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sexta-feira, 24 de março de 2023

EU E MEUS BOTÕES (61)

"Bom dia seu Assis!", disseram em coro de modo ensaiado os meus fiéis botões.
Estou sentindo a falta de Zilidoro. Por onde anda Zilidoro? Pegou gripe? Levou queda? Ou...
Nem bem acabei de fazer essas indagações, eis que adentra a casa o querido poeta Zilidoro.
"Desculpem-me o atraso. É que tive dificuldade de apanhar ônibus ou carro de aplicativo. A cidade tá uma loucura. Quilômetros e quilômetros de engarrafamento, tudo por causa da greve dos metroviários cá de Sampa. Um horror!", justificou.
Bom pessoal, a política tá comendo solta. Os presidentes da Câmara e do Senado estão pegando pesado. O ego dos caras está lá em cima e quem paga por isso é o povo. Não se vota nada no Congresso.
Barrica se levantou da cadeira e concordou comigo, acrescentando: "Tem muita coisa pra ser votada na Câmara e no Senado. Isso todo mundo sabe, até eu que sou besta. Cadê o projeto da reforma tributária, hein?".
Zili, como é chamado na intimidade o Zilidoro, pôs a colher na pauta: "O pior disso tudo é que o presidente Lula está sem base política nas duas casas do povo. E não custa lembrar que o Senado e a Câmara têm, a rigor, maioria conservadora e sacana contra ele".
Enquanto meus ilustres botões falavam, Lampa quieto no tamborete, apenas cutucava as unhas com seu estimado punhalzinho. Sim, e com aquele olhar esquisito, tronxo, introspectivo. De repente ele se levanta e dá um soco no vento, depois de enfiar o punhal na cinta. Disse: "Ouvi há pouco no rádio informação dizendo que aquele feladaputa está voltando terça-feira que vem!".
Todos grudaram os olhos na cara do Lampa. Biu: "Cê tá falando de quem?".
Zoião deu uma risada, no que foi seguido por Zé, Jão e Mané. Risada geral. Lampa: "Eu tô falando do Bozo, do corno, dsquela coisa chamada Bolsonaro. Ele fugiu pros Estadozunido, mas de mim não escapa!".
Perguntei a Zilidoro o que ele achou da fala que Lula fez a respeito do possível sequestro e assassinato do Moro, planejado pelo PCC. Ele: "Seu Assis, o que acho é que o Lula tá falando demais. Podia ficar mais quieto, na dele. Enfim, há muita coisa importante a se fazer pelo povo. O desemprego ainda está lá em cima, o salário lá embaixo, doenças infestando o ar e a gente, os indígenas na pior... Pois é, há muito trabalho a ser feito e toda vez que o Lula fala de alguém, esse alguém sai ganhando. Moro é nada. É um oportunista, um sujeito sem escrúpulos".
Jão bateu palmas, concordando: "O Zili tem razão, mas é preciso lembrar que o Lula levou muita porrada e foi condenado sem provas pelo Moro e seus seguidores".
Mané pediu a palavra e emendou: "Pois é, o Lula está até aqui de mágoas. Foi acusado por crime que não cometeu e levado à cadeia pra cumprir pena injusa. Isso certamente causa trauma até num poste!".
Zoião levantou-se de onde estava e fazendo uma parte: "Tudo bem, tudo bem, mas o Lula não pode esquecer que é o presidente da República de todos os brasileiros. Tudo o que ele diz tem peso, para o bem ou para o mal".
Não tem como não ficar satisfeito ouvindo tudo isso dos meus queridos botões.
Jão pediu para mudar de assunto. Disse: "Eu sei que tem muita gente aqui que me critica por ser quem eu sou. Sim, eu sou um cara sem muito saber, sem muita leitura, estudei pouco que nem o Lampa. Mas eu me esforço para aprender coisas. Como exemplo eu posso dizer que tenho lido livros e escutado boas músicas no rádio. Posso até dar uma informação aqui. Hoje, 24 de março, é o dia em que nasceu o poeta e jornalista recifense Olegário Mariano. Ele era de 1889, ano da proclamação da República, e morreu em 1958, ano do surgimento da Bossa Nova. Foi o autor do cateretê...".
Antes de concluir o que estava dizendo, Jão foi bruscamente interrompido por Barrica que começou a cantarolar desafinadamente:

Eu não quero outra vida
Pescando no rio de Jereré
Tenho peixe bom
Tem siri patola
Que dá com o pé

Quando no terreiro
Faz noite de luar
E vem a saudade me atormenta
Eu me vingo dela
Tocando viola de papo pro a...
 
Essa música, foi a vez de Zilidoro por a régua no papo, "foi gravada originalmente em 1931 por Gastão Formenti. Essa música contou com a parceria do grande Joubert de Carvalho".
Todos se levantaram batendo palmas, menos Jão que ficou um pouco ressentido por não ter sido reconhecido por seus esforços em busca de conhecimento.
Biu, que não conhecia a moda De Papo pro Á, perguntou onde poderia ouví-la. E Jão, rápido que nem um raio, adiantou-se: "No Youtube! No Youtube!".

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