, Flávio. 
Subiu nos tamancos e latiu: "Acabou a entrevista!".
Pois é, somos mesmo amadores. 




UM HOMEM RIDÍCULO

Não tinha Covid nem nada, mas queria morrer. Matar-se. Para isso comprou um revólver e balas, mesmo com a grana curta e morando numa espelunca.
Faltava a hora exata para a vida com os miolos estourados. 
A hora estava chegando. 
Era noite, umas onze.
Lá fora caia uma chuva fina, fininha, muito gelada.
Olhando para o céu, descobriu uma estrela lá longe. Parecia piscar-lhe. E ele pensou: é hoje. 
Estava a caminho de casa. 
De repente, uma menina de uns oito anos correu a seu encontro tremendo e pedindo ajuda. Ele não deu bola e apressou o passo. A menina implorou. Mas ele fez-se ouvido de mercador. 
Chegou na espelunca em que vivia e arriou numa poltrona. 
Na espelunca tinha um divã, uma mesa e duas cadeiras, além da poltrona. 
Sobre a mesa, alguns livros. 
Na gaveta da mesa, um revólver carregado esperava seu dono. 
Todo mundo o achava ridículo, mas não ligava. Até gostava. 
Fora ridículo desde sempre, desde os 7 anos.
Ninguém sabia o seu nome, sua profissão ou idade. 
Era recatado o homem ridículo que queria matar-se, faltando escolher apenas dia e hora. 
O local era onde morava.
Nada nem ninguém incomodava esse homem. Seu vizinho era um capitão esquisito, que vivia jogando cartas com amigos igualmente esquisitos. O homem dessa história naquela noite rapidamente adormeceu. E sonhou que enfiara um tiro no peito e que esse tiro o levou a outra dimensão onde surpreendeu-se com os habitantes. Todos seres felizes, lindos, alegres, sem dor, sem nada. Um lugar perfeito, onde o amor imperava.
Foi nesse sonho que o homem encontrou o sentido da vida.
Quanto a menininha que tirlintava de frio quando o procurava, perdeu-se no tempo. E mais não contarei. Fica o suspense e a dica para os leitores de bom gosto procurarem o conto O Sonho de um Homem Ridículo, escrito por Dostoievski em 1877. 
Fiódor Dostoievski nasceu há dois séculos e morreu 1881 aos 60 anos de idade. 
 

 
 

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

HISTÓRIAS DAS ARÁBIAS. PRINCESA PRESA (2)

Mais uma bela princesa
Pelo pai foi sequestrada
Ninguém sabe onde está
Se está bem ou maltratada
Quem sabe tenha morrido
Talvez de morte matada


Shamsa é irmã de Latifa.
Latifa e Shamsa são irmãs, filhas do todo poderoso Mohamed bin Rashed al-Maktum.
Mohamed é um cara que não sabe o que fazer com o dinheiro que tem. É dono de Dubai, um dos países de sistema político mais reprensivos do Oriente Médio. Integra os Emirados Árabes.
Mohamed é rei e suas filhas, princesas.
Mohamed não gosta das filhas que tem, tanto as castiga o tempo todo.
Shamsa, conhecedora da violência do pai, deixou o país em que nasceu e foi tentar a vida noutro lugar. Não conseguiu. O pai acionou seus milicianos e ela foi obrigada a voltar às rédeas do pai.
Shamsa tinha uns 18 anos quando isso aconteceu.
Nunca mais se ouviu falar de Shamsa.
Shamsa está viva ou está morta?
A irmã de Shamsa, Latifa, está presa numa mansão ou castelo de ouro.
Pobres meninas ricas, Shamsa e Latifa.
O pai de Shamsa e Latifa continua mandando e desmandando em Dubai.

