O suicídio de Getúlio, além de enlutar o País, provocou uma enxurrada de folhetos de cordel e músicas nos gêneros mais diversos. Jackson do Pandeiro, por exemplo, emplacou o sucesso Ele Disse:
Ele disse muito bem:
O povo de quem fui escravo
Não será mais escravo de ninguém.
Para todo operário do Brasil
Ele disse uma frase que conforta
Quando a fome bater na vossa porta
O meu nome é capaz de vos unir
Meus amigos por certo vão sentir
Que na hora precisa estou presente
Sou o guia eterno desta gente
Com meu sangue o direito eu defendi.
Ele disse com toda consciência
Com o povo eu deixo a resistência
O meu sangue é uma remissão
A todos que fizeram reação
Eu desejo um futuro cheio de glória
Minha morte é bandeira da vitória
Deixo a vida pra entrar na história
E ao ódio eu respondo com o perdão.
Em 1959, o cantor e compositor Luiz Wanderley (1931-1993) mandou à praça o atualíssimo xamego Trabalhadores do Brasil:
Trabalhadores do Brasil.
Jamais o nome do Velhinho.
Será esquecido perante.
O operariado da nossa pátria.
Eu não aguento mais a situação.
Tá faltando carne, tá faltando pão.
Tá faltando leite e não tem feijão.
Trabalhadores do Brasil.
Vocês agora não tem pai.
O homem que lutou por vocês.
Que derramou seu sangue por vocês.
Foi embora e não volta nunca mais.
Ta faltando carne, tá faltando pão.
Tá faltando leite e não tem feijão.
Nosso povo hoje em dia.
Tá passando privação.
O dinheiro que ganha.
Não dá pra despesa.
Nem comprar um quilo de feijão.
Todo mundo vivendo na base do agrião.
Tá faltando carne, tá faltando pão.
Tá faltando leite e não tem feijão.
Na eleição de 1959, o povo de São Paulo elegeu a rinoceronte Cacareco como vereadora. Nenhum político teve tantos votos à época, como Cacareco. Protesto claro, claríssimo, dos eleitores de São Paulo.
Fechando com chave de ouro a história de Cacareco, a dupla Ouro e Prata lançou a marcha Cacareco.
Outra marcha que fez grande sucesso, em disco de 78 RPM, foi Só Mamãe Votou Em Mim na voz do ator e humorista Zé Trindade.
Na linha de Trindade, Waldomiro Lobo lançou O Candidato (Parte I e Parte II).
O teatro e os discos do desbocado Costinha, de batismo Lírio Mário da Costa (1923-1995), eram todos recheados de palavrinhas e muitos palavrões do mar agitado da sacanagem, diferentemente do que fazia seu colega de palco Zé Trindade (Milton da Silva Bittencourt; 1915-1990).
Diante de Costinha, Trindade era um santo, como Walter D'Ávila (1911-1996), com aquela carinha de besta...
No formato de LP, o satírico menestrel Juca Chaves deitou e rolou, falando/cantando política. Quem não se lembra de Presidente Bossa Nova, hein?
Como Juca, o humorista acreano José Vasconcelos (1926-2011) também deitou e rolou no campo político. Impagável o texto que interpreta intitulado Lançamento de Candidatura.
Chico Anísio e Jô Soares fizeram enorme sucesso com os personagens Salomé e o general argentino Gutiérrez.
Quem não se lembra da Salomé, do programa Chico City?
E quem não se lembra também do general Gutiérrez, que no Brasil tentava passar-se por baiano.
O escritor gaúcho Fernando Veríssimo também marcou bonito ao criar a Velhinha de Taubaté, que era a única pessoa que ainda acreditava no governo. Morreu diante da televisão, ao receber notícia sobre o Mensalão. Decepcionada, colapsou.
Os personagens políticos da vida real continuam pairando no imaginário popular, os mais frequentes são Getúlio, Juscelino, Jânio e Lula. Há muitas músicas compostas em louvor à Lula e uma ou outra "dedicada" a José Sarney e Collor.
São muitas as músicas de protesto. Chico Buarque e Vandré são os nomes mais lembrados nesse campo, mas o autor de Pra não Dizer que Não Falei de Flores não aceita essa classificação. "Não sou cantor de protesto coisa nenhuma, nunca protestei contra nada", disse ele um dia a este escriba de plantão.
É isso e a história segue.Quem não se lembra de Arueira? Clique:
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