O Brasil nunca foi um país pacato, no rigor do termo, como no primeiro momento entendeu o historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), que chegou a detalhar o seu pensamento no livro Raízes do Brasil (1936).
Muitos livros falam das muitas revoltas populares e guerras envolvendo índios e negros escravizados. Não vou entrar nos detalhes, mas recomendo a leitura do Dicionário das Batalhas Brasileiras (1996), de Hernâni Donato (1922-2012).
Firme nas palavras como geralmente o são os historiadores, mais de uma vez Donato me afirmou que desde o achamento do nosso País pelos estrangeiros "todos os dias houve revoltas, revoluções e guerras por essas plagas".
Muitos índios e negros escravizados tombaram à frente das batalhas. Daí, inclusive o surgimento da expressão "buchas de canhão". Dizia-se e até hoje diz-se que "fulano é bucha de canhão" ou "fulano foi bucha de canhão".
"Bucha de canhão" é o equivalente a "boi de piranha", que é o boi posto pela vaqueirama para atravessar rios e, assim, identificar se há nas águas piranhas assassinas.
A chamada Batalha dos Guararapes (1649) deixou muitos mortos em Jaboatão, PE.
A Guerra dos Palmares (1695) assim chamada foi a última que resultou no assassinato de milhares e milhares de negros. O fim desse quilombo, em Palmares, AL, coube ao bandeirante Domingos Jorge Velho (1641-1705).
A Paraíba serviu de túmulo a esse bandeirante.
A Conjuração Baiana durou um ano só, 1798, mas deixou um rio de sangue.
Em 1817, religiosos tomaram a frente de um movimento que pretendia a separação das demais províncias brasileiras. Durou 75 dias e, detalhe, chegou a de fato separar-se do Império.
Esse movimento entrou para a história como Revolução Pernambucana, que tinha à frente Frei Caneca (1779-1825) e a proprietária de terras Bárbara de Alencar (1760-1832).
Frei Caneca foi enforcado e Bárbara de Alencar depois de presa, solta.
Solta, Bárbara de Alencar juntou simpatizantes para por de pé a ideia de liberdade do Nordeste do resto do País. Esse ideal teve por nome Confederação do Equador.
A forças imperiais destruíram os ideais contidos na referida Confederação. Bárbara fugiu e um dos seus escravos, preso, foi obrigado a denunciar sua localização. Sob ameaça de morte, o servo cuspiu nos algozes, abriu a boca e decepou a língua com os próprios dentes.
Bárbara vem a ser a avó do escritor cearense José de Alencar (1829-1877).
Foi nas terras de Bárbara que nasceu o rei do baião, Luiz Gonzaga (1912-1989).
Em 1823, portugueses insatisfeitos com a independência proclamada por Pedro I, tombaram sob armas do capitão Luís Alves de Lima e Silva.
Esse Silva viria a ser o patrono do Exército brasileiro, por todos conhecido como Duque de Caxias (1803-1880).
Luís Alves de Lima e Silva também participaria de outras revoltas e guerras: Cisplatina (1825-1828), Balaiada (1838), Farroupilha (1835-1845) e a Guerra do Paraguai (1864-1870).
Esse Silva que viraria senador do Império e consultor do rei, matou gente a dar com o pau e transformou-se o patrono do Exército em 1962.
O nosso brioso Exército tem também como patrona Maria Quitéria (1792-1853).
Quitéria morreu pobre, abandonada e cega.
Depois dessas revoltas e guerras, revoltas e guerras continuaram a acontecer no solo brasileiro: a Cabanada (1832-1835), em Pernambuco; Malês (1835), Sabinada (1837-1838), na Bahia; a Revolta da Chibata (1910), no Rio e Guerra do Contestado (1912), no Paraná.
A Revolta dos Malês teve entre seus líderes uma mulher: Luísa Mahin, que viria a ser a mãe do poeta e abolicionista histórico Luís Gonzaga Pinto da Gama.
Em terras brasileiras o conflito que resultou, historicamente, num maior número de mortes foi a chamada Guerra de Canudos (1896-1897).
Que a paz reine sempre, entre nós.
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