CHOREI POR NÓS

Hoje eu acordei triste, profundamente triste.
Eu não sei direito porque acordei tão triste.
Quase chorando sem nem saber porque.
Sim, claro, há mil razões para chorarmos.
A desatenção um pelo outro é motivo suficiente para deixar até um poste triste.
Nem dormi. Chorei por mim chorei, por nós e por tantos que nem conheço.
Chorei pelos sem teto, pelos pés descalços, deserdados e pela vida pobre que corre solta pelas vielas e becos escuros.
Chorei por minha mãe, que se matou. chorei por Deus, que nem sei se existe.
Enfim, chorei por vivos e mortos...
Logo cedo ouvi no rádio que o Brasil chegou à triste marca de 250.079 mortes provocadas pela Covid-19.
Isso dói, não dói?
Dói e faz chorar a alma de quem tem pelo outro o mínimo de amor, o mínimo de carinho, o mínimo de respeito.

O piolho está feliz
Por sua triste missão
Duzentos e cinquenta mil
Já ceifou com seu facão
Isso porém é pouco
Para ele e seu patrão

O patrão desse piolho
É o próprio Cramunhão
Sujeito dono das trevas
Maldito, sem coração
Seu novo Coronavírus
É para o mundo maldição

Invisível ele chegou
Devagar e sutilmente
Enganando todo mundo
Ao lado do presidente
Covarde o bicho segue
Matando impunemente

Não há o que fazer
A não ser sentar, chorar, rezar
Pedindo a nosso deus
Pra do bicho nos livrar
O bicho é violento e
Mata mata por matar

É isso o que ele faz
Dia e noite sem parar
Pra cair nas garras dele
Basta só se descuidar
Esse bicho muito feio
Veio ao mundo pra ficar


O primeiro caso de morte pela covid-19 ocorreu, no brasil, no dia 16 de março de 2020. No dia seguinte, inventei de publicar o primeiro dos quatro folhetos de cordel (Capas acima) que escrevi sobre a nova praga que do mundo se avizinhava.
Em dezembro do ano citado, o repórter Ivan Finotti procurou-me pra falar sobre o que eu andava fazendo durante essa maldita pandemia que não nos larga. E aí falei. E aí ele publicou uma reportagem bem legal no Caderno Ilustrada no jornal Folha de S.Paulo. Confira: Assis Ângelo, cego há sete anos, lança cordéis sobre a pandemia

BREGUICE E JOVEM GUARDA


Eu não canso de repetir: o Brasil é muito rico.
No Brasil há de um tudo, tem gente feia e gente bonita.
Brasília está cheia de gente feia, de político que não presta, ladrão. 
Mas eu quero falar é de Reginaldo Rossi, que aniversariaria neste mês de fevereiro. 
Era de Pernambuco, o Reginaldo. Reginaldo Rodrigues dos Santos, de batismo.
O cidadão Reginaldo escolheu a música para viver, acrescentando ao nome, um sobrenome de fantasia: Rossi. Isso em 1964. Dois anos depois, já estava com um disco na praça e alcançando sucesso com uma bobagem intitulada, O Pão (abaixo).
Reginaldo nasceu em Pernambuco e o seu primeiro disco foi gravado em São Paulo, nos estúdios da extinta Continental.
Na São Paulo de 1966, Roberto Carlos botava banca. Ele era o líder do programa Jovem Guarda e pra virar "Rei" do movimento, digamos assim, foi um pulinho.  
O programa do Roberto, do qual participou Reginaldo, começou em 1965 e terminou 3 anos depois, antes da decretação do famigerado AI-5. 
O programa era uma leveza só, com muita gíria e animação. 
Foi longa a carreira artística de Reginaldo Rossi. 
Logo que começou a fazer sucesso, foi classificado de brega. Rei do Brega. 
Brega é um tipo de música, digamos assim, caracterizada por um linguajar fácil de cantar. A ver com dor de cotovelo, por ai. 
Uns 15 anos antes de morrer, Rossi tentou uma vaga na Câmara Municipal de Jaboatão (PE) e uma vaga na Câmara dos Deputados, quebrou a cara. E ainda bem, diria ele depois. 
 



quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

KOTSCHO, UM CONTADOR DA HISTÓRIA

O brasileiro Ricardo Kotscho merece nosso respeito, palmas. 
Mais do que tudo, Kotscho é um cidadão a toda prova. Um profissional incrível, um grande contador de histórias.
Sou contemporâneo do Kotscho. Trabalhamos juntos numa mesma empresa, Folha. 
Os textos de Kotscho são pérolas. 
Um dia, não faz tempo, o fotógrafo Jorge Araújo disse com toda a graça do mundo: "O sonho de qualquer pessoa é ter do Kotscho um texto, e se não for sonho, deveria ser".
Ricardo Kotscho é mestre da escrita, do ouvir e do falar. 
Ele já está ficando do tempo antigo.
É de um tempo em que se fazia jornalismo com romantismo, mas sem fugir dos fatos. 
Hoje, nas mídias, há muita fake news. 
Ernesto Kawall, Eu, Kotsho
e Zé Hamilton Ribeiro
No tempo do Kotscho, mais ou menos no meu tempo, se o repórter mentisse era execrado pelos próprios colegas.
A última vez que estivemos juntos foi no Bar das Putas, ali na Consolação, SP. O Audálio estava junto, mais duas ou três pessoas. 
O Kotscho fuma que só. 
Até num bar, lugar fechado, o cabra encontra meio de puxar fumaça. 
Lembro de algumas coisas ao lado do Kostcho, fora da Folha. 
Uma vez houve quem me chamasse para uma entrevista na Band News. O Kotscho, na ocasião, era diretor ou coisa assim.
E a entrevista no ar, ao vivo. 
De esguelha, eu via Kotscho mandando o entrevistador continuar comigo em entrevista, em gestos. Ao fim do programa, Kotscho me abraçou e disse que mandou a entrevista continuar porque a minha fala estava dando ibope. 
Humm...
Grande Kotscho! 
"Eu já entrevistei muita gente boa, inclusive grandes jornalistas. Mas entrevistar Zé Hamilton Ribeiro, Loyola Brandão e Ricardo Kotscho, pra mim foi um curso intensivo de jornalismo", diz com a naturalidade de uma onda que bate na praia, o radialista Carlos Sílvio, que acaba de entrevistar o Kotscho. 
Na entrevista a Silvio, Kostcho fala bonito da sua trajetória profissional. Das suas grandes entrevistas e entrevistados. Do tempo em que agentes da ditadura queriam pegá-lo, isso, aliás, fez com que aceitasse convite para ser correspondente do Jornal do Brasil, na Alemanha. Fala bem alemão. Desde menino, criança ainda, Kostcho ouvia os pais falar nessa língua e essa língua nele pegou.
Ainda nessa entrevista, Kotscho fala da sua rápida passagem pelo governo Lula. Nota 10. Confira:
 

 

LEIA TAMBÉM:

ROBERTO STANGANELLI, 90 ANOS


Seja como for, há pessoas que nos deixam marcas indeléveis. Dentre essas, Roberto Stanganelli. 
Stanganelli era de uma simplicidade franciscana. Calmo, atencioso, sempre com um sorriso estampado na cara e olhos fixo no interlocutor. 
Foi um amigo meu, o Stanganelli.
Stanganelli acreditava na vida pós morte. Era espiritista, como as queridas Marinês (1935 -2007) e Anastácia. 
Marinês era pernambucana, como Anastácia às vésperas agora dos 80 aninhos. 
Roberto Stanganelli nasceu no interior de Minas Gerais, no dia 24 de fevereiro de 1931. 
Eu o conheci não sei quando nem onde. Só sei que foi na Capital paulista.
Ele era filho de um Pedro e uma Maria. Pedro e Maria, mineiros, tiveram 15 filhos. Stanganelli foi o décimo quarto. 
Com 9 anos de idade, o penúltimo filho de Pedro e Maria foi trazido por parentes à São Paulo. E em São Paulo ficou. Estudou e tal. Seu negócio era a música. Fez conservatório e tudo. Virou um grande sanfoneiro. E compositor. E produtor, também. Gravou muitos discos (acima).
O primeiro disco gravado por Stanganelli foi de 78 RPM, com as músicas Coração de Criança e Princesa Isabel.
E tem mais: ele escreveu vários livros de sucesso.
É certo que conheci Stanganelli por acaso. Talvez num sebo de discos. Lembro que conversávamos muito, e quando comecei a fazer a série som da terra, pela Warner/Continental, eu o consultei várias vezes. Stanganelli sabia de tudo sobre música. Moda de viola etc. 
Roberto Stanganelli morreu no dia 24 de setembro de 2010. Leia mais: NO PLANETA DAS ESTRELAS

CÂMARA DISCUTE A CAPITAL DO PEQUI

O Brasil tem 26 Estados e um Distrito Federal, que é Brasília.
Brasília foi inaugurada em 1961, mas isso não vem ao caso.
Já houve, porém, quem encontrasse em São Paulo a Capital do Nordeste.
O engraçado Genival Lacerda, chamado de o Rei da Munganga, chegou até a gravar um forró intitulado Nordeste Capital São Paulo. Essa música, aliás, levou-me a intitular um programa que durante quase 7 anos apresentei na rádio Capital. Ouça: PROGRAMA SÃO PAULO CAPITAL NORDESTE, PARTE 1
Agora estou acompanhando uma discussão entorno do povo mineiro e goiano que quer cada um pra si o título de Capital do Pequi.
O pequi é um fruto do pequizeiro.
O pequizeiro é uma planta que se acha em quase 2 milhões de quilômetros quadrados do nosso território.
"O pequi é fruto que fácil, fácil mata a fome da pobreza", como diz o mineiro de Alto Belo Téo Azevedo.
O pequi, além de matar fome, serve pra fazer picolé e licor.
O fruto pequizeiro é colhido entre dezembro e fevereiro em pelo menos 10 Estados brasileiros.
São 16 os tipos diferentes do pequi.
Na Câmara Federal, a discussão continua para se saber que Estado levará o título de Capital do Pequi.
Em tom de provocação governador de Goiás, Ronaldo Caiado, diz: "Minas fica com seu uai e o queijo e nós, o pequi".
Téo Azevedo e Luiz Gonzaga, entre outros artistas, cantaram as qualidades do pequi. Ouça: 

OUÇA TAMBÉM: EU VOU PRO CRATO - LUIZ GONZAGA

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

SÓ OS BOBOS SÃO SÉRIOS

Dos quatro aí nas fotos, qual é o mais bonito?

Em 1877 o russo Dostoiévski (1821-1881) escreveu um conto chamado O Sonho de um Homem Ridículo.
Um pouco antes, em 1966, o mesmo Dostoiévski escreveu O Jogador.
Os principais personagens de ambos os textos são sedutores, cada qual a seu modo.
O calendário de datas comemorativas indica que hoje 23 é o Dia da Sedução.
Meu amigo, minha amiga: você saberia dizer que diferença há entre sedução e conquista?
O Aurélio diz que o sedutor leva sua "vítima" ao descaminho, ao caminho conturbado, ao desespero.
O mesmo Aurélio diz que conquista é o contrário de sedução. É coisa boa. Fascínio. Encantamento.
Eu acho que sou a mistura dos dois. É só ver ali em cima o bonitão que se acha entre Einstein, Costinha e D'Ávila, certo?
Sim, claro: não dá pra ser sério o tempo todo. A vida é curta, não é?
Só os bobos apostam na hipocrisia, por isso demonstram ser tão sérios.
Bolsonaro, por exemplo, é bobo ou não é.
E Lula, hein?
Eu não tenho na lembrança uma risada do FHC. Nem de Collor...
Os homens sérios são bobos, não são?
O Homem Ridículo de Dostoiévski era sério e tal. E triste. Suicida.
O Homem Ridículo de Dostoiévski foi salvo por uma criança de 8 anos.
Sedutor, O Jogador era seduzido pelo jogo.
Pois é.
Houve um tempo no Nordeste brasileiro em que jovens apaixonados fugiam para viver juntos, isso quando os pais não concordavam com a união deles. Dizia-se: Fulano roubou a filha de Beltrano...
Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, não deixou de fora de seu repertório essa temática. Ouça:

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

TEMPOS DE FOLHA (3)

Eram tempos brabos aqueles de quando cheguei a São Paulo, vindo diretamente de João Pessoa, PB. 
Em 1977 eu já trabalhava no grupo Folha, ali na Barão de Limeira, 425, Campos Elíseos.
Comecei cobrindo a área policial ao lado de Celso, Sávio, Hipólito Oshiro, Manuel Dornéles, entre outros.
Pelo menos num dia da semana eu me achava na sede da Secretaria de Segurança Pública do Estado, ali na Higienópolis.
À época o secretário era o coronel Erasmo Dias, de triste memória. 
Numa dessas idas e vindas à SSP, o secretário revelou que invadiria o campus da PUC. Ele disse isso não só a mim, mas a outros colegas que lá se achavam, como Percival de Souza e Renato Lombardi. Um ou dois dias depois, pimba! 
A PUC foi invadida. E pelo menos 1500 estudantes, presos. "Calem a boca, aqui quem manda sou eu", berrava apoplético o coronel escudado por centenas de policiais armados até os dentes, enquanto bombas eram atiradas a torto e a direito. Um inferno.  
Pouco mais de um ano se passou, quando procurei o coronel para uma entrevista. Dessa vez na sua casa. A princípio, ele, a mulher dele e eu. A sós. De repente ele ordena que a mulher vá buscar café pra servir o jornalista. Era noite. Fiquei quieto, cabreiro. E o papo rolou. Era sobre violência policial. 
Essa entrevista junto com outras que formavam uma ampla reportagem sobre o esquadrão da morte paulista findou sendo publicada no Pasquim. 
O País andava nervoso. Muitas greves, principalmente no ABC paulista.
O presidente do sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, Davi de Moraes, convence a categoria a ir à greve. Mas era preciso um consenso de maioria para que isso ocorresse. 
A noite já se tinha feito naquele 17 de maio de 1979, na igreja da Consolação. Presentes, cerca de 1500 jornalistas. Não deu chorum. 
Nova assembleia foi convocada e realizada na noite de 22 no tuquinha da PUC. Deu chorum. 
Fomos à greve e quebramos a cara. 
Muitas histórias paralelas à greve ocorreram. Histórias curiosas, engraçadas, de marinheiros de primeira viagem. 
O cartunista Fausto conta uma dessas histórias vividas no decorrer da greve. Ele lembra que "eu e outros colegas fomos escalados para fazer piquete na rua de trás da Folha. De repente chega um senhorzinho baixinho, grisalho e bem vestido, portando uma pasta 007. E fomos ao seu encontro, cercando-o. A ideia era demove-lo da greve. Papo vai, papo vem, ele sempre muito simpático, disse que não concordava e que iria trabalhar. E antes que a gente voltasse à investida, ele disse: "Eu sou o Frias, dono do jornal". 
Baixa o pano. 



domingo, 21 de fevereiro de 2021

TEMPOS DE FOLHA (2)

Comecei a trabalhar no grupo Folha em 1977, um ano depois de trocar a minha terra João Pessoa, por São Paulo.
O time era bom, formado por: Hely Vannini, Fernando Barros, Marcos Zanfra, Jorge Zappia, José Luís Lima, Roberto Moschela, Manoel Dorneles, Celso Sávio, Hipólito Oshiro, Valmir Salaro, Luciano Martins, Taís, Cris Medeiros, Leivinha, Scarpa, Nery; incluindo os fotógrafos Manoel Izidoro, Jair Malavazi, Luís Carlos Murauskas, Dirceu Lene, Gil Passarelli, Matuiti Mayezo, Angelo Pirozelli e Valdemar Cordeiro, “irmão de criação” de Audálio Dantas, lembra o amigo Jorge Araújo.
Jorge é o autor da famosa foto da pomba, como ficou conhecida (ao lado).
Cordeiro era o chefe dos fotógrafos.
Vannini cuidava da editoria de Polícia.
Só cobras.
Lembro também do Ricardo Kotscho, do Nelson Merlin, do Oswaldo Mendes, Tarso de Castro, Miguel Raide, Cláudio Abramo, Tavares de Miranda, Moacir Amâncio, Dirceu Soares, Paulo Nogueira, Fortuna, Angeli, Glauco, Laerte, Fausto, Petchó, Luís Gê, Jota (Jotinha), Paulo Francis, Emir Nogueira, Dora Kramer e Lu Fernandes, que viraria presidente do Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo.
E o Boris?
Boris Casoy foi editor da Folha por um determinado tempo. Chato, grosso e arrogante, uma vez encontrou-se comigo no Roda Viva, programa da TV Cultura, e sarcástico perguntou: “O que é que você está fazendo aqui?”.
Estirei-lhe a língua ou disse-lhe um palavrão, sei lá.
Daquele tempo eram também Luís Carlos Rocha Pinto, Trovão, Tupamaro, Adilson Laranjeira...
Nos quase 7 anos que lá permaneci, publiquei centenas e centenas de reportagens.
Na Folha, ou Folhão como chamávamos, publiquei matérias ruidosas como a que me levou a ser processado pelo governo paulista.
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 Fui processado, mas absolvido pela Justiça.
A matéria, publicada no dia 13 de janeiro de 1982 com chamada na 1ª página (recortes ao lado), tratava de um duplo linchamento praticado por operários do município de Ribeirão Pires, cujas famílias eram violentadas por marginais sem que o Estado nada fizesse em sua defesa.
Ganhou repercussão internacional.
Participei de grandes coberturas como a campanha pelas Diretas Já e as greves no ABC paulista.
Lembro da intervenção ao sindicato do qual Lula era presidente. SAIBA MAIS: LULA DÁ NÓ EM PINGO D´ÁGUA
Lembro também da greve dos Jornalistas, desencadeada após assembleia no Tuquinha, da PUC, na noite de 22 de maio de 1979. O presidente do nosso Sindicato era Davi de Morais. A greve, que durou uma semana, foi um fracasso total. Ninguém morreu, mas muita gente perdeu o emprego.
Entrevistei muita gente boa e marginais famosos como Hiroito, Fininho, Ze Guarda, Correinha, João Acácio (o Bandido da Luz Vermelha) e figurões como o delegado Fleury, de triste memória.
Fui várias vezes à casa de detenção e ao Carandiru, para mostrar a vida em prisão. Feminina inclusive.
Cobri rebeliões na FEBEM e em presídios da Capital e do interior.
Uma vez Quinzinho, famoso personagem da chamada Boca do Lixo Paulistana disse-me numa entrevista: “Heróis são as pessoas que vivem de salário mínimo”.
Quinzinho morreu atropelado, na avenida São João.
O velho Frias, dono do grupo Folha, foi não foi mandava me chamar pra registrar a visita de nomes importantes das artes e literatura, a quem lhes oferecia almoços e jantares regados a bons vinhos e outras bebidas. Isso ocorria no restaurante que havia na cobertura da sede do jornal, na Barão de Limeira, 425.
Lembro que uma das vezes fui chamado para registrar a presença do escritor Antonio Callado. Uma grande figura.
O Frias chamou-me também algumas vezes para acompanhá-lo com empresários à rodoviária que ganhou de presente do Maluf, na primeira vez que foi prefeito da cidade. Meu papel era fazer o registros dessas visitas.
Numa terça ou quarta-feira qualquer do ano de 1978, fui ao apartamento do cantor e compositor paraibano Geraldo Vandré para entrevistá-lo. O fotógrafo Gilberto Nascimento fez o que tinha que fazer. Belas fotos. No sábado seguinte, voltei à casa do Vandré e ele me disse: "Ângelo, acho melhor você não publicar a nossa entrevista”. Olhei pra ele e ri e, para sua surpresa, dei-lhe um exemplar do Folhetim que já estava chegando às bancas com uma foto sua na capa.
O Folhetim era um suplemento dominical da Folha, de muito sucesso.
Essa entrevista levou a liberação da canção Pra Não Dizer que Não Falei de Flores, que estava proibida pelo governo desde 1968.
Também recordo a vez que Samuel Wainer, criador do jornal Última Hora, pediu-me para que fizesse uma entrevista com o cantor e compositor Renato Teixeira, que começava a fazer sucesso com Romaria na voz de Elis Regina. Anos depois Renato me disse que Samuel era um parente dele distante.
Matérias que por uma razão qualquer não eram publicadas no Folhão, eu publicava noutros jornais. No Pasquim, por exemplo. LEIA: ATÉ TU, JAGUAR?
No bar, sempre uma extensão da redação.
Impossibilitado pela cegueira de identificar
os retratados, Assis só lembra de
Lu Fernandes estar na foto
(abaixo dele, ao centro)
Eram tempos duros aqueles, em que andávamos ainda meio assustados, pois a ditadura militar ainda não acabara. Mas havia tempo para relaxamento (foto ao lado).
Quatro meses e quatro dias depois do lançamento do jornal Folha da Noite, um ataque do coração matou João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto. Esse João, criador da reportagem no formato como tal conhecemos, entrou para a história da Imprensa como João do Rio.
Hoje a Folha, o Estadão, e o Globo são os principais jornais do País.
Em fins dos anos de 1970, pedi ao poeta cearense Patativa do Assaré que escrevesse qualquer coisa sobre a Folha. Fez essa quadra:

A Folha de S.Paulo é rica
Tem ela um grande mister
Mas a mesma não publica
Tudo o que a gente qué

sábado, 20 de fevereiro de 2021

KOTSCHO FALA DE BRASIL NO PROGRAMA PAIAIÁ

 


Hoje 20 de fevereiro é o Dia Mundial da Justiça Social.

Quem me lembrou essa data foram duas pessoas queridas: Léo e Zé Geraldo.

Essas duas figurinhas são incríveis. Léo é baiano e Zé, paraibano.

O Brasil anda perdido faz muito tempo, desde D. Pedro II.

E não é só o Brasil que anda perdido. O mundo todo, também.

Mas do que escassez, há falta de emprego.

Há falta de tudo neste Brasil de todos nós.

Este nosso planetinha de berda habitado por quase 8 bilhões de almas, não sabe pra onde vai.

Pois é, não sabemos pra onde vamos.

Hoje é o Dia Mundial da Justiça Social.

Essa data, criada pela ONU, começou a ser posta em pauta em 2009.

É uma data pra nos levar a reflexão sobre a vida que vivemos.

É uma data importantíssima. E eu sei que o radialista Carlos Sílvio vai perguntar a respeito ao seu entrevista de hoje 20: Ricardo Kotscho.

Kotscho é um dos mais importantes jornalistas brasileiros.

Não percam.

Para acompanhar a entrevistado, será hoje às 20h30, no Facebook do Carlos Sílvio, em live.

Link: https://www.facebook.com/carlossilvio107

TEMPOS DE FOLHA (1)

Depois de ganhar a Taça de campeão da Libertadores da América/2020, o técnico português Abel Ferreira disse que nem ele nem seus jogadores são heróis, heróis são os médicos e os enfermeiros que lutam contra a pandemia da Covid-19.
Essa não é a primeira pandemia que o Brasil e o mundo enfrentam.
Em 1918, milhares de brasileiros morreram vítimas da gripe espanhola. Como Olavo Bilac.
Naquele tempo, éramos um país quase totalmente rural.
Vivia-se a “Belle Époque”, que findaria com a Semana de Arte de 22.
A famosa semana de arte moderna, durou somente 3 dias.
Em 1921 centenas de jornais e revistas circulavam por aí. A maior parte deles no Rio de Janeiro, berço de João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos Coelho Barreto.
A população do Rio, à época, passava de 1 milhão de habitantes.
Ainda não havia O Globo, RJ, que só seria fundado em 1925. Quatro anos antes, era fundado o jornal Folha da Noite (abaixo), em São Paulo.
A População da Capital paulista girava em torno de 580 mil habitantes.
Esse jornal foi à praça no dia 19 de fevereiro de 1921, com apenas oito páginas.
Em 1924, entre 3 e 30 de dezembro, questões políticas impediram a circulação do jornal. Para substituí-lo, os mesmos criadores da FN, Olival Costa e Pedro Cunha, lançaram a Folha da Tarde.
clique na foto para
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O presidente da época era Arthur Bernardes, um mineiro de poucas palavras e mãos de ferro.
Em 1925, chegava às bancas o jornal Folha da Manhã.
A Folha da Noite, a Folha da Tarde e a Folha da Manhã eram jornais direcionados a públicos diferentes e opiniões passariam a ter somente em 1930, quando as oficinas da Folha da Noite e a Folha da Manhã foram empasteladas por agentes do governo Vargas, que não era de brincadeira.
Em 1960, os três títulos se fundiram para dar vez a Folha de S.Paulo. Que surgiu para concorrer diretamente com o Estado de S.Paulo.
A Folha, como outros jornais brasileiros, apoiou o golpe que tirou do poder o presidente João Goulart.
Em 1986, a Folha tornou-se o jornal de maior tiragem do País.
À essa altura o grupo Folha já tinha sob seu guarda-chuva vários títulos. Incluindo, de novo, a Folha da Tarde e o Notícias Populares.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

TRAMBOLHO DA NASA CHEGA À MARTE (2, FINAL)

O homem já foi à lua, tá chegando à marte e à caixa prego é lugar que o homem já foi à tempo.
O homem parece imitar Deus em tudo. Enfim, Deus diz que somos a sua imagem e semelhança.
Apesar da sabedoria e tudo mais, ao homem é incapaz de realizar a menor das tarefas: cuidar de si próprio e do próximo. Enfim, é ele a semelhança do criador.
Milhões e milhões de pessoas continuam morrendo de fome, de ponta a ponta no nosso planetinha. 
Tanto quanto, ou até mais, as doenças se multiplicam no ar matando tudo que se bole, anda, pula ou escorrega. 
A ganância do homem mata o homem. 
Por nada, os homens se matam. Suicidam-se.
Em pleno terceiro milênio, nós pobres continuamos a comer o pão que o Diabo amassou. 
Somos horrorosos, seres sem salvação. 
Enquanto isso, e diante disso, Bolsonaro continua vivo. Muito vivo. 
E os discos voadores voando por aí afora, hein? 



TRAMBOLHO DA NASA CHEGA À MARTE (1)

Os homens da Nasa mandaram com êxito uma máquina "pensante" aos confins do Universo. Endereço: Marte.
O trambolho especial logrou êxito, chegando ontem 18 ao alvo programado. 
Cá na Terra, os cientistas estão em estado de êxtase. Leia mais: https://assisangelo.blogspot.com/2020/07/depois-da-lua-o-homem-quer-marte.html

HISTÓRIAS DAS ARÁBIAS. PRINCESA PRESA (1)

Não tem sapo, nem príncipe
Nem fada com seu condão
Tem uma princesa presa
Pedindo ao rei perdão
Esse rei é o seu pai
Sujeito sem coração

Pois é, parece mesmo um conto de fada. Ou de cordel. Mas não é.
Essa história é real e está em andamento nos Emirados Árabes Unidos. O nome da vítima é Latifa, uma princesa filha do rei Mohammed Bin Rashid al-Maktoum.


Não tem dragão, não tem bruxa e outras figuras do reino encantado nessa história absurda.
O caso é real, realíssimo em todos os sentidos. E aos poucos começa a aparecer no noticiário internacional.
O caso de Latifa está chegando para apreciação da Organização das Nações Unidas.
Isso é cárcere privado. Caso de investigação.

Uma princesa real
De alma e sentimento
Pelo pai foi sequestrada
Sem razão, sem cabimento
O mundo agora segue
Sua dor, sofrimento

Parece coisa de cordel
Mas o caso é verdadeiro
Vem do mundo das arábias
Vem de lá do estrangeiro
Princesa pede socorro 
Pra sair do cativeiro

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